No MAM-Rio, visitei a retrospectiva de Vik Muniz, uma exposição que faz um apanhado da obra do artista, de uma forma leve, agradável, bem montada e bem didática, com um bom catálogo. É uma exposição que se vê com interesse e da qual se sai (eu saí) com a sensação de querer ver mais, de "podia ser maior e ocupar o MAM inteiro..." E o publico corresponde, apesar da entrada cara do MAM: grande número de pessoas, muitos pais com crianças, fazendo fila na porta do Museu no horário da abertura, em plena tarde de 3a.feira. A midia está divulgando bem, e isso contribui para o sucesso da mostra, claro, mas a força, a pertinência, o lúdico, o irônico e os questionamentos do trabalho do Vik Muniz são os fatores mais fortes a atrair o público. Muniz trabalha (brinca) com a percepção, a representação na arte e a história das artes; de uma maneira totalmente pós-moderna, contemporânea; obtendo resultados com técnica precisa e estética impecável.
Uma curiosidade minha em relação as últimos trabalhos do artista, que vi em setembro no Chelsea NYC (Galeria
Sikkema Jenkins), e sobre os quais não vi referência em outro lugar, nem nesta retrospectiva (para ser completa, a retrospectiva deveria fazer pelo menos uma referência a este novo trabalho). Na verdade, como não vejo ninguém falar destes novos trabalhos do Vik, se eu não tivesse uma prova material (o catálogo da exposição de NYC), poderia ter dúvidas se sonhei... A exposição se chama
Verso, e nela não estão fotografias e sim objetos (esculturas? retorno do artista ao seu início de escultor?), que reproduzem "hiperrealisticamente"
o verso de obras-primas da arte que se encontram em museus, com o avesso da tela, o chassis, as molduras, as etiquetas de exposições, números de tombamento, parafusos, grampos, reforços... encostados nas paredes, tudo no tamanho real, sinais de poeira e de envelhecido, como devem estar, ocultos do público, os versos dos quadros nas reservas técnicas, como em uma pausa para uma viagem entre uma e outra exposição. Picasso, Hopper, Van Gogh...
Les Demoiselles d'Avignon,
Nighthawks,
Starry Night... Também expostas, recriações (objetos) do verso de famosas fotografias nos arquivos do
New York Times e do MoMA.
Embora não utilize fotografia como suporte para os trabalhos dessa exposição, Vik apresenta grande coerencia com seu trabalho mais conhecido, com fotografia: o mesmo espírito irônico, o mesmo questionamento da percepção, da representação, o mesmo mergulhar na história da arte, de uma certa forma a mesma pesquisa sobre a memória e o esquecimento que já aparece nas celébres fotografias (expostas no MAM) onde o artista, nos momentos iniciais de sua carreira, fotografa desenhos feitos de memória sobre fotos originais da Revista Life que estão impressas no imaginário ocidental do século XX.
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