
Os trabalhos ligados à tecnologia tem tido uma visibilidade grande, muitas vezes tratados pela midia de forma superficial, principalmente a partir de Alba, o coelho feito verde-neon a partir de uma mutação genética comandada pelo artista. Mas ver a foto do artista, ele mesmo, nu, no alto de um prédio em plena Copacabana, com visão de milhares de janelas (inclusive de uma igreja e de um batalhão da PM), em plena ditadura militar, é ver que seu trabalho vai além, muito além, de gadgets.

E ver os videos e as fotos nos mostram que continua tudo lá, no trabalho atual do Eduardo Kac. Um trabalho atual, tecnológico, parte dele que está no Oi Futuro, em Biotopos, Lagoglifos e Obras Transgênicas.
Conceitos: “Biotopos” são obras vivas que evoluem e se modificam, de acordo com as condições ambientais. “Lagoglifos” são obras produzidas através de uma forma de escrita visual, que o artista define como “coelhográfica”. E as "obras transgênicas" tem como meio de criação literalmente a biotecnologia, é o caso das “Edúnias”, mistura da flor petúnia com material genético do próprio artista, ou seja, Kac aplicou o DNA extraído de seu sangue à flor, criando um novo ser, ou, em termos artísticos, uma espécie de autorretrato.
Está tudo lá: uma postura libertária, que se apropria dos termos e precessos da Ciência para subvertê-la; não é uma arte que se utiliza da tecologia "para brilhar" e sim "para desafiá-la", como as poesias gritadas na praia, que desafiavam o regime militar mas também iam contra a esquerda careta. O corpo, visto como instrumento de política, de modificação existencial e social, é o mesmo corpo que (em sua mais completa essência, o DNA) "humaniza" a flor. Uma criação poética e revolucionária; que extrai poesia das coisas simples, transfigurando-as: um coelho, uma flor com o DNA humano; o que aparentemente é um quadro abstrato e que se revela feito de microorganismos vivos e totalmente sensível às mudanças do ambiente; e que desafia o espectador que pretende "fruí-lo" como arte: este "quadro", esta pintura, é um ser vivo, tão vivo quanto o espectador, e que, nas perfeitas condições de temperatura e alimentação, poderá mesmo sobreviver a ele.
Um trabalho cheio de significados, com coerência dentro de sua evolução, com soluções visualmente bonitas e com conceitos bem resolvidos, e acima de tudo, extremamente poético. Uma tecnologia que está ancorada no corpo, no humano, na arte; e que através da poesia alcança infinitos.
Veja também:
Site do Eduardo Kac
Boa entrevista do Eduardo Kac, originalmente publicada em Art.Es (Espanha)
Fotos da abertura das exposições estão no site Só Arte Contemporânea
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