quinta-feira, 12 de março de 2009

O Filho da Mãe (lendo B.C.) - 2

Em outro voo, desta vez de Brasília para São Paulo, termino minha leitura de O Filho da Mãe, o mais novo livro do escritor Bernardo Carvalho; sem conseguir parar, preso à narrativa, ao caleidoscópio de personagens e de situações que se move sob um clima geral de paranóia, de perseguições imaginadas e reais. As mães, que na primeira parte do livro dão o tom de uma quase ópera de sentimentos, de amor e rejeição, como comentei em post anterior, na segunda parte (As Quimeras) se colocam quase que como um coro para um primeiro plano onde os filhos, os machos, atuam em um balé acrobático, um filme de ação: eles se amam, se perseguem, se machucam, se matam...
Aparecem até mesmo o pai/o padastro, em capítulos que são como pausas nesta ação, até pelas locações distantes: a Floresta Amazônica e o Mar do Japão (e que ficam, ao meu ver, como apenas inseridos na estrutura do livro; poderiam ter sido, talvez, mais desenvolvidos, principalmente o do padastro).
E ao clima geral de paranóia, de medo, se soma uma tristeza, no leitor, de entender a tragédia que estará no fim desta sinfonia; o final (Epílogo) é como um apocalipse e um pesadelo; surreal, brutal, uma ação irracional e violenta como uma força da natureza, um temporal, um terremoto.
Alguns livros do autor terminam sem explicar todo o mistério, que fica em aberto ("o que significa a caixinha de As Iniciais?"). Em outros, o mistério principal é esclarecido, abrindo o significado até para um releitura (Mongólia). Em O Filho da Mãe o final chega com o destino dos personagens bem traçados, os mistérios do enredo esclarecidos; o que fica sem solução, e nisto o Epílogo é perfeito, é o mistério maior: o que é e o por que deste amor mãe-filho, deste instinto que é do ser humano e dos animais, o por que disso tudo, o por que da vida mesmo?
Hoje eu diria que este é o melhor livro do Bernardo Carvalho, embora ache Onze, Teatro e Aberração (nesta ordem mas praticamente empatados) verdadeiras maravilhas, livros que espero reler mais algumas vezes, acho que em O Filho da Mãe o escritor atingiu uma maturidade, um equilíbrio, um domínio da narrativa e dos personagens que me fazem colocar este último à frente dos demais.
Agora vou começar a esperar o próximo, espero que não demore muito...

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