segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Diarios de NYC - 5 ("monday monday")

Lindo dia de sol, temperatura agradavel, programação bem light para as despedidas.
Hoje, uma novidade para mim: programei uma ida até Long Island, conhecer o PS-1, o centro de artes contemporâneas associado ao MoMA que funciona em uma antiga escola desativada. Super-fácil, no MoMA estão as instruções, a partir da estação de metrô na 53rd St logo em frente ao MoMA, duas estações e uma andada de 4 quarteirões; o ingresso do MoMA vale, até o dia seguinte, para a entrada no PS-1.
O clima é meio de escola antiga, como se vê no cinema, ampla, funcional, grandes escadarias, paredes de tijolinho e piso de tábuas de madeira ou de concreto; mesmo os seguranças tem um jeito de inspetores escolares; e o coffee shop tem cara de um refeitório de high-school ou universidade de filmes (almocei lá, um chili con carne e tacos, delicioso, baratinho). Alguns problemas: falta de refrigeração nas salas, com isso algumas obras do próprio MoMA não podem ser exibidas, mas eles contornam as restrições com criatividade, falarei disso mais abaixo.
1- No pátio de entrada, uma gigantesca instalação é a mostra deste ano do Programa de Jovens Arquitetos (YAP), competição que tem por objetivo, trabalhando com um orçamento restrito, criar uma área de recreação aberta à população durante o verão, onde acontecem concertos de música popular, música experimental, bandas ao vivo e DJs. Este ano, na décima edição do programa, o grupo de arquitetos MOS projetou e construiu afterparty, um "abrigo urbano", o visual tem algo de tendas ou cabanas africanas, e houve uma preocupação no uso dos materiais e ventilação cruzada para oferecer um microclima mais agradável nos dias quentes do verão (quem já viu Marilyn Monroe se refrescando com o vento causado pela passagem do metrô sabe do que estou falando).
2- Já no interior do prédio, uma visita às exposições temporárias, e algumas obras de arte espalhadas pela construção, integradas ao ambiente; entre elas um mural de Cecily Brown, feito na parede das escadas de acesso ao 2o andar, incorpora descascados da pintura, e as sugestões eróticas da pintura da artista tem a ver com o tipo de graffiti que eventualmente se encontra em lugares como uma escada deserta de uma escola (na verdade há alguns acréscimos mais explícitos provavelmente de algum visitante que desconhece o trabalho de Cecily B. mas ficou pertrurbado por sua força). Logo na entrada, o folder registra uma obra da artista Papilotti Rist, que eu não consigo localizar; ouço, ao longe, uns gemidos, gritos abafados, pedidos de socorro? mas não consigo ver de onde; até que, dentro de um pequeno buraco em uma tábua do assoalho, parte do desgaste natural da madeira, uma minúscula tela mostra um vídeo, uma peformance, a artista presa pede ajuda "para cima", para o espectador desavisado que quase pisa na obra...
3- Swimming Pool, instalação do artista argentino Leandro Erlich, ocupa uma galeria de pé direito duplo. Sobe-se a um deck de madeira, chega-se uma piscina "real", com água; no fundo, vêem-se pessoas, ou sombras, estranhamente caminhando; talvez projeções de video? Desce-se para baixo do deck; a borda lateral da piscina tem passagens e por elas uma luz estranhamente azulada; entramos e nos transformamos nas pessoas que agora são vistas como sombras pelos espectadores que estão no andar superior do deck; e entendemos a mágica: a piscina, que vista de cima parece ser profunda e cheia de água, na verdade tem um fundo falso de vidro, com pequena profundidade abaixo do nível de água, abaixo do qual estão as paredes e o fundo, pintados em azul, que pensamos ser o fundo real da piscina. Fantástico.
4- 1969: Exposição que comemora os 80 anos do MoMA (que foi aberto ao público em 07/11/1929, apenas 9 dias após o crash da Bolsa de New York), recuperando o que foi um ano essencial para o Museu, o ano dos seus 40 anos, 1969; um ano de efervescência política, social, cultural; para as artes um momento de esgotamento de linguagens e descoberta de novas.
Um ponto central de 1969 é a "exposição dentro da exposição", onde é recriada uma exposição do próprio MoMA em 1969, Five Recent Acquisitions, organizada na época pelo curador Kynaston McShine, e com obras recém-adquiridas de Larry Bell, Ron Davis, Robert Irwin, Craig Kauffman e John McCracken. O espaço de meditação do cubo-branco da exposição original é colocado dentro do espaço informal, super-contemporâneo do PS-1, refletindo os conceitos de expansão dos artistas da época, que abriram novos caminho para o contemporâneo.
Em paralelo, um grupo de jovens artistas trabalhou com intervenções nas galerias para reforçar, dialogar ou interferir com as obras expostas, da coleção do Museu, falando de temas presentes ou ausentes da exposição, como a chegada do homem à Lua, Guerra no Vietnam, Woodstock, o movimento de Direitos Civis e outros. Estes artistas são Base, The Bruce High Quality Foundation, Mathew Day Jackson and David Tompkins,  e Hank Willis Thomas.
Algumas obras importantes não puderam ser trazidas da reserva técnica do MoMA, uma vez que, como comentei antes, PS-1 tem problemas em relação a climatização: são peças com feltro e outros materiais sensíveis (um Robert Morris de parede, um trenó do Beuys). Uma solução seria fazer réplicas, foi o que o PS-1 fez; porém não são "simples" réplicas, foram feitas por Stephanie Syjuco, uma artista que se utiliza das táticas de reapropriação/bootlegging para criar "réplicas" reinterpretadas, propositalmente imperfeitas, com materiasi baratos, que ao se apropriar de objetos icônicos de arte/design, exploram a fricção entre os altos ideais e os materiais do dia-a-dia...
Entre os artistas: Vito Acconci, Carl Andre, Richard Artschwager, Richard Avedon, Larry Bell, Mel Bochner, Marcel Broodthaers, James Lee Byars, John Cage, Vija Celmins, Walter De Maria, Jan Dibbets, Fluxus, Helen Frankenthaler, Lee Friedlander, Gego, Guerrilla Art Action Group, Philip Guston, Art Workers Coalition and Peter Brandt, Richard Hamilton, Strike Poster Workshop, Jasper Johns, Ray Johnson, Donald Judd, Joseph Kosuth, Sol LeWitt, George Maciunas, John McCracken, Bruce Nauman, Claes Oldenburg, Dennis Oppenheim, Nam June Paik, Richard Pettibone, Arnulf Rainer, Robert Rauschenberg, Gerhard Richter, Dieter Roth, Edward Rusha, Richard Serra, Joel Shapiro, Andy Warhol, Lawrence Weiner, John Wesley.
(em construção)




(em construção)

domingo, 25 de outubro de 2009

Diarios de NYC - 4 ("sunday bloody sunday")

Hoje, domingão, o dia amanhece bem ensolarado, faz frio e venta muito, mas com sol já é muito melhor para o turista ocasional do que com chuva. Cheio de animação, programei meu dia: em ritmo acelerado, consigo ver o MoMA e o Whitney, afinal este último não está com uma programação quente (OK, Georgia O'Keeffe: Abstraction e Steve Wolfe on Paper). E com sorte e objetividadee consigo pelo menos "conhecer a porta" de um dos dois que eu não conheço ainda, o Museum of Arts and Design (no Columbus Circle) ou o New Museum, nenhum deles com programação de peso, me parecia. Mesmo o MoMA, na minha avaliação preliminar, estaria com uma programação "média", a grande exposição do 6o. andar, Ron Arad: No Discipline, havia acabado no dia 19.
Vou caminhando no sol gostoso, domingão, sunday bloody sunday, meio que assoviando a música do U2, e também, em livre associação, me lembrando do filme (onde Peter Finch e Glenda Jackson disputavam os favores de um arquiteto) e ainda da Bloody Mary, não o drink com vodka, é cedo ainda, e sim a Rainha Mary Tudor... E faço minha imersão no MoMA. Muito metódico que sou (ou meio TOC) subo ao último andar e faço o percurso descendo; isso me matou, a exposição  nas Galerias Contemporâneas do 2o andar é a melhor de todas, fantástica, não dá para ser vista em leitura dinâmica, e assim fico o dia inteiro no MoMA, almoço lá, saio quase expulso na hora de fechar, tenho que voltar no dia seguinte para o MoMA Design Store, mas tudo bem, valeu!

1- Esta exposição é a "Compass in Hand: Selections from The Judith Rothschild Foundation Contemporary Drawings Collection". Eu já havia lido alguma coisa sobre isso, a Judith R. foi uma pintora abstrata que morreu em 1993, com 1971 anos; pelo sobrenome, imaginamos que muito rica; e deixou esta fundação, com um patrimônio inicial de US$ 42 milhões (já multiplicado pelas felizes aplicações) e as missões de: divulgar o trabalho da artista Judith R. (claro); cuidar e ampliar a coleção de arte de Judith R.;  implementar um programa de bolsas/incentivos para encorajar o interesse em artistas norte-americanos falecidos entre 1976 e 2008 mas que o trabalho, embora de qualidade, não tenha conseguido reconhecimento adequado; e, finalmente, suporte a museus e instituições culturais em geral. E também, uma cláusula do testamento foi que a fundação "se auto-destruiria", ou seja, deveria esgotar seus recursos em 25 anos, tendo cumprido sua missão neste período, e deixando portanto de existir.

Uma tarefa delicada, portanto, para o curador, Harvey S. Shipley Miller. Gastar, gastar bem, não se eternizar burocraticamente. Uma atuação foi o incremento na coleção que a artista havia construído; a Fundação investiu, em 2003, mais de US$ 7 milhões para criar uma coleção contemporânea, com trabalhos de mais de 400 artistas, incluindo Jasper Johns, Cy Twombly e Gerhard Richter.
O programa de bolsas/incentivos segue, mas não é um grande consumidor da verba; por exemplo, em 2009 foram 17 espólios agraciados, com bolsas entre US$ 5 mil e US$ 10 mil, ou seja, uma "migalha" diante dos recursos da Fundação.
Após iniciativas pontuais - as doações da obra gráfica de Jacques Villon ao Museu de Arte da Filadélfia e da coleção ao MoMA de mais de 1000 livros ilustrados russos (The Russian Avant-Garde Book 1910-1934),
Shipley Miller foi ousado. E, trabalhando com outro curador, Gary Garrels, então curador de desenhos do MoMA, inciaram, em 2003, o projeto da  Coleção de Desenhos Contemporâneos da Fundação Judith Rothschild. Os curadores trabalharam, pelo menos no início, sem a garantia de que o MoMA iria aceitar a doação, ao final; porém o trabalho tinha tanto peso, que não só muitos galeristas e artistas venderam trabalhos em condições excepcionais, como artistas abriram seus acervos particulares para disponibilizar trabalhos importantes e que de outra forma jamais iriam entrar no mercado. E com uma expectativa de "torrar" entre US$ 50 e 70 milhões.

Quando li sobre o assunto, há alguns anos, talvez na Artforum, um ponto interessante era esse: ainda não havia a garantia de que o MoMA aceitasse a doação, mas a perspectiva disso criava uma expectativa entre artistas/marchands, e uma pergunta foi: e se o MoMA não aceitar? ou não aceitar em bloco? me parece que os curadores falaram em que a probabilidade era pequena, porém caso isso acontecesse, teriam que retornar aos artistas para renegociar, em função de doação a uma outra instituição... Até parece o circuito de artes no Brasil, onde há doadores de arte, política de aquisição e de doações, incentivos do Estado para doações etc. etc etc. Enfim, o MoMA aceitou, e lá está a coleção, for my eyes only (nada, para os milhares de visitantes do Museu no domingão).
Os curadores partiram de uma definição ampla de desenho, englobando trabalhos que seriam, em uma visão mais estreita, colagens, instalações, pinturas... mas com uma definição bem focada na qualidade. A doação, finalmente concretizada em 2005, foi de mais de 2500 desenhos, de cerca de 400 artistas em 20 países; na exposição está uma primeira mostra, 350 obras de 177 artistas.
A exposição é maravilhosa, para ser vista com calma, curtindo as muitas formas que esta coisa que tem o rótulo de "desenho" assume e vem assumindo; primo pobre da pintura, uns acham, esboços preparatórios para a grande obra, pouca durabilidade, sujeito a fungos, rasgados, amassados, vulnerável por demais à umidade e aos raios de luminosidade, e assim vão os preconceitos; que justamente a exposição e a Fundação J.R. se contrpõem. Ao focar em preservar desenhos e em valorizar o trabalho de artistas mortos sem o reconhecimento do circuito, a Fundação J.R. demonstra que seu investimento é em tentar preservar, eternizar, o efêmero; uma aposta para o futuro, mais do que um compromisso com o passado ou o presente; e um destino que, ao visar a própria extinção, aposta na preservação, na eternidade.
Bom, quem está na exposição, todos eles, citar alguns só:
E as outras exposições:

2-  The Erotic Object: Surrealist Sculpture from the Collection. Bela exposição. Uma das molas mestras do Surrealismo foi o erotismo; outra foi a ênfase na arte total, sair do bidimensional, para as 3-D: ambientes, objetos. E esta exposição coloca os objetos surrealistas do acervo do Museu dentro da perspectiva do erotismo, sutil, dissimulado, ou escancarado. Acho incrível que, depois de tantos anos, de tantas revoluções sexuais, alguns destes objetos continuam tão provocantes ou mais provocantes que nunca, também o mundo já embarcou na era do politicamente correto, do Parental Control, do novo-fundamentalismo.

3- Três exposições sobre design, no 3o. andar, mostram que o papel pioneiro do MoMA em termos de valorização do design não está ameaçado pelas novas instituições dedicadas exclusivamente ao assunto. São elas: Rough Cut: Design Takes a Sharp Edge (a mensagem é: "o bom design não é necessariamente bonito"); What was Good Design? MoMA's Message 1944-56 (uma mini-retrospectiva, abordando que antes mesmo de se ter consolidada uma visão de design o MoMA já atuava nesta área, mostrando, e mais que isso, "desenhando o design", avalizando uma ideia de bom desenho que formou as primeiras gerações de designers); e Polish Posters 1945-89 (idem, mini-retrospectiva, também marcando o espaço, tipo "olha, antes de existirem estes museus de design, o MoMA já cuidava do assunto").

4- Ainda no 3o. andar, In Situ: Architecture and Landscape. São maquetes e desenhos/projetos arquitetônicos, da coleção do Museu, mostrando diversas atitudes sobre a paisagem nos últimos 100 anos, um destaque para um projeto do brasileiro Roberto Burle Marx, Garden Design Saenz Peña Square. Uma maquete, Slow House, construída em North Haven, NY, é do escritório de arquitetura Diller & Scofidio, que tem uma relação conosco pois foi o projeto escolhido no concurso para o novo MIS, na Av.Atlântica, no Rio.

5- Desde sua criação, o MoMA foi pioneiro também em mostrar fotografia, quando ainda se discutia se fotografia era ou não arte; e a formar um acervo de fotografias; parte do acervo de fotografias está exposto, mostrando fotos antigas, analógicas, processos pioneiros, cenas de rua, retratos do início da fotografia; e, ao lado, em um contraste, uma boa exposição temporária, New Photography 2009: Walead Beshty, Daniel Gordon, Leslie Hewitt, Carter Mull, Streling Ruby, Sara VanDerBeek, mostra temática de fotografias recentes que expandem as definições convencionais do tema. Tenho conversado muito sobre isso, ao meu ver o advento da fotografia digital trouxe um desafio para a fotografia tão grande quanto o advento da fotografia no final do século XIX trouxe para a pintura. Para mim, está se chamando "esta novidade digital" de fotografia à falta (ainda) de outro nome; da mesma forma que com a criação da fotografia às vezes se chamava a nova técnica de retratos e se tentava colocar nela (meio à força) algumas convenções da pintura; até que a pintura reagiu (a partir dos impressionistas), como? passando a ser "pintura", e deixando o aspecto documental para a nova técnica. Acho, então, que estamos exatamente neste momento de transição, e nada mais diferente, conceitualmente, embora sobre o mesmo rótulo de "fotografia", do que as fotos antigas do acervo e as "fotos" da exposição New Photography 2009. Um destaque da exposição, pelo menos para mim que vi em Chelsea (gostei, e comentei no blog) um trabalho antigo do artista Daniel Gordon (os voos que tanto remetem ao Void do Yves Klein), é ver um trabalho mais recente, fotos de colagem de fotos - que já remetem muito ao surrealismo.

6- Paul Siestsema, artista americano. Desenhos e filmes, um trabalho bem interessante; nos desenhos o artista utiliza jornal, recortes de imagens e textos de jornal;  em um trabalho meticuloso, ele reproduz os recortes, ampliando a escala e invertendo a imagem; sobre a qual coloca manchas; referência ao expressionismo abstrato. Em outros trabalhos, utiliza detalhes de objetos etnográficos (África, Indo-Ásia, Oceania), também refazendo estes objetos em desenhos e esculturas, depois filmando as esculturas em filme analógico 16mm, preto e branco. Tecnicamente o trabalho é tão perfeito que o espectador demora a perceber que se tratam de desenhos, a impressão é de que são xerox ou fotos ampliadas; e os filmes mostram imagens quase fantasmagóricas que oscilam entre abstração e figuração. Sempre com uma discreção, uma paleta de cinzas, sem enfatizar o processo; que os trabalhos também se tornam abstrações em gradações de branco/cinza/preto.
7- In & Out of Amsterdam: Art & Project Bulletin 1968-1989. Nas décadas de 1970-80, Amsterndam era uma cidade com um movimento muito intenso de arte conceitual, mail art, performances e outras experimentações.  foi uma galeria que, ativa entre 1968 e 1989, organizava exposições focadas em Arte Conceitual, divulgando-as através do seu Art & Project Bulletim, que se tornou mais do que um "jornal" de divulgação e passou a ser ele mesmo uma obra, na medida de sua utilização pelos artistas com suas propostas conceituais e de mail art. A exposição apresenta uma seleção da recente doação feita ao acervo do Museu, de 156 exemplares do boletim, intercalados com obras em midias diversas de Daniel Buren, Sol LeWitt, Lawrence Weiner e outros artistas.
8- Looking at Music: Side 2, é uma exposição multimidia, com desenhos, fotos, videos, audios, super-8 e zines da coleção do MoMA, sobre a mistura entre música, media e arte visual que era feita  no final do século XX, em especial a partir da metade dos anos1970. Uma oportunidade para viajar, e não só para quem viveu aquela época, mas para os que sabem de sua permanência no que se faz até hoje.
9- Finalmente (depois do almoço, no Café 2 do Museu, um salmão delicioso com um refrescante Pinot Grigio, ninguém é de ferro), as Monet's Water Lilies, as ninféias, maravilhosas, um espaço para transcender.
10- Bom, no MoMA sempre uma novidade: perto da escada rolante para a subida, um trabalho, vídeo, de uma artista, Jessica Mein, a etiqueta diz que é brasileira, nascida em 1975; não conheço e sobre a qual gostaria de saber mais, dever de casa que levo para pesquisar na internet (fiz o homework, o site da artista mostra outros videos, bem interessantes, e também trabalhos em papel, desenhos e gravuras). E além de tudo o acervo, sempre é bom, rever os Picasso (em especial Demoiselles d'Avignon), os Pollock, os Matisse, os Bonnard, os Warhol, os Philip Guston, ficar horas na sala do Beuys, tudo isso não tem preço.
Expulso do Museu, volto para o hotel caminhando; na parte da Broadway fechada ao trânsito faz-se uma feirinha aos domingos; se não fosse o almoço no café do MoMA talvez comesse o kebab, que parece delicioso; mas não se pode ter tudo, fica para a próxima viagem.
Acho que o bom de uma viagem (é, eu sou TOC mesmo) é sobrarem coisas para a viagem seguinte...

sábado, 24 de outubro de 2009

Diarios de NYC - 3 ("a marathon, second part")

Esta noite choveu bem, hoje, sábado, pela manhã não chove mas o tempo está muito feio. Ontem só consegui ver metade de minha programação, assim hoje retorno para a maratona, bem alimentado e bem dormido, ver as galerias em Chelsea, agora no pedaço do quadrilátero que vai acima da 23rd St até a 27th St, entre as 10th e 11th Avenues.
Iniciei revendo o que foi o meu grand finale de ontem, as instalações da Janine Antoni, em uma segunda vista o trabalho, que eu já havia gostado muito, cresce ainda mais.
24th Street:

1- Gagosian: Uma enorme galeria, com uma exposição individual de Anselm Rexle (monocromáticos, brilhantes, sem muito interesse)... e uma enorme tela do Takashi Murakami, Picture of Fate: I Am a Fisherman Who Angles in the Darkness of His Mind. Linda, um impacto: são 4 enorme painéis, com uma paisagem gigantesca que tem origens na paisagem tradicional oriental, mas é toda psicodélica, Pop, contemporânea, urbana... cachoeiras caem sobre o que parece uma ponte japonesa sobre um lago, mas que a ponte é feita de caveiras sobre caveiras (as vanitas, os massacres, os ossarios); sobre esta ponte, no local central, um leão enorme com leõezinhos de comics; a referência é de lendas japonesas, mas isso não interessa, mesmo sem conhecer a simbologia ela nos envolve, nos carrega. A técnica de pintura é interessante, uma pintura absolutamente lisa, sem a marca da pincelada (o estilo, leio no release, é o que o artista chama de SUPERFLAT...); mas ao mesmo tempo tem coisas de painterly- escorridos, texturas, pincel seco, emplastro - só que estes efeitos sao mimetizados pelo artista sem excesso de tinta, sem a marca do humano e do acaso: os escorridos sao "pintados" como escorridos, não sao verdadeiros escorridos... este tratamento dá um clima mais misterioso ao que sabemos ser uma pintura mas que parece ser algo "industrial", "pronto", um paroxismo do "pronto" que o Pop queria parecer. Sensacional, comecei bem meu dia!

2- Mary Boone Gallery: A Tribute to Ron Warren, uma coletiva. Fiquei intrigado, quem seria este R.W., que tem como tributo uma coletiva com tantos artistas importantes? Lendo o release o mistério se desvenda, ele trabalha com a Mary Boone há 25 anos, trabalhou com estes artistas todos e juntos estão comemorando esta parceria de sucesso. E que sucesso: Basquiat, Schnabel, Marc Quinn, Barbara KrugerRoss Bleckner, Sherrie Levine, David Salle, Francesco Clemente, Taaffe, Brice Marden, Tuttle e muitos outros; alguns fizeram trabalhos especialmente para a comemoração. Interessante também ver um pouco dos preços, que nesta exposição estão bem à mostra (em geral as galerias de NY só colocam à mostra os preços mais em conta; os estratosféricos aparecem sempre com a indicação de POR - price on request). Sim, um Basquiat, lindo, 152x137cm, com fundo laranja, já vendido por US$ 9 milhões; enquanto que um Schnabel, um São Sebastião, bem maior, 282x168cm, já vendido pela bagatela de US$ 3 milhões. Uma escultura da Sherrie Levine, de 2007, False God, em bronze dourado (um sub-produto desta minha viagem foi descobrir muitas outras facetas da artista, que eu via como estritamente conceitual e com uma trajetória bem coerente), por US$ 300 mil. Mas as pechinchas, para mim, são o Philip Taaffe (pintura, 168x198cm, pena que já vendido, por US$ 150 mil) e o Ross Bleckner, este último, ainda não vendido (tive que me controlar para não comprar e ficar o resto da vida endividado para pagar o MasterCard...), uma linda pintura  de 122x102cm, por US$ 150 mil...

3- Hasted Hunt Kraeutler: Galeria especializada em fotografias, com a exposição Oil, de Edward Burtynsky. O "óleo" se refere não à tinta a óleo, claro, e sim ao petróleo, e são fotos enormes, nítidas em todos os detalhes, grandiosas, de paisagens de campos de exploração de petróleo, bonitas, frias, às vezes líricas, o que é irônico, pois são naturezas devastadas pela indústria, um bom trabalho.
4- Bruce Silverstein: Car Crash Studies, de Nicolai Howalt, e A Road Divided, de Todd Hido. Fotografias, ao meu ver bonitas mas vazias, no caso do Car Crash, uma estetização da violência, anos-luz atrás dos Car Crash do Andy Warhol.
5- Andrea Rosen Gallery: Além do acervo, com móveis do Donald Judd e belos trabalhos de Cy Twombly, Yayoi Kusama e Claes Oldenburg, a galeria expõe uma individual de Matthew Ritchie, Line Shot. O artista explora cosmologias, criando universos e mitos, com pinturas, filmes, desenhos. A proposta é interessante, e me chama a um universo bem psicodélico dos anos 1970, as capas dos discos do Yes, coisas assim; mas claro que com tecnologia atual; e o resultado? bom, meio ilustrativo; vale como contexto, mas as pinturas, como pinturas, são fracas, são ilustrações de uma ideia. Penso em artistas que criam universos: os Loplop do Max Ernst, os selos do Donald Evans, e vou quase dizendo que a tendência nestes casos é a ilustração dominar; mas logo penso em um contra-exemplo, artista brasileiro, os universos alienígenas do Franklin Cassaro, em seu Bioconcretismo, que cria e descreve um Universo, mas que cada trabalho individualmente supera a ilustração, a descrição deste Universo para se manter como uma obra de arte.
6- Matthew MarksVincent Fecteau, artista baseado em São Francisco, com esculturas, bonitas mas sem muito interesse para mim.
7- Gladstone Gallery: Pinturas de Magnus Plessen. São bonitas pinturas, o artista "se espalha" em telas, dípticos, combinações de telas em tamanhos diferentes; e constrói suas composições (paisagens, figuras humanas em cenas de quotidiano, objetos) com pinceladas, tinta colocada com espátula, poucas formas, pois joga com o espaço positivo e o negativo, joga com o mínimo de elementos para a compreensão, pelo espectador, das figuras, um jogo com a percepção e com a pintura. 

8- Marianne Boesky Gallery: Uma exposição coletiva, com o trabalho das artistas Bharti Kher, Yayoi Kusama, Eva Rothschild e Mindy Shapero. O traço de união entre as artistas é que, com a utilização de materiais bem diversos, elas utilizam a repetição para explorar os temas de fantasia, mito, e transcendência. Além das esferas prateadas/espelhadas do Narcissus Garden, que vi recentemente em Inhotim, trabalhos da série dos pênis estufados/recobertos da Yayoi Kusama, são impactantes. Em Inhotim acho que as esferas chegaram em seu auge, ao espelhar a bela natureza e os inhames roxos; mas aqui, em ambiente fechado, espelham as obras de arte e não deixam a desejar. Esculturas; e as pinturas em padrão da indiana Bharti Kher, que me lembram muito os padrões usados pela artista brasileira, Geração 80, Monica Nador.
9- Bryce Wolkowitz: A exposição é Textual Landscapes: Real and Imagined, com obras dos artistas Jim Campbell, Airan KangYongseok Oh, Alan Rath, Ben Rubin e Marina Zurkow. Os trabalhos utilizam tecnologias avançadas; achei muito interessante a Biblioteca de Airan Kang, onde os livros (até o cult dos anos 1970, Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas) são projeções em fibra ótica enclausuradas em caixas de acrílico/plástico no formato de livros; eles pulsam, mudam de cor, são vivos; como livros em uma biblioteca, e apontam a um cada vez mais difícil encontro entre o tradicional da cultura e as novas mídias.
25th Street:

10- Bortolami Gallery: Tom Burr, Sentence, uma série de instalações com objetos do quotidiano: pares de tênis usados enclausurados em caixas de acrílico, cabides, roupas presas por tachinhas em plataformas; cabides; o efêmero; o eterno. Ambiguidade: quem usou estas roupas? isso interessa, a carga das roupas usadas interessa, agrega sentido ao trabalho, ou elas aparecem como elementos neutros? Capas de CD usados, bancos, é como um inventário de uma presença que não deixou rastros. como aquela resposta: "o que vai acontecer depois que eu morrer? nada, nada, nada, o mundo vai continuar, o sol vai nascer de novo, se por como sempre, comigo ou sem, e em algum tempo a presença vai se esvair, ficarão só objetos, camisas usadas, depois nem isso".
11. Lennon, Weinberg: Before Again, uma coletiva de pinturas, são 6 mulheres que pintam em abstração, onde a grande presença é da pintora Joan Mitchell. Vale à pena ver, curtir, cada coisa, cada desenho, cada pintura da Joan Mitchell. As demais artistas são Louise Fishman, Harriet KormanMelissa Meyer, Jill Moser e Denyse Thomasos.
12. STUX: On love? On war? Os artistas chineses tem sido apresentados, pelo mercado e pela mídia, como uma renovação, uma salvação para as artes contemporânea. Eu sou um pouco mais cético, acho que está sendo visto como uma panacéia, mas na realidade existem artistas chineses e artistas chineses. Esta exposição apresenta bem isso, trabalhos em níveis bem diversos, do kitsch ao sublime, sem escalas.
13- Winston Wäcter: São instalações da artista Andrea Kocks, feitas em papel cortado em camadas com interferências.
14- Gana Art: Shigeru Uchida. São instalações temáticas: Vague/Transparent/Hazy/Wavering.
15- Stricoff Fine Art: Muito ruim.
16- Dillon: Norihiko Saito, com um pintura abstrata fraca.
17- Henoch: Still Lives. Meu deus, as galerias com pinturas ruins se aglomeraram neste pedaço do Chelsea, será que vão me abduzir?
18- Cheim & Read: Ah, respiro fundo, volto à qualidade. Jack Pierson, artista multimidia, um trabalho de fotografia muito interessante, aqui com suas instalações de parede, são letras, palavras, um novo alfabeto.
19- Marlborough, com esculturas de Red Grooms e pinturas e esculturas de Steven Charles. Voltei ao mundo do ruim em arte. O site diz que a galeria é especializada em mestres contemporâneos. OK.
20- Kent. Uma surpresa. A exposição chama "All in this together: Dorothea Tanning and friends". E quem são os amigos? Dorothea Tanning foi um artista americana, casou-se com Max Ernst (um dos casamentos do pintor), e os amigos são os surrealistas todos, a galeria está expondo obras da D.T. , memoralia (fotos, cartas...) e obras dos amigos da artista, do espólio, eles todos: Arp, Calder, Joseph Cornell, Duchamp, Leonor Fini, Giacometti, Magritte, Man Ray, Miro, até Picasso... O trabalho da D.T. é fraco, mas os amigos tem uma força, e é impressionante ver esta exposição aqui, em uma galeria em um segundo andar, discreta, e não em um espaço institucional, mas isso são as coisas do modelo capitalista corporificado em NYC e em Chelsea, enfim..
21- Betty Cuningham Gallery: Abby Leigh, com pinturas monocromáticas, e trabalhos em papel feitos com fumaça.
22- Axelle Fine Arts: Ruim. Acho que quando eles se descrevem como "fine arts" é o fundo do poço.
23- Doosan Gallery: Funciona como uma incubadora de artistas, com programas de residência em NY. No momento apresenta produtos destes trabalhos, vídeos e instalações de Moo Kwon Ham.
24- Lohin Geduld Gallery: Em um espaço dividido por várias galerias, esta galeria apresenta uma exposição do pintor Jay Milder. Gosto. Já conhecia, e gosto mais ainda. Tinta espessa, abstrato, cores, texturas, boas pinturas.
25- Tria Gallery: Serena Bocchino, iPOP. são pinturas abstratas e esculturas, pequenos animais pintados em cores fortes, e as pinturas também em cores fortes, um trabalho interessante, voltado para uma estética de night.

26- SLAG Gallery: Bonitas pinturas de Mircea Sucium, The Fall, cores escuras, pessoas estranhas, clima de mistério. Países para nós distantes: România, no caso; e que estão próximos de nós pela linguagem da arte.
27- CLAMP Art: Domesticated, fotos de Amy Stein, apresentam animais em interação com humanos, interação cheia de suspeitas e de sitações anti-naturais: dois meninos encurralam um pequeno gambá em uma cerca e o ameaçam com tacos de beisebol; gaivotas brigam por pedaços de potato-chips; da janela de um trailler, uma mulher olha com suspeita um urso que se aproxima...
28- Arario Gallery: esculturas recobertas de pedaços de plástico com impressão fotográfica, representam pessoas (uma delas uma mulher que é a cara da Imelda Marcos), Deodorant Type, do artista Osang Qwon.
29- Yossi Milo Gallery: Until The Kingdom Comes, fotos de Simen Johan apresentam animais em paisagens que são reais, sonhos, pesadelos, o artista trabalha com técnicas de fotografia tradicional, analógica, e técnicas digitais.
30- Nancy Margolis Gallery: Maysey Craddock, pinturas a guache/têmpera sobre papel reciclado, e interferências em cartões-postais vintage.
31- Cue Art Foundation: Funciona como uma incubadora de artistas, e estava sendo apresentado exatamente o resultado do trabalho de artistas "incubados", Adiwit Ansathammarat (pinturas e objetos, interessantes) e Naeen Mohaiemen (videos e fotos).
26th St:

32- Robert Miller Gallery: The Pregnant Mountain, pinturas, desenhos e instalação do artista africano Barthélémy Toguo, são bonitos trabalhos, em especial as aquarelas, grandes (algumas chegam a 200x130cm), boa técnica e um trabalho forte e lírico.
33- Galerie Lelong: Jaume Plensa, In The Midst of Dreams, esculturas, instalações, são rostos imensos de mulher, em resina, iluminados do interior; os rostos são alongados e como que adormecidos, sonhando.
34- Mitchell-Innes & Nash: Justine Kurland, This Train is Bound for Glory. São fotos, uma pesquisa de 2 anos onde a artista focou na mitologia do hobo, uma figura-mito bem americana, cantada na musica (Bob Dylan, I am a Lonesome Hobo) e na literatura, o trabalhador-migrante que viaja pelos trilhos dos trens a procura de trabalho, sem casa, sem raízes.

Interessante, é um assunto que vale à pena investigar mais, não temos uma figura equivalente no Brasil, o bóia-fria? pois uma das características marcantes do hobo é a sua solidão, o seu individualismo, a sua falta de referência, de raízes, e por isso ele é tão marcante para a cultura norte-americana, ele é como que uma imagem do individualismo americano, na verdade os trabalhadores, os white-collar de Wall Street, da Madison Ave., todos eles, são um pouco os hobos do terceiro milênio, e esta nostalgia perpassa por eles, ao fazerem suas refeições corridas, ao comprarem os kebab para comer nos parques ou nos espaços públicos (NY está cheia destes espaços, oásis no meio do concreto), falando ao celular, ao entrarem no metrô para longas viagens além de Manhattan, todos eles (e eu também) podemos cantar com Mr.Dylan,"I am a lonesome hobo/Without family or friends,/Where another man's life might begin,/That's exactly where mine ends./I have tried my hand at bribery,/Blackmail and deceit,/And I've served time for ev'rything/'Cept beggin' on the street".
35- Lehmann Maupin Gallery: A artista, Teresita Fernández, trabalha com grafite, não como material para desenhos mas como material, o grafite em si, pedras de grafite, para instalações e pinturas.
36- Stephen Haller Gallery: mostra de Ronnie Landfield, pinturas abstratas bem ruins.

37- Tony Shafrazi Gallery: Um bom espaço, e apresentando Dennis Hopper, uma lenda, ator, personagem, desde o Easy Rider do final dos anos 1960 passando pelo Blue Velvet dos anos 1980, e sempre ativo. Além de ator e personagem, D.H. é um bom fotógrafo, com sua câmera fotografou todos que com ele contracenaram e outros também, artistas como o jovem Lichenstein, belas fotos; a exposição mostra, então, vídeos, as fotos, e vai além, com os trabalhos de billboards: as pequenas fotos originais pintadas em telas enormes por pintores especializados nos cartazes externos, os billboards, uma "arte" em vias de desaparição; com isso, outro acerto para a exposição, e comercialmente também, claro.

38- James Cohan Gallery: Tenho muita sorte, uma pequena retrospectiva do Bill Viola, o vídeo-artista mais importante, nesta galeria posso ver vários trabalhos do artista, o destaque são os Bodies of Light, quando corpos, nus, interagem com água, cascatas; na filmagem, a água brilha, e os corpos sofrem uma transubstanciação, são corpos de luz, verdadeiros, transcendentes.
39- Sara Meltzer Gallery: Lovett/Codagnone, Common Errors. Dupla de artistas, com instalações. Engraçado, eu cheguei no espaço da galeria quando estavam terminando de montar a exposição para a abertura; caixas de Prosecco aguardando a festa, os artistas meio sem graça, um fotógrafo registrando os trabalhos recém-instalados, aquele clima de pré-vernissage que, aprendi, é igual no mundo todo, mesmo em NYC; fiz meu papel, vi os trabalhos todos, alguns fotografei, cumprimentei os artistas e galeristas, enfim, só não bebi o Prosecco, ficam me devendo mas tudo bem. O trabalho é bem interessante, referências ao Anarquismo, textos escritos em espelhos, conceituais.

40- Lombard-Freid Projects: The Mending Project. Lee Mingwei, um artista de Taiwan, com uma proposta de interação com os espectadores. A ideia é trazermos peças de roupa que precisam de remendos; o artista trabalha no remendo, enquanto conversa com o espectador; a peça de roupa fica incorporada à exposição, "presa" ao espaço por um delicado fio de linha; ao final, as peças serão devolvidas aos donos. Conversei com o artista, uma proposta interessante, mas o turista acidental leva poucas peças, nenhuma precisa de remendo; pensei em simular, rasgar uma camiseta, e voltar para o remendo e a conversa; mas isso me pareceu uma quebra da etiqueta da performance.
41- George Adams Gallery: São duas exposições. Andrew Lenaghan, pinturas com cenas de quotidiano; e Elmer Bischoff, desenhos figurativos dos anos 1960.
42- Mixed Greens: Adia Millet, The Birth of Bardo, fotografias, vídeo, instalação.
43- Mary Ryan Gallery: Apresenta xilogravuras da artista Yvonne Jacquette, a obra completa da artista em xilos (1987-2009), na verdade linoleogravuras, mostrando a paisagem de NYC, interessante.

44- Pace Prints Chelsea. Uma referência em termos de gravuras, reprodutibilidade. E agora mostrando os chineses, interessante. O destaque é o Qi Zhilong, que é como uma Elizabeth Peyton pintando jovens egressos do Exército Vermelho. (bom, Pace Prints tem também E. Peyton no acervo, lindos)
45- IPPODO Gallery: A exposição atual é Boxes, do designer japones Shigeru Uchida, interessante.
46- Friedman BendaGottfried Helnwein, artista austríaco, apresenta pinturas grandes, o tema são retratos de crianças, tratados realisticamente porém com uma atmosfera de sonho e composição que faz referência à arte clássica. Não me convenceu muito.
47- Claire Oliver: Beth Cavener Stichter, On Tender Hooks, esculturas, representam animais (caprinos, roedores) torturados; uma delas, o que parecem ser dois bodes se beijam, de pé, como humanos; e as ereções dos dois são humanas (e vigorosas); uma coelha enfatuada, sentada como uma matrona, tem a barriga estufada rompida por um corte, e órgãos genitais de mulher. E assim por diante.
10th Ave between 26th & 27th St:

48- Paul Kasmin Gallery: Frank Stella, relevos policromados. Muito bonitos, uma grandiosidade barroca, mesmo os pequenos tem o peso e a força, o movimento e a projeção de lindas sombras no cubo branco.
27th St:
49- Nancy Hoffman Gallery: Hung Liu, outro pintor chinês, no caso uma pintora. Grandes pinturas, com cenas de destruição provocada por um terremoto; utilização de elementos tradicionais da pintura chinesa ao lado de escorridos e emplastros da pintura ocidental contemporânea; mas me dá a impressão de um resultado profundamente kitsch.
50- Murphy & Dine Gallery: Look Down/Shoot Down, são fotos urbanas de Jeremiah Dine, utilizando a técnica que deu título à mostra: olhando para baixo e fotografando, não muito diferente do que o turista acidental já faz.
51- Sundaram Tagore Gallery: Arte contemporânea do mundo árabe, apresenta SIGNS, coletiva com pinturas baseadas na caligrafia árabe, interessantes.
52- Paul Kasmin on 27th St: Affinity, pinturas de Natham Hylden, colocadas com trabalhos com os quais sua obra tem afinidade. Bom, gostei mais dos "padrinhos": duas lindas, pequenas, telas da série Shadows do Andy Warhol, uma Homenagem ao Quadrado do Albers e um Frank Stella.
Com esta, encerrei a visita às galerias do Chelsea, já no final da tarde, tempo insuficiente para ir ao MoMA como planejado, pois aos sábados o museu fecha às 17:30h; e é um dos poucos museus que abre na 2a.feira, assim posso ir adiando a visita.
O único que fecha mais tarde hoje é o Guggenheim, às 19:45h, e para a minha surpresa, hoje, a partir das 17:45h a modalidade e "pay as you wish". Beleza para o bolso (nem tanto assim, eu sou estudante de carteirinha interrnacional, o que já é metade do preco), mas terrível para enfrentar uma fila, na chuva (sim, chove!) e multidões querendo ver cada quadro. O macete é evitar os quadros que são comentados no audio-guia (que hoje é grátis), todos os "robôs" com seus headfones se aglomeram em volta dos que a curadoria elegeu como os hot-spots, e deixam os demais para os sem-audio-guia, como eu (acho que somente eu em todo o Gugg).
Tambem, qual a vantagem de ver exatamente os mais característicos de um grande nome? (no caso, Kandinsky) Vê-los reiteradamente vezes apenas confirma que "eu sei, aprendi a reconhecer um K. quando vejo". Enfim.
A exposição é boa, a maioria dos melhores K. está na Franca, assim é uma boa oportunidade de vê-los neste lado do Atlantico. O Gugg tem uns muito bons, também, em especial os desenhos (aquarelas em sua maioria), que sao muito bonitos.
O predio tem uma armadilha, as exposições são sempre montadas de baixo para cima, conforme o plano original do Frank Lloyd Wright; mas hoje eu, e acho que a maioria dos com mais de 30 anos, sobe de elevador até o 6. andar e desce a espiral, vendo a exposição na sequência inversa do que o curador planejou; com isso, se quebra a narrativa, que normalmente aponta para uma "evolução", e segundo os conceitos de Clemente Greenberg, da figuração para a abstração. Assim, comecei pelos últimos, e fui descendo, até os mais figurativos, até as paisagens de início de carreira (que eu nunca tinha visto mas que são interessantes, impressionistas de inicio do "ismo"). Mr.K. sempre tem algo a nos dizer; quando eu ja achava que "sei identificar um K.", ele me surpreende, e isso e bom.
E as exposições em paralelo sao muito boas, e valem:
Roni Horn e Felix Gonzales-Torres, Paired: Gold, um dialogo sutil e emocional sobre ouro, vida, morte e transcendência. Kitty Kraus, artista alemã, com Intervals, instalação (lâmpadas/microfones em blocos de gelo; o calor dos aparelhos derrete os blocos; e ficam apenas as marcas da água no chão).
Anish Kapoor, Memory, uma gigantesca esfera de aco corten (24 toneladas) "incrustada" em uma sala, enorme, comprimindo as parecedes (como a maça do quadro de Magritte, gigantesca para o cômodo que ocupa); pelas características do prédio, isso é mais angustiante que em um prédio ortogonal; consegue-se, portanto, "ver" pedaços da esfera, por visões distintas, "sente-se" se peso, reforçado pela aspereza do aço, das placas que a compõem, dos parafusos que unem estas partes; e de uma "janela" em um cômodo adjacente, consegue-se ver, já no ponto onde a esfera se encosta nesta janela há um buraco na esfera, seu interior, e ele é negro, macio, como um infinito ou um nada, contrastes que o Anish Kapoor tanto explora em seu trabalho.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Diarios de NYC - 2 ("oh roofs of Chelsea")

Hoje o tempo já não está tão bom como ontem. Tenho uma função de troca de quarto no Hotel (absolutamente evitar de outras vezes o nono andar, lado do 929, 930, 931, eles dão para um telhado cheio de máquinas de refrigeração que fazem um barulho louco, constante, especialmente à noite, ontem pela inércia de trocar de quarto usei protetores de ouvido mas tenho medo de ficar surdo depois da viagem) que me mantem preso pelas redondezas até o meio-dia, assim deixo para a tarde o passeio pelas galerias de arte do Chelsea.
O Times Square, mesmo no tempo mais frio, está muito interessante, com o fechamento ao trânsito da Broadway nesta parte da cidade há uma humanização do local, com mesinhas, vasos de flores e ciclistas (poucos, na verdade, mas é outono).
New York é uma cidade que se renova, isso é indiscutível, o exemplo maior que tenho disso é a 42nd Street entre 6 e 7th Ave, que em minhas primeiras visitas era um local horrível, cheio de sex-shops, pessoas mal encaradas, roubos de turistas, prostituição feminina e masculina, tráfico de drogas às claras (um pouco disso ainda pode ser visto nos filmes do Andy Warhol, em especial quando o lindo Joe Dalessandro bate perna pela 42nd St na busca de fregueses para conseguir dolares para pagar o aborto da namorada).
E hoje esta região está linda, com prédios luxuosos, o maior símbolo para mim é o predio da Condé Nast, editora da Vanity Fair, erguido sobre sambaquis com os caminhos de milhares de michês, putas, drogados e outros. Uma investigação arqueológica depois da Hecatombe deve ser interessante, vão descobrir que os alicerces da Vanity Fair se apoiam em milhares de aparelhos de sex-shops e revistas pornôs dinamarquesas dos anos 1970.
Já o efeito contrário, renovação para pior, ao meu ver o exemplo é SoHo, de bairro operário no século XIX, foi sendo ocupado, em meados do seculo XX,  por artistas em busca de espacos amplos, aluguéis baratos e, em efeito cascata, vizinhanca intelectual. Nos anos 1970-80 estava em seu auge, com as melhores galerias de arte; mas os yuppies dos anos 1980 descobriram o filão e a especulação tomou conta, virou um lugar pretensamente "chique" e as boas galerias foram se instalar em novos espacos (Chelsea, principalmente), os artistas se mudaram (Brooklin, principalmente), de novo em busca de novos espacos, aluguéis baratos e criando nova vizinhanca intelectualizada.
Consegui a troca de quarto, e rumo para Chelsea.
Andar por Chelsea é muito fácil. Primeiro, esqueça o Chelsea Hotel; não, ele continua lá, ainda com as manchas de sangue de Sid and Nancy (e talvez alguém lembre a exposição de desenhos, em uma das suites, que marcou a carreira de Elizabeth Peyton), mas Chelsea, para as artes visuais, andou mais para o Oeste. Tracei um retaâgulo entre as 10th e 11st Avenues e a 20th e 27th Streets, e comecei por baixo, subindo na sequencia das ruas, e vendo tudo, ou quase tudo. Alguma coisa ficou de fora, mas, paciência, as que estão dentro do retângulo são as melhores; algumas bobagens e engodos, tambem, mas isso faz parte. A 6a.feira já estava curta para mim, pois só iniciei os trabalhos a 1 da tarde, após a mudança do quarto, a programação que queria começar às 10h da manhã; assim fiz só "meio" retângulo; e adiei, por puro cansaço, a ida ao MoMA que eu planejava para as 16h, para aproveitar a Free Friday Evening, das 16 as 20h.
Time Out e outros dão uma listagem da programação e fazem resenhas; mas é exatamente como os jornais brasileiros, não são listas extensivas, o limite de espaço deles faz com que muitas vezes exposições importantes não sejam incluídas; por isso esta minha abordagem "extensiva" (ou maratonistica). E galerias novas, ainda não badaladas, em um terceiro andar, subindo escada, podem apresentar boas surpresas, falarei disso depois.
Bem, por que comecei pela 21st St? Uma das Galerias Gagosian fica na 21th St, só que Blind Spot & Open Ended, exposição com 2 esculturas de Richard Serra, está em montagem, só abre na semana que vem, quando já estarei rumo ao Rio
A ordem do meu texto é a ordem peripatética, a ordem em que fiz as visitas, o que deixou para ultimo lugar o que foi talvez a melhor exposição das que vi hoje, criando, sem querer, um grand finale.
21st Street Galleries:
1- Anna Kustera Gallery: Loren Holland, The Virtues of Vice, sem muito interesse.
2- Kravets/Welby Gallery: The Edible Woman, coletiva, também sem muito interesse.
3- Tania Bonakdar Gallery: Duas exposições individuais de pinturas - Carla Klein (A Reconstruction of a Random Timeline, sao polípticos com paisagens como que vistas de um carro, poucas cores, grandes espaços, boas pinturas) e Rita Lundqvist (artista sueca, linguagem meio naif, se é que uma sueca pode ser naif, com cores escuras, clean, narrativas ocultas, bonitos trabalhos). E entre os catálogos à disposição dos visitantes da galeria, catálogos de Rivane N. e Ernesto Neto.
4- Washburn Gallery, uma vitrine apenas com três ou quatro telas e faz referência ao que parece uma Galeria virtual, www.washburngallery.com (a conferir)
5- Paula Cooper: Carl Andre, o artista minimalista, com instalações de chão, uma com lajotas de ardósia, a outra com toras de madeira, além de desenhos (também minimalistas, claro). Na outra Paula Cooper, no outro lado da mesma rua, Stripes/Solids, uma boa coletiva com trabalhos (não são múltiplos!) de Josef Albers (uma linda tela da série Homenagem ao Quadrado), Brice Marden, Ellsworth Kelly, Sol Lewitt e uma inacreditável Sherrie Levine (pintura sobre madeira, listas horizontais, dos anos 1980). Na terceira galeria da Paula Cooper, esta já fora do "meu quadrado" (abri uma exceção e fui ver, na 465 W 23rd St), esculturas de Marc di Suvero.
6- Gladstone Gallery, uma bonita e impactante instalação com tijolos, do artista mexicano Damián Ortega.
7- Art & Technology Center: parece interessante, dei uma rápida vista, mas estava sendo gravado um vídeo na Galeria, educadamente me pediram para retornar depois das 15h, o que não fiz, com tantas opções...
8- Galeria Yvon Lambert, com fotos conceituais do canadense Ian Wallace e uma instalação, Objetcs to be Handed Over or Destroyed, da artista holandesa Jill Magid (algo referente a consura interna para um trabalho encomendado à artista por um órgão governamental de segurança, servico secreto, pressões para alterar o trabalho, censura... um dever de casa para mim é fazer uma pesquisa maior sobre o trabalho)
9- 303 Gallery, com instalacoes, videos e pinturas/desenhos sobre folhas de aluminio de Nick Muss, um trabalho muito bonito, outro dever de casa, conhecer mais sobre o artista. E a galeria esta apresentando, em Roma, Frontier, instalação/performance de Doug Aitken (cuja instalação site -specific vi recentemente em Inhotim), com Ed Ruscha.
22nd Street:
10- Pace Wilderstein, Maya Lin, trabalho de impacto, instalações com visões da Terra, com uma estética de gráficos de computador, tridimensionais, bonita exposição.
11- Caroline Nitsch Project Room: Renaissance Unframed, pinturas com esculturas de Richard Tuttle. Muito bom, e uma boa surpresa, uma das exposições que não estavam citadas no Time Out, e sem indicação do artista na entrada, achei que fosse um artista jovem e me surpreendi com um trabalho fantástico; ao ver que é do artista já com muita estrada, fiquei mais impressionado ainda. As pinturas/desenhos são leves, sutis, poucas cores, traços de encáustica, sobre algodão dobrado, informalmente, solto de um prego na parede a meia altura; e a cada pintura corresponde, abaixo dela, como sua ancora, uma escultura em bronze, como uma tartaruga (turtle) ou uma miniatura de ferro de engomar dos antigos.
12- Sonnabend: New Hurricanes, fotos de Clifford Ross, enormes, preto e branco, nitidez absurda, mostram fortes ondas de mar que passa por ressaca ou furacão.
13- Friedrich Petzel Gallery: Pinturas de Sarah Morris, com as características geometrias e cores fortes e chapadas do trabalho da artista
14- Sim, e neste momento me toquei, lendo uma placa, que a região é palco de uma instalação do Joseph Beuys, 7000 Eichen (7000 Oaks), quando o artista alemão, por encomenda do DIA Center, projetou e executou/plantou uma sequencia de 7000 carvalhos, ladeados cada um por um duplo, um bloco de pedra de cerca de 1m de altura. Nestes 20 ou 30 anos, os carvalhos estão crescendo, estão bonitos em sua folhagem de outono, e muitos passantes não devem saber (ou se esqueceram, como eu), que se trata de um trabalho de um dos artistas mais importantes dos anos 1970-80.
15- Susan Sheeeham Gallery: Gravuras de Donald Judd, bonitas, minimalistas; perspectivas em preto e branco; e sequencias de cor
16- Yancey Richardson Gallery: Fotos de Helen Van Meene (artista holandesa,Tout Va Disparaitre, fotos de crianças, clima nostálgico) e de Esko Mannikko
17- Matthew Marks Gallery: Feelings, esculturas de Rebecca Warren (interessantes) e fotos de 1956-1958 de Peter Hujar (crianças, muitas com deficiência; clima doentio; grupos estranhos; preto e branco, uma estética que veio da Diane Arbus)
18- D'Amelio Terras: Pinturas de Joanne Greenbaum (Hollywood Squares, grandes pinturas, muito coloridas) e Elliott Green (Personified Abstraction, pinturas de tamanho médio com passagem entre figurações antropomórficas e abstrações); a segunda foi exposição recomendada pela Time Out em semana anterior, e são ambas pinturas bem bonitas, mas nada muito deferente do que se faz em pintura aqui no Parque Lage, por exemplo.
19- Ameringer/McEnery/Yohe: Nancy Graves, pequenas esculturas, coloridas
20- Não é uma galeria de arte, é a Comme Des Garcons, mas vale à pena entrar pelo túnel maluco incrustado em uma fachada de prédio industrial, seguir pelos labirintos e descobrir que uma camisa de patchwork de tecidos xadrez, muito semelhante à que estou usando, custa US$450. A minha, que custou quase 15 vezes menos, e uma criação do Marcos Pantera, do brechó De Salto Alto, em Copacabana, Rio, e isso só me reforça o que já sabia, como o Pantera é e continua muito antenado!
21- Max Protech Gallery: Tim Hide, fotos, How to Draw a Cathedral; e uma instalação, Murder In Teheran, de Siah Armajani, onde a política suplanta a estética.
22- Horton & Liu: Melanie Schiff, fotos, Mirror & Mastodon, para mim sem muito interesse.
23- Monya Rowe Gallery: Esta foi outra surpresa, um cartaz meio caseiro diz que a galeria recém abriu, e convida a subir, sem elevador, ao terceiro andar; uma coletiva; não conheço os nomes dos artistas. Eis a surpresa, é uma boa coletiva, em especial os trabalhos de pintura de Larissa Bates (pequenos quadros, miniaturas, com base em clássicos, lutas entre deuses e semi-deuses, mas com roupas, situações e personagens atualizados para algo com primeira metade do século XX, primorosamente pintados, um clima de uma nostalgia atemporal) e Paco Pomet (pinturas pequenas, monocromáticas, um emplastro muito forte e situações estranhas, um deles um Lênin de fotografia, em outro duas crianças em uma mesa, a menina tem um nariz de Pinóquio; belo trabalho). Valeu à pena a subida, e vale à pena navegar nos sites dos dois artistas para conhecer mais sobre os trabalhos.
23rd Street:
24- Von Lintel Gallery: Pinturas de Mark Sheinkman, poucas cores, formas como que de fitas flutuando no espaço, trabalho frio, decorativo.
25- Heidi Cho Gallery: Uma coletiva sobre a musica Lucy in The Sky with Diamonds, com pinturas e instalações, apresenta outra surpresa, uma boa instalação de parede, com apropriação de pinturas, imagens e outros objetos, transformados por um vocabulário visual de formas ovais e elípticas, do artista James Westwater, apresentado como nascido no Brasil. Outro dever de casa, saber mais sobre este brasileiro em NYC.
26- I-20 Gallery, Play All San Francisco, pinturas sobre papel de Sherry Woong, pequenas, com retratos da comunidade artística de San Francisco, imagens semelhantes a da dupla de pintores austríacos, Muntean and Rosenblum (que ainda consegui ver, em uma exposição no SoHo, com os trabalhos de 2009), mas sem a força/lirismo da dupla, pois fica mais como o registro de pessoas que não conheço
27- Leo Koening: Fotos/desenhos/videos de Naomi Fisher, The Brave Keep Undefiled Wisdom of Their Own, sao mulheres com roupas de padrões de feras performando cenas em paisagem de selva (na verdade deve ser a paisagem dos pântanos da Florida, o que faz sentido pois a artista é de Miami).
28- Leo Koening Projekte, em outro espaço ao lado, um trabalho bem interessante, Flying Pictures, fotos de Daniel Gordon que registram, sem manipulação digital ou truques (é dito no release, vamos acreditar) onde o artista "voava" sobre paisagens, as vezes de bem longe, quase imperceptível sobre um campo, em outras mais de perto; flutuando, no exato momento anterior a queda. Uma referencia ao The Void do Yves Klein (que só agora, no Met, soube que era um truque de fotografia), claro; em uma das fotos o artista cai/voa da janela de uma casa tipicamente americana, para marcar a relação com o YK; um trabalho forte, bonito, corajoso. Ainda pelo release, o artista fez as fotos ainda durante sua formação acadêmica, portanto bem jovem; e a escolha do ambiente é perfeita, são paisagens tipicamente americanas; ele não se coloca como o centro, em algumas fotos está na verdade bem pequeno em relação à paisagem, como uma gaivota perdida quando se fotografa um mar, como um coadjuvante apenas; e a escolha da roupa é perfeita, também, eu acho, com o peito nu e uma malha comprida que pode ser vista como uma ceroula, um jogging, neutro, mas que remete às primeiras experiências dos super-heróis das histórias em quadrinho em termos de definir seus trajes. Acompanhando a exposição há o lançamento de um livro com as fotos, bem interessante. No MoMA, fotos mais recentes do artista, já outro trabalho, de fotos de colagens refrotografadas, um trabalho talvez mais “adulto” do artista já formado, porém os voos tem o arroubo e a onipotência, o achar-se imortal, da juventude.
29- Margaret Thatcher Projects: Bill Thompson, Shift, objetos/pinturas em acrílico sobre poliuretano, são como se um Donald Judd se separasse em pedaços e cada pedaço se revolvesse com ódio do minimalismo. E, não, a galeria não é da antiga primeira Ministra inglesa, a galerista éuma homônima, o que tem causado confusões, como conversei com as atendentes (sou muito curioso); e, a meu pedido, fui apresentado à galerista, posso afirmar que não e nem parece nada com a Ministra.
30- Goff & Rosenthal: Ruled, instalações de Type A, dupla de artistas Adam Ames e Andrew Bordwin, interessante, instalações.
31- Daniel Reich Gallery: Entendment, instalações de Amir Mogharabi e Jeffrey Perkins.
32- Pavel Zoubok Gallery: Shooting Stars, são retratos feitos pela artista Barbara Sandler, pinturas muito gráficas, um toque da arte gráfica socialista.
33- Perry Rubenstein: The Law of Fives, instalações de 5 artistas, tendendo ao monumental e urbano. Coisas previsíveis, como um muro que um dos artistas trouxe de sua casa e instalou na galeria; uma instalação, interessante, é um banheiro; pela porta entreaberta (não se consegue abrir mais nem entrar no ambiente), vê-se uma pia; o espelho sobre a pia reflete a imagem de uma mulher no chuveiro; não se vê bem; clima de Psicose; barulho da água e impotência são as marcas.
34- Steven Kasher Gallery: Josh Gosfield, em Gigi The Black Flower, "inventa" toda uma história com personagens, sobre uma cantora, filha de ciganos, que conquista a fama e acaba por ter problemas policiais; em capas de revistas, de jornais, documentários, ate um filme de Godard sobre e estrelando a cantora, Gigi Gaston, e seu marido, barbaramente assassinado, o ator Giorgio Fortuna.O trabalho é muito interessante, faz sentido, as ampliações de capas de revistas são muito bem feitas, coerentes, envelhecidas como se viessem de arquivos da época, em dado momento até parece tudo muito real, uma exposição bem interessante. O “filme de Godard” aparece em uma TV antiga, a imagem preto e branco, sobre uma mesinha de mobiliário de hotel; as capas de revistas são ampliações pelas paredes da galeria; também ampliações das capas dos LPs da cantora Gigi; a cada momento o espectador se vê no dilema real/inventado, arte/cultura de massa, e o que seria “real” (as revistas da época) também mostram como se “inventa” um personagem a partir de algumas poucas características reais.
10th Ave
35- Jim Kempner, já na esquina da 23rd St com a 10th Ave, é uma galeria com um perfil mais de mercado. Apresenta gravuras de grandes nomes - Andy Warhol, claro; Barnett Newman (uma pechincha, eu acho, uma bonita gravura do artista por US$4000), Motherwell (outra pechincha, mesmo não muito grande, US$4500), Rauschenberg, Sol Lewitt, Mel Bochner (linda, mas cara, US$7000). E também esculturas hiperrealistas de banhistas, da artista Carole Feuerman.
36- Max Lang: Ainda o perfil de mercado, mas coisas de muita qualidade: um Sam Francis enorme, lindo; um Frank Stella, de Kooning, Kusama, um lindo Ross Bleckner, uma tela linda do Andy Warhol da série dos detalhes de pintura da Renascenca (detalhe do São Jorge e o Dragão, do Paolo Ucello), e, sendo desembrulhada (não um simples embrulho com plástico bolha, mas de uma caixa reforçadissima em compensado com estrutura de madeira), uma grande tela da Barbara Kruger.
37- DJT Fine Art, aí já é o perfil de mercado mesmo, eles vão comendo pelas beiradas, o SoHo começou com arte contemporânea e aos poucos o "mercadão" invadiu’; bem, espero que Chelsea resista. Grandes nomes são a âncora, e ajudam a veicular coisas sem qualidade. Exemplo: bons Andy Warhol; ao lado, com direito a folder/catalogo, Russell Young, com serigrafias em diamond dust, Marilyns, Mick Jaggers, Liz Taylor, até um Frank Sinatra jovem na estética do Most Wanted Men do Warhol. Perfeito, "meu vizinho tem um Warhol, não posso ter um mas dá pra comprar uma Marilyn do R.Y., de repente os vizinhos até acharão que...". Mas vale à pena olhar os autênticos (alem do A.W., Basquiat, Jim Dine, Keith Harring, Sol Lewitt...) e esquecer os demais.
24th St:
38- Mike Weiss Gallery: Yigal Ozeri, Desire for Anima, pinturas excessivamente realistas e estéticas, pessoas excessivamente bonitas, um kitsch com toques de moderno.
39- Susan Inglet: pinturas de Hope Gangloff, fracas.
40- Stellan Holm Gallery: pinturas/desenhos/colagens de William S. Burroughs. Sim, ele mesmo, o escritor, rebelde, drogado. Interessantes, mas valem mais como registro histórico.
41- Zach Feur Gallery: Sister Mary Corita, descrita como artista pop, professora e freira, o que não deixa de ser uma combinação curiosa. Morreu em 1986, e pelo que vi, descrevê-la como artista pop é forcação de barra, ela era mais uma artista gráfica ou designer avant-la-lettre, que utilizava a linguagem pop para cartazes/gravuras "com uma mensagem" (amor, Jesus, caridade...). Outro registro histórico, ou nem isso. Acho engraçado imaginar uma galeria brasileira recuperando os cartazes de quermesse de igreja de uma das freiras do Sacre-Coeur ou do Sion e tentando vender isso como arte...
42- Ramis Barquet Gallery: Rashaad Newsome, Standards, colagens, instalações e vídeo, uma estética semelhante ao "black-power-anos-2000" (não o black-power político dos Black Panther/Malcom X/Angela Davis, e sim o negro-rico-cantor de rap, do Black Eyed Peas e outros), usando Carl Orff na trilha sonora. Interessante. E uma das exposições recomendadas nesta semana pela revista Time Out.
43- Danziger Projects: Weston's Westons sao as fotos de Edgard Weston na versão de copias feitas por seu filho e assistente, Cole Weston. Muito bonitas. Um clássico, os nus, as conchas, as paisagens.
44- Fredericks & Freiser: The Skeleton in my Closet has Moved Back out to the Garden, pinturas de John Lurie. Sim, ele, musico, cult, dos Lounge Lizards dos 1970, dos filmes de Jim Jarmusch. E pinta, e pinta bem, o danado! Tamanhos pequenos, situações estranhas, jogos com palavras, bem interessantes. Valeu à pena conhecer.
45- Luhring Augustine Gallery: Já recomendada pela Time Out, "Up Against", da artista Janine Antoni (vi recentemente instalação da artista em Inhotim), tem fotos, vídeos, instalações, com uma temática feminina/feminista. Na entrada, uma foto de criança que parece se alimentar, com uma colher, diretamente da barriga da mãe (são Janine e a filha). E em outra sala, 6 objetos em metal, pequenas gárgulas, miniaturas das usadas em telhados de Manhattan para escoamento de água das chuvas; a chave está na foto seguinte: em um telhado de um prédio alto, a paisagem de NYC ao fundo, uma mulher (Janine) utiliza um dos objetos para mijar em pé. Na sala seguinte, uma bola enorme e pesada, destas utilizada por guindastes para demolições, está no chão; à frente, um vídeo, close-up de um olho (o da artista); o barulho é de uma demolição, no que é o golpe da bola sobre a estrutura demolida, ha um piscar do olho, uma sensação claustrofóbica, de expectativa, de violência; podemos ler como uma expectativa, pela mulher, da violência, a demolição também uma violência contra o Lar primordial. E na ultima sala, a artista "veste" pelas pernas uma casa de bonecas que lhe cobre o sexo e as coxas; como uma alpinista, está presa em cordas que a mantém flutuando, em um cenário de quarto de criança. Trabalhos bonitos, de muito impacto, uma bela exposição, uma grande artista, que, como vi em Inhotim, transcende a temática de gênero para questionamentos mais filosóficos e transcendentais sobre o que é comum a toda a Humanidade.
Ufa!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diários de NYC - 1 ("crisis? what crisis?")


O voo cheio, a cidade cheia, ouve-se muito, muito mesmo, português, em todos os lugares; e também a cidade cheia de italianos, franceses, nórdicos e germânicos, e os onipresentes orientais.
Ah, e sem a palavra mágica: SALE (tudo bem para mim, não vim para comprar, mesmo).
Minha proposta neste "bate-e-volta" em NYC é: caminhar, caminhar muito (a vida sedentária em Brasília é fatal para minha hipertensão, e as caminhadas tem uma ação melhor que os remédios, sem os tétricos efeitos colaterais); e ver exposições, os Museus, as Galerias de Chelsea. Uma exposição em especial, claro, auto-retratos da coleção do Metropolitan Museum. Assim hoje, mal cheguei, mal dormido, deixei minhas malas no quarto do Hotel (aparentemente limpinho, não vamos exagerar no exame para não descobrir nada, o que os olhos não veem, também, pelo preço?) e fui, caminhando, até o Met. Quase 40 quadras de ruas, e dois quarteirões de avenidas, uma boa caminhada, e caminhei muito dentro do Museu.
Bom, se é para caminhar eu poderia passar uma semana em Santiago de Compostela, acho que sairia mais barato (pelo menos a hospedagem), mas certamente Santiago não tem um Metropolitan Museum e muito menos arte contemporânea.

Escolhi o Met logo no primeiro dia, mal chegado do voo, para aproveitar o dia lindo e ter a certeza de poder subir ao Roof Garden, antes que o tempo mudasse. Nos ultimos anos tenho tido a felicidade de poder ver as exposições que ficam até o final do outono, weather permiting, no terraco do Met; em 2007 maquetes arquitetônicas e esculturas do Frank Stella, como esqueletos de Moby Dick; em 2008 esculturas do Jeff Koons; falei no blog sobre estas duas instalações.
Este ano, o artista é Roxy Paine, com a instalação Maelstrom, um emaranhado de galhos de metal com acabamento brilhante, alumínio, que ocupam o espaço do terraço e parece que vão crescer e se projetar e engolir a paisagem lá fora, uma escultura, na verdade; mas que tem uma dinâmica de expansão.

E que paisagem! o Central Park, os edifícios que contornam o Park, dá para ver o Dakota e além, em uma linda tarde como estava, você pode ver para sempre, para o infinito; e a instalação, os galhos revoltos, dizem que mais que isso; eles vão dominar a Metrópole, vão se estender até o Hudson, e que nós, humanos espectadores, se ficarmos do lado deles, podemos ir junto; eu quero; estou aqui para isso.
Saindo do Roof, é tempo de olhar as exposições, principalmente as exposições especiais, acho eu, o acervo já não deve me trazer mais novidade... engano meu, dou de cara, em um meio de caminho, com um espaço que eu juro que nunca tinha visto, embora o Gubbio Studiolo, todas as fontes dizem, já está no Met há anos.

É o Studiolo do Duque Francesco I, de Médici, feito no Palazzo Vechio de Florença, e que os americanos compraram tudo e instalaram no Met; uma pequena sala; o estúdio ou local de trabalho do Duque. Com as paredes feitas em madeira, em trabalho de marqueteria, mostrando estantes em perspectivas, livros, gaiolas, pássaros; tudo o que pode circundar um Duque trabalhando; bom, hoje, pode ser visitado e também visto on-line em realidade virtual no site do Met. É lindo, e vale uma visita guiada como a que eu tive, por acaso.

Mas o que me trouxe ao Met foi a exposição dos auto-retratos. The Lens and The Mirror, Self-Portraits from the Collection (1957-2007). Muito interessante, fiz anotações, mas não fizeram catálogo, o que é uma lástima. Pois a memória se esvai, as anotações se perdem; o Met tem disso, eu acho; algumas exposições em que eles "não confiam", não ganham nem folder; e muitas vezes (no meu ponto de vista) estas são as melhores; mas em compensação está tudo no site, com as imagens das obras, para todas as exposições; o que talvez torne realmente desnecessário catálogo, em papel. Obras de Nahum B. Zenil (artista mexicano contemporâneo, Corazón, Corazón/Self-Portrait),Duane Michels (Self-Portrait as a Devil on Ocasion of My 40th Birthday), William Anastasi (9 Polaroid Photographs, engenhoso e recursivo), Robert Stivers (Self-Portrait in Water), Lucas Samaras (desenhos) e outros.

Outra exposição especial (esta com catálogos) foi a que juntou os Vermeers, em torno de A Leiteira, pintura do artista que foi emprestada pelo Rijksmuseum para esta exposição. A obra autenticada de Vermeer  é de apenas pouco mais de 30 telas; a Leiteira é uma delas; outras 5 ou 6 estão no Met, e foram deslocadas para esta exposição especial; e os curadores do Met se deram ao luxo de nem deslocar um dos Vermeers para a exposição, deixá-lo em seu lugar, em outra galeria, o que bem mostra o poder de fogo do Museu. Complementam a exposição obras de contemporâneos, como Maes, De Hooch, Metsu. Catálogos, calendários, reproduções, agendas...
Surface Tension, uma exposição de fotografias contemporâneas,  apresenta artistas que exploram a aparente contradição entre a fotografia como uma janela e como um objeto em si. Bem interessante, e ao lado de Gerhard Richter, Anselm Kiefer, Wolfgang Tilmans, Lucas Samaras, e outros, estão trabalhos de Vik Muniz e Miguel Rio Branco.
Pablo Bronstein at the Met apresenta o trabalho do artista, residente em Londres, que aborda a história e o futuro (ou "futuros") do próprio Metropolitan Museum. Utilizando desenhos, plantas, gravuras, o artista apresenta cenas de uma história mítica do Museu em construção; como se ele tivesse sido construído "inteiro" de uma vez, quando sabemos que passou e vem passando por uma série de expansões até chegar ao seu estado atual. E com desenhos feitos em computação gráfica, o artista apresenta futuros hipotéticos para o Museu: com os telhados tomados por restaurantes, com o andar térreo utilizado como lojas de um shopping center e outros. Bem interessante.

Outra exposição especial, Looking In: Robert Frank's The Americans, comemora os 50 anos de publicação de The Americans, o importante livro do fotógrafo Robert Frank, com fotografias em preto e branco feitas em uma viagem pelo interior dos Estados Unidos em 1955-56 e que, embora vistas como pessimistas quando o lançamento, logo passaram a ser consideradas obras-primas da fotografia de rua. A exposição apresenta todas as 83 fotos originais do livro, e também cópias de contato, com as marcas do fotógrafo indicando as edições, e é acompanhada de um bom catálogo.
Ainda interessantes, Watteau, Music and Theater, sobre o papel das imagens sobre música e teatro na obra do pintor Watteau; American Stories: Paintings of Everyday Life 1765-1915, que apresenta pinturas com conteúdo bem narrativo, como os meninos banhistas e os boxeadores de Thomas Eakins, cenas de quotidiano, de artistas em ateliês, de marinhas, de pintores americanos; Imperial Privilege: Vienna Porcelain of Du Paquier 1718-44, com uma mesa montada com as porcelanas da época e frutas e flores feitas de açúcar, e, luxo  é luxo, um catálogo que custa US$275 ! ; Arts of The Samurai: Japanese Arms and Armor 1156-1868, boa exposição, mas com o centenário da imigração japonesa no Brasil tivemos exposições melhores sobre o assunto; e outras.
Depois da caminhada, metrô. Um ticket de uso ilimitado por 7 dias, por US$27, não tem preço (ou por US$45, os mesmos 7 dias incluindo também ônibus sem limite). Engraçado, aqui todos seguem sempre aquela lei do bom senso, que determina que tem prioridade, sempre, quem sai de um lugar fechado, e não quem nele entra, é um corolário da 2a. lei de Newton. No Brasil sempre é o contrário, observo, em metrô, elevadores, os que querem entrar emprurram para dentro os que querem sair, tornando mais reduzido ainda o espaço para todos. Enfim, deve ter algum sentido para nós, brasileiros.
E me preparar para a maratona que serão os demais dias, uma viagem com tão pouco tempo e tanta coisa para ver!