Volto à SP-arte, em plena 6a.feira a tarde o público comparece em massa, imagino como não estará no final de semana... mas consigo rever tudo e realmente "ver" os trabalhos expostos, sem o burburinho da festa de inauguração. Para arrematar, retorno no sábado, e vejo então mais uma vez como os eventos culturais em SP "bombam": fila na bilheteria, famílias inteiras, muitas crianças, grupos de terceira idade, de estudantes...
Cito algumas coisas que me despertam a atenção:
A primeira delas, sem dúvida, é uma versão de 1940 que a
Tarsila fez para sua obra-prima "
A Negra" (de 1923), eu nunca soube que existia esta versão onde a Negra na verdade é uma mulata-clara, e o fundo tem listas em tons pastel com destaques em magenta e azul turquesa. Muito linda, e certamente uma raridade (nem perguntei o valor da avaliação), no stand do
Ricardo Camargo.
Beatriz Milhazes: Uma linda tela, grande ("
Menino Pescando", de 1997), da coleção do Banco Itaú/Unibanco, no stand dos bancos para clientes VIP; no stand da galeria
Almeida & Dale (SP), uma gravura grande (das edições feitas no USA, a mesma imagem que está no acervo da Pinacoteca) e uma grande colagem, ladeiam uma linda tela com tons escuros e uma surpreendente rosácea em cores claras contrastantes (cian/magenta) que adquirem um tom de neon, de fosforencência de corais; preços: US$80.000 a gravura, US$380.000 a colagem e US$400.000 a tela, e valem cada centavo. Em outro stand, uma tela grande dos anos 1980, com as colunas e o anjo barroco em dourado (esta, uma pechincha, ao meu ver: 200.000 reais); e na
Pinakotheke, um pequeno desenho, de no máximo 20x25cm, papel, um esboço de arabescos como um azulejo, cuja avaliação é de US$50.000
Os trabalhos novos do
Alvaro Seixas, no stand da
Amarelonegro, são telas pequenas com elementos geométricos (listas, círculos) e uma forte fatura de tinta e de cor; e também uma tela maior (talvez 80x100cm), em cinzas e pretos, muito bonita, gosto muito. Ainda no stand desta Galeria, o
Rafael Alonso que partiu das suas colagens de fitas que formam como que paisagens e pinturas das paisagens feitas de fitas, para pinturas realmente de paisagens, com tinta forte e boa qualidade pictórica, uma boa evolução. E também, para mim, a oportunidade de poder comparar os trabalhos mais antigos da
Gisele Camargo com os mais recentes, e ver que minha memória não me traiu e acertei em minha análise, publicada aqui no blog ao falar da exposição individual, sobre o crescimento do trabalho.
A
Gentil Carioca trouxe o trabalho do artista
Pedro Varela em uma parede, na rampa, uma delícia para os olhos e principalmente para as crianças que, no sabado, não se cansavam em brincar nos mundos fantasticos do artista.
No stand da
Galeria Mezanino, trabalhos bem interessantes e acessíveis de artistas jovens; com esta proposta, o stand fica sempre cheio, e crianças e adolescentes são atraídos pelos trabalhos bem contemporâneos e com linguagem de
comics. Pequenas pinturas e xilos do
Ulysses Bôscolo, bem interessantes... embora eu saiba que o artista se destaca mais à gravura, as pinturas são demais, as telas de dimensões pequenas se somam em dípticos, trípticos, colocados assimetricamente; sei reconhecer uma boa pintura, e assim não resisti a um tríptico com cenas de mar, em azul escuro, um Castagneto do terceiro milênio (embora tenha ficado balançado com uma árvore que parecia uma cachoeira, e com um díptico de um cachorro e sua carrocinha...)
Mercedes Viegas e
Laura Marsiaj juntaram as forças compartilhando um stand, com muitas surpresas além dos trabalhos que já vi ultimamente nas Galerias. No sábado, "aparece" uma linda pintura da
Lucia Laguna, e "desaparece" um múltiplo do
Ângelo Venosa (
Borboletas que na verdade são
vanitas) que eu namoro há um bom tempo... outra vantagem das Feiras sobre as Bienais, o dinamismo, as obras são vendidas e é interessante ver a equipe de apoio embalando um
Krajcberg, um
Nuno Ramos, e o galerista rapidamente repondo com outra boa obra do acervo...
No stand de Galeria pernambucana
Mariana Moura, ver duas lindas telas de artistas que eu só conhecia pela força do desenho:
Gil Vicente e
Carlos Mélo (este, expondo no Rio na Galeria da Luara Marsiaj). Os desenhos dos artistas são fortes, mas a pintura (embora bem diferente, já que do desenho expressionista e misterioso eles foram a uma pintura abstrata - no caso do Gil Vicente mais comportada, concreta; e no Carlos Mélo mais expressionismo abstrato) é boa e causa impacto.
Uma interessante performance da artista
Ana Teixeira, "
Outras Identidades"; o espectador escolhe entre diversas frases de impacto qual seria a da sua nova identidade (eu escolhi, claro,
AINDA TENHO TEMPO); a artista registra em um livro a frase com a digital do espectador, e ambas vão para uma cédula de identidade que é entregue, em plástico, tudo como uma verdadeira identidade; um bom trabalho, e uma artista cortez e que pensa em tudo, até no álcool para limpar o dedo após a captura da digital. Ninguém lembra mais, mas nos anos 1970 em um salão de arte, o com mais visibilidade (acho que o Salão de Verão, com curadoria do crítico Roberto Pontual, apoio do então prestigiado Jornal do Brasil e exposição no MAM-Rio), a jovem artista Margareth Dunham Maciel ganhou o prêmio principal com trabalhos em xerox sobre a sua carteira de identidade; talvez tenha sido muito cedo; ou outro motivo que leva os artistas a buscarem o silêncio; mas não houve continuidade no seu trabalho; e ao ser identificado, colhida minha digital, em plena SP-arte em 2009, me lembro do trabalho da Margareth e penso em como o tempo voa.
Na Galeria do
Murilo Castro (MG), um destaque para o trabalho do
Daniel Murgel, as maquetes e os projetos das gaiolas; mas desta vez o artista "embaralha" tudo, os projetos e as maquetes divergem, e o resultado: um caos (comentei com o artista sobre o aspecto "atulhado" da instalação, e ele me retornou que esta era mesmo a proposta).
Na
Galeria Nara Roesler, uma escultura/instalação incrível da
Laura Vinci, uma "escultura" em gelo, com um texto: O.BRANCO.DO.RIO.PASSA. A tecnologia soft, dominada pela poesia, como é o trabalho da artista.
Duas lindas telas do
Jorge Guinle, na
Athena Studio e no
Ricardo Camargo ("A Mulher do Marinheiro", 2x2m, de 1986, deslumbrante).
Debora Bolsoni, a das pipocas de ceramica na Paralela à Bienal, em varios stands; na
Silvia Cintra com bonitos trabalhos de papel enclausurado em acrilico, e na
Galeria Marilia Razuk, com uma instalação ("
Sentinela") que, discreta, se confunde com o ambiente (um carrinho com um garrafão de água mineral e uma cesta de lixo, algo provável, e para o qual os visitantes em geral nem davam atenção, jogando seu lixo na cesta de lixo, e talvez, nao vi mas é bem possível, tenham mesmo bebido da água do garrafão)...
Na
Galeria Gustavo Rebelo, do Rio, um reencontro com meu amigo de muito tempo, o artista
Chico Fortunato; e um lindo
Daniel Senise da fase de 1980-90; pequeno, talvez 110x80cm; mas um monumento. E um lindissimo
Ivan Serpa da Fase Negra, uma raridade.
Na
Casa Triângulo, algumas surpresas para um aficcionado de pintura como eu: Uma lindissima pintura da
Vania Mignoni ("
Meio Dia");
Eduardo Berliner, com "
Placenta", que foi adquirida por um dos patrocinadores e doada ao MAM-Rio (uau!!!), uma linda pintura, com detalhes que se veem aos poucos no decorrer da apreciação; e o
Felipe Barbosa: com as montagens de casinhas de cachorro, casinhas de pássaros etc., ele chegou a um Volpi pós-moderno; e agora investiga a pintura que esta por trás ou pela frente destes movimentos; boa pintura, interessantes jogos de transparência e opacidade, de
painterly e chapado... a fatura com o pincel bem aparente, como é a do Volpi que é a presença oculta em todos os trabalhos; e ao mesmo tempo a tinta acrílica, o contemporâneo, um diálogo entre presente e passado no campo da tinta e do pictórico... Mas: uma ressalva em relação a esta Galeria, que tantas obras importantes nos apresentou:
fumantes!!! dentro do ambiente fechado da SP-arte!!! lamentável...