No
Parque Lage, o espaço das Cavalariças está sendo ocupado, desde o final de julho, pelo
Projeto 2 em 1, que reuniu 5 duplas de artistas e 1 dupla de curadores (
Cabot|Daniel Toledo, Simone Michelin|Ricardo Ventura, Marta Jourdan|Barrão, Domingos Guimaraens|Luiz Aphonsus, Daniela Labra|Felipe Scovino e Suely Farhi|Carol Valansi) para
exatamente isso: uma ocupação do espaço, que questiona a estrutura de uma exposição de arte e do espaço expositivo, a autoria da obra de arte e também a hierarquia artista-curador.
Além disso, a proposta acrescenta outras visões, enfatizando a variedade de linguagens utilizáveis pela produção artística atual, agregando uma performance-gastronômica da chef
Rebeca Lockwood, com direito a garçons-anões (o que causou polêmica na mídia, nesta época do império do politicamente correto...) às propostas mais comumente vistas em exposições contemporâneas: intervenção arquitetural (Roberto Cabot e Daniel Toledo), arte sonora (Barrão e Marta Jourdan), video-performance (Daniela Labra e Felipe Scovino), fotografia (Luiz Alphonsus e Domingos Guimaraens), ambientação (Suely Farhi e Caroline Valansi) e instalação multimídia (Simone Michelin e Ricardo Ventura).
O resultado, uma exposição que rompe as barreiras entre as obras expostas e incorpora o espaço e os espectadores, transformando-se em um
corpo enorme, orgânico, imenso, autônomo, com uma vida e desejos próprios.
Isto fica muito evidente na noite da abertura, pois o público interage, o bar "bomba", a chuva fina obriga todos a se apertarem por entre as obras, os fotógrafos e videomakers e celulares tudo registram... até que tudo é obra, tudo é público, tudo é uma coisa só.
Alguns trabalhos, como o "quarto escuro" (perfeito!) do Barrão e da Marta Jourdan, tem uma existência autônoma, até pelo espaço "separado" que ocupa; ou a enorme instalação com "a cor vermelha" de milhares de lápis de cor descascados, uma balança e luz, muita e precisa luz (da dupla Suely Farhi e Caroline Valansi); mas mesmo eles se integram ao que é um todo, o prédio das Cavalariças transfigurado em obra de arte, e no qual até os garções-anões tem tudo a ver... Esta foi a minha dificuldade, ao retornar da abertura da exposição, eu queria escrever no blog sobre cada um dos trabalhos, mas eu mesmo não sabia onde começava cada trabalho e acabava o outro, assim optei por um silêncio estratégico...
...até que encontrei (na verdade, conheci no mundo real uma já grande amiga virtual) a artista Suely Farhi, com a qual pude conversar sobre a minha dificuldade, e entender que este meu problema era na verdade uma prova do acerto da proposta da exposição, na medida em que uma das premissas do Projeto 2 em 1 é exatamente a diluição da autoria, indo além mesmo das duplas para chegar a uma exposição coesa, dentro da multiplicidade de linguagens.
Fiat lux! é como se a exposição fizesse um corte ortogonal, em um eixo a multiplicidade de linguagens (0 a 100%), em outro eixo a diluição da autoria (0 a 100%); e tivesse alcançado um equilíbrio difícil... pois à medida que se aumenta a multiplicidade de linguagens fica mais difícil conseguir uma coesão/integração de propostas que é a premissa para a diluição de autorias; e vice versa; pois bem, ao meu ver, o Projeto 2 em 1 conseguiu atingir este delicado equilíbrio neste quadrante marcado pelos eixos citados (obrigado, Descartes...)
Com esta visão, o trabalho cresce, talvez seja a exposição carioca recente mais bem fechada conceitualmente, e vale à pena rever...
Mais:O blog do Projeto 2 em 1Fotos da inauguração no site do Odir Almeida,
www.soartecontemporanea.com
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