sábado, 18 de julho de 2009

Put the blame on Mame, boys


Ela era linda, alta, ruiva, e eu era apenas uma criança, em meados do século passado, no Copacabana Palace. Ela me parecia enorme, com um olhar por cima dos ombros de todos os homens brasileiros, adultos, imagine então como este olhar iria por cima de mim, eu, apenas uma criança, que ia com meus pais à pérgula do Copa, nadar na piscina enquanto meu pai e minha mãe tomavam chá ou drinks com amigos, para mim um sorvete ou um misto quente; me divertir enquanto ao redor astros e estrelas e políticos e empresários brilhavam e falavam de coisas importantes que eu nem imaginava, eu era apenas uma criança, quando algum dos adultos me disse: "é ela, a Gilda, vai pedir um autógrafo pro teu caderno"...
Ela parou a marcha triunfal sobre os mortais latinos, deusa, e me olhou, os cabelos ruivos faziam cascatas acobreadas, como um Niagara de sangue, os olhos sobre mim, eu apenas um menino, com frio, com 5 6 7 8 anos no máximo, mas que me transformei no homem que seria daí a 10 15 anos, só com o calor do olhar da deusa. Ela sorriu. Os dentes lindos e perfeitos, a boca vermelha e umida, talvez um gosto de martini ou dos beijos do O.W., quem sabe? eu não saberia dizer, ainda era um menino bem longe da puberdade, ainda não conhecia o clamor do sexo mas o via nos cabelos ruivos e na boca que me falava algo, em inglês, claro, e que eu tentava entender e responder à altura, graças a deus minhas aulas no ibeu.
A deusa parou sua marcha, me sorriu e se abaixou, as pernas lindas, perfeitas, ficou com a cabeça da altura da minha, os olhos da altura dos meus olhos, sorriu de novo ou sempre, escreveu algo no meu caderno de autógrafos. E me beijou no rosto, manchando meu rosto branco e liso de criança de um baton vermelho vivo. Se este baton fosse indelével, como uma tatuagem!
Ainda passou a mão sobre minha cabeça, assanhou meus cabelos que eram louros e que hoje são brancos, levantou-se e continuou sua marcha; seguiu para enfrentar, na saída da pérgula, um batalhão de fotógrafos e jornalistas, perguntas indiscretas, a selva.
Voltei para a mesa de meus pais, um pequeno Édipo, mostrando meu troféu no caderno de autógrafos, eu, um pouco mais adulto que há dez minutos. Talvez. Talvez todos os homens da mesa tenham tido um pouco de inveja de mim por ter sido beijado pela deusa. Rita Hayworth, ou Margarita Carmen Cansino. Para mim, inesquecível.

A primeira aparição de Gilda ("That's me...") ("are you decent?"... "sure, I'm decent")

O máximo: Put the blame on Mame, boys..., a cena termina com uma Gilda estapeada...

So pure, cenas de Rita dançando com Gene Kelly

Rita H. & Fred A., versão editada, e um pequeno original ("That's much better, thank you...")

Amado mio, love me forever... ... e uma versão super-kitsch da Grace Jones

Rita dançando em Cover Girl

Orson Welles & Rita Hayworth

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