Fim de semana em Brasília. Uma bem-vinda chuva, para assentar a poeira vermelha e dar uma folga à minha agora onipresente rinite alérgica. Todos dizem que serão as últimas chuvas antes do período de secas, eu espero que não; e curto o friozinho e o visual do Paranoá enevoado que vejo de minha janela.
Procurando, se acha (cultura, arte da boa que é o que eu preciso, injetada na veia): no
Espaço ECCO (um galpão em cimento queimado e estrutura metálica que poderia estar em Chelsea NYC, numa localização bem central, mas que poucos nativos conhecem), duas boas exposições:
1- Uma coletiva, focando as aquisições para o acervo do Espaço ECCO viabilizadas pelo Prêmio Funarte Marcantonio Vilaça. São 6 artistas de primeira linha:
Nelson Felix,
Gabriela Machado,
Paulo Pasta,
José Spaniol,
Hilal Sami Hilal e
Claudia Jaguaribe. E é muito bom ver, com vagar, assistir o vídeo do Nelson Felix (pena que os da Gabriela e do Spaniol não estavam sendo exibidos por problemas técnicos), conversar com os simpáticos e bem informados monitores que realmente dão explicações sobre as obras... Além das obras adquiridas (um bom acervo, portanto), há mais obras de cada artista, formando como 6 mini-individuais, bem distribuídas pelo espaço. As pinturas da Gabriela Machado são simplesmente maravilhosas, e a artista muda a escala sem medo de errar a mão: pequenos dípticos e grandes telas; as cores pulsam, se misturam, sugestões de flores, de cascas de frutas, tangerinas, de formas orgânicas, mas isso não importa, importa é o diálogo entre as massas de tinta e o fundo neutro, a explosão... Em outro extremo, as pinturas sobre papel do Paulo Pasta, são sutis, zen, mostram até onde pode chegar a transcendência do ser humano a partir do diálogo de um azul e um alaranjado. Outro zen, claro, não fosse um budista, o Nélson Felix; os cubos vazados de mármore de carrara (bom ver o vídeo, nele Nélson explica que o uso do carrara também é uma referência à história da arte, aos gregos, à grande tradição) pendurados em equilíbrio instável pelas ponteiras de bronze (outra referência à grande arte) com textos, gravados, da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen; desenhos, a pedra em si captada com traços nervosos e aguadas; e a obra que estará agora no acervo do Espaço Ecco, as duas metades de um cubo de mármore rosso se abrem, deixam ver o azul ultramar profundo, e nas metades, unindo-as, separando-as, uma aliança de ouro...
Ainda: as fotos da Claudia Jaguaribe nos Lençóis maranhenses, modificando a escala de formações naturais e transformando-as em gigantescas ruínas; os móveis impossíveis do José Spaniol; e os livros impossíveis, a biblioteca de Babel, a leitura que não se lê mas se entende, entra pelos sentidos e domina a razão, do Hilal Sami Hilal.
2- Uma exposição individual do artista goiano
Marcelo Solá, com desenhos-pinturas-monotipias sobre papel, em diversos tamanhos, de uns pequenos, quase esboços, a outros enormes, quase murais. Gosto do trabalho do artista, tenho visto em exposições como o Nova Arte Nova, e no Rio na Galeria Arte em Dobro; e ver uma individual bem montada, com os desenhos nas diversas dimensões, é muito bom. Impossível deixar de lembrar de Basquiat, em algumas obras, e do Leonilson, na utilização acertada de textos; mas como influências e não como escravidão. A vertente gráfica e a linguagem do grafitti do artista goiano é muito forte; mas em alguns trabalhos as camadas de tinta se acercam de uma pintura sobre papel, e o gráfico coexiste em harmonia com o
painterly. A cor é concisa: pretos, brancos, traços vermelhos, verdes; e um dourado, em spray ou tinta, que dá leves traços de opulência barroca a um desenho tão urbano e tão contemporâneo.
Ainda, na
Caixa Cultural, outro bom espaço em Brasília:
1-
A Linha e o Sujeito, exposição contrapondo obras do acervo (uma linda tela de lencóis com vermelhos, da
Maria Leontina; dois lindos
Abelardo Zaluar, duas
Fayga, um
Krajcberg...) a trabalhos interativos do artista
Chico Amaral, com curadoria de Graça Ramos.
2-
Mulheres em Luta, com videos de artistas mulheres polonesas e brasileiras, destaque para o
Menarca, que não me canso de rever, de minha mestra
Katie van Scherpenberg; e
Cheerleader, irônico video de 2006 da polonesa
Katarzyna Kazyra. Ainda:
Bagna Burska,
Zuzanna Janin,
Katia Maciel,
Marta Daskur,
Simone Michelin e
Tina Velho.
3-
A Máscara Teatral na arte dos Sartori, uma exposição bem interessante sobre máscaras teatrais, com instalações, desenhos e máscaras da família
Sartori, importante família italiana cuja pesquisa sobre máscaras extrapola o cenográfico.
4-
Fauna e Flora Brasileira, aquarelas de
Álvaro Nunes. Rever meu post sobre Margaret Mee; tenho que reconhecer que a inglesa consegue em suas aquarelas uma leveza que a maioria dos aquerelistas de natureza não consegue. Destaque para os selos feitos a partir de aquarelas do Álvaro Ramos, que tem um lúdico que não desaparece, na verdade aumenta, nesta era de e-mail e de msn; e que me remete à Arte Postal (
Mail Art) e à minha época de colecionador de selos, e também à obsessão, que é um dos temas recorrentes deste blog...
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