Há algum tempo coleciono fotos de esportistas, são um bom tema para estudos de anatomia, bem melhor que violar túmulos e roubar cadáveres para dissecá-los e estudá-los, como fizeram Vesalius ou Leonardo na Renascença, ou mesmo plastificar cadáveres para exibi-los em eventos kitsch às multidões idiotizadas, como faz nos dias de hoje o alemão Gunther von Hagens.
E entre estas fotos minhas preferidas são as dos nadadores e dos jogadores de futebol.
Difícil trabalhar sobre as fotos dos nadadores sem cair no David Hockney. Já em relação ao futebol, me vem à mente alguns pintores que utilizaram o tema (o primeiro deles sem dúvida o Rubens Gerchman , embora seus jogadores certamente fiquem aquém das Misses, dos Desaparecidos, da Lindonéia...). Outros, que me lembro: Roberto Magalhães, Aguilar, Claudio Tozzi... Algumas pinturas incluídas na mostra Brasil Brasileiro, do CCBB... mas na verdade como temas secundários de suas obras tão marcantes, não como os nadadores e as piscinas estão para o Hockney.
As imagens de futebol retiradas dos jornais vão enchendo minhas pastas, e um dia elas se reunem, saem dos escuros das pastas, me tomam de assalto, invadem a série de pinturas na qual estou trabalhando neste segundo semestre de 2009, os Auto-retratos.
Dominado pela força das imagens começo a trabalhar em outra sub-série, os auto-retratos como jogador de futebol.
As camisas tem a força de ícones, as cores, o visual despojado do marketing, da idolatria do torcedor, mas menos explícitas; os corpos são os estudos de anatomia, corpos jovens em movimento, Leônides de Rodes, Apolo, Hércules, Alcibíades.
Mas o ser que se dissolve por dentro das camisas de time, o rosto que se desmancha enquanto luta por uma bola ou agradece a ovação da torcida ou comemora tematicamente um gol, este rosto é o dos meus auto-retratos: pintura, pintura, pintura.
Sou eu? talvez um dia serei eu, um dia ficarei parecido com eles. Ou não, talvez um dia os usuários destas camisas fiquem parecidos comigo.
malga | Santa Helena
Há 5 dias
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