Sou um fã do Projeto Acervo, sou um feliz colecionador de uma edição (apresentada no Bar do Mineiro, também em Santa Teresa), acho uma ótima alternativa para romper o viciado circuito artístico, veiculando trabalhos de qualidade para novos colecionadores. O trabalho que o Leo Videla faz, de colocar lado a lado os artistas e os colecionadores, sem interferência do mercado, mas ao mesmo tempo sem detonar o mercado e sim entrando em um nicho, em uma lacuna deste mesmo mercado, é ímpar. E os resultados estão aí: 2 anos de Projeto Acervo, uma fila de espera de pelo menos 6 meses, artistas que fazem a diferença, colecionadores que também fazem a diferença; e cada vez mais, ousadia.
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Aqui estamos, é um sábado a noite, o táxi nos deixou na entrada, subimos a pé uma ladeira fatal para os cardíacos. No meio da mata, aos poucos, vemos uma casa, moderna, concreto, espaços. Como pronta, como a fazer, como um vir-a-ser, sobre o morro, vigilante, cúmplice da luz cheia, guardiã de uma vista que mostra, de um lado, o centro da cidade com a ponte Rio-Niterói e uma promessa de montanhas e Dedo de Deus em dias de céu claro e do outro, um Pão de Açúcar majestoso.
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Beleza, vamos beber um vinho, vamos conversar, vamos olhar a lua cheia que está colocada exatamente na linha do projeto de arquitetura, na verdade parece que a luz cheia é um adereço da casa. Vamos conversar sobre arte, sobre desejos, sobre a vida.
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Estão eles lá: a casa, clean; a arte; o conviver. Melhor que isso só dois disso. Quero dois, quero mil, um milhão. Enfim.
É a casa do colecionador, é o Projeto Acervo em sua primeira edição na casa do próprio colecionador. E que edição. Os artistas: Alexandre Vogler, Ana Holck, Arjan Martins, Fernando de La Rocque, Franz Manata e Saulo Laudares, Guga Ferraz, Leo Videla, Luiza Baldan, Pedro Varela e Tatiana Grinberg.
A história da casa: recente, nestes primeiros anos no terceiro milênio, o casal procura uma casa para comprar, em Santa Teresa onde sempre moraram, em apartamentos alugados. Procura uma casa antiga, para restaurar, bem no clima do bairro. Não é fácil, um dia encontram um terreno, um super terreno que sobe por uma encosta e, a cavalo desta, tem uma face para o centro e outra para Botafogo: de um lado a Ponte Rio-Niterói e em dias limpos até o Dedo de Deus; do outro o Pão de Açucar; no terreno, uma ruína apenas; e um desafio: construir uma casa, uma vida. Um colega de trabalho vê em uma revista obras de um arquiteto paulista, mostra a revista; ele marca um encontro, o arquiteto vem ao Rio, sobe a Santa Teresa, anda pelo terreno, sente o cheiro das árvores, navega pelo visual. Semanas depois o arquiteto marca outro encontro, vem de carro e traz um objeto: uma maquete do que ele pensava como solução para a casa.
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Da casa podemos sentir, do lado direito, outra boa ocupação do morro que foi a Chácara do Céu, do Castro Maia, hoje um museu; abaixo, na direção do Centro da cidade, lembramos de outra boa ocupação de um terreno em Santa, a casa/ateliê do artista José Tannuri. Sem medo de ser feliz eu poderia dizer que são os pontos altos arquitetônicos deste bairro, tão carioca e ao mesmo tempo tão modernos ou contemporâneos.
Fico muito feliz de estar nesta casa, bebendo um vinho e tomando um caldinho de feijão, conversando com os simpáticos donos da casa, com o Leo Videla, com os artistas. Penso que a vida é isso, e que existem alternativas, fora do viciado circuito de arte, para veicular trabalhos artísticos. Que arte e vida estão juntas, e se completam, mas que é muito difícil cuidar disso agora, nestes anos 10 do terceiro milênio; que ser artista é isso, batendo nas grades, tentando expandir espaços, derrubando as grades que nos prendem, as grades que são mais fortes quanto menos visíveis. Uma arte que venha não para validar o que está aí e sim para questioná-lo, para ser uma fissura no estabelecido, para ser o que falta, o que mina as estruturas, o que pergunta.
A lua está cheia e seu brilho cai sobre a piscina como uma noite de prata. Os objetos de arte do Projeto Acervo adquirem vida própria e se espalham pela casa pós-moderna, como objetos, como náufragos, como coisas.
Respiro fundo, a noite é fatal. A casa fica, as obras de arte ficam, mas tenho que ir embora, é tarde e tenho compromissos para o domingo. Um adeus me diz que estive em um momento fora da minha realidade, e que esta é uma realidade em paralelo. Gosto. Gosto muito.
Respiro fundo, sigo a trilha de volta, no caminho para casa. Bom. E perfeito, é a vida.
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