domingo, 29 de março de 2009

Mais 2 Estudos sobre vanitas



No Rio, no atelier no prédio art-decô da Praia do Russell, tenho mais (um pouco de) espaço, e posso fazer os estudos da vanitas de Philippe de Champaigne em tamanho maior: 1m x 80cm. A proporção entre altura e largura da tela também é mais favorável, e os objetos sobre a mesa de espalham mais. Há uns bons 6 meses que eu não ia a este atelier, e olhando as últimas telas inacabadas tenho vontade de queimá-las; realmente a pintura é uma coisa que se conquista no trabalho, a cada dia; e nestes últimos meses eu pintei muito, em Brasília, nas telas 50x60cm e, em 2009, nos estudos das vanitas; assim as últimas telas meio mal paradas do atelier do Rio ficaram lá atrás em uma estrada onde eu tanto caminhei. Não seja por isso, duas inacabadas (ou apenas iniciadas) são a base para os dois novos estudos, os de número XXVI e XXVII.

sábado, 28 de março de 2009

Exposições no Rio (novos tópicos)

1. José Damasceno na Laura Alvim. O espaço re-inaugurado após reforma, é bem bonito e a exposição está muito boa.
2. Nouvelle Vague, exposição de pinturas dos artistas Bruno Miguel, Ana Elisa Egreja, Renata de Bonis, Daniel Lannes e Regina Parra. Trabalhos muito interessantes, criativos, de jovens pintores que mostram que a pintura está bem viva.
3. No CCBB, Osgemeos. Acho que o grafitti deles perde ao deixar de ser grafitti e virar "obra de arte". E rever a coletiva Brasil Brasileiro, que eu havia visto no CCBB de SP. Gosto (já falei aqui no blog) de ver a mesma exposição nos diferentes CCBB (Rio, SP e BSB), em cada montagem há novidades. E sempre é bom rever os Guignards...
4. Na Caixa Cultural, lançamento do catálogo da exposição do Rubem Grilo, com direito a visita guiada. Muito bom o catálogo, e um bom público interessado, participativo, fazendo perguntas e comentários, dialogando com o artista.

sexta-feira, 27 de março de 2009

As vanitas (mais Philippe de Champaigne)





Continuo nos estudos sobre aquela vanitas clássica do pintor Philippe de Champaigne, as ideias novas aparecem, a partir da pintura, a partir do conceito, e é facil ver as duas vertentes; minhas ideias me trazem ao formato dos quadrinhos, do cineminha de tantos desenhos; parti para anotar as ideias, antes em papeis soltos, em telas em branco, sobre elas pinto, enfim (essa vertente aparece nesta ultima tela que mostro aqui, e aparecerá em outras que ainda estão inacabadas). Por outro lado, a pintura, em si, me leva a outros desenrolares. É como o Ivan Serpa, ao dizer que sentiu o gosto do azul, eu sinto o gosto do magenta ao lado do vermelho, do azul ao lodo do verde com uma separação em laranja, enfim... O resultado são pinturas, que se acumulam em meu pequeno apartamento de Brasilia, que breve poderão estar ocupando todos os espaços deste apartamento e que não me deixarão descansar até tentar tudo, seguir pelo pictórico e/ou pelo racional, enfim, "para isso fomos feitos: para lembrar e ser lembrados, para chorar e fazer chorar, para enterrar os nossos mortos" como escreveu Vinícius de Moraes no Poema de Natal.
Estas então são as XXII, XXIII, XIV, XV, da sequencia... e muitas mais virão...

quinta-feira, 26 de março de 2009

No Rio, exposições (em tópicos)

1. Fernanda Junqueira e Neno del Castillo na Amarelonegro arte Contemporânea. Abertura ontem, bonitas telas.

2. Nuno Ramos, Mar Morto, na Anita Schwartz. Impactante, dois barcos "colididos" em cruz, cobertos de sabão, o som de recitativos e o aroma forte do sabão, da graxa, o clima de estranheza, uma instalação operística, barroca; e as "pinturas" que cada vez mais "pulam" das paredes.
3. (arte)3 na Anna Maria Niemeyer, uma boa exposição coletiva, todos com pintura, trabalhos bem diferentes com um denominador comum: qualidade, profissionalismo... Artistas: Alessandro Sartore, Bet Katona, Felipe Fernandes, Jimson Vilela, Raul Leal e Virginia Paiva.
4. Acervo na Anna Maria Niemeyer da Praça Santos Dumont, coisas que sempre é bom ver ou rever: Vítor Arruda, Jorge Duarte, João Magalhães,Jorge Fonseca...
5. A Coleção, na Arte em Dobro. Cinco artistas: Paulagabriela, Rosana Ricaldi, Nazareno, Luiz Hermano e Divino Sobral, cinco múltiplos em tiragem de 30 cada, vendidos "o lote dos 5" por R$2.000,00, um sucesso de vendas. Uma boa ideia, que puxa um pouco do Projeto Acervo e que mostra que, mesmo na crise, há mercado para arte de boa qualidade com bom preço.

domingo, 22 de março de 2009

Mais vanitas (sobre Philippe de Champaigne)




Três novas telas (XIX, XX e XXI), estou continuando os estudos a partir da vanitas do pintor Philippe de Champaigne; continuo no tamanho básico 50x60cm, ainda não enfrentei o aumento na escala que estou planejanto, o que terá que ser feito no meu atelier na Glória, Rio de Janeiro, pois em Brasília o espaço é pequeno e alguma coisa muito maior que o tamanho básico vai exigir contorcionismos; talvez contorne esta restrição fazendo dípticos, usando as 50x60cm como módulos, como o David Hockney está fazendo... enfim, mãos à obra...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pedro Varela na Gentil e no SESC Pompéia


Recebi email do artista Pedro Varela com algumas imagens dos trabalhos que estão na exposição Paisagem, parte do projeto Tripé, no SESC Pompéia (SP), e também o convite para a individual na galeria Gentil Carioca, que abre no próximo sábado dia 21, e que terá uma grande colagem de vinil adesivo ocupando todas as paredes da galeria.
O trabalho do Pedro tem crescido bastante, a sua imaginação em criar universos fantásticos se alia ao perfeccionismo na execução. Interessante é comparar seu trabalho com o registro de trabalhos que obtiveram sucesso na recente PULSE NYC 2004, que cito em meu post anterior, e verificar os pontos de contato.

O trabalho de Pedro Varela está bem dentro da tendência de valorização de desenhos/trabalhos sobre papel, especialmente os obsessivos em sua técnica e com temas lúdicos, fantásticos; por exemplo, o trabalho do artista inglês Kevin Osmond, que em sua série Nowhere Land também trabalha com maquetes suspensas, como Pedro; são trabalhos com conceitos diferentes mas com muitos pontos em contato, o que me reforça a idéia da contemporaneidade do trabalho do Pedro, que poderia estar, com sucesso, na PULSE, assim como já esteve na ARCO e em outras mostras. Um universo e uma temática bem dele, um virtuosismo no trabalho, a busca de sair dos limites do desenho, do bidimensional, as maquetes de mundos imaginários flutuantes, tudo isso que caracteriza o trabalho do Pedro e que faz das exposições na Gentil e no SESC momentos imperdíveis.

Depois, troquei alguns emails com o Pedro sobre sua experiência de morar no México, seguem os pontos principais do depoimento do artista:
"Eu e Carol nos mudamos pro México mais ou menos na loucura..." (Carol é a artista Carolina Ponte, mulher de Pedro e sua colega na EBA, com um trabalho sutilmente crítico e que abordarei em outro post) "Os pais dela já estavam morando lá a mais ou menos 1 ano e dai resolvemos visitá-los. Nos encantamos com toda a loucura do México, com a justaposição de mundos, de culturas, de histórias. Ficamos muito impressionados! Para os mexicanos eu falo que resolvemos nos mudar para lá por causa da comida e da cerveja... hehehehehe Mas a verdade é que pensamos que se a gente não fizesse uma loucura logo nunca mais faríamos. Não estamos fazendo residência nem faculdade, mas sempre pensamos nesta possibilidade. Além disso eu e Carol já organizamos uma exposição para a Fototeca de Veracruz chamada Realidades Imposibles, que apresentou trabalhos de 20 artistas brasileiros, incluindo Nino Cais, Marcelo Amorim, Rodrigo Torres, Brígida Baltar, Glaucia Mayer, João Penoni, Chico Fernandes e muitos outros artistas bacanas.
Estamos aos poucos conhecendo melhor a cena artística de lá do México. Estou começando a me relacionar com uma galeria muito boa de lá chamada Enrique Guerrero. Já participei de uma exposição relâmpago lá durante o SITAC, que é o simposio de arte e teoria mais importante do México e provavelmente da América Latina. Apesar de ter sido uma exposição rápida muita gente viu meu trabalho lá. "

terça-feira, 17 de março de 2009

Arte no olho da crise: PULSE New York 2009

Uma notícia sobre a PULSE 2009, a 4a. edição da feira de arte dedicada exclusivamente à arte contemporânea, que acabou de se realizar em NYC (5 a 9 de março), talvez mostre que, apesar da crise econômica, ainda há um mercado de arte atuante, vivo; e talvez mostre algumas tendências que estão por aí.
Esta edição da feira registrou um aumento de 35% na visitação, com cerca de 17.000 visitantes, e segundo os 101 exibidores de 26 países, além da grande visitação (segundo um dos participantes, a visitação foi tal que "o número de visitantes de seu stand nos quatro dias da feira equivaleu a três vezes o número de visitantes em sua galeria em um ano"), as vendas também se mostraram satisfatórias, apesar do clima de incerteza econômica.

Em termos das tendências, verificou-se que trabalhos utilizando novas midias continuam a ser populares, particularmente aqueles utilizando mecanismos complexos ou temas lúdicos e com humor. Exemplos: Mirrors Mirror, escultura cinética interativa do artista Daniel Rozin, feita de 768 ladrilhos espelhados que reagem à presença do espectador (pela descrição vejo como um descendente de um Ubi Bava), vendida a um colecionador tcheco por 150.000 USD; duas obras do artista Jim Campbell com paineis de LED exibindo vídeos, por 50.000 e 36.000 USD; de uma série de catálogos de artistas encapsulados em acrílico e neon, do artista coreano Airan Kang, foram vendidos mais de 20, entre 3.500 e 3.800 USD; e duas animações 3D em tempo real, do artista John Gerrard, vendidas por 25.000 USD.

Digno de nota é o aumento na popularidade e no interesse em desenhos e trabalhos sobre papel (uma tendência que está presente aqui no Rio, haja vista, entre outras, a recente exposição de desenhos na galeria Laura Marsiaj e, abrindo amanhã, a exposição Trabalhos em Papel na galeria Mercedes Viegas); muitos desenhos com os mesmos temas lúdicos ou obsessivos em sua técnica. Exemplos: venda de quatro desenhos em técnica mista sobre papel, 20.000 USD, do artista David Huffman, mostrando elefantes, dançarinas de "dança do poste" e astronautas; de três desenhos/textos sobre papel de caderno comum, de Michael Scoggins, por 10.000 USD; Paul Chiappe, que vendeu 6 dos seus desenhos hiperrealistas por preços entre 5.000 a 8.000 USD, e que foram exibidos com lentes de aumento ao lado, para que o público pudesse verificar que se tratam realmente de desenhos e não de fotografias; e desenhos com linhas obsessivas, feitos repetindo formas livres (rabiscos feitos quando o artista falava ao telefone) até gastar caneta após caneta, do artista inglês Kevin Osmond, entre 2.500 USD e 6.800 USD, além de uma escultura por 7.500 USD.

Pinturas a óleo com superfícies espessas e opulentas também estiveram em alta demanda: venda de pinturas de Alison Schulnik, 14 vendidas já na abertura e até o final da feira mais outras 3, por preços entre 2.500 a 25.000 USD; Kim Dorland, que teve pinturas vendidas por dois expositores, em preços entre 12.000 a 16.000 USD.
A próxima edição de PULSE será em Miami, em 2 a 6 de dezembro, e até lá temos o nosso SP-Arte, agora em maio.
(Fonte: e-Flux)

Rubem Grilo na Caixa Cultural (Rio)


Na Caixa Cultural do Rio, a exposição "Rubem Grilo xilográfico (1985 a 2009)" apresenta 167 gravuras em madeira e 13 matrizes de gravuras do artista, que tem quase um porte de uma retrospectiva. Entre 1973 a 1985 fez trabalhos em ilustração em importante jornais brasileiros, dentre eles: Opinião, Movimento, Pasquim, Jornal do Brasil e Folha de São Paulo. As gravuras de viés expressionistas, meticulosamente trabalhadas na madeira, fugiam ao paradigma da "ilustração de jornal", o que de uma certa forma também representava, além da opção estética, uma opção existencial e política, coerente com a linha editorial das publicações, de contestação à ditadura militar. Com a abertura, Grilo abandona a ilustração (embora ainda faça algumas ilustrações, como exemplo a ilustração na Folha de São Paulo acompanhando os artigos de Ferreira Gullar), e em seu trabalho experimenta soluções mais formais, com discussão sobre a linha na construção do espaço gráfico. As linhas adquirem autonomia, geometrizando-se ou em arabescos, que impressionam ao se saber que feitos não ao pincel, à mão livre; e sim no paciente trabalho com a goiva desbastando as matrizes de madeira.

Cria séries de pequenas gravuras, miniaturas de objetos com toques de ironia e estranheza; algumas, também em pequeno formato, com toques construtivistas mas ainda dentro das questões existenciais do expressionismo.
Muito interessante, e didático, é complementar a mostra das gravuras com a mostra de algumas matrizes, de maiores dimensões, desenhadas e gravadas. São as placas de madeira (cedro) que são trabalhadas pelo artista e através da qual são feitas as cópias xilográficas. Como as matrizes da mostra ainda não foram entintadas, nesse nível do processo, o espectador pode ver a feitura da gravura e o acurado trabalho de desenho e gravação na madeira.
Rubem Grilo também foi um dos participantes, como eu, Eduardo Barreto, João Magalhães, Luísa Interlenghi, Enéas Valle e outros, do ciclo "2a. sim 2a. não", na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, na gestão do Diretor Rubem Breitman , em 1981, com curadoria do artista Gastão Manoel Henrique.

sábado, 14 de março de 2009

Seiva, de Eduardo Barreto (no Rio)


Conheço Eduardo Barreto há muito tempo, desde o ciclo de exposições "2a. sim 2a. não", que teve curadoria do artista Gastão Manoel Henrique, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1981, quando o Diretor era o artista, colecionador e, depois, marchand, Rubem Breitman . Fomos - Barreto, eu, João Magalhães, Rubem Grilo, Luísa Interlenghi, Enéas Valle... alguns dos expositores do ciclo que movimentou o Parque Lage entre a gestão do Gerchman e a Geração 80, mas isto é assunto para outra postagem...
Enfim, acompanho o trabalho do Eduardo Barreto desde esta época, um trabalho que vem desde os anos 1970 e que tem, até hoje, muito o espírito daqueles anos de rebeldia e contestação. Fizemos alguns trabalhos juntos, bebemos juntos e discutimos sobre arte, mercado, realizamos alguns projetos e fizemos muitos projetos irrealizados... tanta coisa... Tenho até hoje o projeto (completo, com perspectivas, plantas baixas, cotas, detalhamento de fachadas) feito pelo artista para o Museu dos Ventos, uma casa/galeria/museu/atelier que iríamos construir em um terreno de cara para o oceano Atlântico e o por do sol (não tínhamos o terreno nem o dinheiro para a construção, claro...) no Pontal do Atalaia, em Arraial do Cabo. E em todo este tempo, Eduardo segue, construindo sua obra, coerente, sem concessões, inovador, erótico, profundo, visceral, transcendente.
Seu trabalho foi visto em alguns espaços no Rio, como a Galeria Sergio Milliet (Funarte), o Centro Cultural Candido Mendes (nos bons tempos), e durante um tempo o atelier/loft/moradia do artista, um prédio encravado na ruazinha ao lado do Consulado dos USA no Rio (em plena paranóia de segurança pós 11 de setembro) foi palco de ocupações por ele e diversos outros artistas.
Assim, para mim é uma alegria e um prazer estético ver esta exposição, mais uma oportunidade de vermos um trabalho que se desenvolveu ao longo do mainstream do mercado, pela coerência do artista. No pequeno e simpático espaço da galeria, Eduardo Barreto conseguiu fazer como que uma retrospectiva de seu trabalho, selecionando obras emblemáticas em sua trajetória, sem perda da coerência e sem overdose de informação, o que é um acerto.

O ponto alto para mim são as Caixas Seminais, objetos, construções que tangenciam os Bichos da Lygia Clark, e são como modelos das topologias impossíveis do Escher; que brincam com o bi e o tridimensional: são esculturas, são quadros? e que mostram de uma forma construtiva a dualidade macho-fêmea que nos outros trabalhos é emocional, sensual, expressionista...
Outras caixas já são montagens de objetos em pequenas caixas de madeira; como as caixas surrealistas, imagina-se a caixa neutra fechada que, aberta, deixa saltar elementos, objetos, em uma mistura contraditória, política, erótica, absurda.

A artista Virgínia Paiva, logo na abertura da exposição, ficou fascinada por uma caixa que mostra o Papa Bento XVI ao lado (muito parecidos) do Homem de Neandertal.
Entre os outros trabalhos apresentados estão as séries de fotografias "Seiva" e "Labirinto da Sombra", e o vídeo "Pedra Animal".
E, para mim o que é bom sempre rever: três ampliações de fotografias que eu fiz, no alto da Pedra da Gávea, de uma incrível performance do artista, durante a filmagem de um vídeo fantástico, com a videomaker Renata C. Subimos a Pedra da Gávea, julho de 1978; era um sábado, dia de um dos jogos finais da Copa, a cidade estava silenciosa, mas do alto ouvíamos o rumor da cidade em alguma jogada que não sabíamos qual seria. Renata filmava, eu ajudei na produção e fiz a "fotografia de still"; e Eduardo Barreto fazia uma performance iconoclasta, visceral, violenta, libidinosa.
De um mapa da América Latina, o artista rasga os outros países, descarta-os até ficar com o mapa do Brasil; que corta em pedaços, e os come, mastiga, engole; regurgita; e, nu, defeca moedas. O artista, nu, amarra um crucifixo em seu penis; jornais com notícias de viloência se mesclam com fileiras de um pó branco como cocaína; cabeças cortadas e cabeças de ex-votos; toda uma mitologia do artista é espalhada no alto da Pedra da Gávea e se traduz em ações, em gestos, em uma performance onde Eduardo Barreto decifra os seus enigmas, propondo novos enigmas ao espectador.
Durante a filmagem, eu, espírito prático, sempre preocupado que o artista e a videomaker não caiam no abismo de onde sempre se acercam; é tudo um risco, e o abismo está lá, na beira, na borda, onde transita o trabalho de Eduardo Barreto.
Outras imagens do vídeo foram feitas no atelier no artista (à época um belo lugar em Santa Teresa que foi envolvido pelo crescer do tráfico até o ponto em que Barreto teve que se mudar e vender a casa para o traficante): nu, ele faz uma tanga (como um selvagem) de bifes de carne; assim coberto em sua nudez, começa a se vestir com um terno, sobre as carnes: terno, camisa social, gravata; e no sorriso final ele é um modelo, é um executivo, é um ser social por sobre as carnes sangrentas, por sobre o instinto selvagem, por sobre a loucura e o desejo...
A exposição é dedicada ao filósofo Gerd Bornhein, com quem o artista tanto dialogou e tanto argumentou... Segundo o artista, "com o desdobramento do projeto das caixas, como proposta progressiva, existe uma didática quase mecanica em que podem se engendar num jogo de relações - essencialmente inextrincável, dentro da temática da SEIVA - os elos entre o desejo, a FÔRMA e a forma, como 'três' espaços psiquicos com suas linguagens/produções próprias - como a seiva/libido vai se amalgamando e sendo modelada, mas compondo uma gênese - evolução/trama das sublimações - dentro das etapas de uma mesma exposição e tendo como desfecho uma configuração saia justa e politicamente correta, mas sublime e sacra"

Em SP (6) - Instalações no MAC-Ibirapuera

No último andar do Pavilhão Bienal, no Ibirapuera (meio escondido, o acesso é por uma rampa externa, uma boa subida para os não tão jovens interessados em arte contemporânea), o MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP) ocupa muito bem um ótimo espaço (que é menos da metade do que a 28a. Bienal não ocupou , na verdade desperdiçou, com o seu andar vazio...)

São instalações do acervo do MAC e uma coletiva, Superfícies da Memória, também de instalações. Com curadoria de Lisbeth Rebollo Gonçalves e Sylvia Werneck, esta coletiva aborda a memória, o passado e suas reminiscências como elementos na busca da identidade, e apresenta oito instalações, dos artistas Divino Sobral, José Rufino e dos artistas uruguaios Pablo Uribe e Sergio Meirana; cada um deles, à sua maneira e em linguagens contemporâneas, buscando respostas para as inquietações humanas.
A instalação Náusea , do José Rufino, é bem impactante: antigos móveis de escritório, com manchas de uso, de sujo, de ferrugem, da ação do tempo; de onde brotam monotipias feitas pelo artista sobre antigos documentos encontrados em arquivos abandonados. A simetria bilateral das monografias lhes dá aspecto algo humano, talvez de radiografias ou tomografias, de marcas e lembranças de pessoas que habitaram e trabalharam naqueles móveis e documentos e que agora são apenas passado e memória.

A instalação Horto das Jabuticabeiras, do artista Divino Sobral apresenta galhos de árvores envoltos por fios coloridos de lã que estariam, segundo o artista “mumificados em camadas de tempo”; esta memória do tempo é vista com lirismo, as cores dos fios de lã trazem algo de festa popular de antigamente, de uma renovação dos galhos mortos através da arte. Outra instalação do artista consiste em projeções de fotos sobrepostas de cidades do interior de Goiás.
Paulo Uribe apresenta Doble Pensar, com retratos em serigrafia sobre informes publicitários do governo uruguaio publicados em jornais na década de 1980, que visavam conseguir adeptos para a Reforma Institucional uruguaia; em Coleção interfere com a mesma técnica em catálogo do MAC USP; apresentando ainda a videoinstalação Atardecer. A falta de tempo é o tema do artista Sergio Meirana, que espalha pequenos executivos entalhados em madeira, com suas valises e aparentando pressa, pelas paredes do espeço expositivo.

Na mostra do acervo de instalações do MAC, o destaque é para um Penetrável de Plástico, de Jesús Rafael Soto, que oferece ao espectador experiências estéticas visuais, táteis e sensoriais, ao invadir o ambiente que é como uma casacta de fios de plástico translúcido.
Em Ex it (Os portões do Inferno são apenas um Jogo de Luz ), Yoko Ono e suas árvores "de verdade" brotando de caixões mortuários enfileirados, indicando a efemeridade da vida e o “eterno retorno”.
Simon Benetton, em O Jardim dos Filósofos e Além , coloca esculturas de aço cromado como um jardim, contrastando a fragilidade das formas orgânicas com a rigidez do material.

Em Cipis Transworld Art Industry & Commerce, Marcelo Cipis apresenta uma obra lúdica com cores fortes, fazendo referência à publicidade e ao mercado de arte.
Já na instalação de Bernardita Vattier, Idêntica Identidade, a identidade é um jogo externo e transitório; os espelhos e as máscaras desafiam o visitante a vestí-las e a refletir-se, e a refletir sobre as suas múltiplas identidades.
Finalmente, Espectros, de Marwan Rechmaoui, mostra, sob a ótica do artista, o comportamento dos moradores do Yackobian, edifício modernista construído na década de 1960, no Líbano. O artista está envolvido desde a última década em ações para a reconstrução da vida em Beirute após a guerra civil, e ao recriar o edifício modernista, construção do início dos anos de 1960, no qual morou por cinco anos, o artista revela as transformações ocorridas em sua estrutura durante as mudanças econômicas e demográficas que tiveram lugar no Líbano ao longo do tempo, recriando as marcas do cotidiano dos seus habitantes e os traços por eles deixados como “vidas urbanas impressas sobre a superfície da cidade”.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Em SP (5) - Pinturas de Marina Saleme


Marina Saleme é uma pintora paulista cujo trabalho acompanho há um bom tempo e que infelizmente expõe pouco no Rio, assim foi um prazer ter conseguido ver Liquid Paper, a sua exposição individual na Luisa Strina; e minha sorte maior foi ter encontrado a artista, em pessoa, na galeria, e ter conversado com ela, tirando algumas dúvidas e trocando ideias sobre seu trabalho.
As exposições da Marina no Rio foram em 1997, no Paço Imperial (esta eu vi, me lembro nitidamente de uma tela em verdes e azuis) e na Paulo Figueiredo (com a série As Poças, esta eu lastimo não ter visto, vi As Poças em reproduções e adoraria ter visto, adoraria ter uma delas comigo...)
Um catálogo muito bom sobre o trabalho da artista é exatamente o Sobre Poças, de exposição no Centro Maria Antonia/Galeria Luisa Strina, com texto da Lisette Lagnado. Bem abrangente, mostra As Poças, as pinturas (chuvas, gotas, figuras como que com burkas...), as pinturas com malhas e com losangos, instalações com pinturas sobre paredes... A leitura e releitura deste catálogo como que "me preparou" para enfim ver a exposição e conversar com a artista.
E que exposição! O conceito do Liquid Paper é o do recurso do corretivo líquido, aquele fluido branco utilizado para correções em textos ou desenhos, em arte-final: recobrir, deixando transparecer algo do recoberto, criando camadas após camadas de cores e seu apagamento, uma pintura construída de camadas, brilhantes ou foscas, mais ou menos transparentes, opacas, uma pintura que o olho tem prazer em percorrer e em descobrir detalhes.
E o colorido, meu deus! os amarelos e o ouro de Fortuna, sob um céu/nuvens roxo/vermelho escuro; os púrpuras/carmins/vermelhos/lilázes/rosas com as manchas e aparições de verdes de Atados... Os arabescos que são recobertos e se tornam textura, impressão, memória, para renascerem como que caíndo do céu em nuvem de prata, do Céu Despencando...
A tela grande (290x440cm), Por trás disso tudo, um verdadeiro universo a ser descoberto, uma viagem por um mundo onde se pensa ver uma narrativa (três vultos, talvez figuras em burka, duas maiores e uma menor, duas mulheres e uma criança? uma paisagem, um céu tomentoso, arabescos que podem ser árabes ou azulejaria portuguesa, um rio verde esmeralda e três formas misteriosas como sangue, pontes, cordões umbelicais? a narrativa é aberta, fica para a imaginação do espectador), mas onde o que se vê realmente é pintura, da melhor qualidade, que joga com estas dubiedades para provocar o espectador e mantê-lo preso aos múltiplos significados do que é, em última instância, uma relação entre cores e formas no plano pictórico.
Pergunto à artista sobre os arabescos, o que vejo como azulejos (eu, minha infância em São Luiz do Maranhão, a cidade dos palácios de azulejos), se seriam uma herança árabe; ela me responde que é meio árabe (pai libanês) meio européia (mãe italiana); me fala que esta paisagem, estas figuras, arabescos, que eu vejo como tão árabes, ela trouxe para sua pintura a partir da contemplação de Giotto; os arabescos chegaram para ela como uma quase obsessão, após as malhas e os losangos, a princípio alguma coisa que ela era como que comeplida a fazer, mesmo sem saber em que iria chegar; e mesmo com a perplexidade dos que viam os novos trabalhos; até que os arabescos foram também se organizando nas estrutura dos quadros, em camadas, apagados e aparecendo em textura, reaparecendo (a ideia do liquid paper)...
Excelente exposição, uma pintora sensível e séria, que também exerce atividade didática em pintura, enfim, para os cariocas, vale mesmo pegar uma Ponte Aérea para ver!

O Filho da Mãe (lendo B.C.) - 2

Em outro voo, desta vez de Brasília para São Paulo, termino minha leitura de O Filho da Mãe, o mais novo livro do escritor Bernardo Carvalho; sem conseguir parar, preso à narrativa, ao caleidoscópio de personagens e de situações que se move sob um clima geral de paranóia, de perseguições imaginadas e reais. As mães, que na primeira parte do livro dão o tom de uma quase ópera de sentimentos, de amor e rejeição, como comentei em post anterior, na segunda parte (As Quimeras) se colocam quase que como um coro para um primeiro plano onde os filhos, os machos, atuam em um balé acrobático, um filme de ação: eles se amam, se perseguem, se machucam, se matam...
Aparecem até mesmo o pai/o padastro, em capítulos que são como pausas nesta ação, até pelas locações distantes: a Floresta Amazônica e o Mar do Japão (e que ficam, ao meu ver, como apenas inseridos na estrutura do livro; poderiam ter sido, talvez, mais desenvolvidos, principalmente o do padastro).
E ao clima geral de paranóia, de medo, se soma uma tristeza, no leitor, de entender a tragédia que estará no fim desta sinfonia; o final (Epílogo) é como um apocalipse e um pesadelo; surreal, brutal, uma ação irracional e violenta como uma força da natureza, um temporal, um terremoto.
Alguns livros do autor terminam sem explicar todo o mistério, que fica em aberto ("o que significa a caixinha de As Iniciais?"). Em outros, o mistério principal é esclarecido, abrindo o significado até para um releitura (Mongólia). Em O Filho da Mãe o final chega com o destino dos personagens bem traçados, os mistérios do enredo esclarecidos; o que fica sem solução, e nisto o Epílogo é perfeito, é o mistério maior: o que é e o por que deste amor mãe-filho, deste instinto que é do ser humano e dos animais, o por que disso tudo, o por que da vida mesmo?
Hoje eu diria que este é o melhor livro do Bernardo Carvalho, embora ache Onze, Teatro e Aberração (nesta ordem mas praticamente empatados) verdadeiras maravilhas, livros que espero reler mais algumas vezes, acho que em O Filho da Mãe o escritor atingiu uma maturidade, um equilíbrio, um domínio da narrativa e dos personagens que me fazem colocar este último à frente dos demais.
Agora vou começar a esperar o próximo, espero que não demore muito...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Abertura: (arte)³


Amanhã, 12/03, na Anna Maria Niemeyer, abertura da exposição (arte)³. Com curadoria do João Magalhães, a exposição apresenta trabalhos dos artistas Alessandro Sartore, Bet Katona, Felipe Fernandes, Jimson Vilela, Raul Leal e Virgínia Paiva. Não estou no Rio, assim não irei à abertura, mas talvez na próxima semana poderei ver os trabalhos e então postar meus comentários.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O Filho da Mãe (lendo B.C.)

Domingo à noite, no Galeão, esperando o voo que me leva de volta a Brasília e a mais uma semana de ralação, começo a ler, ou melhor, me aproximo reverente do livro, como de uma escrita sagrada, a princípio tímido, depois totalmente preso pela prosa dinâmica e envolvente. Continuo a ler no avião, e leio toda a primeira parte (Trezentas Pontes) do livro, do mais novo livro do Bernardo Carvalho. Não consigo parar, em um cochilo na decolagem (quando normalmente eu desmaio de cansaço ou pânico de voar) os personagens penetram em meu sono e me acordam violentamente.
O livro é O Filho da Mãe, da coleção Amores Expressos. Por contrato, o escritor teve que passar um mês em uma cidade (São Petersburgo); eu imaginava que a cidade havia sido escolha sua, mas em entrevista li que não, ele nunca havia imaginado ou desejado particularmente estar naquela cidade. E, também por contrato, o livro deveria tratar de uma história de amor.
Ao chegar a São Petersburgo, Bernardo Carvalho passou por uma tentativa de assalto, à luz do dia em uma avenida movimentada; depois outras amostras de uma violência às claras; e a partir destas experiências, desenvolveu uma paranóia, que acabou por dar a atmosfera do livro. As experiências do autor na cidade russa estão no seu blog do Amores Expressos, e são bem narradas, interessantes, embora seja um blog curto. (Um detalhe, deixei um comentário no ultimo post do blog e, por alguma idiossincrasia do blogger.com, os comentários posteriores, dirigidos, é claro, ao Bernardo Carvalho, estão vindo também - ou somente - para mim; é uma situação meio de duplo, que tem a ver com uma das temáticas do escritor, ou talvez com algumas situações colocadas pela Patrícia Melo no Jonas, o Copromanta ...)
Em O Filho da Mãe, Bernardo Carvalho utiliza um recurso não utilizado nos seus livros anteriores: o relato é feito por um narrador onisciente, deixa o subjetivo (embora em alguns dos livros anteriores as subjetividades de vários narradores se mesclam, num caleidoscópio de subjetividades). E são muitos personagens, muitas histórias que se entrelaçam, e o tema do amor é visto pela ótica do chamado "maior amor", o amor da Mãe pelo seu Filho; mas são muitos amores de mãe, são muitas mães: a mulher estéril que ao se saber condenada quer salvar o filho de outra mulher; a mulher que resgata pessoalmente seu filho de uma guerra; a mulher que abandona seu filho para voltar a uma vida tradicional; a jovem que usa o dinheiro do aborto para se drogar, a avó que se deixa morrer para tirar seu neto da guerra e da morte... são muitas mães e muitos filhos, e a busca do amor, a luta pela vida em um cenário onde a corrupção das instituições, a fragilidade economica e a arbitrariedade do sistema contribuem para um clima de insegurança, de instabilidade, de ameaças a cada momento, a tal paranóia que o autor sentiu e que trouxe com maestria para seu texto. Esta paranóia contamina o leitor, que fica preso ao clima de thriller, de suspense; de identificação e de medo de uma situação limite, de guerra, mas que está afinal tão próxima de nós. A paranóia que perpassa os livros do Bernardo Carvalho, uns mais outros menos, ao meu ver, neste livro chega ao seu paroxismo.
É como ver as cenas da Índia na primeira metade filme Slumdog Millionaire , do diretor Danny Boyle (vi hoje, gostei): a chacina dos muçulmanos onde a mãe dos personagens é morta; a exploração e mutilação das crianças abandonadas... Ou como ler um jornal brasileiro, qualquer jornal, qualquer dia, e ver o avanço da ilegalidade, da violência, da falta de ética, as milícias... imaginar que hoje, nos centros urbanos do Brasil, estamos protegidos, classe média, mas que é uma proteção muito frágil, e que por um "nada" poderemos, ou nossos filhos, ser vítimas de uma violência e um desrespeito, que já é o dia a dia dos destituídos; e que a paranóia difusa da época da ditadura militar na verdade não se resolveu com a abertura política, pelo contrário, ela se generalizou; os desaparecidos de ontem são as vítimas de bala perdida ou de sequestro-relâmpago de hoje, são as crianças de rua do filme ou os jovens sequestrados pelos grupos militares ou para-militares das diversas facções do livro.
Continuo a leitura amanhã e depois, nestes muitos voos de minha vida de nômade pós-moderno; e continuo meus comentários. Mas a avaliação até o momento é bastante positiva.

Posts sobre minhas releituras dos livros do Bernardo Carvalho:
Teatro
A dança das cadeiras
O Livro de hoje

Alguns links interessantes:
Blog do Bernardo Carvalho em São Petersburgo
Coleção Amores Expressos
Livre de Cacoetes (resenha sobre O Sol se põe em São Paulo)
Medo de Sade
Traição e Horror em Medo de Sade
Bernardo Carvalho e a arte da fuga
Nove Noites
O Sol se põe em São Paulo

domingo, 8 de março de 2009

Fábio Cardoso, "Pas Toi"


Na Lurixs (Rio), a abertura da exposição "Pas Toi", do artista Fábio Cardoso, e conversas com o artista sobre o processo de trabalho utilizado para chegar ao belo resultado. Inicialmente, o nome da exposição é uma referência a um distanciamento, como um "você não", um "isolar"; e por paronímia, o "patuá", os amuletos.
O processo de trabalho é bem interessante. O artista trabalha com tinta a óleo (eu imaginava que ele utilizasse pigmentos a base d'água, pela fluidez e escorrido da tinta sobre a tela), bastante liquefeita com aguarrás; os objetos são colocados portanto sobre as telas impregnadas da tinta diluída, e suas formas ficam "impressas" na superfície da tinta; não é um processo de monotipia, e sim que pode ser mais relacionado a uma "fotografia", uma vez que as marcas geradas pelos objetos são trechos onde a tinta a óleo não oxida, ou seja, não solidifica, e portanto é eliminada em lavagens subsequentes. É uma pintura sem pincel, e praticamente monocromática.
Em série já apresentada antes, também na mesma galeria, o objeto "impresso" nas telas era o próprio chassis, com isso as telas eram abstratas, com um toque forte de metáfisica a partir do formato das retas em cruz do chassis; só que o que ancorava esta pintura abstrata era um conceito em relação ao próprio suporte. Uma referência para mim: a pintura inicial do Frank Stella, quando o abstrato (neste caso, abstrato geométrico) era obtido a partir de um conceito rigoroso de utilização do suporte (Stella marcava as linhas brancas sobre fundo preto a partir da espessura do chassis).
Na série "Pas Toi", os objetos "impressos" ainda se relacionam ao processo da pintura, mas não mais o próprio suporte e sim objetos do atelier: pinceis, espátulas, trinchas, martelos, tesoura... até uma corrente... E uma vez pronta, a tela em preto e branco é enclausurada em uma cápsula de acrílico colorido. O acrílico produz esta sensação de estranhamento, do "você não", e também leva a cor à pintura; os brancos brilham fortes, na cor da cobertura de acrílico, como se houvesse uma iluminação própria por dentro da tela; o resultado é lindo, lembra um pouco as radiografias em caixa de luz de consultórios médicos, e a força do monolito de cor com os fantasmas dos objetos é muito grande; o resultado final conquista o espectador.
Segundo o artista, os objetos utilizados no ofício de pintar ficam como que presos em blocos de cor, "como aqueles insetos presos em âmbar"; a referencia arqueológica para mim é também outra: em uma tela grande, amarela, a impressão dos panos utilizados no atelier adquirem a configuração de uma escrita, como uma pedra de Roseta que trouxesse mais mistérios ao invés de esclarecê-los.
Assim, vejo algumas subversões no trabalho: a pintura sem pincel; a pintura que é fotografia, no sentido de impressão da luz; a pintura sem cor; a cor vem da caixa de acrílico, que em última análise é como uma moldura; a moldura que tradicionalmente serve apenas para delimitar, neste trabalho é parte integrante, ao fornecer a cor e trazer o fechamento, o significado, para a tela enclausurada.
Uma subversão que é semelhante, embora sejam trabalhos bem diferentes na concepção e no resultado, à subversão do Leonardo Videla em suas pinturas Acrilico sobre tela. E a partir destes dois sentidos do acrílico (a tinta e a placa), uma outra subversão que é um inside joke para pintores: ao usar tinta óleo e tinta acrílica, aprendemos todos que o acrílico é base, o óleo vem sobre o acrílico; o artista coloca o acrílico sobre o óleo, de uma certa forma violando esta regra...
Enfim, pelos resultados e pelo processo que leva a este, uma boa exposição.

sábado, 7 de março de 2009

O Filho da Mãe (o prazer da leitura)

Entrevistas nos jornais, na internet. Ele deve estar chegando, finalmente. Entro na Livraria da Travessa de Ipanema, meio corrido antes de ir para casa, vindo de tarde com amigos em exposições. Procuro na parte dos lançamentos, nada. Procuro na parte de Literatura Brasileira, nada. Já vou embora, quando vejo, a capa vermelha bem "soviética". É ele, o novo livro do Bernardo Carvalho, O Filho da Mãe, da coleção Amores Expessos. Meu coração bate forte. Compro. Lembro das entrevistas, do blog, dos trechos já publicados em jornais e revistas. Enfim, começo a ler:

sexta-feira, 6 de março de 2009

Visitando o ApArtamento


Ontem, mesmo com todo o calor que está no Rio, fui à abertura do Projeto ApArtamento, cuja proposta consiste na ocupação de um espaço de moradia com obras de arte; mas não se trata de ocupação de uma moradia (casa ou apartmento) vazia, como tivemos algumas experiências no Rio, por exemplo os "Orlândia". Neste projeto, o apartamento é habitado (a moradora é a artista Marina Marchesan), e não é esvaziado para o evento, a ideia é mesmo que o morador continue mantendo a sua rotina; nas palavras do Jonas Aisengart, um dos idealizadores do projeto: "as obras se misturam aos objetos e as memórias dos moradores se confundem com as idéias dos artistas..." É a 2a. edição deste projeto, a primeira foi em um apartamento na Lapa (não cheguei a ir a esta edição, o apartamento é onde mora a cenógrafa Bruna Lobo), e há um blog com fotos).
E ao meu ver o resultado é bem interessante. O conjunto dos trabalhos, e a mistura entre estes e as coisas dos moradores, torna tudo muito interessante, como se levando a um extremo a máxima de "arte é vida, vida é arte". A sensação para o espectador é mais a de "ir a uma festa pela primeira vez em casa de um amigo recente", do que ir a um espaço expositivo, com as convenções e rituais do "cubo branco". Alguns dos trabalhos aproveitam mais esta possibilidade de diálogo com os objetos do apartamento (como a continuação da estante dos moradores na parede adjacente, pintura do Daniel Murgel). Outros utilizam como suporte objetos do apartamento (ou que poderiam ser do apartamento), como a pintura de um casal sobre um colchão, do Jonas Aisengart; ou a utilização do banheiro como uma instalação com bolinhas úmidas a serem manuseadas pelo espectador. Em suas pinturas de nuvens, na parede próxima à janela, Jimson Vilela busca uma "apreensao do efemero (...) a questao das nuvens é a passagem do tempo e como se percebe o tempo e o espaço... as nuvens mudam de cor de acordo com a incidencia de luz de um branco total ate um azul claro..."
E no geral é tudo bem agradável, interessante, criativo... e ainda uma visão, pela janela sobre os prédios, para o mar de Copacabana...

terça-feira, 3 de março de 2009

Em SP (4) - Aquarelas de Margaret Mee


Ainda na Pinacoteca, uma exposição comemora os 100 anos de vida da ilustradora botânica inglesa Margaret Mee, com cerca de 100 obras, sendo 59 aquarelas dedicadas à espécie das Bromeliáceas, e ainda 17 obras da coleção Roberto Burle Marx e desenhos inspirados na caatinga brasileira, além de folhas de cadernos que Margaret usava durante as viagens que fez ao Brasil, com anotações que registram detalhes de cor, textura e aspecto de cada flor.
Mas não pude deixar de fazer algumas reflexões sobre a ilustração botânica após o advento da fotografia.
Se a invenção da fotografia representou uma ameaça (e depois uma libertação) para a pintura, para o gênero da ilustração científica deve ter sido muitas vezes mais fatal; e é curioso que dos sub-gêneros da ilustração científica, me parece que apenas a ilustração botânica tenha sobrevivido ao século, e esteja em pleno Século XXI com espaço no circuito cultural e de mercado. Talvez também alguns outros tipos de ilustrações de fauna bem específicos: beija-flores, borboletas...
Qual a relevância de enfrentar viagens para registrar, com pincéis e aquarelas, bromélias, orquídeas... quando a parafernália tecnológica disponível em fotografia e vídeo consegue resultados muito mais precisos e de disseminação mais universal? (haja visto o National Geographic Channel, 24 horas por dia de "ilustração científica" em movimento e em cores)
Suspeito que esta sobrevida se deve a dois fatores.
O primeiro, intrínseco ao gênero, é a capacidade da ilustração em apresentar o icônico, o geral; enquanto que a fotografia tende a apresentar o indivíduo, o particular. (No National Geographic, cada suricata do documentário tem um nome, uma relação de parentesco com as demais; já nas aquarelas de Margaret Mee, cada bromélia, soberana em um fundo em branco, com seus detalhes destacados ao pé da página juntamente com o título em latim, é "A Bromélia" daquela espécie).
E o outro fator é a capacidade deste tipo de ilustração em "resvalar" para o campo da Arte, com A maíusculo. Elas se apresentam como arte, e são entendidas como tal pela massa, até por que isto atende a interesses do mercado, porém nada mais diferente de uma exposição de ilustrações em aquerela de uma outra exposição de aquarelas de, por exemplo, Fayga Ostrower, Pedro Varela, Xul Solar, Gonçalo Ivo...
Margaret Mee, em minha opinião, utiliza com maestria, além dos recursos da aquarela, estes dois fatores: a capacidade de uma visão icônica (herança da tradição inglesa dos aquarelistas botânicos) e a capacidade de se colocar como arte. E, o que eu acho importante ressaltar: dentro de uma tradição e de uma visão inglesa, européia, herdeira dos colonizadores. A temperatura que se sente em suas bromélias é a de Kew Gardens, não a da Amazônia: onde estão o calor, a umidade, a selva? as bromélias foram retiradas do seu habitat e estão, ícones da espécie, em um gabinete de curiosidades europeu qualquer. Isto para mim é tão mais evidente como em ilustrações de alguns membros da Missão Francesa do início do Século XIX, por exemplo Rugendas e Von Martius, podemos "sentir" o peso da foresta tropical, o calor, a grandeza da paisagem, mesmo quando eles destacam icônicamente os objetos de seu registro.

Na exposição, a única aquarela que tenta mostrar a bromélia em seu ambiente demonstra bem esta contradição: o fundo em branco é substituído pela imagem da Floresta Amazônica, o Rio Negro está visível... mas o tratamento desta paisagem é desfocado, monocromático, esmaecido... de novo a bromélia poderia estar em Kew Gardens e não no Rio Negro... Na verdade eu acho que esta é a obra mais fraca; quando Maragret se atém ao repertório e à linguagem do seu gênero, consegue soluções bem interessantes e esteticamente agradáveis; quando tenta entrar no campo da paisagem, porém, o resultado fica em um meio-termo que não convence.
Mas é uma exposição agradável de ver, e os objetos de viagens, presentes recebidos por tribos indígenas, pequenos troncos, bússola, material de pintura, expostos, dão uma visão humana da Margaret, qie afinal deve ter sido uma pessoa muito interessante e dedicada a seu ofício, com bons resultados dentro de sua proposta!
Ah, sim, e em 2009 (outubro) se comemora os 100 anos, também, do pintor irlandês Francis Bacon.

Em SP (3) - Jorge Guinle, belíssimo caos


"Por uma questão de justiça poética, já que o artista partiu tão cedo, as telas de Jorge Guinle decidiram permanecer jovens. Fisicamente até, elas passam a impressão de tinta fresca. Irradiam sempre a mesma vontade de pintar, a mesma vontade de viver, continuam a provocar, a agradar e a desagradar."
A epígrafe da exposição Belo Caos, retrospectiva do pintor Jorge Guinle, no MAM-SP, é dos curadores Ronaldo Britto e Vanda Klabin, e emociona: o contraste entre Jorginho, morto tão jovem (40 anos) e a sua obra, tão viva, tão jovem, e tão Jorginho mesmo.
Lembro quando ele apareceu no Rio, no Parque Lage, nos anos 1980, vindo de anos viajando, morando no exterior, e querendo levar a sério a pintura; a princípio olhado meio com desconfiança: o que é que este cara, tão rico, vai querer levar a sério? e o jeito meio desconexo dele não contribuía para diminuir a reserva. Mas logo se era conquistado pela cultura, pela articulação, pelo envolvimento no trabalho, e pelo próprio trabalho, que cresceu e se firmou.

A exposição no MAM-SP (inicialmente apresentada na Fundação Iberê Camargo e que, parece, não irá ao Rio por falta de patrocínio) é uma excelente oportunidade de conhecer, ou rever, o trabalho do artista. São telas grandes e uma sala com desenhos e pinturas pequenas sobre papel, com um bom apanhado da carreira de Jorge; a grande maioria dos trabalhos é de colecionadores particulares, assim será difícil reunir de novo um corte tão significativo sobre o artista.

Não tenho como falar muito sobre as telas, elas falam por si. Um belo caos, realmente: a tela em branco como um campo de batalha, que o artista explora, conquista, com vagar, com força, raiva, amor; tinta espessa, escorridos, pedaços desconexos, e de repente, o milagre: do caos se forma um corpo orgânico, uma pintura que se sustenta, quedá prazer ao olho do espectador, que se diz presente, viva, pulsante...
Um bom catálogo; uma boa companhia na minha estante para a excelente monografia sobre o artista, feita pela historiadora (e minha amiga) Cristina Bach e editada pela Cosac Naify.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Projeto ApArtamento


Convite para a abertura da segunda edição do Projeto ApArtamento, o nome completo do projeto é ApArtamentoquarto.sala.copa.cabana, e segundo os artistas, é:
Uma nova experiência de montagem com 35 artistas em residência. Desta vez no coração da carnavalesca aldeia geriátrica, princesinha do mar... Rua Barata Ribeiro, 74/ 1101... Passem pra tomar um café, mas tragam também uma cerveja...
Tenho alguns amigos na exposição, artistas jovens, e a ocupação de espaços fora do circuito é uma experiência sempre interessante.
Tentarei estar lá, na abertura.

domingo, 1 de março de 2009

Em SP (2) - Josef e Anni Albers


Na Pinacoteca e no Instituto Tomie Othake, exposições complementares sobre o trabalho de Josef e Anni Albers.
No ITO, a ênfase é na obra-prima, a mais característica, de Josef Albers, a série Homenagem ao Quadrado. São mostradas 45 pinturas da série, além de alguns estudos (me impressiona, como pintor, ver as tirinhas de papel com as anotações do artista, utilizadas para a testar a mistura das tintas na busca da cor perfeita, exatamente como ainda fazemos todos os pintores). A montagem é sóbria, não precisava de mais, bastam as pinturas, em sequencias, sempre as mesmas formas (três ou quatro quadrados uns dentro dos outros, com os centros deslocados para a base inferior) com as inúmeras variações nas cores, brilhantes, vivas; mesmo os pretos e cinzas são vivos; as cores que interagem umas com as outras, se modificam a partir da presença das outras. Até mesmo uma pintura com os quadrados em vermelhos sutilmente diferenciados: à primeira vista, uma pintura monocromática; mas à medida em que o olhar se detem, percebe-se leve diferenciação nas bordas, e os quadrados aparecem, ainda aparentemente iguais mas sutilmente distintos.

A epígrafe do catálogo é uma frase do artista: "A preocupação dos coloristas com quais cores combinam entre si demonstra não apenas um preconceito, como uma questão equivocada. (...) Acredito que qualquer cor 'funcione' com qualquer outra... e que a harmonização de cores seja apenas mais uma possibilidade de reuní-las, e não a única desejável."
Perfeito. Na série Homenagem ao Quadrado, ao meu ver, Albers vai muito além dos estudos de cor, de uma demonstração para esta tese, e avança pela pintura: há o painterly, mesmo em zonas de cor aparentemente chapadas, algumas cores brilham com textura de esmalte, em outras a tinta é mais rala, outras bem opacas, as ranhuras da tela (no caso o compensado, masonite, o que me acende uma precocupação com a durabilidade do suporte)...
Albers avança também por outras formas de fazer arte que foram desenvolvidas bem depois. Como os artistas conceituais que hoje estão redescobrindo a pintura (ver meu post de 23/02/09), Albers parte de um conceito simples, estabelecido, bem claro, para criar, não uma, dez, mil pinturas separadas, mas toda uma série, a obra é o conceito e o conjunto (embora os quadros estejam dispersos, claro, e provavelmente nunca foram vistos juntos). A visão de uma sequencia de quadros com pequenas variações de cor (na exposição, os amarelos, os verdes, os vermelhos) me remete também ao minimalismo, a Donald Judd... As obras de Homenagem ao Quadrado são muito exibidas na versões em serigrafia, e a serigrafia oferece talvez a rapidez no processo que permita ao artista experimentar milhares de vezes mais opções que as telas; porém vê-las em pintura tem um sabor especial, cada quadro tem uma presença, uma aura, inegável; e o conjunto pulsa de vida.

A exposição da Pinacoteca é mais documental, se volta para a vivência do casal de artistas no México, e a influência do país e sua arte sobre eles. Apresenta fotos, milhares de cópias em contato e dezenas de ampliações, todas preto&branco, tiradas pelos artistas naquele país: pirâmides, cerâmicas, paisagens; a arte primitiva mexicana colecionada pelos artistas; e estudos, desenhos, pinturas feitas pelos Albers, onde se vê claramente como foi forte aquela influência. Bem didática, bem montada, a exposição também apresenta uma boa cronologia, através do recurso de linha do tempo, e tem um catálogo muito completo e bem editado. O material documental é muito forte, em vitrines no espaço expositivo: cartas, recortes, publicações, anotações, esboços, fotos... e está bem representado no catálogo, que é um livro de referência para o assunto.

Os traços dos degraus das pirâmides marcados pela forte sombra do sol mexicano, vista em muitas das fotos, se transforma em traços que delimitam estudos de cor de Josef; e os tecidos mexicanos, com suas tramas, nós e padrões repetidos, aparece nos trabalhos de Anni, não só nos tecidos feitos pela artista, como em murais e pinturas. Os estudos de cor e de padrões repetidos com pequenos triângulos, em aquarela, tem a beleza de uma música de câmara; e nos estudos de nós, provavelmente iniciados a partir do ofício de tecer mas evoluindo para estudos de linha e cor, a artista transcende o tema chegando a resultados que ultrapassam em muito a proposta inicial.

Muito interessante uma série de pinturas de Albers que precedeu a Homenagem ao Quadrado: Variants/Adobe, pinturas com estrutura básica de fachadas de casas mexicanas em adobe (uma porta e uma janela, duas janelas, duas portas...), e as muitas variações de cores que depois o artista vai explorar, dentro da estrutura mais concisa e precisa dos quadrados. Os Adobe me fazem pensar em outros artistas, que partiram de fachadas abstraídas para estudos de cor, espaço, volume: os nossos Volpi e Ione Saldanha; e mesmo do contemporâneo Paulo Pasta, com sutilezas em cor e discussão de outras questões, como a escala e a pintura em si. Ao final da exposição, cinco quadrados são o aperitivo, o link da Pinacoteca para o ITO.
Imagino que algum dia uma crítica de arte ferozmente feminista irá discutir o trabalho do casal Albers para revalorizar a obra da Anni, talvez (como as que revalorizam Zelda, a verdadeira escritora, explorada por Scott) como a verdadeira artista do casal.
A minha impressão é que o trabalho dos dois era bem equivalente; a utilização por Anni de técnicas "femeninas" talvez tenha colocado seu trabalho como "inferior" ao do marido, dentro do modelo dos anos 1950; mas na perspectiva atual, até mesmo quando artistas homens incorporam técnicas como bordado (Leonilson, Walter Goldfarb...), não consigo ver uma supremacia entre os estudos de cor de Josef e os tecidos de Anni. Acho que o verdadeiro salto, que elevou Josef Albers à categoria de grande nome, indispensável, da arte ocidental, colocando-a acima da produção da mulher e também dos demais professores da Bauhaus, foi a série Homenagem ao Quadrado. Com esta série, Josef Albers garantiu seu lugar no cânon; e eu garanti bons momentos de fruição estética e intelectual ao navegar entre as salas do ITO e da Pinacoteca.

Ver também The Josef and Anni Albers Foundation

Em São Paulo (1)

Três dias em São Paulo: além das incursões noturnas e de uma vista para o Edifício Copan, as visitas a alguns dos muitos espaços culturais da cidade, com boas exposições: Pinacoteca, Estação Pinacoteca, CCBB, MAM-SP, MAC-USP-Ibirapuera, Instituto Tomie Othake, Memorial da América Latina.
Para não ficar com um post interminável, vou quebrar em vários posts, agrupados por assuntos.
Ah, sim, e apesar da meteorologia anunciar chuvas e trovoadas (consequentemente, enchentes, enfarrafamentos...), me obrigando a viajar com casaco e guarda-chuva pesando na mochila, foram dias lindos de sol, uma temperatura amena...