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quarta-feira, 5 de maio de 2010

SP-arte 2010 (anotações esparsas e incompletas)

Vim tão cansado de SP que dormi quase 24 horas seguidas.
Tudo errado. Eu deveria ter começado este texto falando do sucesso que foi a SP-arte em sua versão 2010, está em todos os jornais: "SP Arte, feira paulista de galerias, atinge seu auge após o fim de temores da crise econômica" (O Globo).
É verdade, ao meu ver foi realmente um sucesso, e talvez por isso eu tenha ficado tão cansado de bater perna, subir e descer rampa, andar pelos stands, conversar com mil pessoas, beber taças e taças de espumante, tentar guardar na memória uma infinidade de imagens de obras de arte que, finda esta feira, voltarão a alguma coleção privada ou acervo de galeria, e depois só serão vistos quando retornarem ao mercado, em um leilão de espólio ou talvez nem isto.
Com meu andar incessante no Pavilhão, eu internalizei uma característica das feiras: uma visão dispersa de milhares de realidades heterogêneas competindo entre si, e com esta minha nova personalidade (espero que provisória) não consigo escrever meu texto para o blog com começo (talvez falar das feiras medievais, uma metáfora do mercado perfeito dos primeiros economistas), meio (talvez destacar galerias e obras, comparar esta edição da feira com as anteriores) e fim (uma conclusão witty).
O registro então passa a ser o de anotações esparsas, "impressões". O que é coerente com a feira e com a forma de registro visual que adotei: as fotos de celular, toscas e com baixa definição, substituindo as fotos "boas" (com auxílio do São Photoshop) que eu fiz para a feira do ano passado e para outros eventos.
Em tópicos, sem preocupação com ordem, já sabendo que serei injusto, esquecerei coisas importantes, selecionarei apenas partes não tão significativas etc etc etc:
1- Meu destaque com certeza é para Tamba Tajá, escultura da Maria Martins feita nos anos 1940. Avaliada em R$1.500.000,00, é a obra mais cara da feira (e vale cada centavo, principalmente após a redescoberta da escultora, com o lançamento de sua biografia que discute em detalhe seu longo caso com Marcel Duchamp e sua influência na obra do artista). Galeria Arte 57, de SP.
2- Lançamento do livro da Adriana Varejão, Entre Carnes e Mares. Uma publicação bem abrangente sobre a trajetória da artista, com boas reproduções de obras e vários textos (na minha fila de leitura, passando à frente de muitos outros livros).
3- Profusão de obras da Mira Schendel. Na Galeria Pinakotheke, um lindo políptico da artista (uma sequencia de têmperas sugerindo movimento como de uma onda).
4- O virtual se torna real: a Galeria Motor, uma galeria virtual de arte associada ao site Submarino, com um stand físico, obras reais e vendas efetivas.
5- A mais nova galeira, a Ziper, estreia em grande estilo, com um bom stand. O foco é em artistas jovens, e lá está uma bonita instalação do Pedro Varela, que também aparece em outros stands.
6- Um pequeno Guignard, paisagem noturna, com toques de cor quase neon, tão contemporâneo em sua simplicidade.
7- Entre as aquisições da Pinacoteca de SP, um bom Ivens MachadoGaleria Amarelonegro dos anos 1970, da (folhas de caderno com pautas obliteradas por Liquid Paper). E, da Galeria Mezanino, um conjunto de xilogravuras em caixa feita a mão com madeira reciclada, do Ulysses Bôscolo. Duas galerias pequenas (uma do Rio e a outra de SP) que mostram bons trabalhos com foco em artistas jovens.
8- Performance da Maria Lynch, os seres coloridos rastejam pela rampa entre os visitantes da feira.
9- Entre os trabalhos monumentais, a coragem da HAP em trazer duas pesadas e imponentes esculturas em mármore carrara do Nelson Felix. Parece que pousaram no stand por mágica, e no entanto a logística deve ter sido bem complicada. Valeu.
10- As galerias do Rio estão bem, nada a dever às poderosas galerias de São Paulo. E atuam com criatividade (entre outras obras, Artur Fidalgo traz um objeto/instalação do Claudio Paiva feito com um pão francês descansando sobre copos de água; A Gentil Carioca com a instalação sonora/aquática do Paulo Nenflídio), com foco em artistas jovens ou mais consagrados - Amarelonegro (artistas jovens como Álvaro Seixas, Gisele Camargo, Rafael Alonso, Hugo Huayek, Raul Leal, Elvis Almeida), a Arte em Dobro (destaque para a Coleção 3 com múltiplos de, entre outros, Franklin Cassaro e Walton Hoffman, e para uma curiosa pintura do Sergio Romagnolo representando a Eudora, mãe da Feiticeira...), Progetti (lindas pinturas da Sandra Cinto e da Lívia Flores), Laura Marsiaj (lindas pinturas da Lucia Laguna e da Gabriela Machado), a Mercedes Viegas (bonita escultura do Ângelo Venosa, Ana Holck), Anita Schwartz, Silvia Cintra+Box4, Márcia Barroso do Amaral. Ainda, a Tempo e a Pequena Galeria 18 (ambas com fotografias), Almacén (lindas pinturas do Walter Goldfarb), Athena, Eliana Benchimol, Gustavo Rebello...
11- Jean Boghici arrasa, ao apresentar uma exposição individual do artista Emeric Marcier, resgatando a obra deste pintor, falecido em 1990, e com isso mostrar que mesmo em uma feira, em uma galeria comercial, se pode ter um aspecto quase institucional.
12 - Eu vi a exposição nos anos 1970, no MAM, e lá estão dois sobreviventes, dois Objetos de Sedução, frágeis trabalhos da Lygia Pape: saquinhos de pipoca com a marca de um beijo da artista em baton e objetos de um imaginário kitsch e barato: perfumes, espelhos, maquiagem...

Mais, anotações sobre as exposições que consegui ver em SP, nos intervalos da feira:
1- Andy Warhol na Estação Pinacoteca, uma boa exposição do artista, bons trabalhos, boa curadoria. Pena que não vem ao Rio.
2- Originais de Une Semaine de Bonté, colagens do Max Ernst, no Masp. Preciosos, é a segunda vez que os frágeis originais são expostos. Imperdível.
3- Helio Oiticica no Itaucultural, com penetráveis, metaesquemas, bólides, parangolés, uma exposição bem completa, talvez prejudicada pelo baixo pé direito de algumas salas. Virá ao Rio.
4- Flávio de Carvalho no MAM. Bons trabalhos, um recorte interessante da obra com ênfase na pintura e desenhos, diminuindo um pouco, talvez, o aspecto contestador e libertário do artista. Em outra sala uma pequena exposição com releituras contemporâneas do trabalho do Flavio exercita mais este aspecto contestador, por exemplo, focando o corpo nu como instrumento no trabalho do Ney Matogrosso em Secos e Molhados.
5- Centro Cultural de São Paulo, Dimensões Variáveis, exposição que enfoca a relação entre o desenho e a escultura, entre o plano e o tridimensional, com trabalhos de Daniel Acosta, Felipe Cohen, Marcius Galan e Nicolás Robbio.
6- Mauro Piva, na Galeria Fortes Vilaça, lindos desenhos, uma exposição que, pela técnica impecável e por abordar como um dos temas os materiais de desenho, é especialmente instigante para nós, artistas.
Ufa!



Veja fotos do evento em Só Arte Contemporânea, site do Odir Almeida
Site da SP-arte
Clique aqui para meu comentário sobre a edição 2007 da SP-arte
Clique aqui e aqui para meus comentários sobre a SP-arte edição 2009

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma foto de celular

São Paulo, noite de abertura da SP-arte, o Pavilhão Bienal no Ibirapuera cheio, o espumante Salton servido sem parcimônia. Entre os milhares de pessoas que passam pelos stands, um sorriso tímido e irônico, um olhar forte, roupa preta, uma camiseta com estampa de caveira, uma vanitas. É ela, a cantora? pergunto. Sim.
Vou até ela, que já se afasta do stand, falo seu nome, meio envergonhado pois já não sou mais um adolescente para agir como um fã, pergunto se posso tirar uma foto  com meu celular, uma foto dela comigo, pedindo desculpas por agir como um adolescente fã enamorado.
Ela sorri e com a voz muito rouca diz que sem problemas, que já está acostumada, eu me enrolo todo na operação do celular para tirar a foto, não é o nervosismo do encontro, é que eu sou meio atolado com estas coisas de tecnologia, digo, ela, paciente diz que também é (claro que é uma mentira piedosa), finalmente consigo tirar a foto que minutos depois está no Facebook, para gáudio e inveja das centenas de amigos: eu e ela.
Agradeço, gaguejo, pois não é bem isso o que eu queria dizer, apenas “obrigado”, queria dizer que eu a conheço muito, desde o primeiro LP quando ela era muito magrinha e com cabelos encaracolados, desde quando ela fez a tatuagem com a figura de um cometa, desde quando eu pulava com S. no Canecão ao som da guitarra que ela tocava com o charme de tirar a mecha do cabelo negro que sempre voltava a cobrir sua testa, queria dizer mais, que minha avó e a avó dela trocavam receitas quando grávidas de nossas mães, em outra cidade, outro Universo, outro século, outra dimensão de tempo e de hiperespaço, queria dizer tanta coisa dentro do “muito obrigado” que falo com um sorriso e um beijo em cada lado da face, tão cariocas (os paulistas dão apenas um beijo, as faces direitas). E ela desaparece entre os corredores sinuosos do Pavilhão Bienel lotado de gente.
No Hotel, procuro no iPod e lá está, entre as 5673 músicas armazenadas, Fullgás, Marina Lima, o LP inteiro. Adormeço ouvindo as guitarras e a voz rouca que embalaram nossa tardia adolescência, um tempo quando tínhamos um futuro, e este futuro era o momento presente eternizado na voz rouca que chega a mim não mais nos sulcos do vinil e sim de um chip, da voz rouca que está além de qualquer tecnologia, eterna como eternos são os mitos e os amores de adolescência.

sábado, 16 de maio de 2009

SP-arte (on-line)

Volto à SP-arte, em plena 6a.feira a tarde o público comparece em massa, imagino como não estará no final de semana... mas consigo rever tudo e realmente "ver" os trabalhos expostos, sem o burburinho da festa de inauguração. Para arrematar, retorno no sábado, e vejo então mais uma vez como os eventos culturais em SP "bombam": fila na bilheteria, famílias inteiras, muitas crianças, grupos de terceira idade, de estudantes...
Cito algumas coisas que me despertam a atenção:
A primeira delas, sem dúvida, é uma versão de 1940 que a Tarsila fez para sua obra-prima "A Negra" (de 1923), eu nunca soube que existia esta versão onde a Negra na verdade é uma mulata-clara, e o fundo tem listas em tons pastel com destaques em magenta e azul turquesa. Muito linda, e certamente uma raridade (nem perguntei o valor da avaliação), no stand do Ricardo Camargo.
Beatriz Milhazes: Uma linda tela, grande ("Menino Pescando", de 1997), da coleção do Banco Itaú/Unibanco, no stand dos bancos para clientes VIP; no stand da galeria Almeida & Dale (SP), uma gravura grande (das edições feitas no USA, a mesma imagem que está no acervo da Pinacoteca) e uma grande colagem, ladeiam uma linda tela com tons escuros e uma surpreendente rosácea em cores claras contrastantes (cian/magenta) que adquirem um tom de neon, de fosforencência de corais; preços: US$80.000 a gravura, US$380.000 a colagem e US$400.000 a tela, e valem cada centavo. Em outro stand, uma tela grande dos anos 1980, com as colunas e o anjo barroco em dourado (esta, uma pechincha, ao meu ver: 200.000 reais); e na Pinakotheke, um pequeno desenho, de no máximo 20x25cm, papel, um esboço de arabescos como um azulejo, cuja avaliação é de US$50.000
Os trabalhos novos do Alvaro Seixas, no stand da Amarelonegro, são telas pequenas com elementos geométricos (listas, círculos) e uma forte fatura de tinta e de cor; e também uma tela maior (talvez 80x100cm), em cinzas e pretos, muito bonita, gosto muito. Ainda no stand desta Galeria, o Rafael Alonso que partiu das suas colagens de fitas que formam como que paisagens e pinturas das paisagens feitas de fitas, para pinturas realmente de paisagens, com tinta forte e boa qualidade pictórica, uma boa evolução. E também, para mim, a oportunidade de poder comparar os trabalhos mais antigos da Gisele Camargo com os mais recentes, e ver que minha memória não me traiu e acertei em minha análise, publicada aqui no blog ao falar da exposição individual, sobre o crescimento do trabalho.

A Gentil Carioca trouxe o trabalho do artista Pedro Varela em uma parede, na rampa, uma delícia para os olhos e principalmente para as crianças que, no sabado, não se cansavam em brincar nos mundos fantasticos do artista.
No stand da Galeria Mezanino, trabalhos bem interessantes e acessíveis de artistas jovens; com esta proposta, o stand fica sempre cheio, e crianças e adolescentes são atraídos pelos trabalhos bem contemporâneos e com linguagem de comics. Pequenas pinturas e xilos do Ulysses Bôscolo, bem interessantes... embora eu saiba que o artista se destaca mais à gravura, as pinturas são demais, as telas de dimensões pequenas se somam em dípticos, trípticos, colocados assimetricamente; sei reconhecer uma boa pintura, e assim não resisti a um tríptico com cenas de mar, em azul escuro, um Castagneto do terceiro milênio (embora tenha ficado balançado com uma árvore que parecia uma cachoeira, e com um díptico de um cachorro e sua carrocinha...)
Mercedes Viegas e Laura Marsiaj juntaram as forças compartilhando um stand, com muitas surpresas além dos trabalhos que já vi ultimamente nas Galerias. No sábado, "aparece" uma linda pintura da Lucia Laguna, e "desaparece" um múltiplo do Ângelo Venosa (Borboletas que na verdade são vanitas) que eu namoro há um bom tempo... outra vantagem das Feiras sobre as Bienais, o dinamismo, as obras são vendidas e é interessante ver a equipe de apoio embalando um Krajcberg, um Nuno Ramos, e o galerista rapidamente repondo com outra boa obra do acervo...
No stand de Galeria pernambucana Mariana Moura, ver duas lindas telas de artistas que eu só conhecia pela força do desenho: Gil Vicente e Carlos Mélo (este, expondo no Rio na Galeria da Luara Marsiaj). Os desenhos dos artistas são fortes, mas a pintura (embora bem diferente, já que do desenho expressionista e misterioso eles foram a uma pintura abstrata - no caso do Gil Vicente mais comportada, concreta; e no Carlos Mélo mais expressionismo abstrato) é boa e causa impacto.
Uma interessante performance da artista Ana Teixeira, "Outras Identidades"; o espectador escolhe entre diversas frases de impacto qual seria a da sua nova identidade (eu escolhi, claro, AINDA TENHO TEMPO); a artista registra em um livro a frase com a digital do espectador, e ambas vão para uma cédula de identidade que é entregue, em plástico, tudo como uma verdadeira identidade; um bom trabalho, e uma artista cortez e que pensa em tudo, até no álcool para limpar o dedo após a captura da digital. Ninguém lembra mais, mas nos anos 1970 em um salão de arte, o com mais visibilidade (acho que o Salão de Verão, com curadoria do crítico Roberto Pontual, apoio do então prestigiado Jornal do Brasil e exposição no MAM-Rio), a jovem artista Margareth Dunham Maciel ganhou o prêmio principal com trabalhos em xerox sobre a sua carteira de identidade; talvez tenha sido muito cedo; ou outro motivo que leva os artistas a buscarem o silêncio; mas não houve continuidade no seu trabalho; e ao ser identificado, colhida minha digital, em plena SP-arte em 2009, me lembro do trabalho da Margareth e penso em como o tempo voa.
Na Galeria do Murilo Castro (MG), um destaque para o trabalho do Daniel Murgel, as maquetes e os projetos das gaiolas; mas desta vez o artista "embaralha" tudo, os projetos e as maquetes divergem, e o resultado: um caos (comentei com o artista sobre o aspecto "atulhado" da instalação, e ele me retornou que esta era mesmo a proposta).
Na Galeria Nara Roesler, uma escultura/instalação incrível da Laura Vinci, uma "escultura" em gelo, com um texto: O.BRANCO.DO.RIO.PASSA. A tecnologia soft, dominada pela poesia, como é o trabalho da artista.
Duas lindas telas do Jorge Guinle, na Athena Studio e no Ricardo Camargo ("A Mulher do Marinheiro", 2x2m, de 1986, deslumbrante).
Debora Bolsoni, a das pipocas de ceramica na Paralela à Bienal, em varios stands; na Silvia Cintra com bonitos trabalhos de papel enclausurado em acrilico, e na Galeria Marilia Razuk, com uma instalação ("Sentinela") que, discreta, se confunde com o ambiente (um carrinho com um garrafão de água mineral e uma cesta de lixo, algo provável, e para o qual os visitantes em geral nem davam atenção, jogando seu lixo na cesta de lixo, e talvez, nao vi mas é bem possível, tenham mesmo bebido da água do garrafão)...
Na Galeria Gustavo Rebelo, do Rio, um reencontro com meu amigo de muito tempo, o artista Chico Fortunato; e um lindo Daniel Senise da fase de 1980-90; pequeno, talvez 110x80cm; mas um monumento. E um lindissimo Ivan Serpa da Fase Negra, uma raridade.
Na Casa Triângulo, algumas surpresas para um aficcionado de pintura como eu: Uma lindissima pintura da Vania Mignoni ("Meio Dia"); Eduardo Berliner, com "Placenta", que foi adquirida por um dos patrocinadores e doada ao MAM-Rio (uau!!!), uma linda pintura, com detalhes que se veem aos poucos no decorrer da apreciação; e o Felipe Barbosa: com as montagens de casinhas de cachorro, casinhas de pássaros etc., ele chegou a um Volpi pós-moderno; e agora investiga a pintura que esta por trás ou pela frente destes movimentos; boa pintura, interessantes jogos de transparência e opacidade, de painterly e chapado... a fatura com o pincel bem aparente, como é a do Volpi que é a presença oculta em todos os trabalhos; e ao mesmo tempo a tinta acrílica, o contemporâneo, um diálogo entre presente e passado no campo da tinta e do pictórico... Mas: uma ressalva em relação a esta Galeria, que tantas obras importantes nos apresentou: fumantes!!! dentro do ambiente fechado da SP-arte!!! lamentável...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

SP-arte: inauguração

Ontem, festa de inauguração da SP-arte, com o Pavilhão Bienal no Ibirapuera cheio, um público bonito e alegre, prosecco e uísque bem servidos, e o mais importante: arte, muita arte, para todos os gostos. Em 2007 escrevi que ir a SP-arte era melhor que ir à Bienal, e escrevi isso antes da "Bienal do Vazio", que terminou de esvaziar a Bienal... Hoje a SP-arte cresceu e minha máxima (compartilhada por vários artistas com os quais discuti o assunto) ficou mais próxima da (triste) realidade. A presença das galerias do Rio é importante, nos espaços maiores e bem situados, bem como no mezanino, ala da Arte Nova, onde stands pouco menores possibilitam a presença de galerias mais novas e mais voltadas para a arte jovem e contemporânea, uma boa solução da organização do evento. A noite de inauguração é ideal para "fazer uma social", mas mesmo assim já deu para ver obras primas, algumas raridades, muitas descobertas e também sentir algumas ausências, entre as obras apresentadas. Voltarei à exposição ainda nos demais dias, até seu encerramento no domingo, para realmente ver com calma, e volto a escrever minhas impressões.

terça-feira, 17 de março de 2009

Arte no olho da crise: PULSE New York 2009

Uma notícia sobre a PULSE 2009, a 4a. edição da feira de arte dedicada exclusivamente à arte contemporânea, que acabou de se realizar em NYC (5 a 9 de março), talvez mostre que, apesar da crise econômica, ainda há um mercado de arte atuante, vivo; e talvez mostre algumas tendências que estão por aí.
Esta edição da feira registrou um aumento de 35% na visitação, com cerca de 17.000 visitantes, e segundo os 101 exibidores de 26 países, além da grande visitação (segundo um dos participantes, a visitação foi tal que "o número de visitantes de seu stand nos quatro dias da feira equivaleu a três vezes o número de visitantes em sua galeria em um ano"), as vendas também se mostraram satisfatórias, apesar do clima de incerteza econômica.

Em termos das tendências, verificou-se que trabalhos utilizando novas midias continuam a ser populares, particularmente aqueles utilizando mecanismos complexos ou temas lúdicos e com humor. Exemplos: Mirrors Mirror, escultura cinética interativa do artista Daniel Rozin, feita de 768 ladrilhos espelhados que reagem à presença do espectador (pela descrição vejo como um descendente de um Ubi Bava), vendida a um colecionador tcheco por 150.000 USD; duas obras do artista Jim Campbell com paineis de LED exibindo vídeos, por 50.000 e 36.000 USD; de uma série de catálogos de artistas encapsulados em acrílico e neon, do artista coreano Airan Kang, foram vendidos mais de 20, entre 3.500 e 3.800 USD; e duas animações 3D em tempo real, do artista John Gerrard, vendidas por 25.000 USD.

Digno de nota é o aumento na popularidade e no interesse em desenhos e trabalhos sobre papel (uma tendência que está presente aqui no Rio, haja vista, entre outras, a recente exposição de desenhos na galeria Laura Marsiaj e, abrindo amanhã, a exposição Trabalhos em Papel na galeria Mercedes Viegas); muitos desenhos com os mesmos temas lúdicos ou obsessivos em sua técnica. Exemplos: venda de quatro desenhos em técnica mista sobre papel, 20.000 USD, do artista David Huffman, mostrando elefantes, dançarinas de "dança do poste" e astronautas; de três desenhos/textos sobre papel de caderno comum, de Michael Scoggins, por 10.000 USD; Paul Chiappe, que vendeu 6 dos seus desenhos hiperrealistas por preços entre 5.000 a 8.000 USD, e que foram exibidos com lentes de aumento ao lado, para que o público pudesse verificar que se tratam realmente de desenhos e não de fotografias; e desenhos com linhas obsessivas, feitos repetindo formas livres (rabiscos feitos quando o artista falava ao telefone) até gastar caneta após caneta, do artista inglês Kevin Osmond, entre 2.500 USD e 6.800 USD, além de uma escultura por 7.500 USD.

Pinturas a óleo com superfícies espessas e opulentas também estiveram em alta demanda: venda de pinturas de Alison Schulnik, 14 vendidas já na abertura e até o final da feira mais outras 3, por preços entre 2.500 a 25.000 USD; Kim Dorland, que teve pinturas vendidas por dois expositores, em preços entre 12.000 a 16.000 USD.
A próxima edição de PULSE será em Miami, em 2 a 6 de dezembro, e até lá temos o nosso SP-Arte, agora em maio.
(Fonte: e-Flux)