sábado, 24 de outubro de 2009

Diarios de NYC - 3 ("a marathon, second part")

Esta noite choveu bem, hoje, sábado, pela manhã não chove mas o tempo está muito feio. Ontem só consegui ver metade de minha programação, assim hoje retorno para a maratona, bem alimentado e bem dormido, ver as galerias em Chelsea, agora no pedaço do quadrilátero que vai acima da 23rd St até a 27th St, entre as 10th e 11th Avenues.
Iniciei revendo o que foi o meu grand finale de ontem, as instalações da Janine Antoni, em uma segunda vista o trabalho, que eu já havia gostado muito, cresce ainda mais.
24th Street:

1- Gagosian: Uma enorme galeria, com uma exposição individual de Anselm Rexle (monocromáticos, brilhantes, sem muito interesse)... e uma enorme tela do Takashi Murakami, Picture of Fate: I Am a Fisherman Who Angles in the Darkness of His Mind. Linda, um impacto: são 4 enorme painéis, com uma paisagem gigantesca que tem origens na paisagem tradicional oriental, mas é toda psicodélica, Pop, contemporânea, urbana... cachoeiras caem sobre o que parece uma ponte japonesa sobre um lago, mas que a ponte é feita de caveiras sobre caveiras (as vanitas, os massacres, os ossarios); sobre esta ponte, no local central, um leão enorme com leõezinhos de comics; a referência é de lendas japonesas, mas isso não interessa, mesmo sem conhecer a simbologia ela nos envolve, nos carrega. A técnica de pintura é interessante, uma pintura absolutamente lisa, sem a marca da pincelada (o estilo, leio no release, é o que o artista chama de SUPERFLAT...); mas ao mesmo tempo tem coisas de painterly- escorridos, texturas, pincel seco, emplastro - só que estes efeitos sao mimetizados pelo artista sem excesso de tinta, sem a marca do humano e do acaso: os escorridos sao "pintados" como escorridos, não sao verdadeiros escorridos... este tratamento dá um clima mais misterioso ao que sabemos ser uma pintura mas que parece ser algo "industrial", "pronto", um paroxismo do "pronto" que o Pop queria parecer. Sensacional, comecei bem meu dia!

2- Mary Boone Gallery: A Tribute to Ron Warren, uma coletiva. Fiquei intrigado, quem seria este R.W., que tem como tributo uma coletiva com tantos artistas importantes? Lendo o release o mistério se desvenda, ele trabalha com a Mary Boone há 25 anos, trabalhou com estes artistas todos e juntos estão comemorando esta parceria de sucesso. E que sucesso: Basquiat, Schnabel, Marc Quinn, Barbara KrugerRoss Bleckner, Sherrie Levine, David Salle, Francesco Clemente, Taaffe, Brice Marden, Tuttle e muitos outros; alguns fizeram trabalhos especialmente para a comemoração. Interessante também ver um pouco dos preços, que nesta exposição estão bem à mostra (em geral as galerias de NY só colocam à mostra os preços mais em conta; os estratosféricos aparecem sempre com a indicação de POR - price on request). Sim, um Basquiat, lindo, 152x137cm, com fundo laranja, já vendido por US$ 9 milhões; enquanto que um Schnabel, um São Sebastião, bem maior, 282x168cm, já vendido pela bagatela de US$ 3 milhões. Uma escultura da Sherrie Levine, de 2007, False God, em bronze dourado (um sub-produto desta minha viagem foi descobrir muitas outras facetas da artista, que eu via como estritamente conceitual e com uma trajetória bem coerente), por US$ 300 mil. Mas as pechinchas, para mim, são o Philip Taaffe (pintura, 168x198cm, pena que já vendido, por US$ 150 mil) e o Ross Bleckner, este último, ainda não vendido (tive que me controlar para não comprar e ficar o resto da vida endividado para pagar o MasterCard...), uma linda pintura  de 122x102cm, por US$ 150 mil...

3- Hasted Hunt Kraeutler: Galeria especializada em fotografias, com a exposição Oil, de Edward Burtynsky. O "óleo" se refere não à tinta a óleo, claro, e sim ao petróleo, e são fotos enormes, nítidas em todos os detalhes, grandiosas, de paisagens de campos de exploração de petróleo, bonitas, frias, às vezes líricas, o que é irônico, pois são naturezas devastadas pela indústria, um bom trabalho.
4- Bruce Silverstein: Car Crash Studies, de Nicolai Howalt, e A Road Divided, de Todd Hido. Fotografias, ao meu ver bonitas mas vazias, no caso do Car Crash, uma estetização da violência, anos-luz atrás dos Car Crash do Andy Warhol.
5- Andrea Rosen Gallery: Além do acervo, com móveis do Donald Judd e belos trabalhos de Cy Twombly, Yayoi Kusama e Claes Oldenburg, a galeria expõe uma individual de Matthew Ritchie, Line Shot. O artista explora cosmologias, criando universos e mitos, com pinturas, filmes, desenhos. A proposta é interessante, e me chama a um universo bem psicodélico dos anos 1970, as capas dos discos do Yes, coisas assim; mas claro que com tecnologia atual; e o resultado? bom, meio ilustrativo; vale como contexto, mas as pinturas, como pinturas, são fracas, são ilustrações de uma ideia. Penso em artistas que criam universos: os Loplop do Max Ernst, os selos do Donald Evans, e vou quase dizendo que a tendência nestes casos é a ilustração dominar; mas logo penso em um contra-exemplo, artista brasileiro, os universos alienígenas do Franklin Cassaro, em seu Bioconcretismo, que cria e descreve um Universo, mas que cada trabalho individualmente supera a ilustração, a descrição deste Universo para se manter como uma obra de arte.
6- Matthew MarksVincent Fecteau, artista baseado em São Francisco, com esculturas, bonitas mas sem muito interesse para mim.
7- Gladstone Gallery: Pinturas de Magnus Plessen. São bonitas pinturas, o artista "se espalha" em telas, dípticos, combinações de telas em tamanhos diferentes; e constrói suas composições (paisagens, figuras humanas em cenas de quotidiano, objetos) com pinceladas, tinta colocada com espátula, poucas formas, pois joga com o espaço positivo e o negativo, joga com o mínimo de elementos para a compreensão, pelo espectador, das figuras, um jogo com a percepção e com a pintura. 

8- Marianne Boesky Gallery: Uma exposição coletiva, com o trabalho das artistas Bharti Kher, Yayoi Kusama, Eva Rothschild e Mindy Shapero. O traço de união entre as artistas é que, com a utilização de materiais bem diversos, elas utilizam a repetição para explorar os temas de fantasia, mito, e transcendência. Além das esferas prateadas/espelhadas do Narcissus Garden, que vi recentemente em Inhotim, trabalhos da série dos pênis estufados/recobertos da Yayoi Kusama, são impactantes. Em Inhotim acho que as esferas chegaram em seu auge, ao espelhar a bela natureza e os inhames roxos; mas aqui, em ambiente fechado, espelham as obras de arte e não deixam a desejar. Esculturas; e as pinturas em padrão da indiana Bharti Kher, que me lembram muito os padrões usados pela artista brasileira, Geração 80, Monica Nador.
9- Bryce Wolkowitz: A exposição é Textual Landscapes: Real and Imagined, com obras dos artistas Jim Campbell, Airan KangYongseok Oh, Alan Rath, Ben Rubin e Marina Zurkow. Os trabalhos utilizam tecnologias avançadas; achei muito interessante a Biblioteca de Airan Kang, onde os livros (até o cult dos anos 1970, Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas) são projeções em fibra ótica enclausuradas em caixas de acrílico/plástico no formato de livros; eles pulsam, mudam de cor, são vivos; como livros em uma biblioteca, e apontam a um cada vez mais difícil encontro entre o tradicional da cultura e as novas mídias.
25th Street:

10- Bortolami Gallery: Tom Burr, Sentence, uma série de instalações com objetos do quotidiano: pares de tênis usados enclausurados em caixas de acrílico, cabides, roupas presas por tachinhas em plataformas; cabides; o efêmero; o eterno. Ambiguidade: quem usou estas roupas? isso interessa, a carga das roupas usadas interessa, agrega sentido ao trabalho, ou elas aparecem como elementos neutros? Capas de CD usados, bancos, é como um inventário de uma presença que não deixou rastros. como aquela resposta: "o que vai acontecer depois que eu morrer? nada, nada, nada, o mundo vai continuar, o sol vai nascer de novo, se por como sempre, comigo ou sem, e em algum tempo a presença vai se esvair, ficarão só objetos, camisas usadas, depois nem isso".
11. Lennon, Weinberg: Before Again, uma coletiva de pinturas, são 6 mulheres que pintam em abstração, onde a grande presença é da pintora Joan Mitchell. Vale à pena ver, curtir, cada coisa, cada desenho, cada pintura da Joan Mitchell. As demais artistas são Louise Fishman, Harriet KormanMelissa Meyer, Jill Moser e Denyse Thomasos.
12. STUX: On love? On war? Os artistas chineses tem sido apresentados, pelo mercado e pela mídia, como uma renovação, uma salvação para as artes contemporânea. Eu sou um pouco mais cético, acho que está sendo visto como uma panacéia, mas na realidade existem artistas chineses e artistas chineses. Esta exposição apresenta bem isso, trabalhos em níveis bem diversos, do kitsch ao sublime, sem escalas.
13- Winston Wäcter: São instalações da artista Andrea Kocks, feitas em papel cortado em camadas com interferências.
14- Gana Art: Shigeru Uchida. São instalações temáticas: Vague/Transparent/Hazy/Wavering.
15- Stricoff Fine Art: Muito ruim.
16- Dillon: Norihiko Saito, com um pintura abstrata fraca.
17- Henoch: Still Lives. Meu deus, as galerias com pinturas ruins se aglomeraram neste pedaço do Chelsea, será que vão me abduzir?
18- Cheim & Read: Ah, respiro fundo, volto à qualidade. Jack Pierson, artista multimidia, um trabalho de fotografia muito interessante, aqui com suas instalações de parede, são letras, palavras, um novo alfabeto.
19- Marlborough, com esculturas de Red Grooms e pinturas e esculturas de Steven Charles. Voltei ao mundo do ruim em arte. O site diz que a galeria é especializada em mestres contemporâneos. OK.
20- Kent. Uma surpresa. A exposição chama "All in this together: Dorothea Tanning and friends". E quem são os amigos? Dorothea Tanning foi um artista americana, casou-se com Max Ernst (um dos casamentos do pintor), e os amigos são os surrealistas todos, a galeria está expondo obras da D.T. , memoralia (fotos, cartas...) e obras dos amigos da artista, do espólio, eles todos: Arp, Calder, Joseph Cornell, Duchamp, Leonor Fini, Giacometti, Magritte, Man Ray, Miro, até Picasso... O trabalho da D.T. é fraco, mas os amigos tem uma força, e é impressionante ver esta exposição aqui, em uma galeria em um segundo andar, discreta, e não em um espaço institucional, mas isso são as coisas do modelo capitalista corporificado em NYC e em Chelsea, enfim..
21- Betty Cuningham Gallery: Abby Leigh, com pinturas monocromáticas, e trabalhos em papel feitos com fumaça.
22- Axelle Fine Arts: Ruim. Acho que quando eles se descrevem como "fine arts" é o fundo do poço.
23- Doosan Gallery: Funciona como uma incubadora de artistas, com programas de residência em NY. No momento apresenta produtos destes trabalhos, vídeos e instalações de Moo Kwon Ham.
24- Lohin Geduld Gallery: Em um espaço dividido por várias galerias, esta galeria apresenta uma exposição do pintor Jay Milder. Gosto. Já conhecia, e gosto mais ainda. Tinta espessa, abstrato, cores, texturas, boas pinturas.
25- Tria Gallery: Serena Bocchino, iPOP. são pinturas abstratas e esculturas, pequenos animais pintados em cores fortes, e as pinturas também em cores fortes, um trabalho interessante, voltado para uma estética de night.

26- SLAG Gallery: Bonitas pinturas de Mircea Sucium, The Fall, cores escuras, pessoas estranhas, clima de mistério. Países para nós distantes: România, no caso; e que estão próximos de nós pela linguagem da arte.
27- CLAMP Art: Domesticated, fotos de Amy Stein, apresentam animais em interação com humanos, interação cheia de suspeitas e de sitações anti-naturais: dois meninos encurralam um pequeno gambá em uma cerca e o ameaçam com tacos de beisebol; gaivotas brigam por pedaços de potato-chips; da janela de um trailler, uma mulher olha com suspeita um urso que se aproxima...
28- Arario Gallery: esculturas recobertas de pedaços de plástico com impressão fotográfica, representam pessoas (uma delas uma mulher que é a cara da Imelda Marcos), Deodorant Type, do artista Osang Qwon.
29- Yossi Milo Gallery: Until The Kingdom Comes, fotos de Simen Johan apresentam animais em paisagens que são reais, sonhos, pesadelos, o artista trabalha com técnicas de fotografia tradicional, analógica, e técnicas digitais.
30- Nancy Margolis Gallery: Maysey Craddock, pinturas a guache/têmpera sobre papel reciclado, e interferências em cartões-postais vintage.
31- Cue Art Foundation: Funciona como uma incubadora de artistas, e estava sendo apresentado exatamente o resultado do trabalho de artistas "incubados", Adiwit Ansathammarat (pinturas e objetos, interessantes) e Naeen Mohaiemen (videos e fotos).
26th St:

32- Robert Miller Gallery: The Pregnant Mountain, pinturas, desenhos e instalação do artista africano Barthélémy Toguo, são bonitos trabalhos, em especial as aquarelas, grandes (algumas chegam a 200x130cm), boa técnica e um trabalho forte e lírico.
33- Galerie Lelong: Jaume Plensa, In The Midst of Dreams, esculturas, instalações, são rostos imensos de mulher, em resina, iluminados do interior; os rostos são alongados e como que adormecidos, sonhando.
34- Mitchell-Innes & Nash: Justine Kurland, This Train is Bound for Glory. São fotos, uma pesquisa de 2 anos onde a artista focou na mitologia do hobo, uma figura-mito bem americana, cantada na musica (Bob Dylan, I am a Lonesome Hobo) e na literatura, o trabalhador-migrante que viaja pelos trilhos dos trens a procura de trabalho, sem casa, sem raízes.

Interessante, é um assunto que vale à pena investigar mais, não temos uma figura equivalente no Brasil, o bóia-fria? pois uma das características marcantes do hobo é a sua solidão, o seu individualismo, a sua falta de referência, de raízes, e por isso ele é tão marcante para a cultura norte-americana, ele é como que uma imagem do individualismo americano, na verdade os trabalhadores, os white-collar de Wall Street, da Madison Ave., todos eles, são um pouco os hobos do terceiro milênio, e esta nostalgia perpassa por eles, ao fazerem suas refeições corridas, ao comprarem os kebab para comer nos parques ou nos espaços públicos (NY está cheia destes espaços, oásis no meio do concreto), falando ao celular, ao entrarem no metrô para longas viagens além de Manhattan, todos eles (e eu também) podemos cantar com Mr.Dylan,"I am a lonesome hobo/Without family or friends,/Where another man's life might begin,/That's exactly where mine ends./I have tried my hand at bribery,/Blackmail and deceit,/And I've served time for ev'rything/'Cept beggin' on the street".
35- Lehmann Maupin Gallery: A artista, Teresita Fernández, trabalha com grafite, não como material para desenhos mas como material, o grafite em si, pedras de grafite, para instalações e pinturas.
36- Stephen Haller Gallery: mostra de Ronnie Landfield, pinturas abstratas bem ruins.

37- Tony Shafrazi Gallery: Um bom espaço, e apresentando Dennis Hopper, uma lenda, ator, personagem, desde o Easy Rider do final dos anos 1960 passando pelo Blue Velvet dos anos 1980, e sempre ativo. Além de ator e personagem, D.H. é um bom fotógrafo, com sua câmera fotografou todos que com ele contracenaram e outros também, artistas como o jovem Lichenstein, belas fotos; a exposição mostra, então, vídeos, as fotos, e vai além, com os trabalhos de billboards: as pequenas fotos originais pintadas em telas enormes por pintores especializados nos cartazes externos, os billboards, uma "arte" em vias de desaparição; com isso, outro acerto para a exposição, e comercialmente também, claro.

38- James Cohan Gallery: Tenho muita sorte, uma pequena retrospectiva do Bill Viola, o vídeo-artista mais importante, nesta galeria posso ver vários trabalhos do artista, o destaque são os Bodies of Light, quando corpos, nus, interagem com água, cascatas; na filmagem, a água brilha, e os corpos sofrem uma transubstanciação, são corpos de luz, verdadeiros, transcendentes.
39- Sara Meltzer Gallery: Lovett/Codagnone, Common Errors. Dupla de artistas, com instalações. Engraçado, eu cheguei no espaço da galeria quando estavam terminando de montar a exposição para a abertura; caixas de Prosecco aguardando a festa, os artistas meio sem graça, um fotógrafo registrando os trabalhos recém-instalados, aquele clima de pré-vernissage que, aprendi, é igual no mundo todo, mesmo em NYC; fiz meu papel, vi os trabalhos todos, alguns fotografei, cumprimentei os artistas e galeristas, enfim, só não bebi o Prosecco, ficam me devendo mas tudo bem. O trabalho é bem interessante, referências ao Anarquismo, textos escritos em espelhos, conceituais.

40- Lombard-Freid Projects: The Mending Project. Lee Mingwei, um artista de Taiwan, com uma proposta de interação com os espectadores. A ideia é trazermos peças de roupa que precisam de remendos; o artista trabalha no remendo, enquanto conversa com o espectador; a peça de roupa fica incorporada à exposição, "presa" ao espaço por um delicado fio de linha; ao final, as peças serão devolvidas aos donos. Conversei com o artista, uma proposta interessante, mas o turista acidental leva poucas peças, nenhuma precisa de remendo; pensei em simular, rasgar uma camiseta, e voltar para o remendo e a conversa; mas isso me pareceu uma quebra da etiqueta da performance.
41- George Adams Gallery: São duas exposições. Andrew Lenaghan, pinturas com cenas de quotidiano; e Elmer Bischoff, desenhos figurativos dos anos 1960.
42- Mixed Greens: Adia Millet, The Birth of Bardo, fotografias, vídeo, instalação.
43- Mary Ryan Gallery: Apresenta xilogravuras da artista Yvonne Jacquette, a obra completa da artista em xilos (1987-2009), na verdade linoleogravuras, mostrando a paisagem de NYC, interessante.

44- Pace Prints Chelsea. Uma referência em termos de gravuras, reprodutibilidade. E agora mostrando os chineses, interessante. O destaque é o Qi Zhilong, que é como uma Elizabeth Peyton pintando jovens egressos do Exército Vermelho. (bom, Pace Prints tem também E. Peyton no acervo, lindos)
45- IPPODO Gallery: A exposição atual é Boxes, do designer japones Shigeru Uchida, interessante.
46- Friedman BendaGottfried Helnwein, artista austríaco, apresenta pinturas grandes, o tema são retratos de crianças, tratados realisticamente porém com uma atmosfera de sonho e composição que faz referência à arte clássica. Não me convenceu muito.
47- Claire Oliver: Beth Cavener Stichter, On Tender Hooks, esculturas, representam animais (caprinos, roedores) torturados; uma delas, o que parecem ser dois bodes se beijam, de pé, como humanos; e as ereções dos dois são humanas (e vigorosas); uma coelha enfatuada, sentada como uma matrona, tem a barriga estufada rompida por um corte, e órgãos genitais de mulher. E assim por diante.
10th Ave between 26th & 27th St:

48- Paul Kasmin Gallery: Frank Stella, relevos policromados. Muito bonitos, uma grandiosidade barroca, mesmo os pequenos tem o peso e a força, o movimento e a projeção de lindas sombras no cubo branco.
27th St:
49- Nancy Hoffman Gallery: Hung Liu, outro pintor chinês, no caso uma pintora. Grandes pinturas, com cenas de destruição provocada por um terremoto; utilização de elementos tradicionais da pintura chinesa ao lado de escorridos e emplastros da pintura ocidental contemporânea; mas me dá a impressão de um resultado profundamente kitsch.
50- Murphy & Dine Gallery: Look Down/Shoot Down, são fotos urbanas de Jeremiah Dine, utilizando a técnica que deu título à mostra: olhando para baixo e fotografando, não muito diferente do que o turista acidental já faz.
51- Sundaram Tagore Gallery: Arte contemporânea do mundo árabe, apresenta SIGNS, coletiva com pinturas baseadas na caligrafia árabe, interessantes.
52- Paul Kasmin on 27th St: Affinity, pinturas de Natham Hylden, colocadas com trabalhos com os quais sua obra tem afinidade. Bom, gostei mais dos "padrinhos": duas lindas, pequenas, telas da série Shadows do Andy Warhol, uma Homenagem ao Quadrado do Albers e um Frank Stella.
Com esta, encerrei a visita às galerias do Chelsea, já no final da tarde, tempo insuficiente para ir ao MoMA como planejado, pois aos sábados o museu fecha às 17:30h; e é um dos poucos museus que abre na 2a.feira, assim posso ir adiando a visita.
O único que fecha mais tarde hoje é o Guggenheim, às 19:45h, e para a minha surpresa, hoje, a partir das 17:45h a modalidade e "pay as you wish". Beleza para o bolso (nem tanto assim, eu sou estudante de carteirinha interrnacional, o que já é metade do preco), mas terrível para enfrentar uma fila, na chuva (sim, chove!) e multidões querendo ver cada quadro. O macete é evitar os quadros que são comentados no audio-guia (que hoje é grátis), todos os "robôs" com seus headfones se aglomeram em volta dos que a curadoria elegeu como os hot-spots, e deixam os demais para os sem-audio-guia, como eu (acho que somente eu em todo o Gugg).
Tambem, qual a vantagem de ver exatamente os mais característicos de um grande nome? (no caso, Kandinsky) Vê-los reiteradamente vezes apenas confirma que "eu sei, aprendi a reconhecer um K. quando vejo". Enfim.
A exposição é boa, a maioria dos melhores K. está na Franca, assim é uma boa oportunidade de vê-los neste lado do Atlantico. O Gugg tem uns muito bons, também, em especial os desenhos (aquarelas em sua maioria), que sao muito bonitos.
O predio tem uma armadilha, as exposições são sempre montadas de baixo para cima, conforme o plano original do Frank Lloyd Wright; mas hoje eu, e acho que a maioria dos com mais de 30 anos, sobe de elevador até o 6. andar e desce a espiral, vendo a exposição na sequência inversa do que o curador planejou; com isso, se quebra a narrativa, que normalmente aponta para uma "evolução", e segundo os conceitos de Clemente Greenberg, da figuração para a abstração. Assim, comecei pelos últimos, e fui descendo, até os mais figurativos, até as paisagens de início de carreira (que eu nunca tinha visto mas que são interessantes, impressionistas de inicio do "ismo"). Mr.K. sempre tem algo a nos dizer; quando eu ja achava que "sei identificar um K.", ele me surpreende, e isso e bom.
E as exposições em paralelo sao muito boas, e valem:
Roni Horn e Felix Gonzales-Torres, Paired: Gold, um dialogo sutil e emocional sobre ouro, vida, morte e transcendência. Kitty Kraus, artista alemã, com Intervals, instalação (lâmpadas/microfones em blocos de gelo; o calor dos aparelhos derrete os blocos; e ficam apenas as marcas da água no chão).
Anish Kapoor, Memory, uma gigantesca esfera de aco corten (24 toneladas) "incrustada" em uma sala, enorme, comprimindo as parecedes (como a maça do quadro de Magritte, gigantesca para o cômodo que ocupa); pelas características do prédio, isso é mais angustiante que em um prédio ortogonal; consegue-se, portanto, "ver" pedaços da esfera, por visões distintas, "sente-se" se peso, reforçado pela aspereza do aço, das placas que a compõem, dos parafusos que unem estas partes; e de uma "janela" em um cômodo adjacente, consegue-se ver, já no ponto onde a esfera se encosta nesta janela há um buraco na esfera, seu interior, e ele é negro, macio, como um infinito ou um nada, contrastes que o Anish Kapoor tanto explora em seu trabalho.

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