quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Exposições em Ipanema


Uma surpresa para mim que achava que as galerias cariocas estariam todas de recesso após o Carnaval: a oportunidade de ver as exposições das boas galerias no entorno da Praça General Osório.
Na Laura Marsiaj, uma excelente exposição de pintura, mais que isso, uma lição de pintura, nas telas da Lucia Laguna. A temática se volta para o interior do atelier (como antes, entre as Linhas Vermelha e a Amarela, a artista olhava pela janela do atelier para o exterior, para a paisagem urbana), mas é um interior "atribulado", muito diferente da calma e quietude de um interior de um Bonnard, por exemplo; na verdade a Linha Vermelha e a Amarela das paisagens urbanas "entra" pelo atelier, que vibra em cores e linhas; e a pintura continua com a qualidade já bem aprimorada pela artista, crescendo significativamente. Partes das telas tem tratamentos bastante diversificados, como que um enumerar de técnicas, de efeitos de pintura - escorridos, transparências, tinta espessa, texturas, mistura de pigmentos na tela, gestos soltos, marcas do desenho, mascaramentos com fita crepe... tudo, mas em um todo tão perfeitamente integrado que nada parece banal, nada parece demasiado, nada parece gratuito. São telas grandes (três na sala de exposições e mais duas no interior da galeria) e telas pequenas (25x25cm), que não deixam nada a desejar às grandes, tem toda uma força que extrapola a pequena dimensão. Uma exposição para ser vista e revista. O ano ainda está começando, mas certamente uma das grandes exposições de 2009.

Na amarelonegro, individual de Alê Souto, intitulada Tumulto. O artista trabalha com uma temática bem urbana, daí o título. Em texto que acompanha a exposição Alê diz sobre o tumulto urbano e podemos ver como este tumulto invade suas telas, construções e desenhos; mas que apesar do "tumulto" visual, tem bom acabamento, são "cheias" visualmente (em especial as telas) mas a paleta reduzida (vermelhos, amarelos) e o rigor formal dos trabalhos mostram uma visão prazerosa deste tumulto urbano, não uma visão desagradável ou negativa; é interessante comparar com os quadros da Lucia Laguna, em sua temática urbana (mesmo, como apontei, nos interiories do atelier): enquanto que o urbano da Lucia pulsa em vida, em caos, em um nexo que é atingido com partes desconexas, a pulsação do urbano do Alê vibra como que obedecendo a um ordenamento desconhecido, como se as estruturas cúbicas vazadas fossem uma trama regular onde se desenvolve um urbano. Um pouco como no texto, onde o artista contrapõe o tumulto urbano a uma ilha imaginária, para concluir "(...) bom por que? Imagina uma semana só respirando ar puro, peixe frto, água de coco, mas... sem leds piscando, promoções relâmpago, descontos e tarifas promocionais???" A imagem que me vem à cabeça (tudo a ver)é o Broadway Boogie-Woogie, do Mondrian, onde a placidez e a transcendência dá lugar ao cinético e urbano, porem com um sentido de celebração do urbano... O artista tem um blog, bem interessante.

Finalmente, nas Galerias Silvia Cintra e Box4, a Exposição de Verão, já tradicional (6a. edição) mostra das galerias com umo foco em artistas jovens. Participam: André Komatsu, Daniel Steegmann, Debora Bolsoni, Felipe Cohen, João Paulo Leite, Marcius Galan. A Debora Bolsoni trouxe as pipocas de cerâmica que estiveram na Paralela da Bienal, e o Marcius Galan transforma o espaço do Box4 em uma instalação com uma ruptura de espaços conseguida através de sutis mudanças de cor, em um trabalho que une arqutetura e artes plásticas, e que, ao meu ver, supera o apresentado no Nova Arte Nova, que já era inquietante, instigante... O artista também tem um blog.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Jozias, obrigado pelo post no meu blog.

Dei uma volta pelo seu blog também. Parabéns, muito bom.
Abraço,
Marcius