A voz rascante continua a mesma, talvez mais áspera; aos 62 anos, o roqueiro se mantem esguio, a cara de mau, de um feio bonito, e os cabelos grandes e parafinados como um eterno tributo aos anos 1960-70. Mas a mesma ousadia.
Iggy Pop deixa por um tempo o som heavy dos
Stooges e, iguana, camaleão, sobrevivente, lança um disco
bluesy, sem medo de ser considerado careta, de ser tachado de cantor de
covers, de
crooner. Grava em francês
Les Feuilles Mortes (o velho
Autumn Leaves, música de 1945 que já na minha adolescência era uma música velha e melosa...) e até um Tom Jobim, o
How Insensitive(versão americana de
Insensatez , milhas e milhas da versão
cool da Astrud Gilberto). O CD é o
Préliminaires, o
site é fantástico, tem as músicas e clips e muita informação, o velho roqueiro tem o apoio de toda uma tecnologia de terceiro milênio, o que é maravilhoso. Vale à pena navegar no site, ouvir as musicas, ver os clips e curtir. É o que eu estou fazendo, ouvindo sem parar.
Referências: o
Live in London, do Leonard Cohen, que
comentei aqui no blog; o dark
Nicolas Cave, principalmente em
Love; e
Cake or Death, o último CD do
Lee Hazewood, já à morte mas com forças para gravar seu testamento em canções.
Ah sim, e a minha preferida no
Préliminaires é o
King of the Dogs, um verdadeiro blues onde se sente, ao ouvir, o miasma do Mississipi, estamos em
New Orleans, o calor umido, o som de jazz ao longe, andar pelo
bairro francês é como voltar a um passado de prazeres ocultos e possibilidades intermináveis; é como saber que em alguma esquina nos espera o amor ou a morte, ou um
vampiro entrevistado pelos ares para nos abduzir para sempre e nos retirar das preocupações bobas de pagar as contas no vencimento, brigar no trabalho, dar atenção à família, pagar impostos...
Esta liberdade está na arte, e nos decibéis do CD do Iggy Pop.
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