Em plena secura (e pelo meu relógio mental este ano um pouco mais cedo), eles começaram a florir, tímidos, ainda no final de julho. Falo dos ipês amarelos, de Brasília, que se espalham, isolados entre outras árvores, por diversos lugares no cerrado. Durante o ano todo eles se confundem, disfarçados de humildes, entre as outras árvores e a vegetação baixa; para nesta época resplandecerem, ouro sobre o céu de puro azul quase sem nuvens.
O ponto máximo é onde eles se reúnem, no coração do Plano, a Praça dos Três Poderes, talvez duas ou três dezenas, em fileiras regulares (eles que nos diversos jardins são vistos quase sempre isolados), no jardim do lado esquerdo do Congresso, fazendo um contraponto ao jardim do lado direito com as fileiras regulares de verdes palmeiras imperiais.
(Acho que já comentei aqui em meu blog que esta composição de verde/amarelo foi uma sugestão do Le Corbusier que o Lúcio Costa incorporou aos símbolos da capital, homenageando também por tabela os Bragança e os Habsburgos, fundadores da Nação Brasileira com a Independência, cujas cores, o verde-bandeira e o amarelo-ouro liguram em nossas bandeiras desde o Império e, sabiamente, não foram cassados pelo positivismo nem por outros ismos).
Mas os da Praça ainda não estão florindo, eles se guardam como que programados geneticamente para explodir nos primeiros dias de setembro, talvez marcando mais a data quando se comemora o nascimento do Brasil como Nação.
Já os precoces, os inquietos, estes já estão radiantes, em meio à grama seca; no final de semana que passou a secura diminuiu, e a grama começa a brotar; e os ipês ficam ainda mais lindos, como que lavados com a chuva que começa a cair.
Há outros, os roxos que florescem antes; os brancos que florescem quase ao mesmo tempo que os amarelos (a fileira de ipês brancos abaixo do nível da Esplanada, na ligação entre a L2 Sul e a Norte, está florindo, e causando uma boa surpresa a quem vem pelo Eixo e os vê como que emergindo, só flores, da terra vermelha); mais no final do ano serão os
flamboyant (destes o Plano é pródigo, trazidos no início da construção de Brasília; e agora desprezados e odiados - injustamente, digo eu - como exóticos, pelos que acham que Brasília só deveria ter vegetação nativa). Mas os meus preferidos são certamente os ipês amarelos.
Trouxe a visão destas árvores para acompanhar minha imagem em nova série de auto-retratos, pequenas pinturas de cores fortes, tinta espessa e gestual largo.
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