Recebi e-mail do artista
Leonardo Videla, com imagens de seu trabalho chamado
Churrasquinho no Quartinho de Empregada, já apresentado no
barracãomaravilha. Sem sair da temática da arquitetura, o olhar do artista se volta agora para uma
“arquitetura móvel (...) fotografando churrasqueiras de quintal ou de laje feitas e desfeitas de tijolo”.
Neste e-mail, Leonardo se refere à entrevista da crítica
Glória Ferreira com o
Bechara no
Blefuscu (nesta entrevista é feita uma referência pelo Bechara aos trabalhos do Leonardo na série
Acrílico sobre Tela), e à questão do
vazio (a arquitetura, segundo
Bruno Zevi, citado na entrevista, é como uma “
escultura esvaziada”, onde o homem penetra no interior, onde vive; enquanto que na escultura há o tridimensional mas o homem está “
fora”; e na pintura, as diferentes dimensões existem em sugestão apenas). Estes conceitos podem ser exemplificados ao se analisar o conjunto de trabalhos do Leonardo Videla, como coloquei em meu post, onde
“as plantas-baixas se transformam em dobraduras, e a pintura invade o espaço: a planta-baixa - na verdade uma representação gráfica do "chão" dos espaços - vai para a parede ao se tornar pintura, salta da tela ao se tornar um objeto-pintura, e na dobradura invade o espaço tridimensional, de uma "pintura de canto" a um objeto com dobraduras em MDF”.
Para Leonardo:
“o que quero dizer com isso é o quanto é poderoso esse assunto na produção do fazer e pensar arte atualmente, no decorrer das transformações que vivenciamos, a pintura saindo da parede, a escultura saindo do chão, as instalações, os vídeos, as performances, enfim, vivemos um alargamento dos conceitos de arquitetura (...)”
Nas
Churrasqueiras, creio que o artista, além das questões mais formais (as linhas que marcam as plantas-baixas reaparecem na construção das churrasqueiras, estas podem ser vistas como instalações, e também podemos ver as fotos não só como registros mas como pinturas, com referências ao neoconcretismo), enfrenta um alargamento do foco, abordando outras questões: questões sociais tão profundamente brasileiras ("o churrasco" como evento de união e socialização, o “quartinho de empregada”, invenção tão nossa quanto o “elevador de serviço”), o papel da arte e da arquitetura frente uma arquitetura-popular ou uma arquitetura-povera, o
kitsch na arquitetura e outras. As dobraduras dos trabalhos anteriores do artista, após invadiram o espaço, com as
Churrasqueiras ampliam esta invasão do espaço, incorporando outras questões e outros significados ao seu trabalho.
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