sábado, 6 de dezembro de 2008
No Aeroporto JK
“Senhor, o seu vôo foi cancelado, os passageiros estão sendo acomodados no vôo das 8:30h.” OK, o que fazer? Dezembro, apagão aéreo.
O Aeroporto de Brasília é esquisito. Os militares fizeram de tudo para impedir que o Niemeyer fosse o autor do projeto do aeroporto da capital, então construíram um galpão, hoje renovado, e com planos de expansão. É amplo, bom estacionamento, limpo, mas não deixa de ser weird.
São 6 e meia da manhã de um sábado, meu vôo para o Rio foi cancelado, estou sonado e com fome, e do terceiro andar do Aeroporto, onde ficam os cinemas, praça de alimentação, até barzinhos com som ao vivo, um barulho de festa: uma música ao longe, gargalhadas, vozes jovens que conversam quase gritando...
E pelas escadas rolantes vão descendo do terceiro andar e se espalhando pelo Aeroporto inteiro, aos poucos, como num final de festa, dezenas e dezenas de jovens. Aos poucos minha mente sonolenta identifica o evento como uma festa de formatura, pela idade dos jovens, pelos vestidos a rigor das moças (provavelmente o primeiro vestido a rigor que muitas usam), pelo rigor não tão rigoroso dos rapazes: blazers, camisas sociais, ternos pretos sem gravatas, muitos combinam os ternos com tênis, alguns abriram a camisa para mostrar o peito malhado. Alguns descem no fluxo inverso da escada rolante, outros se equilibram perigosamente na borda do espelho d’áagua do térreo, um é empurrado até o estacionamento dentro de um carrinho de bagagens. Algumas meninas descem a escada rolante em duplas ternamente abraçadas. Não é ainda o final de festa, pois o movimento é intermitente, me pergunto até que horas esta festa vai durar, se é que é mesmo uma festa de formatura, num Aeroporto?
Me lembro de minha festa de formatura, me vejo também me equilibrando na borda de um laguinho, andando por uma contra-mão, tirando os sapatos com o primeiro terno, bebendo até vomitar em uma sarjeta daquela São Luiz do Maranhão de tantos anos atrás, do século passado... Na verdade minha festa de formatura foi a formatura do primeiro grau (na época era o ginásio), pois minha formatura da faculdade foi na época de contestações, pós-1968, e nossa turma votou por não fazer uma festa de formatura, minha avó queria me dar o anel de grau e eu pedi o dinheiro do anel para me ajudar na entrada de um fusquinha.
Entro para os portões de embarque, o detector de metais apita, tenho muito tempo, penso, e rio comigo mesmo. Eu não tenho mais muito tempo assim, eles têm, e têm também a consciência de ter todo o tempo do mundo pela frente, que eu já perdi nesta estrada.
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