Meus quatro anos em Brasília estão embalados em caixas que vieram em um caminhão e que agora, empilhadas como uma pirâmide no centro de minha sala, olham para mim como os quarenta séculos que contemplavam outro baixinho. Só que ele era Imperador e eu não sou de ferro, prefiro adiar a arrumação para um dia menos quente, e vou até a Gávea fazer o circuito das exposições.
A primeira galeria a ser visitada é a recém-inaugurada Silvia Cintra+box 4, que deixou as instalações em Ipanema (ótima localização, mas que já estavam apertadas para o movimento da galeria) por uma casa na Rua das Acácias. Após uma boa reforma, a galeria abre com um excelente salão para exposições e "1 de cada 1", uma coletiva com seus artistas representados. São 18 artistas, consagrados como Amílcar de Castro, Nelson Leirner, Miguel Rio Branco, Daniel Senise, Leda Catunda, Cristina Canale, Carlito Carvalhosa... e artistas jovens, representados originalmente pela Box 4. Uma boa exposição, com artistas de excelente nível, que serve como um "cartão de visita" para as exposições que virão no novo espaço da Galeria.
O destaque sem dúvida é o conjunto de 140 pequenas esculturas do Amílcar de Castro. Tive a felicidade de ver esta coleção como parte da exposição Arte para Crianças, no CCBB de Brasília, no início de 2009; como são de uma coleção particular, imaginei que jamais iria repetir a experiência; e agora as revejo, as 140 esculturas de menos de 30 cm, uma maravilha. Se a montagem do CCBB tirou partido da amplitude do salão, dispondo as esculturas bem separadas ao longo de largas estantes, a opção desta montagem carioca foi por estantes "de ateliê de escultura", simples tábuas equilibradas por tijolos, recebendo em cheio a luz do sol de uma clarabóia; e as esculturas agrupadas, bem próximas, semelhantes mas diferentes, como bichos prontos a dar o bote, a invadir o espaço, a saltar sobre o espectador, decifra-me ou te devoramos vivo em plena galeria. Imperdível.
Seguindo pela Marques de São Vicente, os dois espaços da Galeria Anna Maria Niemeyer com boas mostras do acervo; no espaço do Shopping da Gávea, uma parede só com pequenos formatos (e bons preços) é uma tentação. A Galeria, que trabalha há muito tempo com um grupo constante de artistas (Chico Cunha, João Magalhães, Efraim, Jorge Duarte, Cristina Salgado, Victor Arruda, Luiz Alphonsus...), vem reforçando este grupo com novos artistas de qualidade, como os artistas que participaram da coletiva (arte)3, em 2009, com isso se renovando e mantendo o bom nível das mostras.
A Galeria Anita Schwartz também mostra seu acervo, em exposição (Notas do Acervo) que ocupa o salão monumental e o terceiro andar, com obras no terraço e no container, e é também uma galeria com a preocupação de mesclar nomes consagrados - como Gonçalo Ivo, Wanda Pimentel, Nuno Ramos, Zílio, Palatnik, Antonio Manuel, Vergara, Ivens Machado e outros - com artistas jovens. O resultado é bom, com diversidade de linguagens e de propostas e qualidade dos trabalhos apresentados.
Na Galeria Toulouse, no Shopping da Gávea, também o acervo, com bonitas telas do Gerchman e do Luiz Áquila. Um trabalho do Raul Mourão que sempre gera controvérsias é um múltiplo que consiste em uma caixa de madeira com letras, também de madeira, soltas, e que colocadas em uma certa ordem formam um palavrão (na verdade, em qualquer ordem, o olho "lê" o palavrão); é um trabalho que já foi retirado da vitrine da Galeria por reclamação de um pai indignado, bem de acordo com o neo-puritanismo desta século XXI.
A Galeria Mercedes Viegas, em sua Coletiva 09, apresenta 31 artistas de várias gerações, com trabalhos muito bons. Meu destaque: uma tela circular, pequena, talvez 30cm de diâmetro, do Leonilson. Mas eu me contentaria, claro, com um desenho do Cildo Meireles, uma raridade; uma tela branca (ou a tela preta, ou ambas...) da Célia Euvaldo; as fotos de ambientes com colagem de tecido, do Daniel Senise. Ou o Julio Villani, uma pintura com fundo preto brilhante e formas em óleo espesso (ou as mesmas formas sobre papéis antigos que estavam na reserva técnica da Galeria). Ah, sim, ou um Turdus luminoso em um cilindro feito de placas de acrílico, do Ângelo Venosa. Ou os rendados de onde brotam pequenas formas orgânicas, da Márcia Thompson. Ou os quadros do Luiz Monken, feitos de azulejos brancos e madeira carbonizada. Ou...
Findo o circuito da Gávea, volto para a minha pirâmide de caixas, com ânimo para o trabalho de arrumação e organização, indispensável para me preparar para as muitas atividades que me esperam neste ano de 2010.
Clique aqui para ver fotos dos vernissages no site Só Arte Contemporânea de Odir Almeida
Clique aqui para ler mais sobre a exposição Arte para Crianças e as 140 esculturas do Amílcar de Castro
domingo, 7 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
Adorei!! Vou fazer esse circuito da Gavea. Parabéns!!
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