quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pichadora presa há 44 dias tenta de novo a liberdade

Do Jornal O Globo, 10/12/2008 (repórter Flávio Freire):
Aos 23 anos, a gaúcha Caroline Pivetta da Mota tem, há 44 dias, a liberdade apenas tatuada no peito. Presa em flagrante em 26 de outubro, quando pichava o pavilhão da 28a. Bienal Internacional de São Paulo, Caroline, desde então, divide com outra detenta uma pequena cela da Penintenciária Feminina de Santana. (...) Ao lado de outros 40 jovens (era a única mulher), ela atacou com um spray o prédio instalado no Parque do Ibirapuera, quando foi detida por soldados do Batalhão de Choque da Polícia Militar (...) A pichação foi feita num espaço onde não havia obra de arte. A instalação foi batizada pelo autor como "Vazio", um dos trabalhos mais polêmicos já apresentados na Bienal. (...) Em entrevista à "Folha Online", na semana passada, Caroline disse (...): "A gente não queria estragar as obras da Bienal, mesmo porque não tinha obra. Ali, nós é que íamos fazer uma obra".
Eu concordo. Acho inclusive que a curadoria da Bienal deveria se pronunciar de público exigindo a liberdade dos pixadores. Basta ler a conceituação desta Bienal, chamada como "Em vivo Contato", pelo curador Ivo Mesquita: "Considerando que parte das práticas artísticas contemporâneas não se restringe à produção de um só objeto passível de contemplação em um mesmo tempo e lugar, a 28a. Bienal propõe diferentes dispositivos de exposição e difusão (...): Praça: A transformação do andar térreo do Pavilhão Ciccillio Matarazzo numa praça pública, como no desenho original de Oscar Niemeyer para o parque em 1953, sugere uma nova relação da Bienal com o seu entorno - o parque, a cidade -, que se abre como a ágora na tradição da polis grega, um espaço para encontros, confrontos, fricções (...), procurando gerar energia para uma aeração do edifício, assim como para a consolidação da mostra como um espaço social temporário, gerador de uma potência criativa que perpassa tanto artistas quanto público reunidos em seus acontecimentos." Ainda o curador, descrevendo o segundo andar, a "planta livre", o "vazio", o local buscado pelos pixadores para sua interferência: "É nesse território do suposto vazio que a intuição e a razão encontram solo propício para fazer emergir as potências da imaginação e da invenção. Esse é o espaço em que tudo está em um devir pleno e ativo, criando demanda e condições para a busca de outros sentidos, de novos conteúdos".
Em minha opinião a advogada de Caroline poderia utilizar a conceituação da Bienal como argumento de sua defesa: "o confronto, a fricção que geram energias para uma aeração do edifício, a potência criativa... etc. etc." tudo isto poderia estar se referindo ao trabalho dos pixadores, não fossem eles de periferia e sem acesso ao circuito de artes, que a Bienal pretensamente procura discutir.

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