Uma das super-exposições que vi em São Paulo na intensa semana da SP Arte. E que não virá ao Rio, shame! shame! Como a do Leonilson no Itaucultural de SP, maravilhosa, e a do Gerhard Richter (que está na Caixa Cultural de Brasília e que vai a São Paulo e até a Salvador). Será que é porque ainda somos um balneário? Enfim, nada que uma passagem com desconto ou com milhagem não resolva, mesmo se for uma ida bate-e-volta a SP como fiz em horários absurdos mas a preço mais-barato-que-o-Expresso-Cometa.
Os textos estão no blog da Daniela Name, ao lado da análise, como sempre enriquecedora, feita sobre a trajetória e a obra da artista, complementada com boas imagens de algumas obras expostas.
Aqui vai o meu texto, um registro apenas de uma exposição marcante, inesquecível, de um trabalho forte e visceral, ao mesmo tempo eterno e tão contemporâneo.
"Domínio técnico completo: óleo sobre colagem, tinta acrílica, desenho, pastel, gravura em ponta-seca, água-forte, lito. Mas o trabalho de Paula Rego é muito mais que isso, que o virtuosismo técnico. É o desvendar de um universo completo em sua estranheza e pervesidade, infantil e adulto, mulher e homem e andrógino, feto abortado e animais à espreita, personagens de contos de fada e de Sade. Em salas e quartos de classe média-alta, famílias se dedicam a jogos dúbios, de prazer e de horror, enquanto sobre o tapete passeia um inocente animal de estimação, um pequeno javali de dentes afilados ou a filha masturba a bota do pai ao engraxá-la. Bailarinas musculosas, um anti-Degas, ajeitam os tutus e se preparam para entrar em um palco que nunca aparece, o espetáculo é a espera do espetáculo. Mulheres que abortam, solitárias, dor e sangue discretos, recolhidos, fetos, bonecas destruídas, criaturas do mar. Azulejos portugueses, Portugal que lida com as décadas de brutal repressão e atraso, a tristeza do fado e a nostalgia de um antigo império hoje decadente, a herança moura, os muxarabis, as mulheres encarceradas. Uma exposição para ser vista e revista, com vagar, mergulhando neste mundo cruel e pulsante, ameaçador e ao mesmo tempo tão familiar, de histórias infantis, de dores e de sangrar. Ao mesmo tempo um mundo tão real: basta olhar em volta. Basta ter olhos e ver. Ou fechar os olhos e sonhar os pesadelos de Paula Rego."
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