O espaço da
Galeria Progetti, um casarão centenário, bem reformado, em pleno Centro Histórico do Rio, se destaca pela verticalidade da parede dos fundos, com a transformação dos andares superiores em mezaninos que são como balcões para o espaço, como de um canyon ou da abóbada central de uma catedral.
Hoje, o espaço está ocupado por misteriosos objetos, de uma tecnologia estranha, de um high-tech/low-tech: no pavimento térreo, dezenas de jarros, ânforas, de barro ou cerâmica, ligados por fios elétricos que serpenteiam; do vão livre, cai um pêndulo oscilando sobre duas solitárias ânforas, de metal dourado e acrílico ou vidro azul; de perto se vê que o peso do pêndulo é um microfone; em cada uma das paredes paralelas do mezanino, motores levam um microfone em um caminhar de máquina sobre: vidros de tamanhos e espessuras diferentes, com água em volumes também diferentes; vasos de formatos e materiais diferentes.
Mas o que ocupa verdadeiramente o espaço é o som, um som misterioso, um mantra, que pode estar vindo das ânforas do térreo (cada uma delas, vemos agora, abriga uma caixa acústica que murmura coisas misteriosas), da reverberação deste som das dezenas de ânforas-caixas acústicas nas ânforas centrais de metal e acrílico, captada pelo pêndulo-microfone, e talvez retornando às ânforas ou se espalhando a partir do teto por grandes auto-falantes. Ou o som captado nas filas de vasos pelos microfones andantes do mezanino, como dois órgãos no que pode ser visto como um coro de uma catedral.
Uma catedral sonora, e que no momento da
performance começa, ela própria, as máquinas aparentemente sem comando humano, por seu puro livre-arbítrio, a emitir sons de uma sinfonia profana. O som de mantra, espacial, se transforma em um som humano, embora aparentemente venha das máquinas, dos objetos, do espaço iluminado e estranhamente vazio de
performers e cheio de espectadores.
É a abertura da instalação do
Chelpa Ferro, na
Galeria Progetti, hoje, agora a tardinha. Eu estava lá. Meninos, eu (ou)vi.
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