terça-feira, 3 de março de 2009

Em SP (3) - Jorge Guinle, belíssimo caos


"Por uma questão de justiça poética, já que o artista partiu tão cedo, as telas de Jorge Guinle decidiram permanecer jovens. Fisicamente até, elas passam a impressão de tinta fresca. Irradiam sempre a mesma vontade de pintar, a mesma vontade de viver, continuam a provocar, a agradar e a desagradar."
A epígrafe da exposição Belo Caos, retrospectiva do pintor Jorge Guinle, no MAM-SP, é dos curadores Ronaldo Britto e Vanda Klabin, e emociona: o contraste entre Jorginho, morto tão jovem (40 anos) e a sua obra, tão viva, tão jovem, e tão Jorginho mesmo.
Lembro quando ele apareceu no Rio, no Parque Lage, nos anos 1980, vindo de anos viajando, morando no exterior, e querendo levar a sério a pintura; a princípio olhado meio com desconfiança: o que é que este cara, tão rico, vai querer levar a sério? e o jeito meio desconexo dele não contribuía para diminuir a reserva. Mas logo se era conquistado pela cultura, pela articulação, pelo envolvimento no trabalho, e pelo próprio trabalho, que cresceu e se firmou.

A exposição no MAM-SP (inicialmente apresentada na Fundação Iberê Camargo e que, parece, não irá ao Rio por falta de patrocínio) é uma excelente oportunidade de conhecer, ou rever, o trabalho do artista. São telas grandes e uma sala com desenhos e pinturas pequenas sobre papel, com um bom apanhado da carreira de Jorge; a grande maioria dos trabalhos é de colecionadores particulares, assim será difícil reunir de novo um corte tão significativo sobre o artista.

Não tenho como falar muito sobre as telas, elas falam por si. Um belo caos, realmente: a tela em branco como um campo de batalha, que o artista explora, conquista, com vagar, com força, raiva, amor; tinta espessa, escorridos, pedaços desconexos, e de repente, o milagre: do caos se forma um corpo orgânico, uma pintura que se sustenta, quedá prazer ao olho do espectador, que se diz presente, viva, pulsante...
Um bom catálogo; uma boa companhia na minha estante para a excelente monografia sobre o artista, feita pela historiadora (e minha amiga) Cristina Bach e editada pela Cosac Naify.

Nenhum comentário: