E se o todo dia, o cotidiano, tiver um ruído embutido, uma estranheza incorporada, um toque de irreverência e subversão, um toque apenas, que não acabe com o sempre igual do dia-a-dia, mas que seja o suficiente para transfigurá-lo, para renová-lo?
Se os objetos do cotidiano se revoltarem? Se um filtro de água, cor de rosa, se enfeitar com pedaços de Linholene cor de rosa, e, usando um I-Pod também cor de rosa (claro), começar a murmurar, a gemer, a cantar? E se as pílulas mágicas da felicidade, os Valium, os Prozac, os Viagra se agigantarem a ponto de não mais poderem ser engolidas e terem de ser carregados como grandes amuletos?

Mais ainda, se o cotidiano das galerias de arte for subvertido por novas formas de pensar/fazer/veicular arte, onde relações fortemente hierarquizadas, herança do sistema de arte que atingiu seu ápice nas últimas décadas do Século XX, forem substituídas por novas relações, em rede, por novas formas de pensar arte, fazer arte, veicular arte?


Comento com Pedro como é interessante ele usar a palavra "jogo" para falar do trabalho de curadoria de Estranho Cotidiano, já que esta palavra me remete ao trabalho do Walton, com a utilização de peças de jogos, e o próprio trabalho do Pedro também tem muito do lúdico, com a construção de mundos fantásticos a partir da combinação livre e obsessiva de elementos unidos pelo cimento da fantasia.

Ainda no texto de apresentação, Felipe enfatiza "a rede de construção simbólica que é traçada entre as obras expostas", e que (...) "os diálogos travados entre os trabalhos constituem-se em uma quebra de hierarquias definidas entre o terreno da produção artística e o âmbito em que se desenrola a vida ordinária".

Ir à frente, prospectar o futuro, pode ser visitar ateliês de artistas jovens a partir de indicações e torcer para no meio dos escolhidos vir uma promessa, um artista que fique. Em Estranho Cotidiano a Galeria Movimento fez mais que isso, que apenas editar uma coletiva. Ao apresentar uma exposição que joga com estes conceitos tão atuais, que foi concebida em rede e que funciona em rede no espaço expositivo, com um diálogo rico em conexões e significados entre as obras, Walton e Pedro acertaram na mosca, apresentando bons trabalhos e bons artistas mas também um conceito sobre os trabalhos apresentados e um modelo de exposição que vai além e aponta verdadeiramente para um futuro; e o resultado me faz esperar com ansiedade pelas próximas.
Artistas que participam de Estranho Cotidiano: Botner/Pedro, Carolina Ponte, Gisela Milman, Glaucia Mayer, Leo Ayres, Louise D.D., Malu Saddi, Marcelo Amorim, Maria Laet, Maria Lynch, Murilo Kammer, Ni da Costa, Nino Cais, Patricia Gouvêa, Pedro Varela, Reginaldo Pereira, Rodrigo Torres, Silvia Jábali, Toz.
As fotos são do Pedro Varela, e o registro do vernissage pode ser visto no site do Odir Almeida, Só Arte Contemporânea, e também no blog da Galeria.
4 comentários:
Jozias, vc está cada vez mais cada vez! sacou por inteiro a idéia. Estranho Cotidiano é por si só a contemporaniedade de q falomos na arte, acho q sem muita explicação... é arte pq q é e pronto! novas trocas mesmo! um grande encontro não tão limpo como Rumos (arrumadinho) mas com conteúdo do "hoje em dia", prova de q se pode fazer de tudo na arte e sem muito blá,blá,blá explicativo.
+ ou - como diz Paulo Sergio Duarte - o trabalho do artista se destingue de excelência dos outro trabalhos (do arquiteto, engenheiro, artesão ou do trabalhador comum), pq no seu resultado ele guarda uma coisa q nenhum dos outros trabalhos guarda, é não servir para nada a não ser ser arte"
Parabéns e muito sucesso!!
Rosa
Gostei muito do blog.
Parabéns pelo trabalho.
Jozias.
Muito legal.
Janice Del Frari Coutinho
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