quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Flores do Sono


Na despedida de 2008, no último post do ano neste meu blog, uma imagem final. Uma pintura que fiz em 2004, tela 30x30cm, uma pequena vanitas, acho que a primeira vanitas que fiz em meu retorno à pintura. O título é "Flores do Sono", e com esta imagem e os fogos na Av.Atlântica em algumas horas, marcar o começo de um novo ciclo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Outro desenho do moleskine Erotica #1


Outro desenho meu, no moleskine Erotica #1. O tema é a Índia, e também alguma coisa do GOZO+DIVINO, que na verdade é bem indiano, com os rituais do Kama-Sutra como uma ponte para uma transcendência.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Acenos e Afagos, de João Gilberto Noll

O livro é um jorro de palavras, sem separações de capítulos nem de parágrafos. Presente e passado se entrelaçam em imagens fortes que o Narrador despeja como que em tempo real do pensamento, para falar de sua busca erótica frenética e insaciável. O homoerotismo se soma à redescoberta do sexo com sua mulher, com lembranças de lutas eróticas na infância, com orgias em um submarino meio nazista, com fantasias sobre a sexualidade do filho adolescente e mesmo com o sexo afetuoso, quase amor, com uma cabra... Estou gostando muito. J.G.N é um grande escritor brasileiro, eu li pouco dele ainda, mas a leitura deste livro, lançado em 2008, que ele descreve como uma "epopéia libidinal", está me deixando com vontade de, terminada a releitura dos primeiros Bernardo Carvalho, viajar na leitura completa dos seus livros. É um projeto para mim em 2009; o outro é ler (finalmente) Ulysses, do James Joyce (acho que agora tenho a maturidade para). Já que é tempo de resoluções de Ano Novo, o terceiro projeto seria retomar e terminar a leitura do Pedro Nava (mas P.N. talvez seja assunto para outro post).

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Exposições no Rio

Nestes dias entre Natal e Ano Novo, provavelmente todas as galerias já estão de recesso, assim a 6a.feira chuvosa é um bom dia para visitar alguns dos espaços institucionais no Rio de Janeiro, que estão abertos e, sem a concorrência da praia e com as compras de Natal encerradas, recebem um bom número de visitantes.
No Centro Cultural da Caixa, duas exposições bem interessantes.
A primeira é sobre "O barroco no popular e o popular no barroco", curadoria de Cristina Ávila e Gisele Catel. Eu imaginava que após a mega-exposição-cenográfica da Bia Lessa sobre o Barroco, em 2000, nas comemorações dos 500 anos do descobrimento, ninguém iria tentar mais nada sobre o assunto por um bom tempo. Realmente já é um bom tempo, 8 anos, e esta exposição é concisa e mostra ao que veio, indo para uma vertente mais analítica do que espetacular. Seu enfoque é sobre a influência do barroco, "arma ideal da colonização para a dominação de novas terras e novos povos", que se voltou "contra os opressores: os artistas mestiços usando a liberdade do barroco para o 'fazer, ver e sentir' permitiu a brancos, índios, negros e mestiços do Brasil modificar o gosto, o estilo e a vida que adotamos e vivemos ainda hoje."
A outra exposição da Caixa Cultural é "Identidade do Artista", que mostra o projeto de arte postal (mail-art) feito nos anos 1970 pelo Ângelo de Aquino, com fichas encaminhadas pelo correio e respondidas, também pelo correio, por 75 artistas do mundo inteiro. Ver na sala da exposição as fichas ampliadas e manuseáveis, ao lado dos originais em vitrines, para mim é muito bom, é gratificante. Eu mesmo trabalhei com arte postal nos anos 1970 e 1980 (estive na XVI Bienal de SP, em 1981, na seção de Arte Postal, com curadoria do Walter Zanini). Certamente que para os jovens artistas de hoje, geração pós-internet, a arte postal deve soar como algo anacrônico como o impressionismo (pior ainda, pois sem valor de mercado...), e afinal se na Bienal de 1981 o conceitual ainda imperava, a Bienal de 1985, com a Grande Tela, consagrou o retorno da Pintura e a morte do conceito. Pelo que me lembro a arte postal continuou a ser feita até o final dos anos 1980; talvez alguns heróicos resistentes tenham continuado pelos anos 1990, mas o advento e crescimento da internet, por volta de 1995, modificou totalmente o perfil dos meios de comunicacão. Com isso, os conceitos que sustentavam a arte postal evoluíram para as novas midias e muitos se tornaram arte do mainstream: a criação de redes, a democratização das artes, fazer uma arte do quotidiano (herança da arte povera), a dessacralização do papel do artista (qualquer um com acesso a uma máquina de xerox e uma agência dos correios, em qualquer país, pode divulgar sua idéia para públicos nos mais diversos lugares do mundo e, melhor ainda, com eles dialogar, formar redes de comunicação, discutir assuntos que não são cobertos pela midia careta ou pelo circuito de artes). Estes conceitos são muito atuais, e se hoje a arte postal pode ser vista como uma curiosidade pelos visitantes da exposição do projeto do Ângelo de Aquino, a sua herança não se perdeu.
Depois, no Paço Imperial, a retrospectiva do Burle Marx. Eu gosto do Burle Marx, ele é um dos pilares do modernismo no Brasil, sua obra em paisagismo foi inovadora e marcará as gerações vindouras, como foi o Niemeyer na arquitetura. Gosto também da pintura, das gravuras e desenhos, das cerâmicas e até dos panneaux, as pinturas em tecido. Gosto dele em geral, já que eu sou tão ligado no modernismo, moro em uma utopia modernista (Brasília), gosto dele como um dos ícones do modernismo, o "visual Burle Marx" é um arquétipo dos anos 1960, a mais perfeita tradução, em pintura, do zeitgeist dos anos 1950-60-70. É um excelente colorista, e impressiona ver como os jardins são projetados como pinturas (vistos de cima), o que é a ideologia do modernismo, a escala umana utilizada em Brasília e que marca até hoje o paisagismo.
(Por que não os jardins para serem vistos "de dentro"? na minha juventude no final dos anos 1970, quando se reagia ao modernismo eà bossa-nova como "velhos", "americanizados", tínhamos uma brincadeira: se você fosse um jardim, qual seria? as pessoas respondiam o do Parque Lage, a Floresta da Tijuca... e quando alguém falava que seria o Aterro do Flamengo, era vaiado)
A exposição está linda, bem montada, a cronologia é precisa e preciosa, a sala dos panneaux é belíssima, a tapeçaria gigantesca é uma epopéia, o jardim interno é demais... Mas vendo a exposição como um todo, vejo a obra total de um artista que hoje estaraia na categoria de multimeios; só que me detendo na pintura (que é o que mais me interessa), vejo que: um grande colorista; esteticamente muita beleza, muita técnica, sensibilidade; mas em algumas telas parece que "falta sair de dentro" um Picasso, mesmo um Portinari, ou seja, "falta" a força de um Mestre. O que não diminui absolutamente a força do conjunto da obra.
Galeria Progetti, uma instalação e desenhos da Sandra Cinto e pinturas da Lívia Flores. As "pinturas" da Lícia Flores são na verdade colagens de papel de presente dos anos 1980, com padrões cinéticos, brilhantes, repetitivos, sobre telas. O resultado é muito bonito. Os amassados e rasgados do papel de presente dá uma característica realemnte pictórica às "pinturas", e, o que é um motivo meu para gostra mais, o padrão multiplica losangos em prata e azuis.
A instalação da Sandra Cinto desenha ondas de mar sobre uma parede e sobre reproduções monocromáticas, em tamanhos variados, de uma mesma pintura (A balsa da Medusa, de Géricault), com excelente resultado.
No CCBB, rever, com mais calma pois minha primeira visita foi meio corrida, a exposição Nova Arte Nova. E, com tempo, visitar o sanctum sanctorum, a seção de livros raros da Biblioteca do CCBB. Colocar luvas, ter um simpático guardião ao lado, e poder folhear precisidades como o Coisa mais linda, o livro em edição limitada, da Beatriz Milhazes; um livro de desenhos (série de desenhos de um cão), obra única da Gabriela Machado; um livro também cópia única do Zílio, de 1977, onde, entre desenhos e fotografias extremamente conceituais, características do trabalho do artista na época, aparece um desenho esquemático sobre do "homem concretista excitado", diagrama que o Zílio mostra em pintura na exposição dele este ano na Anita Schwartz; e o livro do Nuno Ramos com um poema gravado em folhas de vidro. Além disso, o livro de fotos do Helmut Newmann, com sua base do Phillip Strack, o livro de mesa que é a própria mesa de livro. Mais não vi pois não teria mais tempo, mas é um lugar para voltar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Uma imagem de Natal


Um still do filme The Queen is Dead, de 1986, do cineasta Derek Jarman. O filme na verdade é um videoclip do maravilhoso album do The Smiths, cuja capa, inesquecível, tem um sorriso suave do lindo Alain Delon bem novinho. No filme, uma longa sequência do Morrissey beijando uma caveira, uma vanitas dos anos 1980, mil referências na história da arte, claro, até chegar na performance da Marina Abramović (que também estava em uma mini-retrospectiva na Bienal de SP).
Quem não ouviu; quem não dançou, não ficou bêbado, não chorou, não queimou fumo, não tomou banho de mar pelado, não se apaixonou... ao som do The Smiths, certamente não viveu os anos 1980. Quem não viu os Derek Jarman, do primeiro, Sebastiene (1976), ao impressionante e minimalista Blue (1993), também ficou por fora...
Mas nos anos 2000 a internet oferece uma oportunidade de recuperação, estou baixando os filmes do Derek Jarman pelo Emule, assim pude ver o The Queen is Dead e rever o Caravaggio. E também, ao pesquisar na internet para este post, me deparei com uma foto recente, má, do Morrissey, gordo e muito longe da imagem que eu tenho guardada em minha memória e que está neste still. O tempo é cruel, e a internet sabe ser mais cruel ainda...
É uma imagem de Natal, a vanitas do Morrissey e do Jarman, e um Feliz Natal para todos...

Um diálogo (a motivação do colecionador)


Quando eu já estava saindo do evento de abertura do Projeto Acervo, no Espaço Bananeiras, o artista Álvaro Seixas me faz uma pergunta, a queima-roupa: "Queria saber por que você comprou o meu quadro". Logo em seguida, se desculpa pela pergunta, acha que talvez tenha sido impertinente, mas eu acho a pergunta relevante e adio minha saída. Conversamos um bocado, a artista Gisele Camargo também participa da conversa, e eu tento verbalizar minha motivação para "ter" o quadro do Álvaro, a motivação do colecionador, o impulso irresistível para possuir determinada obra de arte, aquela, não outra...
Aqui no blog vou tentar escrever, de uma forma mais estruturada, meu pensamento que talvez não tenha ficado bem expresso no momento (depois da deliciosa caipirinha do Espaço Bananeiras as idéias se aclaram mas as palavras às vezes ficam mais obscuras).
A.S.: Por que você comprou o meu quadro?
J.B.: Em primeiro lugar vou dizer o porque não. Não foi para pendurar em uma sala combinando com o sofá. Não foi como um investimento, embora eu ache que é um bom investimento, A.S. é um artista jovem, com um trabalho de qualidade, vai dar continuidade a este trabalho e evoluir, e a tendência será uma valorização no correr dos anos; mas não foi esta a motivação primordial. Há uma diferença sutil: claro que para o colecionador é importante visualizar um futuro para a obra que estrá sendo adquirida, projetar se o artista terá uma carreira, uma evolução; e também se a obra adquirida será, futuramente, representativa no contexto geral do trabalho do artista; agora, se isso significa uma valorização monetária, um investimento, ao meu ver (pelo menos para mim) não é o essencial.
Vou falar do processo de compra. Fui à exposição, na galeria Amarelonegro, gostei da exposição como um todo e dos trabalhos individualmente, claro que gostei mais de uns e de outros menos, vi uma continuidade (conceitual e formal) entre os trabalhos, mesmo utilizando meios diferentes. Me fixei na pintura, isso é uma opção pessoal minha; como minha atividade artística é mais voltada para a pintura, as pinturas me atraem mais. E em pintura, o que eu acho do trabalho de A.S.: resultado bonito e com técnica impecável; gosto muito do minimalismo do preto e branco, da pouca cor; gosto das veladuras; gosto do mistério das formas, dos escorridos de tinta, das áreas de repouso e das áreas de inquietude para o olhar, das sugestões de paisagem ou de retratos, porém nada óbvios; gosto do diálogo com a tradição da grande pintura, atualizada em uma linguagem bem contemporânea. Gosto de ver que é uma pintura de qualidade que está ancorada por um conceito forte. Minha análise é que a pintura, após as tantas mortes anunciadas, consegue sua permanência no século XXI a partir desta ancoragem forte em um conceito; depois da pintura pela pintura da Geração 80, para mim os pintores que permanecem são os que tem um bom resultado visual com um forte conceito por trás.
Depois, dentro da pintura, minha opção era bem direta. Pintura tem a ver com grandes dimensões, o desafio que é o problema da escala; assim gostei em primeiro lugar das grandes pinturas do A.S., "paisagens", mas logo me volta o tal "espírito prático": "são muito grandes, muito caras, fora do meu orçamento, não tenho paredes..."
Até aí é um monólogo, eu comigo mesmo, em toda exposição que eu gosto. Saio da Galeria sem "dar bandeira" do meu desejo. Normalmente, como vejo várias exposições em sequencia, os desejos se anulam; como Darwin diria, os mais fortes sobrevivem.
No dia seguinte, e depois, acordo com as imagens em minha mente, e verifico que EU QUERO. Mais que isso, não poderei viver sem aquelas imagens me acompanhando, do meu lado. Dialogando comigo. Para o resto dos meus dias.
Voltam os pensamentos práticos, o orçamento, o limite do meu espaço.
Então, somei isso tudo e concluí: o EU QUERO TER ganhou. EU QUERO um A.S. para me acompanhar pelo resto dos meus dias. Dito de outra forma: Eu não poderei viver o resto dos meus dias sem ter uma pintura do A.S.
A próxima etapa é operacionalizar: As grandes, como falei, são maravilhosas, mas "fora do meu orçamento, não tenho espeço de parede..." Gostei de uma pequena tela, com tons de um rosa-salmão-carne discreto e imagens de explosão (continuo gostando e queria ter...), mas me fixo nas pinturas "de tamanho médio". O valor está dentro de meu orçamento, cabe na minha parede e as duas pinturas são lindas.
Por email, peço à galeria que me mande as imagens.
Bom, aí vem a grande dificuldade, para mim, a escolha de Sofia... Uma das pinturas (na minha interpretação) é masculina, a imagem é mais angulosa, retilínea; a outra mais circular, feminina... Vem de novo a incerteza, o desejo de tudo abarcar, e o orçamento que é uma restrição, e finalmente opto por uma das telas (a "masculina").
Hoje, ela está comigo. No lugar perfeito, em minha casa, acima de uma gravura do Nuno Ramos com quem dialoga pelo monocromatismo, pelo mistério. Ao mesmo tempo, fico triste de não ter podido ter para mim também a gêmea (a feminina) ou um trabalho grande. Claro, o colecionador sempre é insaciável, quem sabe?...
Não sei se ao descrever "o processo de compra" consegui esclarecer a pergunta do artista A.S. Acho que ainda falta dizer, ou enfatizar, o que eu disse a ele no Espaço Bananeiras: o desejo do colecionador é obsessivo; não sou um colecionador padrão, compro o que entra no meu interesse, diferente dos colecionadores que tem um programa (e um curador), e também diferente dos colecionadores que querem decorar um espaço; comprei pois não poderia viver o resto de meus dias sem TER; comprei o que eu quero ter, ver, segurar, cheirar... para sempre... Para mim este é o desejo que impulsiona O Colecionador...
Talvez esta obsessão do Colecionador seja o medo da morte, o desejo de permanência, de transcendência. Projeção do ego em objetos, fetiche. Prato cheio para meu antigo analista (ele também um artista e um colecionador). Enfim. O importante é que eu terei a tela do A.S., por mim escolhida, até o fim de meus dias (espero).

Um moleskine (erotica)




Imagens de um dos meus moleskines. Sempre carrego comigo pelo menos um deles. Tenho o de viagens (já o segundo da série), o de Brasília (também já no número 2), e este é o primeiro de uma das séries temáticas, o Erotica #1. Às vezes explícitas, às vezes mais leves (como estas que mostro aqui), as páginas deste moleskine se sucedem e me levam a pensar e a criar sobre esta pulsão: o sexo, o desejo, a força que nos impulsa para o mais, para a sarjeta e para a transcendência, a obsessão, a penetração, a dor, a submissão, a dominação, o gozo, o êxtase... Penso em Ana C., personagem do "Teatro" de Bernardo Carvalho, ator porno que, ao ser penetrada, recitava seus versos livres baseados em São João da Cruz: "Esta escada é o meu amado para mim. Esta casa é o meu amado para mim. Esta praia é o meu amado para mim." Eles sentiram isto, os místicos, Santa Teresa e seus orgasmos, São João da Cruz... Como falar destas coisas todas? como senti-las, como dizê-las? qual a diferença entre o meu eu de ontem, quando estava no deserto do desejo, e meu eu de hoje, quando estou totalmente saciado? e saciado, até quando? pois mesmo a tempestade tropical logo é absorvida pelo deserto do desejo... Como falar desta vontade que nos leva a deixar caminhos racionalmente estabelecidos para frequentar veredas mal-faladas? como pintar, desenhar, esta pulsão? é o que eu tento, no meu diário, neste meu moleskine do qual aqui mostro algumas páginas, apenas as mais sutis, como mostrar neste blog as mais ousadas?

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Estudos sobre o Plano Piloto

Seis pequenas telas (20x20cm) da série "Estudos sobre o Plano Piloto", que fiz este ano (2008). Não são um políptico, coloquei-as juntas apenas nesta foto e neste post, embora ache que também funcionam em pares ou trios. A imagem central de cada tela, claro, se baseia nas imagens do Lucio Costa ao conceituar o traçado básico de Brasília, os dois eixos que se cortam em cruz, e depois encurvando o eixo horizontal, para maior dinamismo na imagem e melhor disposição do Plano Piloto dentro dos limites dos braços do Paranoá. Algumas das pinturas foram feitas em setembro, quando os ipês amarelos da Praça dos 3 Poderes ("homenagem aos Habsburgos") estavam floridos. Em uma delas pintei usando a base de uma tela remanescente da série "Thesouro da Juventude", com desenhos sobre dobraduras ("Cousas que Podemos Fazer"), e outra tem um GOZO+DIVINO, vindo de desenhos que fiz em 2006.

Teatro, de Bernardo Carvalho

Continuando as releituras dos livros de Bernardo Carvalho, termino agora o Teatro, livro de 1998. Um estudo sobre a paranóia, as mentiras, o escrever, contar histórias e inventar verdades. Jogo de espelhos, qual é mesmo a trama? nada é o que parece. "É espantoso como no fundo não se sabe nada de nada, não é?" repete Ana C., protagonista do romance, ao narrador, e ambos assumem várias personas, são mutantes. Policial, menina abusada pelo pai, fotógrafo de stills, ator de filmes porno, cowboy na Disneylandia, as histórias se cruzam e se desmentem.
"O paranóico é aquele que acredita num sentido. (...) É aquele que vê um sentido onde não existe nenhum. O paranóico não pode suportar a idéia de um mundo sem sentido. É uma crença que ele precisa alimentar com ações quase sempre militantes, para mantê-la de pé, tal é a força com que o mundo o contraria. O paranóico é aquele que procura um sentido, e não o achando, cria o seu próprio, torna-se o autor do mundo."

Posts sobre minhas releituras dos livros do Bernardo Carvalho:
Prazer da Leitura
A dança das cadeiras
O Livro de hoje

domingo, 21 de dezembro de 2008

Uma carpa


Uma pequena tela (20x20cm), pintura que fiz em 2006, tinta acrílica. A imagem dos peixes de cor forte nadando em círculos me perseguiu a partir da visão, em Visconde de Mauá, de um viveiro de trutas douradas, dentro de uma mata cerrada, raios de sol varavam as folhagens para incidir exatamente sobre a piscina onde as trutas nadavam incessantemente, e, como se isso não bastasse, na margem da piscina, dezenas de borboletas brancas voando, também em círculo, na dança do acasalamento.
Um comentário do artista Leonardo Videla: "Essa pintura da Carpa é sua? Uma grande pintura!!" ... obrigado, Leo!!!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Projeto Acervo, no Espaço Bananeiras, Santa Teresa, Rio

Abertura da 7a. edição do Projeto Acervo. Não conhecia o Espaço Bananeiras, e mesmo Santa Teresa, que já frequentei tanto nos anos 1970 e 80, é como um bairro novo para mim: mais bonito, bem cuidado, muitos estrangeiros e pessoas bonitas nas ruas e no bonde (bem, isso sempre teve, pessoas bonitas), os restaurantes e bares deixaram aquela aura hippie de pé sujo e se tornaram cult. E o Espaço Bananeiras é mágico, visto da rua (Ladeira do Castro) é uma casa simples com um porão habitável (tudo muito silencioso, eu achei que tinha errado o dia do evento); entra-se pelo que me parecia ser a porta do tal porão, e que é a entrada para espaços que se desdobram, até se chegar a uma galeria com grandes vidros, em outro nível abaixo outra grande galeria, tudo isso entre jardins com, claro, bananeiras; descendo mais um pouco um bar, um espaço que poderia ser de projeção de filmes ou vídeos, e mais além outro jardim; dos níveis inferiores ao se olhar para cima se vê que a tal casa simples, na verdade, como um origami em câmara reversa, se desdobrou em um prédio do início do século XX com quatro andares, pelo menos dois anexos e os tais jardins com as onipresentes bananeiras.
Na primeira galeria (a dos grandes vidros), o trabalho da artista residente Marie Fleur Lefebvre. Desenhos sobre papel translúcido, montados nos grandes vidros, podendo ser vistos dos dois lados, poéticos e muito bonitos. Em duas grandes telas, cada uma dialogando com uma pequena fotografia, as linhas volteiam orgânicas sobre o linho cru, como hastes coroadas por um fruto maduro de tinta pesada. Um bom trabalho, muito sensível e delicioso de se ver, e que ficou bem exposto no salão com vidros rodeado de jardins de floresta tropical (tudo a ver).


Na galeria do nível abaixo, as dez obras do Projeto Acervo. A colecionadora é a artista Lucia Laguna, artista que tem um trabalho que fala por si próprio. A felicidade da Lucia é muita, e é fácil de entender, pois ela vai levar para casa uma seleção de obras de alto nível. Em uma leitura da esquerda para a direita:
Rafael Alonso: Gostei da exposição do Rafael na Amarelonegro: listras de fita colante ou de elásticos, fotos de listras de fita colante ou de elástico, e, no que para mim o é o arremate, pinturas de listras de fitas colantes. No Projeto Acervo, uma “paisagem” horizontal com fitas com azuis dominando.
Arjan: Vi e gostei da exposição dele na 90 Arte Contemporânea, o desenho é forte, tem um traço fluido e expressivo. Na individual a soma dos desenhos, o ambiente, reforça cada um dos trabalhos, aqui é um desenho só, mas muito bonito e quase ascético (se é que posso falar em ascetismo em um desenho tão visceral) em sua moldura-caixa branca.
Felipe Barbosa: Uma lixa, comum, de loja de material de construção. Ao lixar uma superfície, a marca da mão do artista fica gravada na lixa, como uma monotipia, a partir da aderência do material da superfície lixada. Emoldurada, é uma obra de arte, e vemos (salta aos olhos e ao intelecto) a beleza da monotipia e também, principalmente, o conceito que gerou o trabalho.
Guga Ferraz: O artista recobriu seu rosto e pescoço de band-aids, apenas os olhos estão de fora, tristes? irônicos? Uma foto, e este é o trabalho: instigante, perspicaz, escrutinador, um diálogo que passa a se fazer entre o artista e o observador, como uma monalisa do século XXI, torturada, doente, sobrevivente.
Gisele Camargo: Duas pinturas, muito bonitas. Conheci o trabalho de Gisele na exposição do CCBB, Arte Nova Arte, e também na Amarelonegro. Acho interessante que o trabalho dela funciona “em massa”, ou seja, cada pintura é muito bonita, e funciona de per si, mas a apresentação das pinturas em série faz com que se pense no conjunto como uma obra, não em cada pintura isolada. Sim, e as delimitações do espaço, as perspectivas, as sobreposições de campos de cor, dialogam com o trabalho da Lucia Laguna, o que é um plus do Projeto Acervo.
Leonardo Videla: Um díptico “de esquina”, duas pequenas telas com os motivos arquitetônicos e de dobradura de caixa que são ícones na obra do Leonardo, com um bom tratamento de pintura, e que se articulam nos 90 graus de uma quina de parede. Um bom trabalho, gosto muito deste enfrentamento com a arquitetura e com a pintura, com a rigidez do desenho arquitetônico e a fluidez da pintura, e acho que o Leonardo é bem feliz com os resultados desta série... embora para mim, claro, seu momento mais feliz é a série Janelas...em outra postagem falarei sobre as Janelas...
Alexandre Vogler: O artista faz uma interferência em um dos morros que cercam a pacata cidade de Nova Iguaçu, Grande Rio: um tridente, pintado em dimensões gigantes sobre a pedra nua. Os moradores reagem contra “a obra do demo”, e o prefeito bonitinho marca uma cerimônia de desagravo. O trabalho no Projeto é uma foto dos evangélicos exorcistas, o prefeito midiático ao centro. O trabalho deverá ser emoldurado no formato do tridente. E uma republicação, feita pela artista, de revistas evangélicas, mostra o desenlace da proposta pelos olhos da midia religiosa.
Marcos Abreu: O artista está trabalhando com bandeiras de nações inexistentes, improváveis ou impossíveis. No Projeto Acervo, uma foto institucional da entrega da bandeira do Mediterrâneo pelo artista a curador de um museu em Barcelona. A bandeira, projetada pelo Marcos, executada por uma empresa que fabrica bandeiras, é uma bandeira nacional “real” de uma nação impossível, o Mar Mediterrâneo, que banha e banhou tantas nações desde tempos imemoriais. No Acervo, a bandeira do Mediterrâneo, em seus azuis e pretos, dialoga com o trabalho do Rafael Alonso.
Brígida Baltar: Um bonito desenho. O trabalho de Brígida tem sempre um clima de sensibilidade e interiorização, presente em seus trabalhos mais conhecidos, como as Coletas (neblina, orvalho, maresia ), os trabalhos com pó de tijolos. A artista esteve em Brasília este ano, no Centro Cultural da Caixa, com uma instalação sonora, ao lado de outra instalação sonora do Paulo Vivacqua, e voltará a Brasília em março, com um trabalho realizado no Cariri. Com um trabalho marcante, Brígida também é uma pessoa muito especial.
Daniela Mattos: Um lindo trabalho, "Procura(r)-se", de 2005, uma série de fotografias montadas como stills de um filme. A artista trabalha com vídeo e performances.
Na saída, o artista Álvaro Seixas me faz uma pergunta, a queima-roupa: "Queria saber por que você comprou o meu quadro". Mas este diálogo vai ser tema de outra postagem.

Libertada a pixadora da Bienal

Saiu da cadeia ontem a pixadora da 28ªBienal de SP, Caroline Pivetta da Mota (que se assina "Sustos"), que passa a responder processo em liberdade.
"Entre o vazio existencial da jovem 'Sustos' e o vazio conceitual da Bienal, há menos identificação do que antagonismo: a fúria da primeira é o impulso desesperado de vida que traz a luz o espírito burocrático e mortificante da segunda. O templo da arte contemporânea (a Bienal) faz aqui o papel (ou papelão) de museu do que há de pior na tradição nacional. Ou esse qüiproquó artístico-policial não é um sinal das nossas iniqüidades de sempre?" ("O vazio e a fúria", Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo, 15/12/2008).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um evento na Lapa, Rio de Janeiro


Rio, Lapa, início da noite de uma 5a.feira. Uma chuva fina, os bares se preparam para mais uma noite que deve bombar. Cada vez mais bares, quiosques, carrocinhas, ambulantes, todos vendem cerveja e muito mais. Rua Joaquim Silva, a escadaria de azulejos está mais linda ainda do que quando a vi pela última vez, talvez uns três anos atrás. Procuro o número 71, imprimi o convite que recebi por email e confirmo o número. Evento de um grupo de artistas jovens, não os conheço mas hoje estou mesmo pela Lapa e sedento (morador que sou do deserto do Planalto) de ver o movimento artístico, tudo, tudo, da Bienal aos eventos off-off-off. Grupo Gomo, e os artistas são Tahian Bhering, Jonas Aisengart, Jorge Allen, Andrei Yurievitch, Flávio Villanova, Horácio Dutra, Adeildo Roriz, Julio Ferretti e Joto. O número 71 é um edifício de 3 ou 4 andares, sem elevador, cercado dos lindos sobrados do Rio antigo, e os artistas ocupam a garagem (exibição de vídeos - vi um de uma performance de um homem-múmia passeando no centro do Rio e sendo ignorado pelos transeuntes - e um bar com cerveja bem gelada), o apto. 101 (uma individual de Adeildo Roriz com interferências em jornal, pinturas e objetos, converso um pouco com o artita e ganho um livro, peço um autógrafo) e o apto. 302 (coletiva de trabalhos em maioria com fotografia). As pessoas são interessantes, alegres e hospitaleiras. Os trabalhos tem coisas interessantes, percebe-se a vitalidade de jovens artistas, talvez ainda fora do circuito mas cavando seu espaço. E esta tendência que é tão século XXI, o Coletivo. Pena que tenho que sair cedo, senão tomaria outra ceveja e conversaria um pouco mais. Na saída encontro o artista Daniel Murgel, que está chegando para o evento, pena que tenho que sair tão cedo, pois agora é que vai começar a bombar...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Leituras

Finalizando a releitura de "As Inciais", e antes de entrar no próximo passo da minha programação de releituras do Bernardo Carvalho, com o "Teatro", uma leitura de avião (sem demérito), o novo livro da historiadora Mary del Priori - "Condessa de Barral, A Paixão do Imperador". A autora, além de participar de livros mais voltados para a pesquisa (História da Vida Privada no Brasil), tem se dedicado a romances históricos, em trono do Império Brasileiro. O primeiro que li foi "O Príncipe Maldito", a história romanceada do príncipe brasileiro D.Pedro Augusto, neto de D.Pedro II, filho da princesa Leopoldina (sobrinho portanto da Princesa Isabel, herdeira do trono) e de Augusto de Saxe-Coburgo. Pedro Augusto foi cogitado como sucessor de D.Pedro II, uma vez que a herdeira Isabel era odiada, por ser mulher, carola, totalmente dominada pelo marido Conde d'Eu e pela Igreja, enfim... Pedro Augusto cresceu, mas a Proclamação da República pegou todos de surpresa... e Pedro Augusto foi o único da abúlica família Imperial que tentou reagir contra o golpe republicano (sem êxito, claro...), a falta de perspectivas fez com que ele acabasse louco. Um dos meus trágicos e românticos heróis monárquicos prediletos, ao lado de Alexei Romanoff. No aeroporto vi o livro sobre a Condessa, comprei e li nas esperas de vôos deste novo apagão versão verão 2008-09. Um livro muito interessante, resume a vida de Luísa Margarida Portugal e Barros, a Condessa de Pedra Branca e Condessa de Barral, perceptora das imperiais princesas Isabel e Leopoldina, e paixão do Imperador Pedro II. A Condessa era 9 anos mais velha que o Imperador, e o tempo que passarm efetivamente juntos, somando tudo, foi curto, além disso a situação de ambos casados, da vigilância da opinião pública, tudo fez com que o relacionamento fosse singular, aos olhos de hoje. Mas as monarquias todas foram singulares, é complicado entender tudo isso com as nossas cabeças laicas e republicanas do Século XXI, e a autora tenta nos trazer a este mundo: com base nos docuemtos factuais (principalmente as cartas trocadas entre os amantes), reconstituir as motivações dos protagonistas, e nisso ela tem bons resultados.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Segunda-feira no Rio

Segunda-feira, tarde chuvosa no Rio. No Maracanã, Madonna deve estar repassando o som para o segundo show do Sticky & Sweet (eu vi ontem, adorei, mesmo com toda a chuva). Na calçada da Praça da Paz, Rupert Everett, de camiseta e bermuda pretas, se confunde com os muitos garotões cariocas das mais diversas idades que passam olhando vitrines. Para os detratores do Rio, nossa cidade é o eterno balneário, mas além das aparências (e apesar dos governantes), o Rio tem um movimento cultural muito intenso, totalmente inserido no circuito internacional.
Visitei três galerias, três individuais de artistas cariocas. Três artistas com trabalhos bem diferentes entre si, e todos bem contemporâneos, que poderiam perfeitamente estar em galerias de grandes metrópoles.
Na Novembro, Laura Erber com a exposição “O Funâmbulo e o Escafandrista”. Laura é poeta e artista visual, e este trabalho partiu de uma pesquisa, feita em Paris, sobre um poeta, Ghérasim Luca, chegando ao tema do suicídio, e ao suicídio por afogamento no Rio Sena (o poeta matou-se desta forma em 1994, e uma jovem desconhecida morta em 1901 tornou-se um mito como a “Desconhecida do Sena”, muito popular na primeira metade do século XX). A artista trabalhou utilizando alta tecnologia em uma instalação multimídia (alguns freqüentadores do Shopping onde fica a Galeria pensaram se tratar de uma Lan-house...), mas o conteúdo é arquetípico: a pulsão da morte, as ondas dos rios que levam os suicidas à eterna noite de um mar sem fim, animais que se transformam em outros, os escafandristas cegos que resgatam os mortos do leito sem fim do rio. O Sena da Laura Erber se transforma em um Aqueronte, o rio do infortúnio, o afluente do Styx, o rio do mundo dos mortos. Algumas imagens me remetem aos surrealistas (o peixe que dá a luz a um pequeno violino, os cabelos que flutuam e se afogam no Sena, as maçãs jogadas ao rio...), mas o tratamento das imagens, com alta tecnologia, projeção três aparelhos, outra sala com quatro monitores exibindo outros vídeos com uma linguagem mais documental, e um trabalho de filmagem e edição tão preciso e requintado, torna tudo muito contemporâneo e universal. O lirismo, a sensibilidade da artista, a beleza das imagens, conseguem um resultado que fala de um tema forte, pesado, sem morbidez, sem tintas carregadas. Sem drama, como uma realidade existencial. Laura Erber está também no CCBB, na exposição Nova Arte Nova, com uma projeção de vídeo com peixes dourados sobre um livro, um dos trabalhos inesquecíveis da coletiva.
Na Artur Fidalgo, “Antropologia Industrial Alienígena” exposição do Franklin Cassaro. O trabalho do artista tem momentos de alta criatividade, ele tem alguns trabalhos que são inesquecíveis, verdadeiros “achados” (a palavra “achado” pode dar a impressão de algo a que se chegou aleatoriamente, não é o sentido que eu quero dar, e sim de imagens que uma vez produzidas tem tanta força que acompanham o espectador para sempre, como se elas – as imagens – sempre estivessem “lá”, esperando o artista descobri-las, tornando-se imagens universais e atemporais: as Marilyn do Andy Warhol, os Puppy do Jeff Koons...). Os “achados do Franklin Cassaro são muitos: as caveiras (outras vanitas) feitas de papel-alumínio amassado; as vulvas metálicas; a gaiola com cubos voando como pássaros; os desenhos feitos de mordidas sobre folha de metal... Nesta exposição, surgem imagens novas, oriundas dos “folha de alumínio amassada”: são planetas, medusas, seres extra-terrestres, que se espalham pela galeria, em uma instalação onde os trabalhos mantém sua força como trabalhos individuais. Uma estética contemporânea, parente dos games, da toy-art, do Murakami... e por que não? nas medusas vejo algo da Maria Martins, as mulheres-anêmonas, só que transformadas em seres espaciais, alados, em brilhos e cores que os trazem ao século XXI. Os adolescentes freqüentadores do shopping ficam loucos, ao ver a galeria como uma vitrine, e a estética tão deles, tão atual, em uma galeria de arte... Uma exposição que poderia estar em Tokyo, em NYC, em Londres... e que chega ao hi-tech usando paradoxalmente uma coisa muito low-tech: amassar papel metalizado e ir construindo os alienígenas que parecem andróides, que estão esperando apenas um sinal para se mover na galeria e travar batalhas de guerra e de amor (o kama-sutra em um nicho especial no escritório da galeria) e conquistar o hiperespaço. Me chamem, tou a postos, minha pistola a laser está pronta...

Na Lurixs, José Bechara em “Sobremirada/O ar e a cega”. Pintura. Sem tinta, usando as oxidações para uma reconstrução dos campos de cor, e desta vez usando as oxidações de cobre chegando em azuis, verdes... ao lado das já tradicionais em seu trabalho, oxidações de ferro gerando marrons, ocres, terras... Para mim os azuis/verdes são uma referência aos céus, aos Turners, às ninféias de Monet, aos Ives Klein, aos Caspar Friedrich... impossível resistir a um azul, principalmente como os que o artista consegue através da manipulação controlada de oxidações, e que parecem não produzido por humano, por pincel, chegam ao espectador como produtos de reações químicas além do humano. Em outro trabalho, a oxidação é de cobre sobre madeira, a tonalidade é dos terra, e os azuis aparecem sutis, brilhantes como asas de borboletas da Floresta da Tijuca, e a madeira do suporte também aparece, seus veios, sob a oxidação que forma crostas, lembrando os troncos calcinados do Krajcberg. Em outro trabalho, uma instalação (o Sobremirada que dá o título a parte da exposição), panos de vidro, enormes, são vítimas das oxidações em listas horizontais, como venezianas ou persianas, e temos a sensação e a vertigem do ver/não ver, do opaco/transparente, do ar/oxidado, explicitando a dicotomia do oxigênio, como respiração, criação de vida, e como oxidação/destruição/expiração, o que ao meu vê dá uma leitura ao trabalho do artista. No anexo da galeria, um belo espaço, “A Cega”. As maquetes de casas com os móveis explodindo pelas portas e janelas, que já foram mostradas como maquetes e também como instalações, agora em alumínio, o que permite uma nova leitura, pelo menos me parece: os móveis estão explodindo da “casa”, ou a “casa”, cubos de alumínio, é um buraco negro que aspira o mobiliário, o real? Expiração/inspiração. Também: desenhos, com casas e grandes aguadas de pigmento azul ultramar, complementam a exposição. Aproveitando a visita, na reserva técnica, outra casa explodindo os móveis, feita em madeira e fórmica, com cores, reforça minha interpretação sobre A Cega. Enfim. O importante é que é uma boa exposição, de um artista cujo trabalho gosto muito, e que me sinto orgulhoso de ter um Anjo, uma pequena oxidação sobre tela 30x30 de 1995.
Bom, o Rupert Everett, vindo diretamente de Londres para o Rio, pode ficar tranquilo. Em uma tarde sem praia, ele pode fazer seu passeio nas galerias de arte cariocas e vai ver obras que ele poderia ver em seu passeio verpertino em Londres, Tokyo, Milão ou em Chelsea NYC.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Outra vanitas (sem drama...)





Esta obra do Luiz Zerbini (de 2007, bronze, edição de 10), chama-se "Sem Drama" e é uma criativa contribuição à tradição das "vanitas". Dependendo do ângulo em que é visto, o crânio se transforma na carinha sorrindo, o Smiley, este um ícone do final do século XX. Ou o contrário, a carinha sorridente e quase idiota em sua pós-modernidade, é forjada a partir de um crânio descarnado (lembra-te que és pó e ao pó reverterá, o "memento mori"). O título (sem drama...) completa a obra, que permanece aberta em seu diálogo com o espectador e com a tradição da grande arte.

No Rio, Cadu e Ação entre Amigos


No Rio, abertura de exposição na Galeria Laura Marsiaj.
Cadu, objetos e desenhos. Conheci o Cadu em 2003, quando fiz o workshop "Procedência & Propriedade", com o Charles Watson, e sempre me impressionou o rigor conceitual de seu trabalho, estranhas máquinas fazendo pinturas, desenhos feitos de marcas do sol queimando papéis e traçando a passagem das estações... Para mim o trabalho emblemático do Cadu está na mostra do CCBB, Nova Arte Nova: o histograma de consumo de energia, parte de uma conta padrão da concessionária, é manipulado pelo artista através de obsessiva modificação em seu padrão de consumo; assim os meses onde tradicionalmente o consumo de energia no Rio é alto (verão) aparecem artificialmente baixos, enquanto que no inverno Cadu atingiu seu pico de consumo de energia elétrica. Sutileza, rigor formal, obsessão. Na exposição da Laura Marsiaj, Cadu mostra mais: desenhos/pinturas sobre papel, em grandes dimensões, muito bonitos, além de objetos - uma máquina de preencher cartões de megasena e outra engenhoca para tocar caixinhas de música.
A imagem neste post é de um dos desenhos, de 2008, Barbican 4(óleo e grafite sobre papel - 136x115cm). Nestes desenhos, Cadu partiu da observação da histórica marina de Barbican, durante residência artística que fez na universidade de Plymouth, a convite do Arts Council of England. Ao meu ver, no desenho de observação, Cadu emprega a mesma forma meticulosa, assética, "científica", de ver a realidade que utiliza nos seus trabalhos mais conceituais; a marina é vista não como impressão mas como dissecação; e o prazer estético vem não da paisagem, do clima, do mar, das referências históricas, e sim de uma apreensão "estrutural" da realidade.
No anexo da Galeria, "Ação entre Amigos", coletiva de desenhos com Bernardo Damasceno (duas lindas vanitas, desenhos), Bruno Miguel (ele está com pinturas que gostei muito na exposição Nova Arte Nova, no CCBB), Carlos Mélo (outras vanitas, grafite sobre papel, gosto muito), Daniel Murgel (os desenhos em molduras são plantas que saem de uma jardineira real), Marcelo Gandhi, Pedro Varela (as lindas paisagens espaciais), Silvana Mello.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Projeto Acervo


Este é o convite para a abertura da 7a. edição do Projeto Acervo, no Espaço Bananeiras, em Santa Tereza.
O Projeto Acervo propõe "pacotes" com 10 obras de 10 artistas, que são vendidos (diretamente, sem intermediação de galerias) a um colecionador, a um preço fixo para o pacote. Somente na abertura da exposição o colecionador irá conhecer as suas 10 obras, que ficam expostas por algum tempo no Espaço Bananeiras. A idéia e a curadoria das obras é do Leonardo Videla, um artista que conheci há pouco tempo e que tem um trabalho muito bom.
O colecionador desta edição é a excelente pintora Lucia Laguna, e as obras são dos artistas Arjan Martins, Alexandre Vogler, Brígida Baltar, Daniela Mattos, Felipe Barbosa, Gisele Camargo, Guga Ferraz, Leonardo Videla, Marcos Abreu e Rafael Alonso. A valor do pacote é dividido igualmente entre os 10 artistas, e o Leonardo recebe apenas sua parte como um dos artistas, não havendo diferenciação pelo trabalho de organização. Muitos conceitos interessantes perpassam a idéia do Projeto Acervo: propor outra forma de circular obras de artes fora do circuito, uma democratização para os artistas e para os colecionadores também (compradas individualmente as 10 obras sairiam por um preço bem maior que o do pacote do Projeto), a noção de cooperativismo de artistas, a distribuição de objetos de arte e a disseminação de idéias através de redes (um conceito bem do século XXI) e outras. Além do que os trabalhos (pude ver alguns desta edição em visita ao ateliê do Leonardo há alguns dias) são muito bons, de alta qualidade, e os artistas em sua grande maioria já bem situados no circuito artístico.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Texto de Aracy Amaral sobre a 28a.Bienal

Esta Bienal... reflete a arte contemporânea?
A gente entra; e de imediato se indaga, constrangida: a "isto" se viu reduzida a Bienal de São Paulo? Mas é bom que se saiba: a indigência presente na Bienal de várias maneiras e que vimos na noite de abertura não reflete a arte contemporânea. Ela é antes espelho da debilidade de uma instituição. Não há necessidade de fazer simpósios ou seminários sobre o assunto. Também entendemos que a Bienal não é festival de artes em geral. Em São Paulo, a oferta de espetáculos de dança, música e teatro é imensa o ano todo e teria sido desnecessário o que se despendeu ocupando o espaço com essas atividades.
Quando se viaja ao exterior e se vêem exposições marcantes de artistas em grandes museus como a Tate Modern, em Londres, ou em Viena, no Ludwig Museum, ou em Nova York no MoMA ou Whitney, só para citar alguns, damo-nos conta do que está se passando em arte contemporânea. Como ao visitar uma Documenta de Kassel, por exemplo.
Também as grandes feiras internacionais de arte nos passam uma imagem viva da efervescência do meio artístico, seja com as obras expostas, ou com seminários que realizam.
Se entre nós o problema foi falta de verba que caberia à presidência da Bienal providenciar, essa presidência está no lugar equivocado, pois essa é a sua competência. Se a escolha do curador foi tardia, a responsabilidade é da instituição e da curadoria que aceitou, assim como a proposta e suas limitações, pela simples necessidade de vê-la aprovada por falta de tempo para executar ou conceber outro projeto.
Até detalhes paralelos à "proposta" de Ivo Mesquita podem ser criticáveis. Como a apresentação de "documentos da Bienal", pois afinal, o Arquivo Wanda Svevo sempre esteve aberto a pesquisadores e não precisava ter sido deslocado para o terceiro andar nem facilitar o manuseio de catálogos raros por parte de qualquer visitante sob risco de perda ou vandalismo.
Tentemos falar claro. Esta Bienal parece antes preconceituosa - em sua preocupação em não mostrar artistas de outras tendências, mas apenas aqueles rigorosamente conceituais . Afinal, para citar apenas um jovem artista brasileiro e um do jet set, as imagens poderosas de um Henrique Oliveira acaso foram cogitadas? Um Damien Hirst, artista há 20 anos "estrela" no meio internacional, não seria interessante ter sido apresentado? A arte chinesa de hoje (e mesmo a coreana !), espanto em grandiloqüência, mas sem dúvida um fenômeno das artes visuais de nossos dias, e atual "darling" de museus e centros culturais de todo o mundo ocidental, por que não está presente? Na linha de "happenings", por que não pensar nos 40 anos depois do Grupo "actionista" de Viena, do qual fizeram parte Schwartzkogler e Gunther Brus, performáticos e violentos em suas manifestações e expressões ao vivo e em vídeo? O Ludwig Museum de Viena comemorou com grande exposição em junho-julho último essa documentação forte, embora os jovens de hoje raramente saibam que existiu e creio que pouco se comovessem ao ver esses documentos. A arte também envelhece. Mas, enfim, há tantas vertentes das artes visuais no mundo que a pálida 28ª Bienal pode passar ao visitante incauto a falsa impressão de que nada mais ocorre na área. Ou, que não há nada de outros tempos que bem valeria um gesto generoso por parte do "Conselhão" ou Comissão (?) da Bienal em aprovar, recomendar e levantar fundos para sua apresentação. Afinal, repetimos, fortunas não nos faltam em particular neste Estado. E temos em mente que presidir uma Bienal de São Paulo, ou candidatar-se a esse cargo, pressupõe minimamente séria responsabilidade.
Mas, ou se apresenta evento digno dessa tradição - Bienal de São Paulo - ou se reformula a existência ou freqüência do evento, como sugerimos há mais de 30 anos em simpósio latino-americano ocorrido aqui na Bienal mesmo para que ela se transforme em trienal ou quadrienal. Embora nossos profissionais, enquanto curadoria, sejam dignos de respeito, nada mal se em bienais alternadas tivéssemos curadores convidados de outros países, do mais elevado nível, para formar e diversificar as equipes que se formam no Parque do Ibirapuera.
Se não se pertence ao círculo fechado do "Conselhão", ou dos que decidem o que entra e o que não entra -, pois estamos distantes da organização por parte dos países convidados para que tragam seus artistas indicados pela curadoria da Bienal - nunca será veiculado quais os que foram convidados e não compareceram, por recusa, ou porque não houve orçamento possível.
No terceiro andar, sem dúvida o que mais chama a atenção são os móveis de marcenaria de mesas, cadeiras e bancos, que seriam muito bem-vindos em centros culturais sem recursos ou mesmo em creches de nossos bairros mais carentes, segundo observou Ana Maria Belluzzo.
Como descobrir uma proposta interessante da fértil Rivane Neuenschwander em meio às mesmices expostas, como as reproduções nas paredes ou papéis em vitrines que dificilmente despertam nossa atenção? Referimo-nos à monotonia da arte conceitual, a nos recordar das maçantes exposições de galerias dos anos 70 em Nova York ("como são chatas!", nos dizia Hélio Oiticica, só para citar um nome respeitado em nosso meio). Naquele tempo, só de penetrar numa dessas galerias, dar uma olhada às pranchas penduradas com palavrórios mil e cálculos matemáticos já era suficiente para nos expelir do recinto.
Não deixamos de notar o assédio curioso de uma obra por parte do público que ocasionou a única longa fila que vimos no dia da abertura - a possibilidade de penetrar no tobogã do belga Carsten Höller - para poder usufruir da adrenalina na queda vertiginosa. Na verdade, esse trabalho, de verdadeira interação com os visitantes, talvez seja o único da Bienal a alcançar a escala de bienais passadas em termos de expectativa: "Quero ir à Bienal para ver tal trabalho."
Allan McCollum, uma raridade igualmente, parece ter trazido, com seu envio, aquilo que eu consideraria um "trabalho para um espaço de Bienal".
Por isso me pergunto, espantada diante do que está exposto, como preparar visitas guiadas de escolares? Como explicar "artes visuais contemporâneas" a um público infantil ou adolescente nesta Bienal? Ou, como justificar a existência das Bienais?
Convenhamos: como ouvir tranqüilamente que é "genial" o piso geométrico de Dora Longo Bahia, que deve ter sido de difícil implantação, por certo, para seus auxiliares, com desenhos a nos lembrar azulejos hidráulicos magnificados, ou de inspiração islâmica?
Na verdade, ao ver a diminuta peça de Iran do Espírito Santo, parece que esta Bienal, salvo exceções, pelo teor das propostas, parece feita de presenças antes para a elite freqüentadora de galerias do que baseada numa concepção considerando o grande publico. O que significa isso?
Significa que num evento "bienal", "trienal", em particular num país como o Brasil, de extrema desigualdade social e educacional, os espaços, a cidade, as obras e os visitantes devem ser pensados em termos interativos, como alvo de motivação e não apenas de exibição.
Assim foi o propósito, a meu ver, que ocasionou a vinda da Guernica (em 1953-54), da sala Mondrian, da sala Picasso, da sala Van Gogh, do pop norte-americano já em meados dos anos 60, e de tantas outras salas especiais, como a dos artistas modernos e modernistas da Bienal da Antropofagia. Ou mesmo da Bienal da Grande Tela, sob a curadoria de Sheila Leirner, em 1985, ao trazer-nos a nova pintura dos anos 80. Claro que o Brasil mudou, e nossos museus e centros culturais idem. Assim, temos tido grandes exposições nos últimos 10-12 anos. Mas quem sabe os tempos agora ficarão mais magros e teremos que batalhar por novas oportunidades?
Mas, afinal, o que eu vi na abertura da Bienal? Muita "arte de processo", tendência típica dos anos 70, ou simulacros, como uma pseudoloja de rua reproduzida no interior da Bienal (Chaveiro, de Paul Ramirez Jonas), pseudográfica com impressão de jornais (Erick Beltrán), folhetos conceituais humorosos (ou não), e por vezes criativos, como sempre são distribuídos nas Bienais ao longo do tempo; entre vídeos modestamente dispostos, ao largo do circuito "nobre" do espaço, como alternativa para eventual outra visita do apreciador.
Melhor não mencionarmos a museografia, a organização do espaço desta Bienal. Nem há etiquetas dos autores dos trabalhos em suas proximidades. Talvez entendam os curadores que os folhetos com mapas impressos sejam suficientes... Não o são. Passa uma idéia de descaso para com o visitante, de falta de tempo para os "finalmente" do evento.
O que é o "espaço vazio" da Bienal? Prédios e habitações vazias em nossos tempos são um convite certo à "invasão". Se não ocorre "ocupação", vamos ocupá-los. Assim pensaram visitantes de um museu, cujo diretor, na década de 80, deixou o espaço vago para motivar a população, numa cidade no sul da França, a ocupá-lo com objetos e obras que traziam de casa. Mas acontece que hoje vivemos em tempos bem mais agressivos.
Colocar como alvo de admiração o espaço concebido por Niemeyer, e que usufruímos há mais de 50 anos, poderia ser projeto para uma Bienal de Arquitetura de São Paulo. Mas esta é a 28ª Bienal. Assim, não tem sentido, e mesmo a definição desse espaço pela curadoria parece-nos equivocada se não for de humor (?) dúbio (*). Assinala falta de idéia, de concepção, de tempo, de orçamento. Ou tudo junto. Se o desejado é a polêmica sobre a provocação, então o objetivo foi alcançado. Mas o "void", com certeza, é uma omissão. Nada tem de rebeldia. E se o curador da Bienal, Ivo Mesquita, aceitou os termos da presidência, as regras do jogo, quando aceitou, não se pode dizer apenas que "salvou" a Bienal por ter ela sido realizada em menos de um ano. Pode-se ser mais incisivo: dizer que ele "quebrou o galho" para a atual presidência. E certamente poderá até ser elaborado um catalogo bilíngüe pleno de textos sobre a filosofia da arte de nosso tempo.
Na verdade, há algo de cinismo murmurado, reconhecido e vivenciado no meio artístico contemporâneo. O conceitual é bem imaterial, mas aqueles que sobrevivem vendem, ou viajam a convite para expor suas criações. A própria crítica, as curadorias, a mídia, o sistema de galerias e museus, todos enfim contribuímos amplamente para esse fim, apesar do que se publica em vários países sobre esse fenômeno. Isso se deve ao fato de se escrever, em geral em literatura pouco acessível ou pedante, sobre obras sem nenhum ou parco valor, para um público reduzido que acredita erroneamente que quanto mais hermético mais elevado.
Mas é certo que a criação contemporânea é um instante de trânsito, entre o passado e o futuro, pois como prever qual será exatamente o tipo de expressão visual dentro em pouco com os avanços da nanotecnologia, da internet, do papel eletrônico ou da fotografia digital, que influenciarão várias formas de manifestação?

*No folheto distribuído ao público é definido esse espaço e sua concepção: "2.º andar: Planta Livre - Ao contrário das bienais anteriores, que transformaram todo o interior do pavilhão modernista em salas de exposição, desta vez o segundo andar está completamente aberto, revelando sua estrutura e oferecendo ao visitante uma experiência física da arquitetura do edifício. O termo planta livre refere-se ao conceito criado por Le Corbusier, em 1926, para definir um dos cinco princípios da nova arquitetura."

Aracy Amaral é crítica e historiadora de arte

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pichadora presa há 44 dias tenta de novo a liberdade

Do Jornal O Globo, 10/12/2008 (repórter Flávio Freire):
Aos 23 anos, a gaúcha Caroline Pivetta da Mota tem, há 44 dias, a liberdade apenas tatuada no peito. Presa em flagrante em 26 de outubro, quando pichava o pavilhão da 28a. Bienal Internacional de São Paulo, Caroline, desde então, divide com outra detenta uma pequena cela da Penintenciária Feminina de Santana. (...) Ao lado de outros 40 jovens (era a única mulher), ela atacou com um spray o prédio instalado no Parque do Ibirapuera, quando foi detida por soldados do Batalhão de Choque da Polícia Militar (...) A pichação foi feita num espaço onde não havia obra de arte. A instalação foi batizada pelo autor como "Vazio", um dos trabalhos mais polêmicos já apresentados na Bienal. (...) Em entrevista à "Folha Online", na semana passada, Caroline disse (...): "A gente não queria estragar as obras da Bienal, mesmo porque não tinha obra. Ali, nós é que íamos fazer uma obra".
Eu concordo. Acho inclusive que a curadoria da Bienal deveria se pronunciar de público exigindo a liberdade dos pixadores. Basta ler a conceituação desta Bienal, chamada como "Em vivo Contato", pelo curador Ivo Mesquita: "Considerando que parte das práticas artísticas contemporâneas não se restringe à produção de um só objeto passível de contemplação em um mesmo tempo e lugar, a 28a. Bienal propõe diferentes dispositivos de exposição e difusão (...): Praça: A transformação do andar térreo do Pavilhão Ciccillio Matarazzo numa praça pública, como no desenho original de Oscar Niemeyer para o parque em 1953, sugere uma nova relação da Bienal com o seu entorno - o parque, a cidade -, que se abre como a ágora na tradição da polis grega, um espaço para encontros, confrontos, fricções (...), procurando gerar energia para uma aeração do edifício, assim como para a consolidação da mostra como um espaço social temporário, gerador de uma potência criativa que perpassa tanto artistas quanto público reunidos em seus acontecimentos." Ainda o curador, descrevendo o segundo andar, a "planta livre", o "vazio", o local buscado pelos pixadores para sua interferência: "É nesse território do suposto vazio que a intuição e a razão encontram solo propício para fazer emergir as potências da imaginação e da invenção. Esse é o espaço em que tudo está em um devir pleno e ativo, criando demanda e condições para a busca de outros sentidos, de novos conteúdos".
Em minha opinião a advogada de Caroline poderia utilizar a conceituação da Bienal como argumento de sua defesa: "o confronto, a fricção que geram energias para uma aeração do edifício, a potência criativa... etc. etc." tudo isto poderia estar se referindo ao trabalho dos pixadores, não fossem eles de periferia e sem acesso ao circuito de artes, que a Bienal pretensamente procura discutir.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um trabalho da Virgínia


Trabalho recente da minha amiga Virgínia Paiva, uma artista com muito talento e uma grande amiga. Aquarela e pastel sobre tela. Virgínia é filosofa, morou em Amsterdam muitos anos, fez trabalhos com ilustração e estudou no Parque Lage com Maria do Carmos Secco e João Magalhães.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A dança das cadeiras

Quando estou menos seguro de mim, tenho uma visão do mundo que se assemelha a uma dança das cadeiras, mas sem a menor graça, por não ter suspense, sendo só uma enfadonha repetição interminável, onde os que ficam vivos se sentam nos lugares antes ocupados pelos mortos. É como se no mundo não houvesse lugar para todo mundo e estar vivo não eliminasse a possibilidade de longos e longos anos na fila de espera até aparecer uma vaguinha...
Carvalho, Bernando - Em As Iniciais, pag.18 - 1999

Posts sobre minhas releituras dos livros do Bernardo Carvalho:
Prazer da Leitura
Teatro
O Livro de hoje

O livro de hoje

Estou relendo os Bernardo Carvalho do início, na sequência. Aberração, Onze, Os Bêbados e os Sonâmbulos. Aí dei uma desconstruída na ordem cronológica, reli o Medo de Sade. E hoje comecei a reler As Iniciais, de 1999. Cada vez gosto mais.

Posts sobre minhas releituras dos livros do Bernardo Carvalho:
Prazer da Leitura
Teatro
A dança das cadeiras

O vinho de hoje

Robert's Rock, Chenin Blanc & Chardonnay, 2007, África do Sul. Um branco básico, boa relação custo-benefício, um vinho para o verão... mas cadê o verão?

sábado, 6 de dezembro de 2008

Exposições no Rio

Cheguei no Rio tarde, com o atraso do vôo, e assim tive que reduzir bastante a minha agenda, me concentrando em visitas às exposições de dois circuitos de galerias de arte: Praça General Osório e Praça Santos Dumont.
Praça General Osório:
Na Amarelonegro, individual de Hugo Houayek. Uma boa exposição. No texto de apresentação o artista diz que "...como um camaleão, a pintura vai se camuflando no mundo, fazendo da camuflagem uma opção estética". Uma instalação transforma a galeria em um espaço de morar, porém totalmente insólito, pois cama, bancos, espelho, quadros, são painéis ou sólidos recobertos em plástico com cores fortes, meio fofos, talvez confortáveis, porém áridos na sua existência plástica e visualmente berrante. Os objetos são obras em si, além da instalação, como no Store do Claes Oldenburg (preservado no MoMA). Os espelhos são painéis recobertos de plástico preto, que paradoxalmente podem funcionar como espelhos. No acervo da galeria há também objetos onde o aspecto de chassi, de pintura que todos tem, viram mais "pintura" pois o artista descasca o plástico criando quadros abstratos com zonas de cor. O pequeno cubo (20x20x20), um múltiplo, é um objeto de desejo: recebe as cores fortes, e funciona como uma "almofada" no ambiente-casa, em uma versão aparece dourado, e em uma versão (não exposta, vi no acervo), tem listas vermelhas e brancas que remetem a um Daniel Buren.
Na Silvia Cintra e no Box4, Tatiana Blass, O Globo da Morte. Pinturas sobre tecido e um escultura, muito bonitas, na linguagem já marca registrada da artista, na Silvia. E, no Box4, um trabalho de gande impacto: Uma moto (real) cortada pela metade, suas partes separadas por tubos metálicos (que também separam as metades do instrumento musical na escultura na outra sala), em rotação de 90 graus (a parte traseira da moto sobre o chão, a parte dianteira sobre a parede) - como em um Globo da Morte mesmo, e a separação das partes transmite de forma maximizada a sensação de velocidade e de vertigem de um Globo da Morte. Gosto muito do trabalho da artista, tanto as pinturas (um dos meus objetos de desejo...) quanto os ambientes e objetos. Vi em 2007, no Centro Maria Antonia (SP), um ambiente da Tatiana Blass de fazer perder o fôlego: uma sala, completa, normal: sofá, estantes, livros, CD, pinturas, mesa, cadeiras, fotos de família... só que à altura de pouco mais de um metro do chão o espaço foi seccionado, na horizontal, como se uma motoserra tivesse passado pela sala e cortado tudo em seu caminho, a parte de cima se despreendendo da parte de baixo deixando um vazio entre elas: CDs,livros, quadros, paredes, móveis, tudo o que estava naquela altura, cortados ao meio, como testemunhas de uma tragédia de uma violência cirúrgica tão século XIX.
Arnaldo Antunes na Laura Marsiaj. Um artista multimidia, com criações da maior qualidade no campo da música, levando adiante a pesquisa de palavras, sons, letras, conceitos, que já desenvolve em seus trabalhos musicais principalmente após ter deixado os Titãs. Gosto muito, sempre gostei, vi shows, tenho todos os CDs. Na exposiçào anterior, também na Laura Marsiaj, eram desenhos, trabalhos gráficos bidimensionais sobre papel, usando tinta, e com jogo de palavras, letras, inventando caligrafias (influência do concretismo, dos calígrafos orientais). Nesta exposição ele parte para o tridensional: objetos explorando as letras, conceitos, aparências, e se vê que em alguns ele chega a uma semelhança com objetos surrealistas (o ovo com sinais gráficos - um ponto e um vírgula, o sol feito dos arames de um guarda-chuva). Gosto da carteira de cigarro feita de duas metades de carteiras de cigarro de marcas diferentes, criando uma nova marca(Marmel) a partir do Marlboro e do Camel das carteiras originais.
Praça Santos Dumont:
Coletiva na Anita Schwartz. A Galeria é maravilhosa, instalações que poderiam perfeitamente estar em Chelsea NYC e está comemorando um ano de inauguração com uma boa coletiva, trazendo seus artistas consagrados (Gonçalo Ivo, Palatnick, Zilio, Fabio Miguez, Nuno Ramos, Rubens Grilo...) e também artistas mais jovens. Uma exposição bem montada, e de qualidade.
Anna Maria Niemeyer - na Praça, remontagem de uma instalação do João Carlos Goldberg, usando fios de prumo/pêndulos, bem interessante. E no Shopping da Gávea, trabalhos recentes do José Patrício, com os já conhecidos dominós, estruturas feitas com preguinhos de cabeça colorida, e uma estrutura feita com botões de cores diferentes. Todas "de parede", são pinturas feitas com estes elementos, uma meticulosidade impressionante, rigor conceitual e muito bonitas. Gosto muito.
Na Galeria Toulouse, uma coletiva do acervo, com obras de Eduardo Sued, Rubens Gerchman, John Nicholson, Cildo Meireles, Waltercio Caldas, Gonçalo Ivo, Augusto Herkenhoff, Barrio, Adriana Salazar. As máquinas da Adriana Salazar, artista colombiana, são muito interessantes, uma das máquinas é um aparelho para enfiar linha em uma agulha (a máquina tenta, tenta, como uma avó míope, e nunca acerta...) E uma surpresa, dois objetos em acrílico do Osmar Dillon, de 1973, que não se vê mais por aí, os icônicos Sol e Tu.
Mas a surpresa mais agradável do dia foi encontrar a artista Beatriz Milhazes, em pessoa, esperando um mesa para um almoço tardio no Guimas. Conversamos, ente muitos outros assuntos, sobre a exposição dela na Estação Pinacoteca, que eu adorei, e ela falou da dificuldade de conseguir, atualmente, empréstimo de obras dos colecionadores para a montagem de uma exposição como esta.
É bom estar no Rio.

No Aeroporto JK


“Senhor, o seu vôo foi cancelado, os passageiros estão sendo acomodados no vôo das 8:30h.” OK, o que fazer? Dezembro, apagão aéreo.
O Aeroporto de Brasília é esquisito. Os militares fizeram de tudo para impedir que o Niemeyer fosse o autor do projeto do aeroporto da capital, então construíram um galpão, hoje renovado, e com planos de expansão. É amplo, bom estacionamento, limpo, mas não deixa de ser weird.
São 6 e meia da manhã de um sábado, meu vôo para o Rio foi cancelado, estou sonado e com fome, e do terceiro andar do Aeroporto, onde ficam os cinemas, praça de alimentação, até barzinhos com som ao vivo, um barulho de festa: uma música ao longe, gargalhadas, vozes jovens que conversam quase gritando...
E pelas escadas rolantes vão descendo do terceiro andar e se espalhando pelo Aeroporto inteiro, aos poucos, como num final de festa, dezenas e dezenas de jovens. Aos poucos minha mente sonolenta identifica o evento como uma festa de formatura, pela idade dos jovens, pelos vestidos a rigor das moças (provavelmente o primeiro vestido a rigor que muitas usam), pelo rigor não tão rigoroso dos rapazes: blazers, camisas sociais, ternos pretos sem gravatas, muitos combinam os ternos com tênis, alguns abriram a camisa para mostrar o peito malhado. Alguns descem no fluxo inverso da escada rolante, outros se equilibram perigosamente na borda do espelho d’áagua do térreo, um é empurrado até o estacionamento dentro de um carrinho de bagagens. Algumas meninas descem a escada rolante em duplas ternamente abraçadas. Não é ainda o final de festa, pois o movimento é intermitente, me pergunto até que horas esta festa vai durar, se é que é mesmo uma festa de formatura, num Aeroporto?
Me lembro de minha festa de formatura, me vejo também me equilibrando na borda de um laguinho, andando por uma contra-mão, tirando os sapatos com o primeiro terno, bebendo até vomitar em uma sarjeta daquela São Luiz do Maranhão de tantos anos atrás, do século passado... Na verdade minha festa de formatura foi a formatura do primeiro grau (na época era o ginásio), pois minha formatura da faculdade foi na época de contestações, pós-1968, e nossa turma votou por não fazer uma festa de formatura, minha avó queria me dar o anel de grau e eu pedi o dinheiro do anel para me ajudar na entrada de um fusquinha.
Entro para os portões de embarque, o detector de metais apita, tenho muito tempo, penso, e rio comigo mesmo. Eu não tenho mais muito tempo assim, eles têm, e têm também a consciência de ter todo o tempo do mundo pela frente, que eu já perdi nesta estrada.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Morte e a Donzela



Duas pinturas de novembro (50x60cm), ambas chamadas "A Morte e a Donzela". Para as mulheres expressionistas me lembrei do de Kooning e da série Mulher e Bicho do Ivan Serpa. "Death and the Maiden" é o filme do Polanski mas é sobretudo o quarteto de Schubert, e também as xilogravuras da Dança da Morte de Holbein.
Da Wikipedia:
La Danse Macabre, também chamada Dança Macabra, Dança da Morte, La Danza Macabra, ou Totentanz, é uma alegoria do final do período medieval sobre a universalidade da morte: não importa o estatuto de uma pessoa em vida, a dança da morte une a todos. La Danse Macabre consiste na representação de uma Morte personificada conduzindo um fileira de figuras de todos os estratos sociais dançando em direcção aos seus túmulos— tipicamente com um imperador, rei, papa, monge, adolescente e bela mulher, todos numa forma esqueletal. Estas representações foram produzidas sob o impacto da Peste Negra, que lembrou as pessoas de quão frágeis eram suas vidas e quão vãs eram as glórias da vida terrena.
O exemplo artístico mais antigo é o cemitério pintado a fresco da Église des St. Innocents (Igreja dos Santos Inocentes, em francês) em Paris (1424). Há também trabalhos por Konrad Witz na Basiléia (1440), Bernt Notke em Lübeck (1463) e xilogravuras por Hans Holbein, o Moço (1538).
As cenas finais do filme O Sétimo Selo por Ingmar Bergman retratam um tipo de Danse Macabre.
Israil Bercovici afirma que a Danse Macabre originou-se entre os judeus sefardins no século XIV na Espanha. [Bercovici, 1992, 27].

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

...e em 2007 o Frank Stella no Roof Garden...




Em 2007, a exposição no Roof Garden do Met era do Frank Stella, maquetes de projetos arquitetônicos, e as esculturas feitas a partir das maquetes. Não tinha o colorido e a alegria da celebração do Jeff Koons, era uma exposição mais pesada, ligada à temática do Moby Dick explorada pelo Stella. Mesmo assim, como se vê em minha foto, o Roof Garden se transforma em uma explêndida happy hour...

Ainda Jeff Koons no Roof Garden do Met...




Três ângulos da escultura de um coração embrulhado para presente, do Jeff Koons, que esteve no Roof Garden do Met em NYC até outubro. Uma resenha creditada ao NYTimes (recebi por email) bem interessante (abaixo) mostra alguns senões à mostra, porém focados na localização ingrata para as obras:
"NOVA YORK - Com uma vista de tirar o fôlego, traçando um panorama do Central Park e do horizonte de Manhattan, o jardim no telhado do Metropolitan de Nova York, denominado Cantor Roof Garden, poderá surpreender o visitante como um excelente lugar para abrigar uma exposição de esculturas ao ar livre, como acontece todos os anos. Na verdade, trata-se de um lugar inóspito para esculturas, como demonstrado pela exposição de 2008, aberta nesta terça-feira, 22: três belos e inéditos trabalhos do conceituado artista pop Jeff Koons.
"Cada uma das esculturas é uma representação ampliada de algo menor em aço inoxidável, polido e laqueado - um cão de brinquedo feito de balões, um coração do dia dos namorados embalado numa folha metálica e a silhueta do 'leitão', de um livro de colorir do 'Ursinho Puff', como se estivesse pintado ao acaso por uma criança pequena.
"São trabalhos expressivamente travessos. Com suas partes pneumáticas, em forma de salsicha, Balloon Dog (amarelo) é um astuto cavalo de tróia: parece inocente, mas é carregado de estética e perversidade erótica. Sacred Heart (vermelho/dourado) comenta de maneira incisiva a mudança comercial no significado de uma experiência emocional e religiosa. Coloring Book reflete a obsessão jovem e a infantilidade da cultura e sociedade moderna.
"Mas localizados num pátio sem definição arquitetônica, onde também se vêem áreas ocultadas pelos proprietários do Roof Garden Cafe, as esculturas se tornam acessórios decorativos. O maior problema é a escala. Visto numa galeria interna, o brilhante Balloon Dog metálico, que atinge cerca de 3 metros de altura em seu ponto mais alto, poderia ter uma imposição diferente. No teto, parece ter seu crescimento impedido pelo céu; no aberto, poderia se expandir para o espaço, no sul e oeste do museu.
"A intimidade das esculturas de Koons também é diminuída. A atenção perfeccionista aos detalhes é um dos aspectos mais convincentes de seus trabalhos: note o exato laço que serve como nariz para o cachorro em forma de balão, ou as marcas de dobras e pregas no coração embalado.
"O ambiente que causa distração, porém, impede um olhar mais cuidadoso.
"Devido ao fato de ser a maior e mais simples escultura, Coloring Book é o trabalho que menos sofre com a inferência do ambiente. Mas também é o menos interessante do ponto de vista formal, contornado irregularmente com cores transparentes e aquosas.
"Local à parte, as esculturas de Koons permanecem como objetos intelectualmente excitantes, que aguçam os sentidos - Balloon Dog é a obra-prima - e valem uma visita sob qualquer circunstância."

Mesmo reconhecendo a pertinência das críticas, eu continuo achando que foi uma exposição maravilhosa... e uma ótima happy-hour...

Cantareira


Da série "Thesouro da Juventude", foto de uma proposta de instalação para o evento do Grupo Pyrata nas Barcas Rio-Niterói em 2005. Até a realização do evento mudei muito a proposta, a instalação finalmente realizada se ampliou até se tornar uma "sala de leitura" no 2º andar da Barca, assim este trabalho que publico aqui ainda permanecia inédito.

A Difficuldade do Barqueiro (série “Thesouro da Juventude”)
Três livros, com interferências em desenho, de uma velha edição do Thesouro da Juventude, abertos em páginas com imagens das “Bellezas Architectonicas do Rio” e da “Praia de Icarahy (Bellas Praias perto das Grandes Cidades)”, mediadas por uma fábula sobre “A difficuldade do barqueiro”.
Os 3 livros são apresentados abertos, em seqüência, da esquerda para a direita:
a) Volume 17, pág. 5358-5359 - “Bellezas Architectonicas do Rio”
b) Volume 16, pág. 5210-5211 - “A difficuldade do barqueiro”.
c) Volume 14, pág. 4488-4489 – “Praia de Icarahy (Bellas Praias perto das Grandes Cidades)”
A única exigência em relação à montagem é que esta seqüência na posição horizontal seja obedecida, dependendo do espaço disponível será definida a melhor opção para a montagem final. Dimensões do trabalho: 90 cm x 24 cm (l x a)

Pelo amor de Deus...




Três imagens de "For The Love of God", escultura produzida pelo Damien Hirst em 2007, e que é talvez o "memento mori" mais famoso deste milênio. É um crânio de um homem europeu que viveu entre 1720 e 1810, inteiramente recoberto de platina (exceto os dentes, que são os originais) incrustado com 8.601 diamantes perfeitos, incluindo um diamante rosa em forma de pera que fica no fronte do crânio, no total de 1.106,18 quilates. É a obra de arte mais cara jamais criada, com um custo de produção de cerca de 14 milhões de libras esterlinas, e teria sido vendida, para um consórcio de compradores anônimos, por 50 milhões de libras (embora haja comentários de que esta venda nunca teria sido realizada, seria uma forma de aumentar os preços de todos os trabalhos do artista, com quem a obra permaneceria).
O título da obra teria sido inspirado em um comentário da mãe do artista: "Pelo amor de Deus, o que você vai fazer agora?"
E o crítico Richard Dorment, do Daily Telegraph, escreveu: "Se qualquer um exceto Hirst tivesse feito este curioso objeto, estaríamos atônitos ante sua vulgaridade. Parece o tipo de coisa que Asprey ou Harrods poderiam vender para crédulos visitantes vindo dos países produtores de petróleo, com ilimitadas quantias de dinheiro para gastar, pouco gosto e nenhum conhecimento de arte. Posso imaginá-lo enfeitando a sala de estar de algum ditador africano ou barão do tráfico de drogas colombiano. Mas não foi feito por qualquer um - Hirst o fez. Sabendo disso, olhamos para ele de uma maneira diferente, e compreendemos, na forma mais direta e brutal possível, que "For the Love of God" questiona alguma coisa sobre a moralidade da arte e do dinheiro." (clique aqui para a crítica completa, é bem interessante)

7 Habsburgos e Braganças


Pintura feita em novembro, 50x60cm. Parti dos losangos, e do verde-amarelo. O verde dos Bragança e o amarelo dos Habsburgo, que se juntaram na bandeira do Império Brasileiro e foram mantidos na bandeira positivista da República Brasileira.
Mesmo aqui, na Brasília modernista, o verde dos Bragança e o amarelo dos Habsburgo foram incluídos por Lucio Costa e Niemeyer na Praça dos Três Poderes, com o jardim de palmeiras imperiais e o jardim de ipês amarelos flaqueando o Congresso Nacional (ao que consta a partir de sugestão do Le Corbusier).
As 7 caveiras vieram das "vanitas".
O título, "Os sete Habsburgos e Braganças", surgiu depois da pintura terminada. Tive curiosidade de pesquisar sobre quem seriam os personagens que eu tinha retratado de forma meio inconsciente, e vi que o matrimônio imperial de D.Pedro I com a Arquiduquesa Leopoldina da Áustria gerou exatamente 7 filhos:
1) D. Maria II, rainha de Portugal (1819-1853), casada por procuração com seu tio, D. Miguel I, rei de Portugal, em primeiras núpcias com Augusto de Beauharnais, duque de Leuchtenberg, e em segundas núpcias com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, rei consorte de Portugal;
2) Infante D. Miguel de Bragança (1820), príncipe da Beira;
3) Infante D. João Carlos de Bragança (1821-1822), príncipe da Beira;
4) D. Januária Maria (1822-1901), princesa imperial do Brasil, casada com o príncipe Luís de Bourbon e Duas Sicílias, conde de Áquila;
5) D. Paula Mariana (1823-1833);
6) D. Francisca (1824-1898), princesa do Brasil, casada com o Francisco Fernando de Orléans, príncipe de Joinville;
7) D. Pedro II (1825-1891), imperador do Brasil, casado com D. Teresa Cristina de Bourbon e Duas Sicílias, princesa de Duas Sicílias.
...embora eu não tenha planejado, estes são, portanto, os 7 Habsburgos e Braganças...