Chego no Rio na 6a.feira a noite, cansado, muito frio e chuva. Mas o sábado (dia de Santo Antonio, antigamente os solteiros estariam fazendo promessas para encontrar suas caras-metade...) amanhece com um sol que tenta se impor às nuvens e ao frio; é a cara do Rio, bermudão e casaco... e vou às exposições, no circuito da Zona Sul:
1- Amarelonegro, Co.Labor, um mix da produção de artistas contemporâneos e estilistas, exposição bem resolvida com os trabalhos de Efraim Almeida, James Kudo, Raul Leal e Rafael Alonso; e de Isabela Capeto, Kylza Ribas, Marcella Virzi e Marc Greiner. O diálogo entre obra e roupa se faz desde a partir de elementos mais formais (cores, motivos), até chegar a uma verdadeira interação de propostas, no caso da parceria Efraim Almeida e Marc Greiner (o estilista utilizou no vestido elementos feitos pelo artista, e em sua estranheza é um contraponto à estranheza do casaquinho de peles segurado por mãos de madeira como em prece, do artista).
2- Na Laura Marsiaj, Marcus Vinícius, artista paulista. São "quadros", construções feitas de módulos pintados, vidros, cartolinas, em cores vivas, que remetem às pintura e especificamente ao construtivismo. O colorido é muito bonito e às vezes aparece em brincadeiras ópticas; em algumas obras, os quadros se transformam em "Livros", objetos manuseáveis. No Anexo, uma mini-retorspectiva do artista mostra um caminho com coerência e crescimento.
3- No Instituto Moreira Salles, "Olhar Direto: Fotografias de Paul Strand" e "Volpi, dimesnsões da cor", bons trabalhos do artista, com curadoria de Vanda Klabin. O fotógrafo e cineasta americano é um clássico, algumas de suas imagens estão para sempre na memória cultural do Ocidente, e é muito importante uma exposição tão completa sobre o artista. Quanto ao Volpi, uma boa seleção de obras, com obras pouco vistas mesmo entre as tão mostradas bandeirinhas, e um catálogo que parece bem interessante (comprei mas ainda não li, transcreve um debate sobre a arte de Volpi, entre 6 artistas/críticos, mediado pela curadora), mas infelizmente a exposição fica marcada (é o que aparece na midia) pelo altíssimo valor de direitos de imagens cobrado pelos herdeiros do artista para ter seus trabalhos reproduzidos no catálogo e folder da exposição, e que inviabilizou a reprodução. Assim, temos um catálogo onde "o de que se fala", que são obras de artes visuais, é visto apenas por palavras, sem imagens; as imagens do catálogo são fotos dos debatedores; o que no mínimo é curioso; ou anacrônico, quando se pensa que estamos no terceiro milênio, na época da internet e do CreativeCommons. Bom, e o friozinho da Mata Atlântica remanescente nos jardins da antiga casa do Embaixador (um paraíso modernista) é uma maravilha, saio de lá sem nem ver a favela que hoje domina todo o entorno daquele antigo bairro nobre do Rio.
4- Na Anita Schwartz, Abraham Palatnik. Bonitos quadros, com o característico tratamento preciso de tirinhas deslocadas que constrem uma pintura dinâmica, como um op-art feito não só na retina e sim na superfície do suporte. E os objetos cinéticos que vem de um Tatlin, um Gabo, e são uma das caras do modernismo brasileiro, são utópicos em sua mecânica engenhosa, apontam para um futuro como este que era previsto nos anos 1950 e 1960, são uma imagem de futuro que ficou datada (como a visão de Kubrick em 2001 com o voo espacial de uma PanAm que não chegou ao milênio...) e por isso mesmo se transformou em perene. Hoje, um clássico. E é bom que ele esteja vivo, produzindo, e expondo no lindo espaço da Galeria, que acolhe bem tanto um gigantismo de um Nuno Ramos como os discretos e obsessivos movimentos mecânicos do Palatinik.
5- Nas Cavalariças do Parque Lage, reabrindo o espaço tão bonito para propostas artísticas, "Nudez e Território", uma instalação de Cristina Salgado ("Grande nua na Poltrona Vermelha") e uma videoistalação de Regina de Paulo ("O Cubo Paisagem"). As curadoras: Luísa Interlenghi e Sheila Cabo Gerardo. Cristina mostra uma instalação impactante, onde dezenas, centenas, de perfis de mulheres cortados em carpete/feltro (são 900 m2 de tapete), caindo do teto, se espalhando pelo chão, como que deitadas, saindo de, explodindo, em uma poltrona vermelha... Já o vídeo de Regina é quase um caseiro, uma cena de uma praia de Copacabana, crianças brincando no mar; mas a onipresença de um cubo geométrico sobre a imagem tudo transforma, como se a cena quotidiana, atemporal, atingisse uma transcendência da matemática, da construção de uma realidade além.
Depois disso tudo, um almoço tardio em outro monumento modernista, o Parque Guinle, num apartamento dos prédios projetados pelo M.M.M.Roberto. Um luxo. O Embaixador gostaria.
sábado, 13 de junho de 2009
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