sábado, 7 de fevereiro de 2009

Garaicoa, no CCBB-BSB: arquitetura e ruínas


Carlos Garaicoa é um artista cubano nascido em 1967, com uma obra já reconhecida internacionalmente, e que tem a arquitetura como um dos temas recorrentes. Com estreitas ligações com o Brasil, o artista já participou da Bienal de SP, de coletivas como “Arte de Cuba” no CCBB em 2006 e teve uma individual na Gentil Carioca, no Rio. O CCBB de Brasília está mostrando uma boa exposição individual de Garaicoa, uma ótima chance para conhecer um pouco da trajetória do artista.
Havana, uma cidade com um passado pujante de construções coloniais e da primeira metade do século XX, que os anos de regime fechado e de descaso transformaram em ruínas, e a inventividade da população remendou com os escassos recursos da extinta União Soviética.


Estas imagens que se tornaram tão comuns na midia são a matéria prima para o artista Garaicoa, que as transfigura em seu trabalho; e se tornam imagens universais, a falar de ruínas não só cubanas mas da arquitetura mundial, e mesmo ruínas do ser humano, no sentido mais existencial, zen, como na instalação Jardim Japonês: pó - construção - ornamento arquitetônico - ruína - pó.
A busca de espaços utópicos: maquetes de construções ultra-modernas no meio das ruínas de Havana; a proposta de "clonar" prédios, subvertendo o conceito eugenico de clonagem, ao utilizar como matriz não "o melhor da raça" e sim um prédio industrial decadente, meio abandonado, meio ruína. Em uma instalação, a partir de uma mesa, traços de construções em perspectiva, feitos em linha de costura presa por alfinetes, com panorâmicas de cidades reais em pequenos monitores de vídeo, se projetam na parede em uma cidade utópica, modernista, com direito até a um zepelim sobrevoando, tudo feito em linha com os alfinetes, frágeis construções como que a falar de um futuro-passado lírico porém frágil (do pó ao pó).
A vinculação crítica com a arquitetura, com o modernismo, com o Brasil, a arte brasileira, o concretismo e também, claro, com Brasília, fica muito evidente em uma instalação chamada De como minha biblioteca brasileira se alimenta de fragmentos de uma realidade concreta: Livros de arte e de arquitetura brasileira, presos em blocos de concreto como construções "concretas" modernistas, formam o qe se percebe ser um muro, ao ver que o verso está crivado de cápsulas de balas...
Arquiteturas ideológicas e políticas: uma maquete com a proposta de uma estátua equestre do "governante de plantão"; sem cabeça, a estátua equestre está complementada por rampas e cabeças sobressalentes para que a população substitua pela cabeça dos novos líderes, cabeças que se enfileram nas rampas. cada qual com seu pombo de bronze, à espera de serem colocadas em função no tronco do herói equestre.
Uma boa exposição, e a crítica à arquitetura e ao modernismo ganha, ao meu ver, outra visão ao ser vista em Brasília e no meio do tiroteio sobre a enfim abortada Praça da Soberania, onde apareceu todo um subtexto de ideias sobre o poder mágico da arquitura e do arquiteto, a função da utopia, o desgaste das construções e das ideologias que fizeram estas construções, a ruína... ideias estas que Garaicoa utiliza de maneira precisa, competente e estética, em seu trabalho.

Um comentário:

Anônimo disse...

e muito legal ver essas ates e muito enteresante gostei mesmo esta de parabens