domingo, 6 de dezembro de 2009

Ruído, Luiz Zerbini na Laura Alvim


Molduras de slides, vazias; palavras manuscritas nas bordas dão indicações de local/data/assunto dos slides que já não mais estão lá; em algumas, os slides desaparecidos (as memórias desaparecidas) são substituídos por gelatina colorida; as molduras dos slides formam uma trama, e são colocadas em molduras/caixas de acrílico; a luz entra pelos vazados ou pela gelatina, e forma uma trama de sombra.
Um vídeo mostra paisagens, árvores, céus e nuvens, refletidas em água - lagos, rios, açudes? pois, sabemos pelo título, é o Sertão; o recurso da reflexão e a lentidão na filmagem tornam este um sertão lírico; até que irrompem na tela, muito rápido, quadrados de cores fortes e aleatórias, é o defeito no vídeo, um ruído digital como eram os riscos nos velhos filmes analógicos em Super8.
Pinturas mostram centenas de quadradinhos, ou de círculos enfileirados, quase monocromáticos; como se pudessem formar uma imagem, como se fossem pedaços decompostos de uma imagem também inexistente ou desaparecida; e sobre uma superfície brilhante, perfeitamente lisa, metálica, os quadradinhos coloridos que são o ruído em uma imagem digital e agora são o ruído em uma pintura, a pintura se torna digital, ou os quadradinhos-ruído se transformam em pura cor.
Uma sala com três paredes pintadas de um preto brilhante; uma cadeira ao centro; o espectador senta-se na cadeira e se vê, refletido, na parede preto brilhante, como ele-mesmo um ruído. Um auto-retrato noturno e mórbido, lembra-te homem que és um ruído e ao ruído retornarás.
Luiz Zerbini na Galeria Laura Alvim, Ruído, a curadoria é da Lígia Canongia e o texto do catálogo do Luiz Camillo Osório. Uma boa exposição.

Nenhum comentário: