domingo, 31 de outubro de 2010

Sobre a dificuldade de escrever

Amigos me perguntam, quando você vai postar no blog as impressões sobre a Bienal? sobre a visita a ateliês? sobre o trabalho de artistas novos? sobre tua vida, tua visão subjetiva dos acontecimentos, em um momento de ruptura? sobre a programação cultural no Rio, tão intensa? sobre teu trabalho? sobre os artistas que você está pesquisando, sobre Daniel Buren, sobre Sigmar Polke, sobre...
A exposição está fechando, o trabalho do artista está mudando, o ateliê não é mais o mesmo, teus sentimentos reais só tem sentido mediados pela poesia do texto, por que pesquisar estes artistas tão pesquisados quando novos artistas emergentes são lançados ou são recuperados, por que escrever sobre a Bienal de São Paulo sem os urubus quando nos países asiáticos dezenas de Bienais estão em exibição, por que mostrar/falar de pintura quando as outras mídias são as queridas da mídia, por que pintar (a cozinha, o demorado, o sutil, o permanente) quando o momento é do imediato, do provisório, do descartável. Por que. por que, por que?
Muitas pautas, muitas trocas, muitas deadlines.
A realidade de que, hoje, escrever um texto, um simples texto, 2 laudas, é um trabalho penoso. Bom, claro, acabou o trabalho penoso de datilografar, corrigir, redatilografar... os editores de texto são a maior invenção desde Mr.Gutemberg.
Mas, paradoxalmente, o escrever se torna mais exigente. Checar as fontes, todas elas, estabelecer os links, procurar as imagens, preocupar-se com direitos de imagem (ainda na internet uma brincadeira, mas uma tendência forte para o futuro). A preocupação em ser politicamente correto. A auto-censura.
Enfim, tudo isso para dizer que:
Dei um tempo no blog. 
Não dei um tempo em criar, pelo contrário, estou pintando e desenhando sem parar, meu ateliê está vivo e movimentado (bom, um pouco sujinho demais, minha Ivanete tirou uma licença de 2 semanas para se casar de véu e grinalda e com tudo que tem direito), continuo visitando ateliês e exposições. Reflexão. Estou escrevendo também, bastante, os contos que discuto nos workshop com o Luiz Ruffato (e que não posto mais no blog para manter o ineditismo).
Ou seja: não estou morto, pelo contrário.
Apenas inaugurei a temporada de hibernação aqui no blog.
Volto após hibernar.