sexta-feira, 31 de julho de 2009

Iran do Espírito Santo na Artur Fidalgo

Depois de três semanas direto na secura de Brasília (umidade 18%), o Rio com chuva me parece o paraíso, saio na rua sem abrir o guarda-chuva e me impregnar desta garoinha de quinta-feira, me sinto feliz. E vou a um lugar que me lembra minha infância, o Shopping Center Copacabana é um Shopping Center pré-Shopping Centers, quando o conceito se aplicou a uma construção modernista, três andares de lojas ligadas por uma rampa em espiral e por cima blocos de apartamentos pequenos, a ocupação de Copacabana nos anos 1950-60. Minha infância: no início dos anos 1960 eu morei com minha avó na Rua Toneleros e aos domingos subíamos a rampa em espiral do Shopping para assistir a missa numa igreja modernista na cobertura; acho que não deve mais existir a Igreja; e minha avó não era moderna, pelo contrário, não sei bem por que ela preferia esta Igreja e não as outras de Copacabana; minha tia estudava Direito na PUC e era ligada ao movimento estudantil, UNE; talvez por isso, minha avó faria uma pequena concessão ao "moderno" para conseguir assim levar minha tia à missa; eu iria de qualquer jeito, pois subir a rampa em espiral era para mim uma aventura sempre renovada.
Depois, o Shopping se transformou em Shopping dos Antiquários, e estão todos lá; e os brechós; e a loja de objetos moldados em gesso. E, surpreendentemente, duas ótimas Galerias de Arte, Artur Fidalgo e a Novembro (esta, para minha tristeza, soube que mudando para São Paulo): espaços de arte e cultura do mais alto nível no meio do burburinho do local.
E com a exposição do Iran do Espírito Santo, a galeria se transforma em um verdadeiro enclave zen, um espaço onde a tônica é a precisão, o silêncio cheio de significados, uma estética concisa e eficaz, uma poética que vai direto ao alvo, uma transcendência contida e intensa.
Como nos conceitos do budismo, a precisão do arqueiro zen, a forma exata e eterna.
Uma parte da exposição são objetos. Simples objetos, um copo com água, uma caixinha de filme fotográfico, uma lâmpada, um espelho de parede, uma lata de fermento em pó Royal. Só que não são os "simples objetos", e sim a ideia platônica destes objetos, ou os objetos transfigrados em zen: a caixinha de filme é esculpida em mármore cinza, maciça, com peso; a lâmpada é cromada; a lata de fermento em pó tem o dobro das dimensões da lata original e é moldada em aço maciço, é pesada, a tampa não abre; e o copo não contém água, é esculpido em cristal, maciço, o que parece água é o cristal e portanto ele tem um brilho muito mais intenso que teria o copo com a água; mas não são símiles, não tentam passar pelos objetos reais, eles são mais reais que os reais.
Após ver o copo com água do artista, todos os outros copos que eu olhar em toda a minha vida serão pálidas cópias daquele copo, ele é O COPO, eterno, transcendente, "o molde" utilizado pelo "criador" para todos os demais copos, estes apenas copias imperfeitas.
Outra parte da exposição explora as gradações de cor, na verdade de tom, de um branco total pelos cinzas a um preto total, também uma ideia zen.
Um trabalho, que para mim seria a chave destes trabalhos sobre as sequencias cromáticas, é uma ampliação fotográfica, preto e branco; para quem como eu já trabalhou em laboratório fotográfico (dos analógicos, claro), é fácil entender o processo: uma máscara sobre o papel fotográfico, a cada exposição a máscara se move, de forma regular; ao final, temos uma série do preto (a parte que ficou mais exposta) ao branco (a última parte onde a máscara parou). O artista refaz este conceito em quatro desenhos, usando uma caneta marcadora, em linhas rigorosamente paralelas; ao iniciar, as linhas são negras, e à medida que a caneta se gasta, surgem os cinzas, até um branco final; o resultado é pintura, um chiaroescuro; minimalista sim, mas uma referência ao barroco.
E o ápice das sequencias de tom é a instalação que ocupa as maiores salas da galeria: duas paredes com as listas verticais em gradações perfeitas, do branco ao preto e do preto ao branco. Apenas isso, ou tudo isso.
Uma excelente exposição.
E para mim, como bônus, a conversa agradável com o Artur, me contando sobre o artista, a produção da exposição, o rigor do trabalho e, além do trabalho, a preocupação com as tudo que faz parte da feitura, da embalagem, da veiculação, do trabalho.
Outro bônus, um filme feito na exposição do artista em sua galeria nova-iorquina, ouvir comentários do artista sobre seu trabalho, e até um comentário muito interessante: ao falar sobre um de seus trabalhos, "Deposição" (minimalista, um objeto encostado na parede da galeria que é como que uma simples porta negra), o artista diz que sua referência para este trabalho foi a "Deposição de Cristo", pintura do Caravaggio. Para mim, saber desta ligação, esta consciência, de um trabalho tão contemporâneo, tão clean, ter uma ligação com a tradição da pintura, com um pintor como Caravaggio, é algo que acrescenta outra camada de entendimento ao trabalho do Iran, e me faz gostar mais ainda da exposição.
Como quando eu subia a espiral para a missa dos domingos, ver a exposição e pensar sobre ela me trouxeram uma sensação renovada de transcendência, que me acompanha pelos outros momentos de corre-corre do meu dia de trabalho.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Exposições no CCBB-BSB

Fim de semana em Brasília, e uma boa programação é sempre o CCBB. Pensar que enquanto o Palácio do Planalto está sendo reformado, o Centro Cultural é utilizado para os despachos da Presidência da República; será que os políticos tem a curiosidade de andar um pouquinho e ver as exposições em cartaz?
Três boas exposições:
1- Saint-Étienne - Cidade de Design: É parte das comemorações do Ano da França no Brasil, uma mostra sobre design, tecnologia e sustentabilidade da Cité du Design Saint-Étienne. Objetos interessantes, um design que sabe ser bonito mas também cheio de preocupação com ecologia, desperdício, reaproveitamento de recursos etc.
2- Elder Rocha - Justaposição Polar: pinturas, desenhos e uma instalação do artista goiano, residente em Brasília, professor de Artes Visuais da UnB. Bonitos trabalhos, justaposição de imagens anônimas, quase arquetípicas, com elementos de pintura. As imagens são ilustrações de livros antigos, gravuras em traços finos, pré-computação gráfica; ampliadas, adquirem uma estranheza, os traços finos se tornam aparentes como traços, e a pintura traz efeitos painterly ao gráfico, escorridos, velaturas, contrastes. Um trabalho limpo e preciso, uma boa exposição, para ver e rever. O lançamento do catálogo será no dia 5 de agosto.
3- Abelardo da Hora, retrospectiva - Amor e Solidariedade: Artista radicado em Recife, Abelardo da Hora completa 60 anos de carreira, marcada pelos temas sociais e líricos, e a retrospectiva no CCBB apresenta cerca de 120 peças - esculturas, desenhos e trabalhos em cerâmica. Uma oportunidade de ver o trabalho do artista, pouco apresentado no circuito Rio-SP. Embora algumas peças me pareçam meio "datadas", é inegável o vigor da obra.

sábado, 25 de julho de 2009

"Um exército de mim": auto-retratos


Pintei o primeiro auto-retrato ainda em junho, a ele se seguiram outros, toda uma série, pintados em frente ao espelho, depois o retratado é o artista, com a tela em branco, a taça de vinho, a ampulheta vinda das vanitas, e mesmo um auto-retrato visitando o "cenário" de uma vanitas.
Então, de volta ao básico, uma nova série ou sub-série de auto-retratos, só o rosto, em pose de um 3x4, em frente ao espelho, uma careta, a boca crispada, os dentes arreganhados. Uma expressão de cão de guarda; em minha cabeça martela a música da Björk, dela tiro o sentido e título da série: "Um Exército de mim" ("...and if you complain once more/you'll meet an army of me...").

Telas pequenas, enfileiradas, em conjuntos. Tratamentos diversos, experimentação de cores, contrastes, escorridos, metálicos, texturas com muita tinta ou em aguadas, geometrizantes ou quase expressionistas, elas destilam minhas muitas influências, os pintores que gosto, que vi e vejo, os graffitis, as histórias em quadrinho, as fotos de jornal, as xilogravuras de cordel. Em comum, os dentes à mostra, um exército de mim pronto para defender ou se defender do que? de uma guerra que não veio, de um mundo conturbado... ou não, apenas tinta sobre tela, pinturas...



Por que os auto-retratos? Penso mais sobre isso tudo e analiso que para mim na verdade não importa tanto o auto-retrato, a expressão do meu eu interior ou algo assim, me interessa mais usar o tema para fazer pintura, como usei as vanitas ou os Habsburgos e Bragança.
Além disso, uma verdade para todos os pintores de auto-retrato de há séculos: para pintar a figura humana, o auto-retrato permite usar o modelo vivo mais à mão, mais paciente e mais econômico, o próprio pintor.
E, é claro, o "és pó"...
Tamanhos dos auto-retratos "Exército de mim": 18x24, 22x27, 24x30, no máximo, até agora, em 30x40cm)

sábado, 18 de julho de 2009

Put the blame on Mame, boys


Ela era linda, alta, ruiva, e eu era apenas uma criança, em meados do século passado, no Copacabana Palace. Ela me parecia enorme, com um olhar por cima dos ombros de todos os homens brasileiros, adultos, imagine então como este olhar iria por cima de mim, eu, apenas uma criança, que ia com meus pais à pérgula do Copa, nadar na piscina enquanto meu pai e minha mãe tomavam chá ou drinks com amigos, para mim um sorvete ou um misto quente; me divertir enquanto ao redor astros e estrelas e políticos e empresários brilhavam e falavam de coisas importantes que eu nem imaginava, eu era apenas uma criança, quando algum dos adultos me disse: "é ela, a Gilda, vai pedir um autógrafo pro teu caderno"...
Ela parou a marcha triunfal sobre os mortais latinos, deusa, e me olhou, os cabelos ruivos faziam cascatas acobreadas, como um Niagara de sangue, os olhos sobre mim, eu apenas um menino, com frio, com 5 6 7 8 anos no máximo, mas que me transformei no homem que seria daí a 10 15 anos, só com o calor do olhar da deusa. Ela sorriu. Os dentes lindos e perfeitos, a boca vermelha e umida, talvez um gosto de martini ou dos beijos do O.W., quem sabe? eu não saberia dizer, ainda era um menino bem longe da puberdade, ainda não conhecia o clamor do sexo mas o via nos cabelos ruivos e na boca que me falava algo, em inglês, claro, e que eu tentava entender e responder à altura, graças a deus minhas aulas no ibeu.
A deusa parou sua marcha, me sorriu e se abaixou, as pernas lindas, perfeitas, ficou com a cabeça da altura da minha, os olhos da altura dos meus olhos, sorriu de novo ou sempre, escreveu algo no meu caderno de autógrafos. E me beijou no rosto, manchando meu rosto branco e liso de criança de um baton vermelho vivo. Se este baton fosse indelével, como uma tatuagem!
Ainda passou a mão sobre minha cabeça, assanhou meus cabelos que eram louros e que hoje são brancos, levantou-se e continuou sua marcha; seguiu para enfrentar, na saída da pérgula, um batalhão de fotógrafos e jornalistas, perguntas indiscretas, a selva.
Voltei para a mesa de meus pais, um pequeno Édipo, mostrando meu troféu no caderno de autógrafos, eu, um pouco mais adulto que há dez minutos. Talvez. Talvez todos os homens da mesa tenham tido um pouco de inveja de mim por ter sido beijado pela deusa. Rita Hayworth, ou Margarita Carmen Cansino. Para mim, inesquecível.

A primeira aparição de Gilda ("That's me...") ("are you decent?"... "sure, I'm decent")

O máximo: Put the blame on Mame, boys..., a cena termina com uma Gilda estapeada...

So pure, cenas de Rita dançando com Gene Kelly

Rita H. & Fred A., versão editada, e um pequeno original ("That's much better, thank you...")

Amado mio, love me forever... ... e uma versão super-kitsch da Grace Jones

Rita dançando em Cover Girl

Orson Welles & Rita Hayworth

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os últimos auto-retratos


Eu ainda não me pareço com todos os auto-retratos desta minha serie de pinturas, mas um dia estarei extremamente parecido com cada um deles.
Um pouco como Picasso disse sobre Gertrude Stein e seu retrato: "Everybody says that she does not look like it but that does not make any difference, she will..."
Yes, Mr.Pablo, I will!.

Clarisse Terran mandou, pelo Facebook, uma história: "Lembrei de Mario Carneiro depois de 1h imóvel, dizendo pra Iberê que já estava bom o seu retrato. Iberê retrucou: Bom nada chê.. vc ainda está com 18 anos. Tenho que chegar aos 60. Fica quieto..."
Como neste diálogo, fantástico, eu (modelo) diria a mim mesmo (pintor): "eu rumo célere, desde os 18, para os 60".
Eu, na verdade, ao completar 17 anos, escrevi um poema onde dizia que tinha vivido (fiz as contas todas) 1/5, 1/4, 1/3, metade de uma vida, ou uma vida inteira; e hoje, tanto tempo depois, ainda nem cheguei aos tais 4/4 dos quais os 17 anos seriam o pedacinho de 1/4, e vivendo tanta coisa...

Ou, ainda, os auto-retratos são um pouco como Oscar W., o amigo do Bosie , contou sobre um certo Dorian G.; de uma certa forma é o que acontece.
Durante o dia eu, solar, planáltico, objetivo, pragmático, profissional, amigo, colaborador, realizador; mas os retratos estão lá, não mais em um sotão mas em um loft ou um apart-hotel; as pequenas telas em branco magicamente se multiplicam durante o dia, como coelhos ou lesmas, e à noite elas se recobrem de tinta, por si sós, umas às outras, enquanto eu respondo meus emails ou teclo no msn ou durmo; e na manhã seguinte, mais pequenos auto-retratos estão aí, espalhados por todo o espaço; antes de sair tenho que esconde-los da faxineira; eles abarrotam as gavetas, os armários, o freezer; e eles me dizem apenas: "pulvis es, tu in pulverem reverteris".
Sim, é isso: "és pó"
Obrigado por me lembrar disso, meus queridos auto-retratos...

Sermão de Quarta-Feira de Cinzas do Padre Antonio Vieira

Para ver toda a serie de auto-retratos no Facebook

terça-feira, 14 de julho de 2009

Uma "peça" da Coleção Sérgio e Hacilda Fadel



Como notícia já não é novidade, mas não custa lembrar, para não ficar esquecida no monte de novos escândalos que aparecem a cada dia.
Sérgio e Hacilda Fadel acumularam uma espetacular coleção de arte brasileira, com cerca de 1.500 peças, do início do século XIX aos dias de hoje. A coleção foi apresentada ao público em exposição no CCBB, em 2002, e também através de livros e catálogos.

A filha do casal, a advogada Marta, a caçula, que nas matérias da Veja à época da exposição do CCBB foi apresentada como "a grande conselheira do pai no que diz respeito a novas aquisições" e como ela mesma, com o marido, filho do senador e agora Ministro Edison Lobão, grandes colecionadores (as matérias não falam sobre o perfil da coleção do jovem casal).
Pois este início de julho foi divulgado que, entre os 663 atos secretos do Senado está a nomeação da advogada Marta, um mês depois de seu casamento, para um cargo de assessora no gabinete do sogro, então Senador; o gabinete fica em Brasília e a advogada mora e tem seus negócios no Rio, portanto imagina-se que a frequencia ao local do trabalho deve ter sido bem baixa nos 16 meses em que ficou recebendo o polpudo salário, que se origina dos impostos pagos por toda a população brasileira. Polpudo para os padrões médios desta população mas não certamente para a advogada e sua família.

Bom, eu pelo menos gostaria de ver uma declaração coerente destes colecionadores, dizendo que fizeram tudo por amor à arte, e que precisavam deste salário de funcionária fantasma para comprar quem sabe, um Antonio Dias, um Vergara ou um Krajcberg que absolutamente "estava faltando" na coleção... Se fosse assim, eu até "entenderia" a situação, como entenderia a situação de mãe faminta que rouba um pão para alimentar seu filho ("entender", claro, não significa que eu "validaria" os atos, é apenas um entendimento da motivação para uma ação eticamente errada). Custa-me crer que não foi isso, e que o jovem casal da elite precisava receber este salário de fantasma para complementar um orçamento... assim, sem motivação, o emprego fantasma passa a ser apenas mais uma, entre tantas, demonstração da arrogância do patriciado que vem da sensação ou certeza de impunidade, uma "peça" de anti-ética que mancha a estética das obras de arte da coleção.
E sobre o Senado? já andou pela midia um movimento para simplesmente extingui-lo, acabar com o princípio bicameral que é utilizado em muitos outros países mas que não em todos. Sem analisar a fundo a questão, penso que eu hoje com certeza assinaria uma campanha neste teor.
Veja mais detalhes e mais sobre os escândalos do Senado.

sábado, 11 de julho de 2009

Um viño

O inverno agora não está estas coisas de frio, pelo menos aqui no Planalto. Dias bonitos, céus azuis e noites um pouco mais frias. Mas dá para degustar um tinto, um bom tinto, potente e com boa relação custo-benefício. É o Palo Alto reserva, vinho chileno; está no mercado a safra de 2007, que resiste e se beneficiará de uma boa guarda, graças ao teor alocoolico de 13.5%. Na verdade é melhor guardar mesmo e degustar no inverno de 2010 ou 2011. Cabernet Sauvignon, Carmenere e Syrah em uma boa composição, e o preço por volta de R$35,00. Teve 88 pontos no Wine Advocate.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Noite no Rio

O dia de ontem foi muito agradável para mim, cercado pela beleza do sol sobre um céu de puro azul e da paisagem do Rio e a noite, felizmente, trouxe a continuidade desta alegria e fruição do belo, além do espírito alegre e informal do carioca, em três eventos relacionados a arte:
1- Abertura da exposição Alcova, na Galeria Laura Marsiaj: ao receber o convite, com a relação de 20 artistas participantes da mostra, imaginei uma galeria muito cheia de trabalhos. Mas o curador Marcelo Campos acertou em cheio: a seleção é ótima e os trabalhos fluem no espaço da Galeria, se integram e dialogam, sem nunca dar a sensação de aglomeração. Muita gente sim, na abertura, que foi um sucesso. Os artistas:
- Ana Miguel, com miniaturas de camas e malas com trabalhos em linha;
- Barrão, um conjunto de bibelôs interligados, um de meus sonhos de consumo;
- Brígida Baltar, com uma pequena parede de tijolos nus, montada como um quadro; e, no chão, em um canto, uma delicada renda traçada em pó de tijolo, uma instalação tão efêmera quanto forte em sua poética;
- Daniel Lannes, uma bela pintura com uma pin-up sensual e um sambista;
- Daniel Murgel, uma pintura que pode ser um projeto de maquete da recente serie de gaiolas/casas do artista;
- Efrain Almeida, um pássaro que voa como se emergisse da parede; de madeira entalhada, tem uma simplicidade e uma leveza marcantes; uma visão detalhista desvenda o perfeccionismo da execução.
- Erika Verzutti, Café Morandi, peças em cerâmica com aparência bruta, de inacabado, e tão fortes, são o anti-Morandi em sua contemporaneidade ruidosa, o belo que vem do incômodo e da vertigem;
- Fábio Morais, Escombro, uma máquina de escrever que, pela obsolescência, se transforma em um objeto misterioso, um ready-made de um futuro passado.
- James Kudo apresenta uma estrutura de casa, em perspectiva perfeita, feita de colagem sobre a parede com adesivos imitando madeira; e o toque final, um "escorrido" da estrutura pela parede, formando "poças" no chão, uma referência à pintura? irônica, pois o escorrido e as poças são do mesmo material adesivo;
- José Rufino trouxe uma cama e a coloca na parede, desconstruída; o tridimensional da cama se transforma em uma instalação quase bidimensional; mas com a perspectiva o olho se engana e vê a cama em três dimensões;
- Lenora de Barros, com uma sequencia de fotos, línguas sobre máquina de escrever, sobre palavras intuídas;
- Leo Videla,uma planta-baixa de arquitetura se transforma em um brinquedo dobrável, uma caixa, um objeto para manipular, construir e desconstruir; um belo trabalho;
- Lucas Bambozzi, um relógio que "altera a sequencialidade das horas, marcando a passagem do tempo";
- Marcia X, um grande momento da sempre saudosa artista, um kamasutrinha, dois bonecos em uma cama se movimentam, engajados em misteriosos e infindáveis movimentos eróticos;
- Pedro Varela, uma maquete das cidades desconhecidas do trabalho do artista, planos que flutuam no ar repletos de pequenos prédios, estradas, material urbano e da natureza, um universo lúdico e vibrante;
- Regina Parra, uma pintura de uma cena de interior, vista de câmara de observação; o tratamento dado pela artista transforma a cena trivial em em algo misterioso, uma expectativa de desconhecido, um presente congelado;
- Renato Bezerra de Mello, trabalhos feitos com folhas de papel carbono montados em uma caixa de acrílico; vêem-se marcas de algo escrito, como que um braille; são cartas; mas não se consegue ler as palavras desta escrita; e um desenho com nanquim branco em camadas de papel transparente; em ambos os trabalhos o artista joga de forma poética com a dificuldade da percepção, a arte como mistério;
- Tiago Carneiro da Cunha, com uma pequena escultura de mesa, em cerâmica colorida, que é um cinzeiro e é também uma vanitas;
- Waléria Américo, com o vídeo Des-limite, onde, em clima onírico, um personagem foge e retorna a uma prisão que é uma cúpula de uma construção de arquitetura eclética;
- Walmor Corrêa, Você vai ficar na saudade, minha senhora, esqueleto de um pássaro dentro de uma redoma com mecanismo de caixa de música.
2- Abertura de exposição coletiva na Galeria Amarelonegro. A galeria optou por um soft-opening, sem badalação; mas fez uma boa exposição que ficará em cartaz um mês, e merece ser vista. Artistas:
Alê Souto, Alvaro Seixas, Bernardo Damasceno, Elvis Almeida, Futoshi Yoshisawa, Geraldo Marcolini, Marina Freire Weffort, Sidney Philocreon, Vânia Mignone, Yasushi Taniguchi
3- Na Via Manzoni, também em Ipanema, lançamento do catálogo da recente exposição do BobN no MAM, e de trabalhos em back-light do artista, com as imagens que revestiam o lounge da exposição. Já comentei aqui no blog a exposição, muito interessante; e os back-lights ficaram bem bonitos; e o evento foi todo um sucesso, com DJ e muita gente bonita e animada, uma boa finalização de uma noite no Rio.

Dia no Rio

O tempo no Rio melhorou, após o frio do final de semana o sol veio, não com a força do verão, claro, mas suficiente para encher a praia pela manhã, e com isso encher meus olhos de coisas bonitas, em meu caminho pela orla para o trabalho.
Comemorando o ano da França no Brasil, uma exposição de artistas franceses em outdoors montados como totens, pela orla de Copacabana. Indo de carro, uma visão rápida mostra o que parecem ser trabalhos na sua maioria gráficos, toques de arte urbana, bem contemporâneos, mas sem nada a destacar. É um ponto a mais de beleza em uma paisagem já tão bela, mas está longe de representar a arte francesa ou mesmo de chegar como arte para o espectador, que certamente vê como mais uma série de outdoors.
Meu pensamento vai para uma notícia dos eternos jornais velhos: a prefeitura está pensando em comprar uma "escultura" do Romero Britto (pelo que vi na foto é na verdade um recorte bidimensional montado na vertical), uma imagem de uma mulher de biquini que poderia ser a Garota de Ipanema. Pela módica quantia de R$165mil rais (ou seria dólares?). Bom, certamente será melhor que o pândego corneteiro do finado César Maia na esquina da Garcia com a Visconde (qualquer coisa seria melhor que este estrupício). Mas o poder público no Rio, que já colocou nas ruas da cidade Waltércio, Amílcar, Ivens, Angelo Venosa, poderia dar destino melhor para esta verba.
Mas a visão da praia me impede de ser resmungão, e me mantém feliz até a noite.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Group Show on Amarelonegro, Rio


On Amarelonegro Gallery, Ipanema, Rio de Janeiro, opening tonight of a group show. July 07, 7pm. Artists: Alê Souto, Alvaro Seixas, Bernardo Damasceno, Elvis Almeida, Futoshi Yoshisawa, Geraldo Marcolini, Marina Freire Weffort, Sidney Philocreon, Vânia Mignone, Yasushi Taniguchi.

Anita Schwartz, Rio, 2 openings

On July 8, at 7pm, Galeria Anita Schwartz, in Rio de Janeiro, is opening two exhibitions:
Trajetórias em Processo II, with works of artists Estela Sokol, Gustavo Speridião, Ronald Duarte, Tatiana Ferraz and Vijai Patchineelam.
And an exhibition of artist Felipe Cohen.
Guilherme Bueno is the curator of both exhibitions.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

BobN, at Via Manzoni, Rio de Janeiro


Releasing the catalog and the multiples of BobN's recent exhibition at MAM=Rio, a party, at Via Manzoni in Ipanema, Rio de Janeiro, on July 7, after 7 pm.

sábado, 4 de julho de 2009

Uma catedral sonora e profana


O espaço da Galeria Progetti, um casarão centenário, bem reformado, em pleno Centro Histórico do Rio, se destaca pela verticalidade da parede dos fundos, com a transformação dos andares superiores em mezaninos que são como balcões para o espaço, como de um canyon ou da abóbada central de uma catedral.
Hoje, o espaço está ocupado por misteriosos objetos, de uma tecnologia estranha, de um high-tech/low-tech: no pavimento térreo, dezenas de jarros, ânforas, de barro ou cerâmica, ligados por fios elétricos que serpenteiam; do vão livre, cai um pêndulo oscilando sobre duas solitárias ânforas, de metal dourado e acrílico ou vidro azul; de perto se vê que o peso do pêndulo é um microfone; em cada uma das paredes paralelas do mezanino, motores levam um microfone em um caminhar de máquina sobre: vidros de tamanhos e espessuras diferentes, com água em volumes também diferentes; vasos de formatos e materiais diferentes.
Mas o que ocupa verdadeiramente o espaço é o som, um som misterioso, um mantra, que pode estar vindo das ânforas do térreo (cada uma delas, vemos agora, abriga uma caixa acústica que murmura coisas misteriosas), da reverberação deste som das dezenas de ânforas-caixas acústicas nas ânforas centrais de metal e acrílico, captada pelo pêndulo-microfone, e talvez retornando às ânforas ou se espalhando a partir do teto por grandes auto-falantes. Ou o som captado nas filas de vasos pelos microfones andantes do mezanino, como dois órgãos no que pode ser visto como um coro de uma catedral.
Uma catedral sonora, e que no momento da performance começa, ela própria, as máquinas aparentemente sem comando humano, por seu puro livre-arbítrio, a emitir sons de uma sinfonia profana. O som de mantra, espacial, se transforma em um som humano, embora aparentemente venha das máquinas, dos objetos, do espaço iluminado e estranhamente vazio de performers e cheio de espectadores.
É a abertura da instalação do Chelpa Ferro, na Galeria Progetti, hoje, agora a tardinha. Eu estava lá. Meninos, eu (ou)vi.

Alcova in Galeria Laura Marsiaj


On July 07, at Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, opening of two exhibitions:
Alcova, with works of artists Ana Miguel, Barrão, Brígida Baltar, Daniel Lannes, Daniel Murgel, Efraim Almeida, Erika Verzutti, Fabio Morais, James Kudo, José Rufino, Leo Videla, Lenora de Barros, Lucas Bambozzi, Marcia X, Pedro Varela, Regina Parra, Renato Bezerra de Mello, Tiago Carneiro da Cunha, Waléria Américo and Walmor Corrêa. The curator of the show is Marcelo Campos, and the exhibition goes on until August 7.
Serie Sonata, exhibition of Helena Bach, in gallery’s Anexo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um olhar sobre a paisagem contemporânea, in Rio de Janeiro


Pólo de Pensamento Contemporâneo (POP) and Galeria Mercedes Viegas, in Rio de Janeiro, are opening an exhibition, “Um olhar sobre a paisagem contemporânea” (a look on the contemporary landscape), with paintings, photos, drawings and sculptures of several brazilian artists: Amália Giacomini, Ana Holck, Angelo Venosa, Anna Maria Maiolino, Daniel Murgel, Elisa Bracher, Enrica Bernadelli, Eduardo Coimbra, Maria Laet, Maria Lynch, Matheus Rocha Pitta and Ricardo Ventura. Fernando Cocchiaralle is the curator of the show. POP is at Conde Afonso Celso Street, 103, Jardim Botanico, Rio de Janeiro, the opening will be on July 6 and the exhibition stays until July 31.

Oratórios, in Rio de Janeiro


"Oratórios" (oratories), an installation/performance by artists Michel Groisman and Sung Pyo Hong, at Durex Arte Contemporânea, had its oppening on last Saturday, June 27, and can be seen until the end of August.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Auto-retratos




A partir das recentes séries de retratos que tenho feito (a série dos Roberto Carlos, o encontro do Michael Jackson com Farrah Fawcett), a sequencia quase natural é atacar o auto-retrato. Em frente ao espelho, com cores fortes, tinta saída direto dos tubos, misturada na própria tela com pincéis grossos ou espátulas (e dedos, mão), a pintura vai nascendo e o introspectivo se faz expressivo.
Estes são os três primeiros, em telas de 27x35cm ("Auto-retrato com olhos fechados e boca aberta"), 30x40cm ("Auto-retrato com um olho aberto") e 50x60cm ("Auto-retrato com o coração exposto").
Clique aqui para ver as demais pinturas da série em meu álbum no Facebook

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Live Performance - Chelpa Ferro


Next Saturday, July 4, on Galeria Progetti in Rio de Janeiro, a live performance of gruop Chelpa Ferro.