A imagem invadiu minha cabeça ao primeiro olhar, do meio de uma pilha de jornais velhos que eu examinava para separar alguma coisa interessante antes de jogar fora. Uma foto, como as várias que eu escolho para usar como material para meus desenhos no caderno de capa de couro vermelho, meu Caderno de Retratos #1. Uma foto, um ícone de um cantor brasileiro, em seu show de 50 anos de carreira, acho eu, o texto não me importou, e sim a imagem, em tons de azul. Icônica sim, impossível deixar de lembrar do altar feito em 1966 pelo Nelson Leirner entronizando outra icônica foto do cantor, jovem, em seu início de carreira, emoldurado em neón. Mas na verdade não é isso que me interessa, o ídolo, a imagem pública construída com cuidado e veiculada incessantemente na mídia. Algo mais me interessa nesta imagem específica, nesta foto, algo transcendente e ao mesmo tempo algo pictórico. Que só pintando eu posso atingir, desvendar.
Não mais a foto de um cantor, não mais uma piada sobre a imagem do cantor, uma crítica ao sucesso, nada disso. E a minha trilha sonora mental ao inciar a pintar esta nova série é o "
Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones, naturalmente. Nesta nova série, ainda sem nome - que interrompe momentâneamente os estudos sobre as
vanitas , mas ao mesmo tempo é outra maneira de dizer a mesma coisa que as
vanitas - comecei usando telas pequenas (41x33cm), e me atenho mais à estrutura e paleta da foto original (até nem tanto, faço variações, mas não as invenções ilimitadas dos estudos sobre as
vanitas). Do cantor, o que restou é o terno e a pose, pois substituo seu rosto por uma máscara mortuária, um ser mutante ou um crânio (onde aparecem traços de minha admiração por, entre outros, Bacon, Ensor, Giacometti e Basquiat). Aqui, algumas das 5 telas já terminadas.
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