quarta-feira, 26 de maio de 2010

De volta ao Rio

O corpo moído pelas 12 horas de voo com a conexão, em cadeira apertada da classe econômica (nada que a sessão de RPG de hoje não tenha resolvido), o cansaço de ter que ver e fazer tudo em uma viagem de apenas 12 dias. Não consegui escrever nada no blog, paciência, fico devendo, escrevo a partir de hoje, tanta coisa para contar.
Uma estranheza em caminhar nas ruas (Ipanema é linda mas está tão suja!), em ler o jornal (Dilma leva sua maquiadora para as viagens internacionais, nada diferente do que a Dulce Figueiredo fazia).
E já me programando para ver neste resto de semana as exposições em cartaz (uma boa programação, em especial Rebecca Horn no CCBB e Gordon Matta-Clark no Paço Imperial) e também para os eventos do próximo sábado dia 29:
1- Nova edição do Projeto Acervo, desta vez com obras de Amália Giacomini, Clarissa Campello, Débora Engel, Fernando de La Rocque, Geraldo Marcolini, Laura Lima, Leonardo Videla, Marcos Chaves, Raul Mourão e Romano
2- Inauguração na Galeria Progetti de uma exposição coletiva com obras de AoLeo, Bettina Vaz Guimarães, Elisa Castro, Jimson Vilela e Vivian Caccuri
3- Entretempos, coletiva no Largo das Artes com obras de Fernando Azevedo, Flavio Colker e Leandro Pereira
Ufa!

sábado, 8 de maio de 2010

O trampolim de Icarahy

No início deste ano descobri, pela internet, algumas fotos de um trampolim, uma estranha edificação em concreto armado, construído em 1937 no meio da praia de Icaraí, em Niterói (na ortografia da época a praia se chamava Icarahy e a cidade Nictheroy, e creio que elas perderam muito em imponência e sofisticação com a simplificação ortográfica). O trampolim foi dinamitado no final da década de 1960 por supostamente oferecer perigo aos banhistas, graças à estrutura comprometida devido à falta de manutenção.
Não me lembro de tê-lo visto "ao vivo", nos anos 1960 eu já morava no Rio mas a vida de minha família se centrava no Rio, inicialmente em Copacabana e depois em Laranjeiras, nos predios modernistas do Parque Guinle; me lembro muito de outras construções fantásticas como o Belvedere da estrada Rio-Petrópolis, este disco-voador que ainda está inteiro porém desativado, mas não do trampolim. Este veio para meu imaginário com as fotos que vi este ano, com a força de uma forma totalmente nova e ao mesmo tempo arcaica.
Impossível resistir, e comecei a trabalhar em pinturas a partir destas imagens, usando (como nos auto-retratos, que a recente reforma ortográfica me obriga a rebatizar de autorretratos) a tinta como tinta, espessa, em cores arbitrárias. E usando também o aprendizado em termos de pigmentos a partir das aulas com a Katie van Scherpenberg, que retomei no Parque Lage.
A busca é de um clima de mistério, de fragmentos de construção invadidos pelo mar e por figuras que lembram vagamente humanos ou monstros marinhos ou extraterrestres, ou apenas o que sobrou das pessoas que se posicionavam para a câmara fotográfica, em traje de banho, naquele domingo de sol dos anos 1950 em uma praia e um tempo e uma vida que ainda estão lá mas não mais retornam.
As pinturas que mostro aqui no blog são o início da série, pequenas (25x33cm), e estou trabalhando também em outras maiores. O processo de trabalho é demorado, diferente do da maioria dos auto-retratos, que deviam muito de sua força ao imediatismo, ao gestual. Estas pinturas se constroem em camadas, em recobrir, em usar novos pigmentos, em um aspecto geral de corrosão que vem dos pigmentos terrosos contrapostos à tinta acrílica com cores e aspecto de "novo".
Ah sim, e também estou "atacando", em outras pinturas, as fotos do Belvedere...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Do virtual ao real e de volta, mais uma vez

É uma tendência bem atual. Apesar, ou mesmo por causa, do sucesso de eventos do circuito tradicional de artes (galerias, leilões, feiras de arte), os artistas buscam novas alternativas para veicular seus trabalhos.
Uma destas iniciativas, no Rio, é o Projeto Acervo (já escrevi aqui no blog sobre este projeto algumas vezes), que foi inspiração para galerias comerciais em projetos com formato semelhante, como a Galeria Arte em Dobro, já na 3ª. edição de sua Coleção.
Outras iniciativas bem interessantes, e com bom retorno, estão baseadas na internet e nas redes de relacionamento, conceitos e realidades bem contemporâneas.
Um exemplo é o da Galeria Motor, uma galeria virtual de arte que, lançada no início de 2010, funciona acoplada ao site de compras Submarino, a partir de iniciativa da Galeria Nara Roesler (SP), com apoio de dez outras galerias do Rio e São Paulo. Na SP-arte esta galeria estava presente com um stand, com vendas, fazendo uma bem sucedida passagem do ciberespaço para o espaço real da feira. Mas a Motor não é, como vimos, uma iniciativa dos artistas e sim de empresas já consolidadas (o Submarino e as galerias) no sentido de busca de novos consumidores de arte, através da internet.
Já no Rio, a utilização das redes de relacionamento para veicular o trabalho de artistas e promover vendas de arte surgiu a partir da iniciativa dos próprios artistas, com a criação da FaceArte, que funciona como um “perfil” no Facebook. Os portfólios dos artistas ficam armazenados como álbuns do Facebook, a divulgação segue o formato de mensagens e eventos do site, e as vendas são negociadas por email.
Além das atividades de divulgação de obras e artistas, FaceArte também se mobiliza em situações de comoção (terremoto no Haiti, chuvas no Rio), na forma de “leilões” virtuais de trabalhos de arte com a renda revertida para as campanhas de doação.
E agora, FaceArte também faz uma passagem bem sucedida para o mundo real, com a exposição Formatos, que abriu ontem no Espaço Crânio, no Rio. É a chance de ver “ao vivo” as obras que estão expostas no espaço virtual do Facebook, conversar com os artistas e organizadores, e o público reagiu bem, enchendo a galeria e comprando. O sucesso no mundo real certamente vai alavancar a atuação virtual de FaceArte.
Utilizando sistemas pré-existentes (todo o software e infra-estrutura do Facebook, já disponível gratuitamente), sistemáticas próprias leves (contato com clientes por email, remessa de trabalhos por Sedex, captação de novos fornecedores/artistas e consumidores/colecionadores através da própria rede de relacionamento), e criando uma imagem virtual positiva (bom gosto, contemporaneidade, preocupação social), FaceArte pode ser descrito como um case de sucesso em e-commerce.
Apesar do crescimento e consolidação do mercado de arte no Brasil nas últimas décadas, ele ainda é muito fechado, com muito personalismo e jogos de poder e de interesses. Desta forma, estas iniciativas são importantes para os artistas que conseguem, sem entrar em guerra com as instituições, como era usual nos anos 1970, ampliar suas alternativas.



O link para FaceArte é: http://www.facebook.com/facearte
Fotos do vernissage da exposição estão no site Só Arte Contemporânea

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SP-arte 2010 (anotações esparsas e incompletas)

Vim tão cansado de SP que dormi quase 24 horas seguidas.
Tudo errado. Eu deveria ter começado este texto falando do sucesso que foi a SP-arte em sua versão 2010, está em todos os jornais: "SP Arte, feira paulista de galerias, atinge seu auge após o fim de temores da crise econômica" (O Globo).
É verdade, ao meu ver foi realmente um sucesso, e talvez por isso eu tenha ficado tão cansado de bater perna, subir e descer rampa, andar pelos stands, conversar com mil pessoas, beber taças e taças de espumante, tentar guardar na memória uma infinidade de imagens de obras de arte que, finda esta feira, voltarão a alguma coleção privada ou acervo de galeria, e depois só serão vistos quando retornarem ao mercado, em um leilão de espólio ou talvez nem isto.
Com meu andar incessante no Pavilhão, eu internalizei uma característica das feiras: uma visão dispersa de milhares de realidades heterogêneas competindo entre si, e com esta minha nova personalidade (espero que provisória) não consigo escrever meu texto para o blog com começo (talvez falar das feiras medievais, uma metáfora do mercado perfeito dos primeiros economistas), meio (talvez destacar galerias e obras, comparar esta edição da feira com as anteriores) e fim (uma conclusão witty).
O registro então passa a ser o de anotações esparsas, "impressões". O que é coerente com a feira e com a forma de registro visual que adotei: as fotos de celular, toscas e com baixa definição, substituindo as fotos "boas" (com auxílio do São Photoshop) que eu fiz para a feira do ano passado e para outros eventos.
Em tópicos, sem preocupação com ordem, já sabendo que serei injusto, esquecerei coisas importantes, selecionarei apenas partes não tão significativas etc etc etc:
1- Meu destaque com certeza é para Tamba Tajá, escultura da Maria Martins feita nos anos 1940. Avaliada em R$1.500.000,00, é a obra mais cara da feira (e vale cada centavo, principalmente após a redescoberta da escultora, com o lançamento de sua biografia que discute em detalhe seu longo caso com Marcel Duchamp e sua influência na obra do artista). Galeria Arte 57, de SP.
2- Lançamento do livro da Adriana Varejão, Entre Carnes e Mares. Uma publicação bem abrangente sobre a trajetória da artista, com boas reproduções de obras e vários textos (na minha fila de leitura, passando à frente de muitos outros livros).
3- Profusão de obras da Mira Schendel. Na Galeria Pinakotheke, um lindo políptico da artista (uma sequencia de têmperas sugerindo movimento como de uma onda).
4- O virtual se torna real: a Galeria Motor, uma galeria virtual de arte associada ao site Submarino, com um stand físico, obras reais e vendas efetivas.
5- A mais nova galeira, a Ziper, estreia em grande estilo, com um bom stand. O foco é em artistas jovens, e lá está uma bonita instalação do Pedro Varela, que também aparece em outros stands.
6- Um pequeno Guignard, paisagem noturna, com toques de cor quase neon, tão contemporâneo em sua simplicidade.
7- Entre as aquisições da Pinacoteca de SP, um bom Ivens MachadoGaleria Amarelonegro dos anos 1970, da (folhas de caderno com pautas obliteradas por Liquid Paper). E, da Galeria Mezanino, um conjunto de xilogravuras em caixa feita a mão com madeira reciclada, do Ulysses Bôscolo. Duas galerias pequenas (uma do Rio e a outra de SP) que mostram bons trabalhos com foco em artistas jovens.
8- Performance da Maria Lynch, os seres coloridos rastejam pela rampa entre os visitantes da feira.
9- Entre os trabalhos monumentais, a coragem da HAP em trazer duas pesadas e imponentes esculturas em mármore carrara do Nelson Felix. Parece que pousaram no stand por mágica, e no entanto a logística deve ter sido bem complicada. Valeu.
10- As galerias do Rio estão bem, nada a dever às poderosas galerias de São Paulo. E atuam com criatividade (entre outras obras, Artur Fidalgo traz um objeto/instalação do Claudio Paiva feito com um pão francês descansando sobre copos de água; A Gentil Carioca com a instalação sonora/aquática do Paulo Nenflídio), com foco em artistas jovens ou mais consagrados - Amarelonegro (artistas jovens como Álvaro Seixas, Gisele Camargo, Rafael Alonso, Hugo Huayek, Raul Leal, Elvis Almeida), a Arte em Dobro (destaque para a Coleção 3 com múltiplos de, entre outros, Franklin Cassaro e Walton Hoffman, e para uma curiosa pintura do Sergio Romagnolo representando a Eudora, mãe da Feiticeira...), Progetti (lindas pinturas da Sandra Cinto e da Lívia Flores), Laura Marsiaj (lindas pinturas da Lucia Laguna e da Gabriela Machado), a Mercedes Viegas (bonita escultura do Ângelo Venosa, Ana Holck), Anita Schwartz, Silvia Cintra+Box4, Márcia Barroso do Amaral. Ainda, a Tempo e a Pequena Galeria 18 (ambas com fotografias), Almacén (lindas pinturas do Walter Goldfarb), Athena, Eliana Benchimol, Gustavo Rebello...
11- Jean Boghici arrasa, ao apresentar uma exposição individual do artista Emeric Marcier, resgatando a obra deste pintor, falecido em 1990, e com isso mostrar que mesmo em uma feira, em uma galeria comercial, se pode ter um aspecto quase institucional.
12 - Eu vi a exposição nos anos 1970, no MAM, e lá estão dois sobreviventes, dois Objetos de Sedução, frágeis trabalhos da Lygia Pape: saquinhos de pipoca com a marca de um beijo da artista em baton e objetos de um imaginário kitsch e barato: perfumes, espelhos, maquiagem...

Mais, anotações sobre as exposições que consegui ver em SP, nos intervalos da feira:
1- Andy Warhol na Estação Pinacoteca, uma boa exposição do artista, bons trabalhos, boa curadoria. Pena que não vem ao Rio.
2- Originais de Une Semaine de Bonté, colagens do Max Ernst, no Masp. Preciosos, é a segunda vez que os frágeis originais são expostos. Imperdível.
3- Helio Oiticica no Itaucultural, com penetráveis, metaesquemas, bólides, parangolés, uma exposição bem completa, talvez prejudicada pelo baixo pé direito de algumas salas. Virá ao Rio.
4- Flávio de Carvalho no MAM. Bons trabalhos, um recorte interessante da obra com ênfase na pintura e desenhos, diminuindo um pouco, talvez, o aspecto contestador e libertário do artista. Em outra sala uma pequena exposição com releituras contemporâneas do trabalho do Flavio exercita mais este aspecto contestador, por exemplo, focando o corpo nu como instrumento no trabalho do Ney Matogrosso em Secos e Molhados.
5- Centro Cultural de São Paulo, Dimensões Variáveis, exposição que enfoca a relação entre o desenho e a escultura, entre o plano e o tridimensional, com trabalhos de Daniel Acosta, Felipe Cohen, Marcius Galan e Nicolás Robbio.
6- Mauro Piva, na Galeria Fortes Vilaça, lindos desenhos, uma exposição que, pela técnica impecável e por abordar como um dos temas os materiais de desenho, é especialmente instigante para nós, artistas.
Ufa!



Veja fotos do evento em Só Arte Contemporânea, site do Odir Almeida
Site da SP-arte
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