Uma coisa que sempre achei o máximo de NYC (e também da Europa, claro) é como os países de primeiro mundo tratam bem seus centros históricos.
Bem no início dos anos 1980 fui umas vezes a NYC, encontrei meu amigo o artista Emil Forman, morando na Thompson St., no Village, vindo de uma temporada em Paris, e com ele conheci o SoHo, que estava começando a se firmar não mais como uma extensão mais pobre do Village, e sim como um bairro de artistas, ateliês, antiquarios especializados em anos 1950 e onde as melhores Galerias de Arte estavam se instalando, em prédios velhos com espaços amplos.
Fomos a ateliês onde se faziam performances, exposições de vanguarda, se encenavam peças e espetáculos de dança, nos ateliês/casas dos artistas, descobria-se a programação em cartazetes improvisados nos bares ou nos jornais antenados, dentro se sentava no chão ou em cadeiras dobráveis e no espaço-cozinha se comprava uma cerveja ou uma taça de vinho simples por 1 dolar.
Eram ruas vazias, escuras, uma aparência de indústrias falidas; prédios de 4 ou 5 andares, com as indefctíveis escadas de incêndio de ferro (me remetiam a West Side Story). Aperta-se um interfone, a porta se abre, sobe-se pelas escadas ou por um elevador de carga e se chega a espaços amplos, remodelados, os verdadeiros lofts (palavra que no Brasil agora nomeia conjugados "espertos"), misto de atelie e moradia de artistas uns já famosos ou meio famosos, outros iniciantes.
Eu comparava com o Rio e pensava como era tudo tão diferente, o Centro da Cidade do Rio de Janeiro tinha prédios tão lindos quanto, e no entanto era um lugar ao qual se ia apenas de dia, para trabalhar ou fazer compras na Rua da Alfândega ou, à noite, para um traçado antes de entrar em um hotel suspeito. E pensava, como seria bom se o Rio visualizasse o seu Centro não como um quadro-negro a ser apagado, na mentalidade Haussmann que no Rio gerou coisas horríveis como a Esplanada do Castelo e a Av.Chile, e sim como algo a preservar, remodelar, incentivar ocupações alternativas, criação de corredores artísticos, culturais, de diversões.
Hoje, outubro de 2009, vejo que não estou muito longe do meu desejo de tanto tempo.
Um sábado, o tempo meio estranho mas com praia para os fiéis, onda para os surfistas em Saquarema... e vou ao Centro do Rio para uma programação muito intensa, que se desenvolve em locais que são antigos sobrados reformados.
E há movimento de rua, animação, taxis, se pode circular como eu circulava, já nos anos 1990, nos sábados a tarde, pela Prince St., pela Spring St., West Broadway, visitando excelentes Galerias de Arte (Gagosian, Mary Broome, Annina Nosei Gallery, OK Harris, o Guggenheim do SoHo... (hoje o SoHo se transformou em uma Disney, os aluguéis caros explusaram os artistas para o Brooklin e outros novos lugares, as boas galerias foram para Chelsea, mas a ideia permanece a mesma).
No Centro do Rio em 2009 faltam coisas, sim, claro, muitas, mas está muito interessante, e pelo que entendo é um movimento que surgiu meio à margem do institucional, do governamental, a partir de artistas que usaram espaços como ateliês e residências e resolveram ir além, usar os espaços como alternativas para veicular seus trabalhos, somando-se ao renascimento da Lapa, enfim, o Centro do Rio se transmuda e é bom acompanhar esta mudança.
1- Gentil Carioca - Rua Gonçalves Ledo, 17 - Parte do Projeto Ocupação, produzido pela Belvedere, que "ocupou" o evento Casa Cor com exposições de arte de ótima qualidade. No sábado foi o debate dos artistas cuja exposição esteve durante a semana na galeria da Casa Cor: BobN, Pedro Varela e Bernardo Ramalho, mediados pelo crítico Felipe Scovino. Muito interessante o debate, são artistas com percursos diferentes e muita coisa para contar. De quebra, a bela exposição da artista Maria Nepomuceno, "Esfera Dalva".
2- Largo das Artes - Rua Luiz de Camões, 2 - Desenhos de Francisco Farias, com uma técnica impecável, inclusive em grandes dimensões. O espaço monumental do Largo das Artes é, para mim, dos melhores do Rio, e representa um desafio para os artistas; a exposição soube ocupar bem este espaço, unindo aos desenhos, poemas de Josely Vianna Baptista. Curadoria de Regina Pinho de Almeida.
3- Durex Arte Contemporânea, na Praça Tiradentes, 85 - Exposição individual de Clarisse Tarran, "Homem Botânico", com desenhos, colagens, bordados, uma instalação e um vídeo. Uma exposição bem interessante, belos trabalhos, gostei em especial dos bordados, onde o desenho e o jogo de transparências se somam à delicadeza da execução.
4- Barracão Maravilha - Rua Gomes Freire, 242 - Um espaço muito bonito, em um sobrado do início do século XX. Uma coletiva de fotógrafos.
5- Inauguração do Espaço C.A.V.E., na Rua do Senado 338, esquina de Rua do Riachuelo. É o Coletivo Apis de Visualidade Experimental, um sobrado antigo com a proposta de ser "uma espécie de híbrido entre Galeria, Atelier e Escritório de Arte, mantido pelos seus participantes.", que são Antonio Bokel, Alê Souto, Leonardo Etero, Joanna Barros, Maria Helena Bastos, Peu Mello e Patrícia Bowles. Na abertura, além da exposição de obras dos artistas, o coletivo Filé de Peixe fez projeções de videos selecionados de seu projeto “Piratão” e Bernardo Ramalho instalou seus brinquedos interativos na praça Frei Orlando, em frente ao casarão. No debate na Gentil o Bernardo falou sobre a sua proposta dos brinquedos interativos, apresentando imagens da inauguração, em 27/setembro (dia de São Cosme & Damião), de uma praça em uma comunidade carente de São Gonçalo, Niterói, e do trabalho voluntário que ele faz com as crianças da comunidade; a instalação na praça Frei Orlando foi logo cercada de crianças, e esta interação do espaço de arte com a comunidade é uma coisa muito importante. Ah sim, e além do som (DJs), um bar com deliciosas caipirinhas transformaram o final de sábado em uma noite deliciosa!
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