sexta-feira, 26 de junho de 2009
Ouvindo Iggy Pop, Preliminaires
A voz rascante continua a mesma, talvez mais áspera; aos 62 anos, o roqueiro se mantem esguio, a cara de mau, de um feio bonito, e os cabelos grandes e parafinados como um eterno tributo aos anos 1960-70. Mas a mesma ousadia. Iggy Pop deixa por um tempo o som heavy dos Stooges e, iguana, camaleão, sobrevivente, lança um disco bluesy, sem medo de ser considerado careta, de ser tachado de cantor de covers, de crooner. Grava em francês Les Feuilles Mortes (o velho Autumn Leaves, música de 1945 que já na minha adolescência era uma música velha e melosa...) e até um Tom Jobim, o How Insensitive(versão americana de Insensatez , milhas e milhas da versão cool da Astrud Gilberto). O CD é o Préliminaires, o site é fantástico, tem as músicas e clips e muita informação, o velho roqueiro tem o apoio de toda uma tecnologia de terceiro milênio, o que é maravilhoso. Vale à pena navegar no site, ouvir as musicas, ver os clips e curtir. É o que eu estou fazendo, ouvindo sem parar.
Referências: o Live in London, do Leonard Cohen, que comentei aqui no blog; o dark Nicolas Cave, principalmente em Love; e Cake or Death, o último CD do Lee Hazewood, já à morte mas com forças para gravar seu testamento em canções.
Ah sim, e a minha preferida no Préliminaires é o King of the Dogs, um verdadeiro blues onde se sente, ao ouvir, o miasma do Mississipi, estamos em New Orleans, o calor umido, o som de jazz ao longe, andar pelo bairro francês é como voltar a um passado de prazeres ocultos e possibilidades intermináveis; é como saber que em alguma esquina nos espera o amor ou a morte, ou um vampiro entrevistado pelos ares para nos abduzir para sempre e nos retirar das preocupações bobas de pagar as contas no vencimento, brigar no trabalho, dar atenção à família, pagar impostos...
Esta liberdade está na arte, e nos decibéis do CD do Iggy Pop.
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