Cheguei no Rio tarde, com o atraso do vôo, e assim tive que reduzir bastante a minha agenda, me concentrando em visitas às exposições de dois circuitos de galerias de arte: Praça General Osório e Praça Santos Dumont.
Praça General Osório:
Na Amarelonegro, individual de Hugo Houayek. Uma boa exposição. No texto de apresentação o artista diz que "...como um camaleão, a pintura vai se camuflando no mundo, fazendo da camuflagem uma opção estética". Uma instalação transforma a galeria em um espaço de morar, porém totalmente insólito, pois cama, bancos, espelho, quadros, são painéis ou sólidos recobertos em plástico com cores fortes, meio fofos, talvez confortáveis, porém áridos na sua existência plástica e visualmente berrante. Os objetos são obras em si, além da instalação, como no Store do Claes Oldenburg (preservado no MoMA). Os espelhos são painéis recobertos de plástico preto, que paradoxalmente podem funcionar como espelhos. No acervo da galeria há também objetos onde o aspecto de chassi, de pintura que todos tem, viram mais "pintura" pois o artista descasca o plástico criando quadros abstratos com zonas de cor. O pequeno cubo (20x20x20), um múltiplo, é um objeto de desejo: recebe as cores fortes, e funciona como uma "almofada" no ambiente-casa, em uma versão aparece dourado, e em uma versão (não exposta, vi no acervo), tem listas vermelhas e brancas que remetem a um Daniel Buren.
Na Silvia Cintra e no Box4, Tatiana Blass, O Globo da Morte. Pinturas sobre tecido e um escultura, muito bonitas, na linguagem já marca registrada da artista, na Silvia. E, no Box4, um trabalho de gande impacto: Uma moto (real) cortada pela metade, suas partes separadas por tubos metálicos (que também separam as metades do instrumento musical na escultura na outra sala), em rotação de 90 graus (a parte traseira da moto sobre o chão, a parte dianteira sobre a parede) - como em um Globo da Morte mesmo, e a separação das partes transmite de forma maximizada a sensação de velocidade e de vertigem de um Globo da Morte. Gosto muito do trabalho da artista, tanto as pinturas (um dos meus objetos de desejo...) quanto os ambientes e objetos. Vi em 2007, no Centro Maria Antonia (SP), um ambiente da Tatiana Blass de fazer perder o fôlego: uma sala, completa, normal: sofá, estantes, livros, CD, pinturas, mesa, cadeiras, fotos de família... só que à altura de pouco mais de um metro do chão o espaço foi seccionado, na horizontal, como se uma motoserra tivesse passado pela sala e cortado tudo em seu caminho, a parte de cima se despreendendo da parte de baixo deixando um vazio entre elas: CDs,livros, quadros, paredes, móveis, tudo o que estava naquela altura, cortados ao meio, como testemunhas de uma tragédia de uma violência cirúrgica tão século XIX.
Arnaldo Antunes na Laura Marsiaj. Um artista multimidia, com criações da maior qualidade no campo da música, levando adiante a pesquisa de palavras, sons, letras, conceitos, que já desenvolve em seus trabalhos musicais principalmente após ter deixado os Titãs. Gosto muito, sempre gostei, vi shows, tenho todos os CDs. Na exposiçào anterior, também na Laura Marsiaj, eram desenhos, trabalhos gráficos bidimensionais sobre papel, usando tinta, e com jogo de palavras, letras, inventando caligrafias (influência do concretismo, dos calígrafos orientais). Nesta exposição ele parte para o tridensional: objetos explorando as letras, conceitos, aparências, e se vê que em alguns ele chega a uma semelhança com objetos surrealistas (o ovo com sinais gráficos - um ponto e um vírgula, o sol feito dos arames de um guarda-chuva). Gosto da carteira de cigarro feita de duas metades de carteiras de cigarro de marcas diferentes, criando uma nova marca(Marmel) a partir do Marlboro e do Camel das carteiras originais.
Praça Santos Dumont:
Coletiva na Anita Schwartz. A Galeria é maravilhosa, instalações que poderiam perfeitamente estar em Chelsea NYC e está comemorando um ano de inauguração com uma boa coletiva, trazendo seus artistas consagrados (Gonçalo Ivo, Palatnick, Zilio, Fabio Miguez, Nuno Ramos, Rubens Grilo...) e também artistas mais jovens. Uma exposição bem montada, e de qualidade.
Anna Maria Niemeyer - na Praça, remontagem de uma instalação do João Carlos Goldberg, usando fios de prumo/pêndulos, bem interessante. E no Shopping da Gávea, trabalhos recentes do José Patrício, com os já conhecidos dominós, estruturas feitas com preguinhos de cabeça colorida, e uma estrutura feita com botões de cores diferentes. Todas "de parede", são pinturas feitas com estes elementos, uma meticulosidade impressionante, rigor conceitual e muito bonitas. Gosto muito.
Na Galeria Toulouse, uma coletiva do acervo, com obras de Eduardo Sued, Rubens Gerchman, John Nicholson, Cildo Meireles, Waltercio Caldas, Gonçalo Ivo, Augusto Herkenhoff, Barrio, Adriana Salazar. As máquinas da Adriana Salazar, artista colombiana, são muito interessantes, uma das máquinas é um aparelho para enfiar linha em uma agulha (a máquina tenta, tenta, como uma avó míope, e nunca acerta...) E uma surpresa, dois objetos em acrílico do Osmar Dillon, de 1973, que não se vê mais por aí, os icônicos Sol e Tu.
Mas a surpresa mais agradável do dia foi encontrar a artista Beatriz Milhazes, em pessoa, esperando um mesa para um almoço tardio no Guimas. Conversamos, ente muitos outros assuntos, sobre a exposição dela na Estação Pinacoteca, que eu adorei, e ela falou da dificuldade de conseguir, atualmente, empréstimo de obras dos colecionadores para a montagem de uma exposição como esta.
É bom estar no Rio.
sábado, 6 de dezembro de 2008
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