Vim tão cansado de SP que dormi quase 24 horas seguidas.
Tudo errado. Eu deveria ter começado este texto falando do sucesso que foi a SP-arte em sua versão 2010, está em todos os jornais: "SP Arte, feira paulista de galerias, atinge seu auge após o fim de temores da crise econômica" (O Globo).
É verdade, ao meu ver foi realmente um sucesso, e talvez por isso eu tenha ficado tão cansado de bater perna, subir e descer rampa, andar pelos stands, conversar com mil pessoas, beber taças e taças de espumante, tentar guardar na memória uma infinidade de imagens de obras de arte que, finda esta feira, voltarão a alguma coleção privada ou acervo de galeria, e depois só serão vistos quando retornarem ao mercado, em um leilão de espólio ou talvez nem isto.
Com meu andar incessante no Pavilhão, eu internalizei uma característica das feiras: uma visão dispersa de milhares de realidades heterogêneas competindo entre si, e com esta minha nova personalidade (espero que provisória) não consigo escrever meu texto para o blog com começo (talvez falar das feiras medievais, uma metáfora do mercado perfeito dos primeiros economistas), meio (talvez destacar galerias e obras, comparar esta edição da feira com as anteriores) e fim (uma conclusão witty).
O registro então passa a ser o de anotações esparsas, "impressões". O que é coerente com a feira e com a forma de registro visual que adotei: as fotos de celular, toscas e com baixa definição, substituindo as fotos "boas" (com auxílio do São Photoshop) que eu fiz para a feira do ano passado e para outros eventos.
Em tópicos, sem preocupação com ordem, já sabendo que serei injusto, esquecerei coisas importantes, selecionarei apenas partes não tão significativas etc etc etc:
1- Meu destaque com certeza é para Tamba Tajá, escultura da Maria Martins feita nos anos 1940. Avaliada em R$1.500.000,00, é a obra mais cara da feira (e vale cada centavo, principalmente após a redescoberta da escultora, com o lançamento de sua biografia que discute em detalhe seu longo caso com Marcel Duchamp e sua influência na obra do artista). Galeria Arte 57, de SP.
2- Lançamento do livro da Adriana Varejão, Entre Carnes e Mares. Uma publicação bem abrangente sobre a trajetória da artista, com boas reproduções de obras e vários textos (na minha fila de leitura, passando à frente de muitos outros livros).
3- Profusão de obras da Mira Schendel. Na Galeria Pinakotheke, um lindo políptico da artista (uma sequencia de têmperas sugerindo movimento como de uma onda).
4- O virtual se torna real: a Galeria Motor, uma galeria virtual de arte associada ao site Submarino, com um stand físico, obras reais e vendas efetivas.
5- A mais nova galeira, a Ziper, estreia em grande estilo, com um bom stand. O foco é em artistas jovens, e lá está uma bonita instalação do Pedro Varela, que também aparece em outros stands.
6- Um pequeno Guignard, paisagem noturna, com toques de cor quase neon, tão contemporâneo em sua simplicidade.
7- Entre as aquisições da Pinacoteca de SP, um bom Ivens MachadoGaleria Amarelonegro dos anos 1970, da (folhas de caderno com pautas obliteradas por Liquid Paper). E, da Galeria Mezanino, um conjunto de xilogravuras em caixa feita a mão com madeira reciclada, do Ulysses Bôscolo. Duas galerias pequenas (uma do Rio e a outra de SP) que mostram bons trabalhos com foco em artistas jovens.
8- Performance da Maria Lynch, os seres coloridos rastejam pela rampa entre os visitantes da feira.
9- Entre os trabalhos monumentais, a coragem da HAP em trazer duas pesadas e imponentes esculturas em mármore carrara do Nelson Felix. Parece que pousaram no stand por mágica, e no entanto a logística deve ter sido bem complicada. Valeu.
10- As galerias do Rio estão bem, nada a dever às poderosas galerias de São Paulo. E atuam com criatividade (entre outras obras, Artur Fidalgo traz um objeto/instalação do Claudio Paiva feito com um pão francês descansando sobre copos de água; A Gentil Carioca com a instalação sonora/aquática do Paulo Nenflídio), com foco em artistas jovens ou mais consagrados - Amarelonegro (artistas jovens como Álvaro Seixas, Gisele Camargo, Rafael Alonso, Hugo Huayek, Raul Leal, Elvis Almeida), a Arte em Dobro (destaque para a Coleção 3 com múltiplos de, entre outros, Franklin Cassaro e Walton Hoffman, e para uma curiosa pintura do Sergio Romagnolo representando a Eudora, mãe da Feiticeira...), Progetti (lindas pinturas da Sandra Cinto e da Lívia Flores), Laura Marsiaj (lindas pinturas da Lucia Laguna e da Gabriela Machado), a Mercedes Viegas (bonita escultura do Ângelo Venosa, Ana Holck), Anita Schwartz, Silvia Cintra+Box4, Márcia Barroso do Amaral. Ainda, a Tempo e a Pequena Galeria 18 (ambas com fotografias), Almacén (lindas pinturas do Walter Goldfarb), Athena, Eliana Benchimol, Gustavo Rebello...
11- Jean Boghici arrasa, ao apresentar uma exposição individual do artista Emeric Marcier, resgatando a obra deste pintor, falecido em 1990, e com isso mostrar que mesmo em uma feira, em uma galeria comercial, se pode ter um aspecto quase institucional.
12 - Eu vi a exposição nos anos 1970, no MAM, e lá estão dois sobreviventes, dois Objetos de Sedução, frágeis trabalhos da Lygia Pape: saquinhos de pipoca com a marca de um beijo da artista em baton e objetos de um imaginário kitsch e barato: perfumes, espelhos, maquiagem...
Mais, anotações sobre as exposições que consegui ver em SP, nos intervalos da feira:
1- Andy Warhol na Estação Pinacoteca, uma boa exposição do artista, bons trabalhos, boa curadoria. Pena que não vem ao Rio.
2- Originais de Une Semaine de Bonté, colagens do Max Ernst, no Masp. Preciosos, é a segunda vez que os frágeis originais são expostos. Imperdível.
3- Helio Oiticica no Itaucultural, com penetráveis, metaesquemas, bólides, parangolés, uma exposição bem completa, talvez prejudicada pelo baixo pé direito de algumas salas. Virá ao Rio.
4- Flávio de Carvalho no MAM. Bons trabalhos, um recorte interessante da obra com ênfase na pintura e desenhos, diminuindo um pouco, talvez, o aspecto contestador e libertário do artista. Em outra sala uma pequena exposição com releituras contemporâneas do trabalho do Flavio exercita mais este aspecto contestador, por exemplo, focando o corpo nu como instrumento no trabalho do Ney Matogrosso em Secos e Molhados.
5- Centro Cultural de São Paulo, Dimensões Variáveis, exposição que enfoca a relação entre o desenho e a escultura, entre o plano e o tridimensional, com trabalhos de Daniel Acosta, Felipe Cohen, Marcius Galan e Nicolás Robbio.
6- Mauro Piva, na Galeria Fortes Vilaça, lindos desenhos, uma exposição que, pela técnica impecável e por abordar como um dos temas os materiais de desenho, é especialmente instigante para nós, artistas.
Ufa!
Veja fotos do evento em Só Arte Contemporânea, site do Odir Almeida
Site da SP-arte
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malga | Santa Helena
Há 4 dias
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