Na terça-feira passada, abertura da individual de Felipe Fernandes, com pinturas e desenhos, curadoria da Daniela Labra, como parte do Projeto Ocupação da Casa Cor, produzido pela Belvedere.
Felipe utiliza, como matéria-prima para sua pintura, fotos de crianças, muitas retiradas da internet. Com base nestas imagens, o artista compõe ou se apropria de situações estranhas, onde a alegria do universo infantil deixa transparecer um lado weird, as comemorações se transformam em gargalhadas vazias, a comida escorre, as roupas e adereços se mostram como máscaras, o momento se torna nada.
Retiradas do seu contexto - álbuns de fotos de sites de orkuts, de flickers, de fotologs - e de sua escala confortável para ampliações exageradas; mudadas as suas cores em cores fortes porém em tons esmaecidos; trabalhadas em textura de pintura com escorridos, marcas de pinceladas, e não mais na superfície "perfeita" que toda imagem, mesmo as mais amadoras, adquirem em um vídeo de computador; as imagens inocentes e alegres se mostram então como uma fraude.
Ao usar a pintura, e deixar claro que "isso é uma pintura", Felipe recusa um tratamento de "pintura-como-fotografia", um "novo-hiperrealismo", muito utilizado em pintura contemporânea (por exemplo, o chinês Yang Shaobin, que está expondo no MASP). Com isso, ao meu ver, o trabalho do artista adquire novas camadas de significado, e não tenta conquistar pelo virtuosismo, que traria naturalmente frieza e distanciamento).
São pinturas, massas de cor em diálogo, construção de superfícies com pinceladas, tinta sobre tela, e são fotos, mas não mimetizam fotos. Há um humano pintando, há uma consciência humana na seleção das imagens e no seu tratamento, e há humanos sendo retratados nas imagens. Estes últimos, os modelos, talvez ainda sem tanta consciência - "O que acontece quando a gente morre?" - talvez em processo de adquirir consciência, talvez sem nunca adquiri-la, mas, por humanos, com potencial ilimitado para tal.
malga | Santa Helena
Há 4 dias
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