sábado, 8 de maio de 2010

O trampolim de Icarahy

No início deste ano descobri, pela internet, algumas fotos de um trampolim, uma estranha edificação em concreto armado, construído em 1937 no meio da praia de Icaraí, em Niterói (na ortografia da época a praia se chamava Icarahy e a cidade Nictheroy, e creio que elas perderam muito em imponência e sofisticação com a simplificação ortográfica). O trampolim foi dinamitado no final da década de 1960 por supostamente oferecer perigo aos banhistas, graças à estrutura comprometida devido à falta de manutenção.
Não me lembro de tê-lo visto "ao vivo", nos anos 1960 eu já morava no Rio mas a vida de minha família se centrava no Rio, inicialmente em Copacabana e depois em Laranjeiras, nos predios modernistas do Parque Guinle; me lembro muito de outras construções fantásticas como o Belvedere da estrada Rio-Petrópolis, este disco-voador que ainda está inteiro porém desativado, mas não do trampolim. Este veio para meu imaginário com as fotos que vi este ano, com a força de uma forma totalmente nova e ao mesmo tempo arcaica.
Impossível resistir, e comecei a trabalhar em pinturas a partir destas imagens, usando (como nos auto-retratos, que a recente reforma ortográfica me obriga a rebatizar de autorretratos) a tinta como tinta, espessa, em cores arbitrárias. E usando também o aprendizado em termos de pigmentos a partir das aulas com a Katie van Scherpenberg, que retomei no Parque Lage.
A busca é de um clima de mistério, de fragmentos de construção invadidos pelo mar e por figuras que lembram vagamente humanos ou monstros marinhos ou extraterrestres, ou apenas o que sobrou das pessoas que se posicionavam para a câmara fotográfica, em traje de banho, naquele domingo de sol dos anos 1950 em uma praia e um tempo e uma vida que ainda estão lá mas não mais retornam.
As pinturas que mostro aqui no blog são o início da série, pequenas (25x33cm), e estou trabalhando também em outras maiores. O processo de trabalho é demorado, diferente do da maioria dos auto-retratos, que deviam muito de sua força ao imediatismo, ao gestual. Estas pinturas se constroem em camadas, em recobrir, em usar novos pigmentos, em um aspecto geral de corrosão que vem dos pigmentos terrosos contrapostos à tinta acrílica com cores e aspecto de "novo".
Ah sim, e também estou "atacando", em outras pinturas, as fotos do Belvedere...

2 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado como o tema de um trabalho aparece das coisas comuns. Não me lembro do trampolim, mas foi uma idéia genial. As pinturas são bem interessantes. Salve minha Mestra Katie. Abraço Marcio

paulo vieira disse...

jozias, gostei dos trabalhos e fico imaginando o impacto de resultados semelhantes em tamanhos grandes. abç!

paulo vieira