sábado, 14 de março de 2009

Em SP (6) - Instalações no MAC-Ibirapuera

No último andar do Pavilhão Bienal, no Ibirapuera (meio escondido, o acesso é por uma rampa externa, uma boa subida para os não tão jovens interessados em arte contemporânea), o MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP) ocupa muito bem um ótimo espaço (que é menos da metade do que a 28a. Bienal não ocupou , na verdade desperdiçou, com o seu andar vazio...)

São instalações do acervo do MAC e uma coletiva, Superfícies da Memória, também de instalações. Com curadoria de Lisbeth Rebollo Gonçalves e Sylvia Werneck, esta coletiva aborda a memória, o passado e suas reminiscências como elementos na busca da identidade, e apresenta oito instalações, dos artistas Divino Sobral, José Rufino e dos artistas uruguaios Pablo Uribe e Sergio Meirana; cada um deles, à sua maneira e em linguagens contemporâneas, buscando respostas para as inquietações humanas.
A instalação Náusea , do José Rufino, é bem impactante: antigos móveis de escritório, com manchas de uso, de sujo, de ferrugem, da ação do tempo; de onde brotam monotipias feitas pelo artista sobre antigos documentos encontrados em arquivos abandonados. A simetria bilateral das monografias lhes dá aspecto algo humano, talvez de radiografias ou tomografias, de marcas e lembranças de pessoas que habitaram e trabalharam naqueles móveis e documentos e que agora são apenas passado e memória.

A instalação Horto das Jabuticabeiras, do artista Divino Sobral apresenta galhos de árvores envoltos por fios coloridos de lã que estariam, segundo o artista “mumificados em camadas de tempo”; esta memória do tempo é vista com lirismo, as cores dos fios de lã trazem algo de festa popular de antigamente, de uma renovação dos galhos mortos através da arte. Outra instalação do artista consiste em projeções de fotos sobrepostas de cidades do interior de Goiás.
Paulo Uribe apresenta Doble Pensar, com retratos em serigrafia sobre informes publicitários do governo uruguaio publicados em jornais na década de 1980, que visavam conseguir adeptos para a Reforma Institucional uruguaia; em Coleção interfere com a mesma técnica em catálogo do MAC USP; apresentando ainda a videoinstalação Atardecer. A falta de tempo é o tema do artista Sergio Meirana, que espalha pequenos executivos entalhados em madeira, com suas valises e aparentando pressa, pelas paredes do espeço expositivo.

Na mostra do acervo de instalações do MAC, o destaque é para um Penetrável de Plástico, de Jesús Rafael Soto, que oferece ao espectador experiências estéticas visuais, táteis e sensoriais, ao invadir o ambiente que é como uma casacta de fios de plástico translúcido.
Em Ex it (Os portões do Inferno são apenas um Jogo de Luz ), Yoko Ono e suas árvores "de verdade" brotando de caixões mortuários enfileirados, indicando a efemeridade da vida e o “eterno retorno”.
Simon Benetton, em O Jardim dos Filósofos e Além , coloca esculturas de aço cromado como um jardim, contrastando a fragilidade das formas orgânicas com a rigidez do material.

Em Cipis Transworld Art Industry & Commerce, Marcelo Cipis apresenta uma obra lúdica com cores fortes, fazendo referência à publicidade e ao mercado de arte.
Já na instalação de Bernardita Vattier, Idêntica Identidade, a identidade é um jogo externo e transitório; os espelhos e as máscaras desafiam o visitante a vestí-las e a refletir-se, e a refletir sobre as suas múltiplas identidades.
Finalmente, Espectros, de Marwan Rechmaoui, mostra, sob a ótica do artista, o comportamento dos moradores do Yackobian, edifício modernista construído na década de 1960, no Líbano. O artista está envolvido desde a última década em ações para a reconstrução da vida em Beirute após a guerra civil, e ao recriar o edifício modernista, construção do início dos anos de 1960, no qual morou por cinco anos, o artista revela as transformações ocorridas em sua estrutura durante as mudanças econômicas e demográficas que tiveram lugar no Líbano ao longo do tempo, recriando as marcas do cotidiano dos seus habitantes e os traços por eles deixados como “vidas urbanas impressas sobre a superfície da cidade”.

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