Lendo o belo catálogo da retrospectiva do desenhista e gravador
Marcello Grassmann, no
Instituto Moreira Salles (em 2007), descubro outro artista que, como Roberto Magalhães (e eu), também foi influenciado pela leitura do Thesouro da Juventude. Além do entrevistador, o curador da exposição Antonio Fernando De Francheschi, também foi leitor, na infância, da coleção que "fez as cabeças" de gerações... Seguem trechos da entrevista:
MG: Lembro quando meu pai comprou uma coleção de grande prestígio na época, o Thesouro da Juventude. Era algo indescritível, um tesouro mesmo. Eu ainda não estava alfabetizado, então não foi pelo lado literário que aqueles livros me fascinaram, mas sim pelas fantásticas ilustrações que traziam.
AFF: Como você, eu ganhei esta coleção de meus pais e, apesar da investida de alguns colegas de estudo, consegui conservá-la em bom estado. De vez em quando releio fragmentos de um ou outro volume. São como as "madeleines" de Proust, têm o condão de nos trazer a infância de volta. Mas talvez o Thesouro da Juventude nos atraísse tanto não apenas por suas imagens, como também pelo excelente conteúdo textual. Além de reproduções das obras dos grandes mestres da pintura, trazia excertos dos melhores romances, novelas, contos e clássicos da poesia brasileira e internacional e as mais variadas informações sobre o conhecimento humano. Tudo vazado numa linguagem acessível a crianças e jovens.
MG: A nossa coleção se acabou de tanto uso porque éramos nove irmãos. Nela vi, pela primeira vez, as gravuras de Gustave Doré (1832-1883), artista cuja obra me marcou fortemente. Mas havia outros grandes mestres dentro de um repertório que ia da arte rupestre à pintura então contemporânea.Nascido em São Simão, interior de São Paulo, em 1925, Marcello Grassman desenvolveu uma carreira de mais de 60 anos, em desenho e gravura, com um traço inconfundível, e uma temática que bebe nos clássicos, nas vanitas, nas Morte e a Donzela, no medieval; atualizando estes temas a partir do surrealismo e também usando estética e temas próximos às gravuras de cordel. Um belo traço, o desenho forte, preciso e musical, o trabalho de artesão na chapa da gravura, a coerência de uma obra que, discreta e coerente, continua e continuará a nos enfeitiçar; uma obra aparentemente atemporal, mas que revela muito do espírito de sua época.
E sobre o Thesouro da Juventude:
veja meu outro blog, com trechos dos livros..
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